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3.2 SIGILO BANCÁRIO NO ORDENAMENTO JURÍDICO BRASILEIRO

3.2.7 LEI COMPLEMENTAR N.° 70/

32 A Lei Complementar n.° 70, de 30 de dezembro de 1991, instituiu a Contribuição para Financiamento da Seguridade Social (COFINS). Entretanto, em seu artigo 12, previu algumas disposições acerca do dever de informação das instituições financeiras à Administração Tributária Federal, mais especificamente sobre as informações cadastrais dos clientes destas instituições. Tal dispositivo tem a seguinte redação:

Art. 12. Sem prejuízo do disposto na legislação em vigor, as instituições financeiras, as sociedades corretoras e distribuidoras de títulos e valores mobiliários, as sociedades de investimento e as de arrendamento mercantil, os agentes do Sistema Financeiro da Habitação, as bolsas de valores, de mercadorias, de futuros e instituições assemelhadas e seus associados, e as empresas administradoras de cartões de crédito fornecerão à Receita Federal, nos termos estabelecidos pelo Ministro da Economia, Fazenda e Planejamento, informações cadastrais sobre os usuários dos respectivos serviços, relativas ao nome, à filiação, ao endereço e ao número de inscrição do cliente no Cadastro de Pessoas Físicas (CPF) ou no Cadastro Geral de Contribuintes (CGC).

§ 1° As informações recebidas nos termos deste artigo aplica-se o disposto no § 7° do art. 38 da Lei n° 4.595, de 31 de dezembro de 196

§ 2° As informações de que trata o caput deste artigo serão prestadas a partir das relações de usuários constantes dos registros relativos ao ano-calendário de 1992.

§ 3° A não-observância do disposto neste artigo sujeitará o infrator, independentemente de outras penalidades administrativas à multa equivalente a trinta e cinco unidades de valor referidas no art. 5° desta lei complementar, por usuário omitido.

A principal controvérsia trazida por esta Lei em relação ao sigilo de informações bancárias foi quanto ao seu conteúdo e extensão, ou seja, se ele abrangeria ou não todas as informações em poder das instituições financeiras, como as informações cadastrais.

33 Para alguns, o sigilo bancário inclui toda informação obtida através da relação entre a instituição financeira e o cliente, abrangendo, portanto, os dados cadastrais e a informação sobre a abertura ou a existência da conta. Já para outros, as informações cadastrais são meros dados pessoais que identificam o sujeito em suas relações sociais e comerciais, não sendo, portanto, parte do escopo do sigilo bancário.

Tendo em vista sua posição de lei complementar, a fiscalização tributaria trazida por este dispositivo se rege sem as limitações estabelecidas na Lei 4.595/1964, não sendo as informações cadastrais submetidas ao sigilo bancário por não serem exclusivas da relação entre a instituição financeira e o cliente, embora sua revelação pelo Fisco possa provocar penalidade, o que indica que estão albergadas pelo sigilo fiscal.

Tércio Sampaio Ferraz Júnior11 esclarece que esse tipo de dado, embora privativo do sujeito, é condição de sua identificação para efeito dos intercâmbios sociais que ocorrem inclusive na vida privada. E completa explicando que não há dúvidas de que a Administração Fazendária, no exercício da fiscalização intermitente, pode exigir esse tipo de dado, uma vez que o artigo 12 da lei sob comento refere-se à fiscalização continuada. Ou seja, o que se pretende é alcançar, pelo cruzamento de cadastros de nomes, endereços, filiação e número do CPF ou CGC, pistas que conduzam a eventuais fraudes, como o uso de documento fiscal falso, ou de terceiros, etc. O interesse da fiscalização não está, aí, na identificação das relações de convivência próprias da vida privada, mas na identificação de um documento oficial e o respectivo portador. Não se quer atingir o uso do serviço bancário, mas a identidade tributária do usuário.

