Regimes de Previdência no Brasil: RGPS e RPPS

Em consonância com a evolução histórica da previdência social, hoje no Brasil o sistema possui três formas de regimes previdenciários: Regime Geral de Previdência Social (RGPS), Regime Próprio de Previdência Social (RPPS) e Previdência Complementar. Tais regimes atendem ao um grupo diferenciado, sendo que o RGPS e RPPS são autônomos entre si, possui orçamento diferenciado e ambos com legislação específica. Em contrapartida a previdência de caráter complementar atende ao RPPS, é aderido de forma voluntária e de forma contratual (PANORAMA DA PREVIDENCIA SOCIAL BRASILEIRA, 2008).

Rangel et al. (2009) comentam que a previdência social se apresenta de forma obrigatória para todos os trabalhadores, tanto da iniciativa pública, como da iniciativa privada. Vale ressaltar que a Constituição Federal de 1988 não versa apenas um regime único para toda a massa trabalhadora, havendo uma diferenciação na equiparação dos benefícios oferecidos. Neste contexto Rangel, et al. ( 2009, p. 46) afirmam que:

o Art. 40 do capítulo VII – da Administração Pública – versou sobre as condições de elegibilidade para os benefícios de aposentadorias e pensões específicos dos servidores públicos, das três esferas de governo, dotando lhes de duas importantes características: paridade da remuneração das aposentadorias e pensões em relação à remuneração dos servidores em atividade; e integralidade da última remuneração. Por sua vez, o Art. 39 estabelecia regime jurídico contratual próprio aos servidores públicos civis – Regime Jurídico Único (RJU), regulamentado no âmbito da União, por meio da Lei no 8.112, de 1990 –, diferenciado das regras vigentes para os

trabalhadores do setor privado – cujos contratos são regidos pela Consolidação das Leis do Trabalho (CLT).

Portanto, pode-se destacar que o RGPS é de filiação obrigatória ao Instituto Nacional do Seguro Social (INSS), o sistema abrange todos os trabalhadores urbanos e rurais, ou seja, todos que exerçam atividade remunerada como: o trabalhador empregado, empregado doméstico, o trabalhador autônomo, o eventual, o trabalhador avulso entre outros que integram o conjunto dos segurados, sempre observados o equilíbrio financeiro e atuarial do sistema (DONADON; MONTENEGRO, 2009).

“O RGPS admite, ainda a filiação de segurados facultativos, podendo livremente integrar esse regime qualquer pessoa maior de 16 anos, desde que não integre a categoria de segurados obrigatórios nem esteja vinculados a regime próprio de previdência” (DONADON; MONTENEGRO, 2009, p. 20).

Conforme o Artigo 201, da Constituição Federal, a previdência social atenderá nos termos da lei, a cobertura dos eventos de doença, invalidez, morte e idade avançada; proteção à maternidade, especialmente à gestante; proteção ao trabalhador em situação de desemprego involuntário; salário-família e auxílio-reclusão para os dependentes dos segurados de baixa renda e pensão por morte do segurado, homem ou mulher, ao cônjuge ou companheiro e dependentes.

Assim, para Donadon e Montenegro (2009), o RGPS é financiado por contribuições sociais arrecadas como forma de tributos, além de ser mantido pelos os recursos advindos do orçamento da União. Ressalta-se queos impactos que a Constituição Federal trouxe para RGPS, foram os aumentos dos gastos previdenciários, sem que houvesse uma arrecadação da receita equivalente aos gastos ocasionados (NAJBERG; IKEDA, 1999).

Já o RPPS, segundo De Marco et al. (2009), é um regime que abrange os servidores públicos (civis e militares) dos entes federativos, da qual a União optou por um regime próprio. Os servidores do RPPS (titulares de cargos efetivos da União, dos Estados, do Distrito Federal e dos Municípios, incluídas suas autarquias e fundações) estão em conformidade com a Constituição Federal (CF), no artigo 40, que disciplina e estabelece princípios básicos de funcionamento dos servidores públicos. O atual regime possui um carácter contributivo e solidário, já que os servidores ativos pagam as aposentadorias dos inativos e ainda conta com as contribuições tanto do respectivo ente e dos próprios inativos e pensionistas de cada ente.

