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CONSIDERAÇÕES TEORICAS

2.3 Economia dos Custos de Transação

2.3.5 Especificidade de Ativos

Quando ocorrem transações que envolvem ativos específicos, por assim dizer, transações que ocorrem em pequenos números, apenas uma quantidade limitada de agentes está habilitada a participar. A especificidade dos ativos envolvidos na transação reduz, simultaneamente, a oferta e a demanda dos interessados em comprar o que está sendo ofertado. O maior problema apontado em relação à especificidade de ativos é que uma vez que o investimento está concretizado, tanto comprador (concessionários) como vendedor (institutos de P&D) se relacionam de forma exclusiva ou quase exclusiva (FIANI, 2002, p. 270-273).

Esse vínculo desenvolvido entre os agentes que transacionam entre si, derivado da especificidade dos ativos, pode fazer emergir o que a literatura denominou de “problema do refém” (hold up). Essa situação pode ocorrer quando uma das partes que realizou um investimento em um ativo específico torna-se vulnerável a ameaça da outra parte de encerrar a transação. A ameaça de que isso ocorra pode levar uma das partes a tentar obter condições mais vantajosas do que as do início da transação. O problema do refém pode ocorrer de ambos os lados da transação tanto do lado de quem vende como do lado de quem compra. De uma forma ou de outra a especificidade de ativos está diretamente relacionada com a escolha da forma organizacional responsável pela

37 administração da transação. Então, a especificidade de ativos é considerada como um aspecto central para se entender os custos de transação e, eles são aqueles que não podem ser reempregáveis sob pena de perda de valor. Nesse sentido, quanto maior a especificidade, maiores serão os riscos e problemas de adaptação, gerando maiores custos de transação. E, por depender da continuidade esse tipo de transação é considerado um conceito indissociável do tempo (FIANI, 2002 e FARINA, 1997 apud WILLIAMSON e KLEIN et all).

Investimentos relacionados a Participação Especial estão sujeitos a riscos e problemas de adaptação e, isso gera custos de transação. A partir de um investimento realizado em um ativo específico os agentes envolvidos na transação passam a se relacionar de forma exclusiva ou quase que exclusivamente (FIANI, 2002, p. 271-273).

Dessa forma, para este trabalho entende-se que a relação entre as concessionárias da ANP e as Universidades é exclusiva. As concessionárias ao cumprirem com a obrigação da Participação Especial ficam ligadas exclusivamente a algumas Universidades que fornecem esses serviços de PD&I. Estabelecido esse vínculo entre comprador de serviços de pesquisa e vendedor de PD&I exclusivo e com uma especificidade de ativos envolvidos na transação, pode dar origem ao que se denomina de “problema do refém”. Que ocorre quando um dos agentes envolvidos torna-se vulnerável a ameaças da outra parte de encerrar a transação. Isso torna a relação entre os agentes desde o início instável e ambas as partes podem a qualquer momento buscar obter condições mais vantajosas do que a que foi contratado inicialmente para dar prosseguimento ao processo contratado (FIANI, 2002, p. 272).

Em alguns casos um dos lados se apresenta mais forte do que o outro, contudo o agente que investe, por assim dizer compra os serviços, nesse caso se vê em melhor situação. A questão do refém também pode ser observada quando a empresa investidora se vê diante de poucos fornecedores de serviços de qualidade o que a obriga a concentrar seus investimentos em algumas regiões do país ou Universidades. Nesse sentido, observa-se que a instituição investidora estando refém de algumas instituições executoras acaba presa em uma teia criada por ela própria, pois tem dificuldade de investir em outros centros de pesquisa. Presa em sua própria teia e pressionada pela necessidade de resultados imediatos a empresa investidora concentra cada vez mais seus investimentos, ficando refém e, inevitavelmente, gerando custos de transação extras. (OSTRY, BERG, TSANGARIDES, 2014, p.4).

Com a limitação dessa relação entre concessionária e institutos de pesquisa pode-se pensar em uma situação de monopólio bilateral com apenas um investidor e poucos fornecedores de serviços de PD&I. Dessa forma, a situação criada pela presença de ativos específicos em uma transação é por aproximação similar à de um monopólio bilateral. Como a capacidade de negociar de ambos é semelhante – ambos são considerados monopolistas e, nesse sentido, cada uma das partes procura se aproveitar da posição privilegiada que ocupa na transação, para se apropriar de qualquer ganho incremental derivado de uma adaptação de maximização de “ganhos”, originando custos de transação. A especificidade de ativos produz um resultado que é de uma relação de

38 dependência entre os agentes, com desdobramento sobre o processo negocial que se estabelece entre as partes (FIANI, 2002, p.267-283; FARINA, AZEVEDO e SAES, 1997, p. 84-87).

Portanto, se não houvesse limites a racionalidade dos agentes que negociam um contrato, as partes interessadas poderiam resolver a priori, por meio de um documento contratual completo os problemas de dependência bilateral criados pela especificidade de ativos, mas a realidade é a incompletude dos contratos. E, também se não ocorresse oportunismo, as partes não se aproveitariam da inconsistência contratual de modo aético, o que evitaria perdas a ambas as partes. Portanto, a especificidade apenas tem importância quando somada com outros fatores determinantes de custos de transação como: racionalidade limitada, oportunismo e ambientes de incerteza (FIANI, 2002, p. 283-286; FARINA, 1997, p. 85 e 86 apud WILLIAMSON).

