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DESENVOLVIMENTO DA AÇÃO

DÉCIMO QUINTO – COLHENDO FRUTOS

5.2 DA DESMOTIVAÇÃO À ATRIBUIÇÃO DE SENTIDO

5.2.1 PROVOCANDO INQUIETAÇÕES

Nos momentos de construção do projeto, quando procuramos a direção, não tínhamos claro o que seria o projeto, como ele seria organizado. Tínhamos inquietações a respeito do potencial da Estação Meteorológica. Mas o que fazer? Onde procurar? Havia a compreensão por parte dos professores participantes de que a estação precisava ser reativada, discutimos e estabelecemos metas.

Era preciso fomentar as discussões sobre a estação na escola. Esta precisava tomar conhecimento do “bom produto” que tinha, precisávamos somente descobrir as suas potencialidades.

Compreendemos que deveríamos buscar parceiros, a EMATER foi importante neste momento, ela intermediou nosso encontro com o agricultor. Fomos até a chácara dele e mostramos qual era a nossa proposta, apresentamos o projeto e falamos da possibilidade de montar uma estação em sua propriedade. Foi feito o convite para ele participar do nosso primeiro encontro na escola; lá nós mostraríamos o que tínhamos e ele poderia apontar caminhos para um possível trabalho conjunto. Mas o que queríamos mesmo era poder sentar e conversar sobre o que sabíamos e não sabíamos a respeito da Estação Meteorológica.

Isso aconteceu. E a partir desse momento houve uma compreensão de todas as partes da importância de estarmos levando aqueles conhecimentos para a comunidade. Destacamos que neste encontro o agricultor nos mostrou algumas

99 possibilidades de utilização para a estação e principalmente para o anemômetro. Segundo ele “só este instrumento, otimizaria a sua produção em mais ou menos 30%”.

Em outro encontro com a EMATER, onde estavam presentes alunos e professores, nos foi mostrado um instrumento, o IRRIGA, de construção bem simples, mas de uma utilidade sem igual e que poderíamos utilizar em nossa Estação.

Entendemos que o processo de problematização inicial começava a ser elaborado. Estávamos diante de situações desafiadoras que exigiriam dos alunos uma exposição dos seus pensamentos. O aluno participa dessa construção da seguinte forma: Era preciso um passo atrás para que compreendêssemos a Estação. Era preciso investigar quais saberes existiam na cabeça dos alunos a respeito dos conteúdos relacionados à Estação. Também precisávamos identificar qual era a compreensão da escola a esse respeito. Marcamos uma reunião aonde todos foram convidados, escola e comunidade.

Para a divulgação instigamos a curiosidade dos membros da escola fazendo, durante três dias, divulgações sobre a Estação. Falando sobre o primeiro encontro, entregando panfletos em toda a escola, nos intervalos e na entrada do turno. Os alunos começavam com as primeiras inquietações perguntando do que se tratava esse encontro.

O que se queria era estabelecer um tipo de proximidade com os alunos, compreender o seu mundo.

O resultado foi positivo, haja vista, que no dia da apresentação o laboratório ficou lotado, inclusive com a presença do vigia da escola.

Nesta perspectiva vimos que os alunos compreenderam o trabalho e viram que os conteúdos foram abordados de uma forma diferenciada, de uma forma que oportunizou o crescimento coletivo e que evidenciou a importância de se trabalhar com conteúdos que tenham uma representatividade em seu cotidiano em sua comunidade. É a oportunidade que se teve para juntar conhecimentos teóricos com conhecimentos práticos.

Os trechos a seguir (falas dos entrevistados) apontam essas questões:

primeiramente a ideia é muito boa [...] quando eu vi jovens, crianças agregando um valor que eles não entendiam que valor era esse. Para você ter uma ideia, você está com ouro na mão e pensar que é chumbo que é barro. E eu entendo que aquilo é o maior tesouro do mundo. Eu cheguei e disse eu vou vestir essa camisa eu vou mostrar para eles que eles estão

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vestindo a melhor camisa da seleção brasileira, a melhor camisa mundialmente falando é uma coisa impressionante [...]. Eles estão apenas participando do colegial do momento, de uma aula, eu quero mostrar que aquilo é para a vida, para vida toda. Se a gente conseguir comprovar, comprovar não, por que comprovado já está, se conseguir realizar esse momento em uma abertura mais ampla, com certeza muitos depois deles vão ter como maior exemplo, vai ser o maior orgulho, para mim, eu vou ficar “felicíssimo” de ter nascido. Muito feliz em ter nascido e ter contemplado eles de uma maneira que eles não entendiam [...] e passar isso para eles, pois a nossa geração esta indo e a deles chegando mas outras viram, eu acho que este é o grande significado de tudo, entendeu”. (João Carlos).

é que a gente pode por em prática todo o conhecimento que a gente aprendeu na estação e que, na sala de aula, a gente só aprende e não coloca em prática. Aí a gente pode desenvolver mais este conhecimento e aprender coisas novas e desenvolver a estação mesmo (Marcos).

foi uma coisa diferente que você não vê ninguém ensina a você falar sobre o clima (Ludimara).

então o bacana do projeto foi que realmente a gente aprendeu aquilo, porque quando é na sala de aula a gente estuda só para passar na prova, só uma coisa simples e com o projeto não a gente realmente viu a utilidade daquele conhecimento, isto incentiva a gente a descobrir mais e não passar batido naquela matéria. (Marildo).

o tempo que tivemos aqui no laboratório eles conseguiram ter acesso a coisas que na sala de aula eu não trabalho, os meninos ainda tiveram a curiosidade de se aprofundar, eu tive a oportunidade de mostrar algumas coisas de medição de ácido e base de ph. (Ronaldo)

O que houve foi o entrelaçamento entre a teoria e a prática, o Pai já fazia, o aluno não sabia que era dessa forma, e o aluno sabia e o pai não sabia que o aluno tinha aquele conhecimento mais sistematizado e o pai tinha o conhecimento assistemático que ele aprendeu na vida, então o que houve foi um entrelaçamento, agora ele compreende que o que um sabe o outro sabe de outra forma, mas que sabe também. O que aconteceu foi exatamente isso: O pai conseguiu ver a escola dentro dele e o aluno conseguiu dentro da vivência dele, ver a escola também, então os conhecimentos que eu aprendo na escola são para a minha vida e o Pai conseguiu perceber que os conhecimentos que o aluno aprende lá na escola ele vai aplicar lá dentro da casa dele, deu para entender? É complicado, mas ao mesmo tempo é esclarecedor né. Porque tá tudo aqui, a gente só não entende até que ponto cada um entende isso”. Então a estação contemplou este entendimento? (pergunta feita pelo entrevistador) Esse entendimento, esse entendimento do Pai para com o filho, o nosso aluno e dele para com o Pai – poxa meu Pai já faz isso a tanto tempo e tá tudo aqui na Física, na Química e ele faz lá de forma tão natural, então o aluno começa a também fazer de uma forma natural e entender aquilo de forma natural.(Sâmela).