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Martins (2002) compara os escopo da sociolingüística interacional com o escopo dos modelos descritivos de Austin, Searle e Grice, em quanto à forma em que descrevem a produção lingüística e social do significado. A sócio-lingüística interacional analisa o conhecimento sócio-cultural-cognitivo que se constrói e expressa na interação face a face. Tal conhecimento compreende a interpretação sobre a situação comunicativa, os papéis desempenhados e os enunciados produzidos pelos participantes. Esta tradição de análise aponta para desvendar quão bem sucedida é a comunicação e como este sucesso está relacionado ao conhecimento

sociolingüístico. Assim, se concentra na forma em que os membros de uma comunidade identificam os eventos de fala, como o input social varia no curso da interação e como o conhecimento social produz a interpretação das mensagens. O significado é construído, portanto, por um processo de sinais lingüísticos e não lingüísticos ancorados no contexto. Grice, por outro lado, desenvolveu um modelo de significado baseado na noção de cooperação e nos mecanismos racionais de dedução de significados. Searle, a partir dos estudos de Austin, aprofundou a teoria dos atos de fala, que parte do princípio que a função da língua é executar ações tais como “pedidos”, focalizando as formas pelas quais significado e ação são desenvolvidos através da língua.

Martins observa que os estudos de Goffman e Bateson, representantes da sociolingüística interacional, pretendem formular uma perspectiva a respeito da organização da experiência social, na qual se inclui a comunicação via língua. Destaca a contribuição desses autores para a construção de uma perspectiva sócio-interacional do discurso. Entretanto, os estudos de Grice e Searle não podem ser definidos como teóricos do discurso, mas como filósofos da linguagem interessados na questão do significado dos enunciados lingüísticos.

Em síntese,

“podemos resumir as teorias de Grice e Searle em termos de três limites: a visão reificada do contexto, a perspectiva harmoniosa da comunicação, e a visão idealizada e estável do significado literal. A sociolingüística interacional, por sua vez, parte da necessidade de uma análise empírica do contexto significativo aos participantes, não faz a equivalência entre interação e harmonía e busca analisar o significado, inclusive o literal, como uma construção sócio-cultural”. (Martins 2002)

Conclui que a fronteira entre a pragmática griceana e a sócio- lingüística interacional não é clara nem definida, pois muitas das concepções incorporadas pelos dois campos são comuns, a saber, as noções de contexto, comunicação e significado. Não obstante, colocam o problema da indeterminação como problema teórico relevante na descrição dos processos inerentes à interação, ao discurso e ao uso da língua.

Em decorrência dessas considerações, em primeiro lugar, é preciso destacar a interdisciplinaridade do paradigma da comunicação, produto das inúmeras contribuições de diversas áreas do conhecimento, tais como, a Filosofia da Linguagem e a Pragmática, a Antropologia, a Sociologia, a Psicologia, a Semiótica, a Etnolingüística, entre outras, que resultaram na sua definição e no estudo, ao longo das décadas de 1960 a 1980.

Em segundo lugar, cabe ressaltar também que o conceito de

competência comunicativa teve um grande impulso, na área do ensino de

segundas línguas, associado ao enfoque comunicativo. Então, o estudante de línguas necessita desenvolver sua competência comunicativa, a qual pressupõe a “competência lingüística”. A pesquisa e a aplicação dos avanços nessa área têm lugar, majoritariamente, no ensino e na avaliação de inglês como segunda língua. Porém, ainda há muito por fazer, no que diz respeito ao ensino de espanhol como segunda língua.

Em terceiro lugar, esse caráter interdisciplinar perpassa a elaboração do presente trabalho, que se embasa nas contribuições teóricas dos pesquisadores descritos acima. Assim sendo, parte-se da análise do contexto situacional, enquanto “enquadres”, esquemas de conhecimento e pistas de contextualização, em uma história em quadrinhos - Mafalda -, considerada

representativa do modelo de interação social, para antecipar possíveis erros socio-pragmáticos em aprendizes de espanhol.

Para Martins (2002) o termo sócio-pragmática abrange as abordagens que vão da análise da conversa etnometodológica, a pragmática (de Grice), a teoria dos atos de fala (de Austin e Searle), a sociolingüística variacionista, a etnografia da comunicação e a sociolingüística interacional. Por isso, se considera apropriado enquadrar o presente estudo dentro da sócio- pragmática, pois se aplicam conceitos da teoría dos atos de fala, da pragmática e da sociolingüística interacional. Além do mais, é uma das habilidades, descritas por Blum Kulka (1992), sobre o que os alunos de línguas devem desenvolver no que diz respeito à sua competência pragmática.

Desse modo, em suma, entende-se que a competência comunicativa dos falantes comporta tanto o conhecimento prévio das regras de conduta como as máximas conversacionais (GRICE, 1982) e sua instrumentalização intralingüística. Essas máximas supõem um acordo social mútuo, prévio à interação, que determina como se realiza um ato comunicativo bem sucedido. O fundamento teórico do estudo fica assim delimitado, como demonstra o quadro que se segue:

Contexto Fenômenos pragmático-lingüísticos gramaticalizáveis

Fenômenos gramaticais propriamente ditos

No contexto social, os fenômenos pragmáticos estão regidos por leis sociais, que regem a maioria das condutas lingüísticas do homem. As leis do contexto social são conotativas e particulares e só são previsíveis socio- pragmaticamente, como cortesia ou descortesia, hierarquia ou igualdade, relevância ou irrelevância social, por exemplo, além de depender de um aprendizado intensivo dos parâmetros sociais, para que possam ser dominadas, de forma aceitável, pelos falantes.

Elementos factuais que aparecem em relação ao contexto social e comportam as implicações ou máximas, as funções da linguagem e, os atos de fala, subsidiariamente. Em relação ao contexto social e individual, por exemplo, a organização modal da enunciação e outros elementos lingüísticos e paralingüísticos adquirem valor pragmático.

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