Esse trabalho sugere outra “especificidade” que aqui passa a ser denominada de “obrigatoriedade da relação”, que não é bem a questão do refém, nem do monopólio bilateral. O caso em estudo apresenta uma particularidade que é a obrigação da parte de quem compra os projetos de pesquisa, a concessionária, de se relacionar sempre com os mesmos agentes credenciados pela ANP. Existe a possibilidade de novos entrantes estarem oferecendo pesquisa, contudo, hoje já se sabe quem são os institutos de PD&I que oferecem esses serviços tradicionalmente.

A existência da obrigação dos investimentos, por parte das empresas concessionárias, em um conjunto restrito de agentes credenciados previamente pela ANP cria uma “nova especificidade”, que é também determinante de custos de transação e, que se observa como sendo a “obrigatoriedade da relação”. São dois conjuntos de agentes econômicos que interagem entre si, os investidores que são aproximadamente 17 empresas concessionárias e os institutos de PD&I que totalizam mais do que 240 credenciados pela Agencia.

Em alguns casos os interesses se tornam conflitantes na fase de planejamento dos projetos. Como não é possível investir em outros agentes que não aqueles previamente credenciados pela ANP e já consolidados no mercado como ofertantes de pesquisa, o investidor fica com um número de opções reduzidas. Dessa forma, com o volume crescente dos investimentos, que estão atrelados ao aumento da produção de óleo e gás e, com um número praticamente, restrito de Universidades ou Institutos de PD&I habilitados; estas transações se tornam recorrentes entre os mesmos agentes.

Para essa pesquisa os ativos são considerados como específicos (mercado muito limitado). Os agentes econômicos envolvidos nesse tipo de transação querem assegurar a continuidade das operações (projetos), pois é condição indispensável para continuidade dos investimentos. Para o vendedor do ativo específico (Universidade e Instituto de PD&I) e para o comprador (concessionárias da ANP) é necessário garantir a continuidade do relacionamento e dos investimentos, pois são transações frequentes, onde tanto o fornecedor da pesquisa quanto o comprador necessitam um do outro. O comprador precisa realizar os investimentos obrigatórios e o vendedor necessita dos recursos para garantir o desenvolvimento de linhas de pesquisa, investimentos em

39 infraestrutura laboratorial e bolsas de estudos para os pesquisadores das Universidades (FIANI, 2002, p. 270-273).

Observa-se que em um contrato de relação entre os concessionários de petróleo e os institutos de pesquisa é estabelecida uma governança específica para essa transação. Por definição, nesse caso, esses agentes econômicos não trabalham com padronização e o risco de ocorrerem ruídos nas transações é grande. Como as transações são recorrentes entre os institutos e as concessionárias e também específicas, pois cada PD&I é diferente de outra, ambos os agentes não observam detalhes na elaboração dos contratos, que podem implicar em problemas de gestão das carteiras de projetos. As preocupações ficam na determinação e no acompanhamento de metas, objetivos e marcos críticos e não críticos a serem alcançados e, são estabelecidas condições gerais de execução do contrato, resolução de conflitos, limites de competências entre outras questões. O que se depreende, a princípio, é que não há uma solução ou alternativa simples para esses contratos de relação.

Estudos apontam para a existência de custos de transação para diferentes formas organizacionais e a especificidade de ativos é o fator mais importante. Entretanto, as outras variáveis como incerteza, definição e garantia do direito de propriedade também influenciam nas formas organizacionais. A relevância desses estudos está na busca pela minimização de custos de transação (FARINA, 1997 apud WILLIAMSON).

Para gerenciar os custos de transação ex-post, que são aqueles relacionados as modificações das transações ao longo do decorrer de um contrato e se explicitam como: atraso nos prazos de entrega; alteração no ritmo da execução do processo (transação) de pesquisa, esforços de renegociação; monitoramento do processo; gestão de RH e correção no desempenho das transações, sugere-se um monitoramento amiúde e utilização de uma interface de previsibilidade - cenários futuros (PONDÉ, FAGUNDES e POSSAS, 1997, pp 125-127).

2.4 Regulamentação

Pode-se afirmar que os objetivos das teorias que estabelecem as normas de regulamentação indicam que o Estado é responsável e deve intervir toda vez que o sistema de transações impessoais de mercado estiver em desequilíbrio, por assim dizer, observa-se uma alocação ineficiente de recursos (concentração) para que as transações sejam realizadas. Importante apontar que o padrão de referência dessas teorias é um suposto equilíbrio de mercado, por assim dizer, mercado perfeitamente competitivo funcionando dentro de um ambiente de racionalidade ilimitada. Como na pratica não existe essa situação de equilíbrio e nossa racionalidade é limitada, algum organismo (Governo, Agência Governamental ou Instituição Oficial) deve propor um tipo de regulação, daí o surgimento de regulamentação social, econômica e mesmo de políticas industriais (FARINA, 1997; PINTO Jr, 2002, p.515-519; PINTO Jr, 2001, p. 205;

40 PINTO Jr. e SILVEIRA, 1999, p. 162; OSTRY, BERG, TSANGARIDES, 2014, p.4; KRAUSE e PINTO Jr., 1998, p. 73).