• Nenhum resultado encontrado

3.2 SIGILO BANCÁRIO NO ORDENAMENTO JURÍDICO BRASILEIRO

3.2.5 CONSTITUIÇÃO FEDERAL DE

Com a promulgação da Constituição Federal de 1988, o direito à intimidade e à vida privada foi incluído no rol de direitos e garantias fundamentais, conforme seu artigo 5.°, inc. X. Tal fato reforçou a posição que defendia a impossibilidade da quebra do sigilo bancário pelo Fisco em processo administrativo, sendo a principal fundamentação das decisões judiciais que negam o acesso do Fisco diretamente às informações bancárias dos contribuintes, uma vez que, tanto na doutrina majoritária, como na jurisprudência atual, o entendimento é de que o sigilo bancário possui natureza constitucional.

O Ministro Demócrito Reinaldo, da Primeira Turma do Superior Tribunal de Justiça (STJ), manifestou no julgamento do Recurso Especial n.° 37.5665RS, em 2 de fevereiro de 1994, o seguinte entendimento acerca da questão da adequação da Lei n.° 4.595/1964 e do CTN à Constituição Federal de 1988, manifestando o seguinte entendimento:

“Tributário. Sigilo Bancário. Quebra com base em procedimento administrativo fiscal. Impossibilidade. O sigilo bancário do contribuinte não pode ser quebrado com base em procedimento administrativo fiscal, por implicar indevida intromissão na privacidade do cidadão, garantia esta expressamente amparada pela Constituição Federal (artigo 5.°, inciso X). Por isso, cumpre às instituições financeiras manter sigilo acerca de qualquer informação ou documentação pertinente a movimentação ativa e passiva do correntista/contribuinte, bem como dos serviços bancários a ele prestados. Observadas tais vedações, cabe-lhes atender às demais solicitações de informações encaminhadas pelo fisco, desde que

30 decorrentes de procedimento fiscal regularmente instaurado e subscrito por autoridade administrativa competente.

Apenas o Poder Judiciário, por um de seus órgãos, pode eximir as instituições financeiras do dever de segredo em relação às matérias arroladas em lei. Interpretação integrada e sistemática dos artigos 38, parágrafo 5.°, da Lei n.° 4.595/1964 e 197, inciso II e parágrafo 1.°, do CTN. Recurso improvido, sem discrepância”10.(grifo nosso)

Em análise ao voto do Ministro relator do acórdão, vimos que ele afirma que a interpretação sistemática do artigo 38 da Lei n.° 4.595/1964 e seus parágrafos, à luz da CF/88, levaria ao entendimento de que somente o Poder Judiciário e as Comissões Parlamentares de Inquérito teriam a faculdade de acessar as informações sigilosas, uma vez que estas estão protegidas pelo artigo 5.°, inciso X, da CF/88. Além disso, o parágrafo 5.° do artigo 38 da Lei n.° 4.595/1964 utiliza o substantivo “processo” ao invés de “procedimento fiscal”, o que denotaria tratar-se de processo judicial, levando a crer que a “autoridade competente” somente poderia ser aquela que preside tal tipo de processo.

3.2.6 LEI N.° 8.021/1990

Diante deste entendimento do STJ, com a necessidade de processo judicial para o acesso do Fisco às informações bancárias dos contribuintes, sobreveio a Lei nº 8.021/90, a qual derivou da Medida Provisória n.° 165, de 15 de março de 1990, que afastou expressamente as disposições do art. 38 da Lei nº 4.595/64, alterando as condições anteriores, trazendo literalmente em seu art. 8º, abaixo transcrito, que autoridade fiscal poderia solicitar às instituições financeiras informações sobre operações realizadas pelo contribuinte.

Art. 8° Iniciado o procedimento fiscal, a autoridade fiscal poderá solicitar informações sobre operações realizadas pelo contribuinte em instituições financeiras, inclusive extratos de contas bancárias, não se aplicando, nesta hipótese, o disposto no art. 38 da Lei n° 4.595, de 31 de dezembro de 1964.

10

BRASIL. Superior Tribunal de Justiça. Tributário. Sigilo bancário. Quebra com base em procedimento

administrativo fiscal. Impossibilidade. Recurso especial n.° 37.5665RS. Diário da Justiça [da] República

31 Parágrafo único. As informações, que obedecerão às normas regulamentares expedidas pelo Ministério da Economia, Fazenda e Planejamento, deverão ser prestadas no prazo máximo de dez dias úteis contados da data da solicitação, aplicando-se, no caso de descumprimento desse prazo, a penalidade prevista no § 1° do art. 7°.

A promulgação da Lei nº 8.021/90, prevendo de forma expressa a possibilidade de a autoridade fiscal solicitar de informações às instituições financeiras de dados dos contribuintes, fez surgir questionamentos acerca de sua aplicação.

A primeira delas de caráter formal constitucional, uma vez que o art. 192 da Constituição Federal exigia que as diretrizes do Sistema Financeiro Nacional fossem disciplinadas através de lei complementar (dispositivo que atualmente conta com nova redação dada pela Emenda Constitucional nº 40, de 29 de junho de 03, não mais subsistindo essa exigência) a segunda dizia respeito ao vício formal cometido pelo legislador em decorrência impossibilidade de uma lei ordinária, como é a Lei 8.021/90, derrogar uma Lei que foi recepcionada pela ordem constitucional de 1988 como Lei Complementar, como é o caso da Lei 4.595/64. Além disso, a própria aplicabilidade da norma gera questionamentos, uma vez que o parágrafo único de seu art. 8º previa a expedição e a obediência de normas regulamentares a cargo do Ministro da Economia, Fazenda e Planejamento, que nunca foram regulamentadas.

Em sentido contrário, grande parte da doutrina afirmava que nos casos de leis que foram aprovadas originalmente como leis ordinárias e posteriormente ganharam status de leis complementares, por terem sido recepcionadas pela CF/88 como tal, as partes dessas leis que não tratam de matéria reservada à lei complementar continuam a vigorar como leis ordinárias, podendo ser alteradas ou revogadas por outra lei ordinária. Portanto, os parágrafos 5.° e 6.° do artigo 38 da Lei n.° 4.595/1964 podem ser alterados ou derrogados por lei ordinária, como o foram pelo artigo 8.° da Lei n.° 8.021/1990, posto não tratarem do Sistema Financeiro Nacional, mas sim de meros procedimentos fiscais.

Documentos relacionados