Nesse mesmo sentido, destacamos o voto do Ministro Sepúlveda Pertence, do Supremo Tribunal Federal, no julgamento da medida cautelar em Ação Direta de Inconstitucionalidade número 1.790-5/DF, onde afirmou que a Constituição Federal de 1988 autoriza a existência de bancos de dados pessoais em poder de instituições governamentais ou de caráter público (art. 5º, LXXII), conforme parte da ementa abaixo:

3 - A convivência entre a proteção da privacidade e os chamados arquivos de consumo mantidos pelo próprio fornecedor de credito ou integrados em bancos de dados, tornou-se um imperativo da economia da sociedade de massas: de viabilizá-la cuidou o CDC,

11

FERRAZ JÚNIOR, Tércio Sampaio. Sigilo de dados: o direito à privacidade e os limites a função

fiscalizadora do Estado. Disponível em:

34 segundo o molde das legislações mais avançadas: ao sistema instituído pelo Código de Defesa do Consumidor para prevenir ou reprimir abusos dos arquivos de consumo, hão de submeter-se as informações sobre os protestos lavrados, uma vez obtidas na forma prevista no edito impugnado e integradas aos bancos de dados das entidades credenciadas a certidão diária de que se cuida: é o bastante a tornar duvidosa a densidade jurídica do apelo da argüição à garantia da privacidade, que há de harmonizar-se à existência de bancos de dados pessoais, cuja realidade a própria Constituição reconhece (art. 5°, LXXII, in fine) e entre os quais os arquivos de consumo são um dado inextirpável da economia fundada nas relações massificadas de crédito.12 (grifo nosso)

3.2.8 LEI N.° 9.311/1996

A Lei n.° 9.311, de 24 de outubro de 1996, instituiu a, hoje extinta, Contribuição Provisória sobre Movimentação ou Transmissão de Valores e de Créditos e Direitos de Natureza Financeira – CPMF. Em seu artigo 11 encontrava-se prevista a prestação de informações pelas instituições financeiras à Administração Tributária Federal, para fins de fiscalização do recolhimento do referido tributo, conforme redação abaixo:

Art. 11 Compete à Secretaria da Receita Federal a administração da contribuição, incluídas as atividades de tributação, fiscalização e arrecadação.

§ 1º No exercício das atribuições de que trata esse artigo, a Secretaria da Receita Federal poderá requisitar ou proceder ao exame de documentos, livros e registros, bem como estabelecer obrigações acessórias.

12

BRASIL. Supremo Tribunal Federal. Tributário. Protesto cambial. M.Prov. 1638 1/98. Suspensão Cautelar Indeferida. Ação Direta de Inconstitucionalidade n.° 1790-5/DF. Diário da Justiça. República

35 § 2º As instituições responsáveis pela retenção e pelo recolhimento da contribuição prestarão à Secretaria da Receita Federal as informações necessárias à identificação dos contribuintes e os valores globais das respectivas operações, nos termos, nas condições e nos prazos que vierem a ser estabelecidos pelo Ministro de Estado da Fazenda.

§ 3º A Secretaria da Receita Federal resguardará, na forma da legislação aplicável à matéria, o sigilo das informações prestadas, vedada sua utilização para constituição do crédito tributário relativo a outras contribuições ou impostos.

§ 4º Na falta de informações ou insuficiência de dados necessários à apuração da contribuição, esta será determinada com base em elementos de que dispuser a fiscalização.

Vale ressaltar que a prestação de tais informações era imprescindível a própria criação do tributo, uma vez que a fiscalização tributária ficaria sem os meios necessários à verificação do seu correto recolhimento pelas instituições financeiras.

A princípio, os doutrinadores não foram contra os referidos dispositivos, tendo em vista o fato de que a lei exigiu apenas os montantes globais e não as operações individualizadas e, principalmente, em razão da vedação da utilização das informações para o lançamento de outros tributos.

Entretanto, com a alteração da redação do §3º de seu artigo 11, abaixo, pela Lei n.° 10.174, de 9 de janeiro de 2001, gerou fortes reações contrárias por parte da doutrina:

§ 3º A Secretaria da Receita Federal resguardará, na forma da legislação aplicável à matéria, o sigilo das informações prestadas, facultada sua utilização para instaurar procedimento administrativo tendente a verificar a existência de crédito tributário relativo a impostos e contribuições e para lançamento, no âmbito do procedimento fiscal, do crédito tributário porventura existente, observado o disposto no artigo 42 da Lei 9430/96, de 27 de dezembro de 1996, e alterações posteriores.

36 A controvérsia reside na possibilidade de utilização, pela administração tributária Federal, das informações prestadas para instauração de procedimento administrativo com o objetivo de realizar o lançamento de possível crédito tributário existente, relativo a outros impostos e contribuições. Desta forma, foram ajuizadas perante o Supremo Tribunal Federal Ações Diretas de Inconstitucionalidade com a finalidade de impugnar o dispositivo, entretanto tais ações não chegaram a ser julgadas em razão da promulgação da Lei Complementar 105/2001.

4 A LEI COMPLEMENTAR 105/2001 E O SIGILO BANCÁRIO NO CENÁRIO

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