O Regime dos servidores civis é regulado pela Lei nº 9.717/1998 e pela Lei nº 10.887/2004 e pelas emendas constitucionais nº 20/1998, nº 41/2003 e 47/2005. Ambas

reajustam e dão novas regras para previdência do servidor público, como será detalhado nos tópicos seguintes. Já o regime dos servidores militares está regulado pela Lei nº 6.880, de 1980, pelo embasamento constitucional no artigo 142, inciso X, que disporá sobre os critérios de concessão de aposentadoria e benefícios dos servidores militares e pela a Lei 3.765/1960, a qual dispõe sobre pensões. Salienta-se que os mesmos apenas contribuem para o regime para custeio de pensões (RELATÓRIO E PARECERES PRÉVIOS SOBRE AS CONTAS DO GOVERNO DA REPÚBLICA, 2003; DE MARCO et al. 2009).

E a Previdência Complementar, instituída através da Emenda Constitucional nº 041, de 2003, é constituída de forma voluntária, facultativa, e com uma administração privada. Surge para a complementação do beneficio concedido, garantindo assim a manutenção do padrão de vida dos trabalhadores inativos, quando esses encerram o período laborativo (PANORAMA DA PREVIDENCIA SOCIAL BRASILEIRA, 2008).

O texto constitucional apresenta a seguinte redação no artigo 202: “o regime de previdência privada, de carácter complementar é organizado de forma autônoma em relação ao regime geral de previdência social, será facultativo, baseado na Constituição de reservas que garantam o benefício contratado, e regulamentado por lei complementar”. Para Paixão (2006), a natureza jurídica privada da previdência complementar, está ligada intrinsicamente a autonomia da vontade, amparada pelo regime jurídico de direito privado.

No que se refere ao caráter complementar e autônomo, pode-se dizer que é complementar porque atende ao regime, e é autônomo, pois o benefício pago não depende da concessão do benefício pago pelo regime próprio. Vale ressaltar também que esse regime complementar sempre será firmado através de contrato entre o contribuinte e a entidade que administra o plano e para adesão de regime se torna de forma facultativa, ou seja, o servidor não será obrigado aderir ao regime (PAIXÃO, 2006).

Em geral, o regime de previdência complementar é administrado por entidade aberta (bancos e seguradoras) de previdência complementar com fins de lucrativos, e por entidade fechada (conhecidas como fundo de pensão) sem fins lucrativos. Tais fundos são fiscalizados por Ministério da Previdência e Assistência Social (MPS) ou pelo Ministério da Fazenda (MF) (TAFNER, 2011).

As entidades abertas possuem um caráter individual. É aberta para todos sem nem uma total exigência à adesão do plano, salvo quando a contratação de um particular plano e pagamento de contribuições. Em contrapartida, as entidades fechadas são destinadas a um determinado grupo de pessoas, ou seja, de empregados vinculados à administração pública. A adesão ao fundo é de forma voluntária sem nenhum carácter compulsório e serve de garantia

de poupança para o trabalhador, já que o plano oferece uma segurança uma relação às contribuições feitas (PAIXÃO, 2006; TAFNER, 2011).

Ressalta-se que, através da Emenda Constitucional - EC nº 20, de 1998, foi possível analisar a evolução da Previdência Complementar, já que incorporou o caráter do regime privado no texto constitucional (PAIXÃO, 2006). No entanto, a regulamentação do regime só ocorreu três anos depois, quando se editou as Leis Complementares nº 108 e 109 que deram um suporte para a autorização e a criação através de um Projeto de Lei 1992/2007, de entidade Fechada de Previdência Complementar, que denominaria de Fundação de Previdência Complementar do Servidor Público Federal (FUNPRESP), que seria destinada àqueles servidores de cargo efetivo nos âmbitos da administração pública. De acordo com a letra do Projeto de Lei 1992/2007, ela possui a finalidade de “administrar e executar plano de benefícios de carácter previdenciário, nos termos das Leis Complementares nº 108 e 109, de maio de 2001”.