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Logo no início de sua vigência, sustentavam alguns doutrinadores62 que o art. 41-

A da Lei nº 9.504/97, introduzido pela Lei nº 9.840/99, já nascera inquinado de inconstitucionalidade por ter sido veiculada causa de inelegibilidade em lei ordinária.

Entendiam, os que sustentavam a inconstitucionalidade do dispositivo legal aludido, que a sanção de cassação do registro ou do diploma cominada para a captação ilícita de sufrágio representava uma nova causa de inelegibilidade e que, portanto, não poderia ter sido introduzida no ordenamento jurídico por meio da Lei Ordinária nº 9.840/99 em virtude de o art. 14, § 9º, da Constituição Federal reservar à lei complementar os casos de inelegibilidade.

Ao apreciar a questão, o Tribunal Superior Eleitoral decidiu por sua constitucionalidade, entendendo que a sanção de cassação do registro ou do diploma prevista no art. 41-A da Lei nº 9.504/97 “não implica em declaração de inelegibilidade”63, pois “o escopo

do legislador é o de afastar imediatamente da disputa aquele que no curso da campanha eleitoral incidiu no tipo ‘captação ilegal de sufrágio’.”64.

Posteriormente, dirimindo a celeuma instaurada em torno da constitucionalidade da sanção de cassação de registro ou diploma prevista no art. 41-A da Lei nº 9.504/97, o STF, no julgamento da ADI 3.592, ocorrido em 26 de outubro de 2006, de relatoria do Ministro Gilmar Mendes, acolheu o entendimento já sufragado pelo TSE de que não haveria inconstitucionalidade no dispositivo legal referido por não implicar diretamente na decretação de inelegibilidade do apenado.

Considerou-se, ainda, no julgamento da aludida ação direta de inconstitucionalidade, o posicionamento anterior do STF adotado na ADI 3.305, julgada pouco mais de um mês depois daquela, em 13 de setembro de 2006, relatada pelo Ministro Eros Grau, na qual o Partido Liberal questionou a constitucionalidade da sanção de cassação do registro65

62 Dentre os que sustentavam a inconstitucionalidade do art. 41-A da Lei nº 9.504/97, tem-se Adriano Soares da

Costa, Joel José Cândido e Pedro Roberto Decomain (GOMES, José Jairo. Direito eleitoral. 12. ed. São Paulo: Atlas, 2016, p. 847-848).

63 BRASIL. Tribunal Superior Eleitoral. Recurso Especial Eleitoral nº 19.644. Relator: Ministro Raphael de

Barros Monteiro Filho. Brasília, DF, 3 de dezembro de 2002. Diário de Justiça. Brasília, 14 fev. 2003, p. 190. Disponível em: <http://www.tse.jus.br/jurisprudencia/decisoes/jurisprudencia>. Acesso em: 30 nov. 2017.

64 BRASIL. Tribunal Superior Eleitoral. Recurso Especial Eleitoral nº 21.221. Relator: Ministro Luiz Carlos

Lopes Madeira. Brasília, DF, 12 de agosto de 2003. Diário de Justiça. Brasília, 10 out. 2003. v. 1, p. 152. Disponível em: <http://www.tse.jus.br/jurisprudencia/decisoes/jurisprudencia>. Acesso em: 30 nov. 2017.

65 Antes das alterações promovidas pela Lei nº 12.034/2009, o parágrafo único do art. 77 da Lei nº 9.504/97

dispunha que “a inobservância do disposto neste artigo sujeita o infrator à cassação do registro”, o que conduziu o TSE ao entendimento de que “nas representações fundadas em artigos da Lei nº 9.504/97 que prevêem (sic) a

cominada pelo art. 77, p. único, da Lei nº 9.504/9766 à conduta vedada de comparecer, os

candidatos aos cargos eletivos de chefia do Poder Executivo, a inaugurações de obras públicas nos três meses anteriores ao pleito, apoiado na tese de que tal previsão representava a declaração de inelegibilidade e que, portanto, não poderia ter sido introduzida por lei ordinária.

