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DESENVOLVIMENTO DA AÇÃO

DÉCIMO QUINTO – COLHENDO FRUTOS

5.2 DA DESMOTIVAÇÃO À ATRIBUIÇÃO DE SENTIDO

5.2.2 CONSTRUÇÃO COLETIVA DO CONHECIMENTO

Foi-nos apontado um caminho em nosso primeiro encontro, o agricultor nos informou que o anemômetro era um instrumento que teria muita utilidade para ele, então, a partir daí iniciamos a nossa “organização do conhecimento”. Ficou claro que

101 esse era o momento de trabalharmos com os artigos e sites que falavam sobre as estações. Estes artigos nos ajudariam a compreender o nosso problema inicial.

É como um estado de letargia que nós estávamos envolvidos, um tal “sistema” que nos envolve e nos prende e nos impede de contemplar o futuro. Se somos alunos vamos à escola porque temos que ir, fazemos as coisas porque vale nota, não paramos em momento algum para avaliarmos o que estamos fazendo, queremos apenas atingir os vinte pontos e pronto. Se somos professor pensamos: já dou a minha aula há tanto tempo, assim sempre funcionou. Para que mudar? Não temos tempo e nem ganhamos para inovarmos tanto, afirmam alguns.

Mas o que vemos é um projeto que não se omitiu de sua responsabilidade cidadã refletindo e agindo, agindo e refletindo. Sempre deixando claro qual a sua posição e quais as suas responsabilidades. O grupo percebe essas ações, todos que participaram entenderam através do diálogo, através das reflexões, que os erros e os acertos eram nossos, as responsabilidades eram nossas.

O agricultor compreende que numa comunidade que não se reconhece é preciso falar do quão importante é ser agricultor. O que é desenvolvido na escola serve para otimizar a sua produção.A escola desenvolve o seu papel e abre as suas portas, chama a comunidade em busca da problematização. Professores vislumbram novas formas de relação com os conteúdos, sentem-se autônomos para recriá-los e integrá- los à realidade da comunidade. Pesquisam, pois percebem que não sabem tudo. Percebe-se no aluno um companheiro para suas pesquisas. Os alunos envolvidos pela busca do ser mais sentem-se integrados com o conhecimento, percebem que podem construí-los, para juntos, interferirem em suas realidades.

Se pensarmos que todos somos oprimidos cabe dizer:

Os oprimidos, nos vários momentos de sua libertação, precisam reconhecer- se como homens, na sua vocação ontológica e histórica de ser mais. A reflexão e a ação se impõem, quando não se pretende, erroneamente, dicotomizar o conteúdo da forma histórica de ser do homem (FREIRE, 1987 p.52).

O que o projeto conseguiu foi dar à escola e à comunidade, possibilidades de decisão, de escolha, de autonomia. Essa conquista foi se formando nos encontros quando nos sentamos para falar sobre os conceitos. Nesse momento, deveríamos discutí-los sem a preeminência de um e nem de outro, era necessário apenas que todos falassem. A horizontalização do conhecimento foi atingida, isso é que deu

102 confiança a todos, escola e comunidade. Essa é a vocação para o ser mais. (FREIRE, 2001)

Para que haja essa relação entre comunidade e escola tem que se pensar numa construção de currículo. Os conteúdos precisam ser tratados de forma diferenciada. Se há ousadia no diálogo, se ele é problematizador, então não se pode trabalhar com os conteúdos como eles se apresentam nos currículos tradicionais. Há a necessidade de uma nova visão que, de certa forma, inicia com as inquietações do professor, se misturam com os anseios dos alunos e se complementam nas comunidades. É possível observar essa inquietação surgindo no professor. Ele se vê impelido para a pesquisa. Se junta ao aluno para a construção de novos conceitos.

É claro que nem sempre, na construção do currículo, sabemos o que queremos. As vezes é preciso que a comunidade venha até nós para nortear as escolhas, para falar da importância daquilo que fazemos e falamos.

Uma possibilidade bastante plausível é o trabalho com projetos. Pareceu-nos evidente que essa dinâmica torna os conteúdos mais próximos do aluno e por conseguinte da sua comunidade. Os alunos começam a vivenciar os conteúdos. As falas a seguir retratam essas questões:

naquele momento foi nas oficinas, foi na hora de você reconectar a ação do projeto para ele voltar a funcionar, ou seja, na divisão dos grupos a divisão de tarefas, a questão dos conteúdos, as oficinas reformando a questão de como tratar a Geografia, a Física, a Química, todas utilizadas na estação de forma junta, ou seja, juntou o que? O conceito de umidade na Geografia com a parte Física da umidade como você consegue visualizar o conceito de umidade na Geográfica com a realidade da Física, para que isto ocorresse foi preciso que antes e depois das oficinas nós nos sentássemos é discutíssemos como as disciplinas tratam os vários conteúdos. Aí que eu vi que o projeto tomou uma nova forma e o que contribuiu para isso foi a forma como foi conduzido, isto favoreceu o nosso entendimento de professor e o entendimento do aluno no sentido de ele perceber que era um membro ativo do projeto. (Inaldo).

tive dificuldades... quando houve aquela possibilidade das nuvens eu vi que [...] a arte poderia esta ali junto com a Química com a Física com a Geografia [...] então eu tive que pesquisar, que criar possibilidade de trabalhar com este conteúdo fazendo essas associações..., fizemos uma discussão eu e o professor de Geografia [...] poderíamos ter discutido mais, embora depois, isso veio a ocorre... por que os alunos tiveram que pesquisar[...], eu tive que pesquisar e compreender com era o nome das nuvens, agora eu sou incapaz de olhar para o céu sem ficar pensando no nome de cada uma pelo formato, se vai chover ou não[...] eu acho que isto é empolgante, isso é que me 3empolgou e eu gostaria de ter empolgado os alunos mais [...] talvez eles não se empolgaram tanto. Só depois que eles tiveram uma explicação melhor, é que eles compreenderam o que eu queria e até disseram – ah é isso que você queria. (Magda).

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