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2 SISTEMA DE PREVIDÊNCIA SOCIAL BRASILEIRA

2.3 Constituição Federal de 1988 e Previdência Social

Através da Constituição Federal de 1988, foi possível incorporar o conceito de seguridade social no seu texto constitucional, da qual passou a ter o reconhecimento universal dos direitos sociais vinculados a cidadania. Tais direitos não englobam somente os aspectos de proteção social ligado ao contexto de social-trabalhista e assistencialista como anteriormente, mas no aparato do direito de cidadania universais (PANORAMA DA PREVIDENCIA SOCIAL BRASILEIRA, 2008; UGÁ; MARQUES apud RANGEL, et al., 2009). A Constituição Federal no seu capítulo da Ordem Social estabelece que a seguridade social esteja fundamentada em três pilares básicos e obedecem alguns princípios, a saber:

Art. 194. * A seguridade social compreende um conjunto integrado de ações de iniciativa dos poderes públicos e da sociedade, destinadas a assegurar os direitos relativos à saúde, à previdência e à assistência social.

Parágrafo único. Compete ao poder público, nos termos da lei, organizar a

seguridade social, com base nos seguintes objetivos: I – universalidade da cobertura e do atendimento;

II – uniformidade e equivalência dos benefícios e serviços às populações urbanas e rurais;

III – seletividade e distributividade na prestação dos benefícios e serviços; IV – irredutibilidade do valor dos benefícios;

V – Equidade na forma de participação no custeio; VI – diversidade da base de financiamento;

VII – carácter democrático e descentralizado da administração, mediante gestão quadripartite, com participação dos trabalhadores, dos empregados, dos aposentados e do Governo nos órgãos colegiados.

No que se refere à previdência, o texto constitucional abrange todo sentido de cobertura previdenciária, pois concedeu maior universalidade, participação social na gestão e diminuição das desigualdades socioeconômicas (RANGEL, et al., 2009). O regime de aposentadoria incorporado ao texto constitucional era abrangido tanto para o regime geral como para os servidores públicos, e tinha as seguintes características, segundo Giambiagi e Além (2011, p. 280):

 Aposentadoria por idade: 65 e 60 anos para homens e mulheres, respectivamente, com redução de 5 anos para os trabalhadores rurais de ambos os sexos.

 Aposentadoria por tempo de serviço: 35 e 30 anos de serviços para homens e mulheres, respectivamente, com redução de 5 anos de idade para os professores de ambos os sexos.

 Aposentadoria proporcional ao tempo de serviço: 30 e 25 anos de serviços para os homens e mulheres, respectivamente.

Donadon e Montenegro (2009) comentam que com a promulgação da Constituição Federal de 1988, do qual foi instituído o sistema de seguridade social, só passou a ser regulamentada em 1991, com aprovação de 8.212, que trata da organização da seguridade social e institui o seu plano de custeio –, e com a edição da Lei n° 8.213, que dispõe sobre os planos de benefícios da previdência social.

Em suma, a previdência passou por profundas mudanças que afetaram o sistema previdenciário como também houve uma elevação dos desequilíbrios dos gastos, sendo necessárias alterações no texto da Carta Magna de 1988 no decorrer desse período. Neste sentido, foi preciso a aprovação de uma emenda constitucional para que o sistema sanasse tais desequilíbrios decorrentes da ampliação do sistema da seguridade social. Veremos tal emenda no tópico seguinte (DONADON; MONTENEGRO, 2009).

A esse respeito, Najberg e Ikeda (1999) mencionam que as mudanças da Constituição Federal de 1988 não só afetaram o sistema previdenciário básico, como também impactaram a questão do funcionalismo público dos entes do governo. Assim estes autores relatam quais os problemas econômicos e financeiros que foram possíveis de constatar com as mudanças na Constituição Federal, a saber:

 A União, os estados, o Distrito Federal e os municípios deveriam instituir, no âmbito de suas competências, regimes jurídicos únicos e planos de carreira para os servidores da administração pública direta, das autarquias e das fundações públicas (artigo 39, CF/88). A Constituição também assegurou a compensação financeira para os trabalhadores que migrassem do Regime Geral para o Regime Jurídico Único.

 As aposentadorias dos servidores deveriam ocorrer com proventos iguais à última remuneração. Os índices de reajustes seriam os mesmos dos concedidos aos servidores da ativa e quaisquer benefícios ou vantagens concedidos aos servidores em atividade deveriam ser concedidos também aos inativos (artigo 40, CF/88).

Os efeitos da Constituição Federal de 1988 sobre a Previdência Social acabaram gerando dois problemas, em meados do ano de 1995, que consequentemente fez ressurgir o déficit nas contas públicas. Giambiagi e Além (2011, p. 147), destaca que os problemas foram:

Em primeiro lugar, ela restringiu a margem de manobra dessas autoridades, algo que não se revelou tão importante quando a inflação se encarregava de correr o valor real das despesas, mas que se mostrou de forma nua e crua quando a inflação passou a ser baixa, depois de 1994. E o segundo, aumentou consideravelmente as despesas previdenciárias.

No que se refere ao segundo problema mencionado, ele se enquadra no contexto de estudo e é importante frisar alguns aspectos que a CF trouxe para a previdenciária social que proporcionou efeitos negativos. A partir de 1991, teve um aumento nas aposentadorias concedidas no meio rural, acelerando mais ainda esse aumento durante o ano de 1994. Apesar da implantação do Regime Jurídico Único ser estabelecido desde 1988, só passou a ter efeitos significativos a partir de 1991, dando aos servidores grandes vantagens que acabaram por onerar as contas previdenciárias.

Com a CF, foi possível a concessão de aposentadoria por tempo de serviço em idade precoce, o que passaram a beneficiar um número crescente de pessoas. Até então, conceder benefícios nessas condições era razoável o quantitativo, porém, com as modificações na estrutura etária dos servidores fizeram que esses números aumentassem em meados dos anos 90. A partir de 1995, o número de pedidos para concessão de aposentadorias aumentaram ainda mais, devido às modificações demográficas que influenciaram a aposentadoria nessas condições o que ocasionou em efeitos negativos nas contas, e ganhando assim grande repercussão no cenário politico e econômico a partir desse ano (GIAMBIAGI e ALÉM, 2011).

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