Argumento semelhante ao empregado para sustentar a inconstitucionalidade do art. 41-A da Lei nº 9.504/97, conforme já visto, fundamentou a arguição de inconstitucionalidade do art. 73, § 5º, da Lei nº 9.504/97, em virtude de nele estar prevista, originariamente, a sanção de cassação do registro e, após a alteração promovida pela Lei nº 9.840/99, a sanção de cassação do registro ou do diploma, a qual foi mantida pela Lei nº 12.034/2009 que, posteriormente, alterou novamente a redação dos dispositivo legal aludido, ampliando a sua abrangência. Mais uma vez o TSE67 ratificou o entendimento de que a sanção de cassação do registro ou do

diploma não equivale à decretação de inelegibilidade, razão pela qual, assim como o art. 41-A, o art. 73, § 5º, é constitucional.

Diante do exposto, conclui-se que as sanções de cassação do registro ou do diploma cominadas ao longo da Lei nº 9.504/97 à captação ilícita de sufrágio (art. 41-A), às condutas vedadas (arts. 73, § 5º, 74, 75, p. único, e 77, p. único) e à arrecadação e gasto ilícito de recursos

perda do registro mas não do diploma, a decisão que cassar o registro deve ser prolatada até a proclamação dos eleitos, de modo a impedir a diplomação do candidato.”. (BRASIL. Tribunal Superior Eleitoral. Agravo de Instrumento nº 4.548. Relator: Ministro Fernando Neves da Silva. Brasília, DF, 16 de março de 2004. Diário de

Justiça. Brasília, 28 maio 2004. v. 1, p. 164. Disponível em:

<http://www.tse.jus.br/jurisprudencia/decisoes/jurisprudencia>. Acesso em: 30 nov. 2017).

66 Inicialmente, o art. 77 da Lei nº 9.504/97, em sua literalidade, vedada o comparecimento, nos três meses

anteriores ao pleito, apenas dos candidatos a chefia do Poder Executivo a inauguração de obras públicas, sob pena de “cassação do registro”, e não “cassação do registro ou do diploma”. Com o advento da Lei nº 12.034/2009, a vedação do comparecimento a inaugurações de obras públicas nos três meses anteriores ao pleito, prevista no dispositivo legal mencionado acima, passou a abranger quaisquer candidatos a cargos eletivos. Além disso, a expressão “cassação do registro” foi substituída pela “cassação do registro ou do diploma”, encerrando as controvérsias existentes acerca da incidência da sanção após a diplomação. (BRASIL. Lei nº 12.034, de 29 de setembro de 2009. Altera as Leis nos 9.096, de 19 de setembro de 1995 - Lei dos Partidos Políticos, 9.504, de 30 de setembro de 1997, que estabelece normas para as eleições, e 4.737, de 15 de julho de 1965 - Código Eleitoral. Diário Oficial [da] República Federativa do Brasil. Brasília, DF, 30 set. 2009. Disponível em: <http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/_ato2007-2010/2009/lei/l12034.htm>. Acesso em: 30 nov. 2017).

67 Nesse sentido, veja-se a ementa do seguinte julgado do TSE: “[...] Propaganda institucional. Período vedado.

[...] Inconstitucionalidade. Afastada. Aplicação de multa e cassação do registro de candidatura. [...] I – A

penalidade de cassação de registro ou de diploma prevista no § 5º do art. 73 da Lei nº 9.504/97 não constitui hipótese de inelegibilidade. Precedente. [...]” NE: “[...] assiste razão à recorrente quando afirma ser constitucional

o § 5º do art. 73 da Lei das Eleições. Esta Corte já se manifestou no Respe no 19.644/SE, rel. Min. Barros

Monteiro, DJ de 14.2.2003, no tocante à constitucionalidade do art. 41-A da Lei no 9.504/97 – introduzido também pela Lei no 9.840/99 – cuja pena é a cassação do registro ou do diploma. Igualmente, a penalidade de cassação de registro ou de diploma previsto no § 5º do art. 73 da Lei nº 9.504/97, pelos mesmos fundamentos, não gera inelegibilidade.”. (BRASIL. Tribunal Superior Eleitoral. Recurso Especial Eleitoral nº

24.739. Relator: Ministro Fernando Neves da Silva. Brasília, DF, 28 de outubro de 2004. Publicado em Sessão. Brasília, 28 out. 2004. Disponível em: <http://www.tse.jus.br/jurisprudencia/decisoes/jurisprudencia>. Acesso em: 30 nov. 2017, grifou-se).

(art. 30-A), não constituem causas de inelegibilidade, razão pela qual a sua introdução legislativa mediante lei ordinária não viola o art. 14, § 9º, da Constituição Federal.