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Indicador de Prazo – Pz Classificação Qte Pz

INCIDÊNCIA DE CUSTOS DE TRANSAÇÃO NOS INVESTIMENTOS OBRIGATÓRIOS EM P,D&I E INFRAESTRUTURA: AVALIAÇÃO

2. Considerações Teóricas

A literatura pertinente ao gerenciamento de projetos apresenta como aspectos básicos e inquestionáveis o prazo, o custo e o escopo do projeto, além de mencionar a qualidade como resultante desse gerenciamento. Esses aspectos são também considerados como uma tripla restrição, que emerge a partir do equilíbrio necessário para gerenciar a duração do projeto, os investimentos inicialmente acordados e o que foi determinado como escopo do projeto. Sabe-se que esses aspectos têm forte correlação entre si e, qualquer alteração realizada em um deles provoca uma perturbação nos outros. Essa visão sugere que uma alteração no prazo dos projetos pode incorrer em aumento dos investimentos iniciais, além de aumentar os custos de transação (FERREIRA, PAGANOTTI, PIUS, 2008, p. 10-15; WEBSTER, 2009, p. 1-3; FIGUEIREDO, FIGUEIREDO, 2013, p.3-5).

Nesse caso, uma transação pode ser entendida como um acordo que ocorre entre alguns agentes econômicos que interagem entre si e bens e serviços são transferidos por meio de uma relação contratual. Toda transação possui custos, que aparecem desde o inicio na obtenção de informações sobre o que se está contratando e, prosseguem com o tempo e empenho gasto para negociar e para fiscalizar o acordo. Os custos de transação são os recursos gastos para gerenciar as interações entre os agentes econômicos envolvidos na transação, garantindo o que foi acertado entre as partes com relação aos investimentos iniciais, prazos e outros aspectos contratuais (WILLIAMSON, 2010, p.216-217; FIANI, 2002, p. 269; PONDÉ; FAGUNDES; POSSAS, 1997, p.125; FARINA, 1997, p. 54-58).

A teoria econômica ortodoxa considera que existe simetria de informações quando da elaboração de um contrato, o que resultaria em custos de transação desprezíveis. No entanto, a teoria dos custos de transação se opõe a essa tese e, para tanto, toma como base a tese da não existência de simetria de informações. As informações são assimétricas e, além disso, existem outros aspectos importantes tais como: a nossa racionalidade é limitada; os contratos são complexos e com um elevado grau de incerteza; o ser humano é oportunista e existe uma especificidade de ativos envolvida nas transações. Essas hipóteses são fatores que condicionam a existência dos custos de transação. Genericamente, custos de transação não são relacionados à produção, mas emergem a medida que os agentes econômicos transacionam entre si, propiciando o aparecimento de problemas de coordenação (FIANI, 2002, p. 269-271; FARINA, 1997, p. 71-86).

Em primeiro lugar é preciso reconhecer que o comportamento humano, mesmo sendo intencionalmente racional, apresenta limitações. Além disso, as interpretações sobre um mesmo fato são muitas e como tudo se dá e deve ser resolvido a partir da linguagem, aí se instaura um campo problemático de difícil resolução, um problema complexo. Para que o custo de transação fosse negligenciado seria necessário que nossa capacidade racional fosse ilimitada e todas as informações estivessem disponíveis para todas as partes interessadas (COASE, 1998, p. 73; PONDÉ; FAGUNDES; POSSAS, 1997, p. 125-128). Contudo, racionalidade limitada não afetaria as transações caso o ambiente na organização onde se processam as decisões fosse absolutamente previsível e simples. Os ambientes são complexos e existe um alto grau de

104 incerteza envolvido em uma transação e, sendo assim, os agentes se tornam incapacitados de antecipar todos os problemas que podem ocorrer no futuro (FARINA, 1997, p. 72-79).

Racionalidade limitada associada com o ambiente complexo e a incerteza que envolve contratos gera como consequência informação assimétrica. Assimetria de informação é a diferença nas informações que cada parte envolvida na transação possui, particularmente quando essa diferença de informação influencia o resultado final da transação. Essa diferença de informações se dá em parte pelo oportunismo (FARINA, 1997, p. 91-93; FIANI, 2002, p. 267- 273).

Quando se introduz o fator assimetria de informações se cria o cenário adequado para a emergência do oportunismo, quando um dos agentes possui informações importantes sobre a transação que o outro não tem. A transmissão de informação passa a ser seletiva, distorcida e promessas são feitas mesmo sabendo que são impossíveis de serem cumpridas. Comumente, no trabalho em questão se percebe isso com relação aos prazos e custos dos contratos que em grande parte precisam alterar prazo e investimentos iniciais. Observa-se uma atitude oportunista, quando agentes atuam de maneira estratégica cada um buscando maximizar seus objetivos e, para tanto, lançam mão da vantagem de possuir informações diferentes de seu interlocutor. Oportunismo na teoria dos custos de transação está principalmente relacionado com a manipulação de assimetrias de informação (FARINA, 1997, p. 77-80; FIANI, 2002, p. 270).

A teoria de custos de transação trata de outro fator determinante denominado de especificidade de ativos, que são as transações que envolvem ativos específicos, consideradas como transações que ocorrem em pequeno número. É um tipo de transação onde uma pequena quantidade de agentes está habilitada a participar. A partir de um investimento realizado em um ativo específico os agentes envolvidos na transação passam a se relacionar de forma exclusiva ou quase que exclusivamente. Dessa forma, por analogia essa relação entre as concessionárias e as Instituições de Ensino Superior (IES) é exclusiva. Uma concessionária ao cumprir com a obrigação da Participação Especial fica ligada exclusivamente a algumas Universidades que fornecem esses serviços de P&D, principalmente quando existe concentração de investimento em determinadas instituições (FARINA, 1997, p. 84-87).

Estabelecido esse vinculo entre comprador de serviços de pesquisa específico e fornecedor de P&Ds exclusivo pode dar origem a uma relação “refém”. Nesse caso, um dos agentes envolvidos na transação torna-se vulnerável a ameaças da outra parte de encerrar a transação e, isso torna a relação entre os agentes desde o inicio instável. A questão do refém também pode ser observada quando a empresa investidora se vê diante de poucos fornecedores de serviços de qualidade o que a obriga a concentrar seus investimentos em algumas regiões do país. Nesse sentido, observa-se que a instituição investidora estando “refém” de algumas instituições executoras acaba presa em uma teia criada por ela própria, pois não consegue investir em outros centros de P&D. Presa em sua própria trama e pressionada pela necessidade de realizar mais investimentos obrigatórios e obter resultados imediatos a empresa investidora concentra cada vez mais seus investimentos, criando cenários propícios a atrasos, aditivos de valores, consolidando uma relação “refém” e, inevitavelmente, gerando custos de transação elevados (FIANI, 2002, p.270-273).

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