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DESENVOLVIMENTO DA AÇÃO

DÉCIMO QUINTO – COLHENDO FRUTOS

5.1 IMPRESSÕES DOS ENVOLVIDOS: POTENCIALIDADES E DESAFIOS

5.1.1 FORMAÇÃO DOS ALUNOS

No processo de formação dialógica é fundamental que se de possibilidade para o desenvolvimento de todas as nossas potencialidades, somos todos detentores de um saber, o diálogo evidencia o que temos de melhor e a problematização da sentido para as inquietações. Procuramos destacar falas que mostram as contribuições do projeto para a formação dos alunos.

eu sempre gostei de aprender coisas novas e o projeto foi muito legal, foi uma coisa diferente que você não vê. Ninguém ensina a você falar sobre o clima, essas coisas do tempo, eu achei diferente. (Ludimara).

[..] eu cresci muito em alguns aspectos, eu era muito fechado, eu ainda sou um pouco, mas eu desenvolvi bastante, principalmente na fala. Nas apresentações da Estação nas feiras eu aprendi conteúdos que eram difíceis para mim, tanto de Geografia como de Física e Matemática, aí com a estação foi melhor para aprender os conteúdos e para mim mesmo. (Marildo).

eu quero, eu espero muito que os outros alunos caiam matando nesse projeto, por que o projeto agora esta abrindo, o projeto de agricultura, a estação mesmo, agora tem a informática, mecatrônica em si mesmo, a gente esta fazendo programação, tudo isto putzz!!! eu queria ter conhecido isso tudo antes, mais cedo e não no terceiro ano, para eu aprender mesmo, por que isto ai conta muito no futuro, se você sabe fazer uma programação ou mexer em informática, você é visto de outra forma, você é visto diferente no mercado de trabalho, nos empregos eu vejo isto no dia a dia. Esse projeto me possibilitou isso. Hoje mesmo uma pessoa que iria me contratar perguntou se eu sabia trabalhar com arduino, programação de arduino. Eu gostaria que os alunos percebessem isso e valorizassem o projeto. Em um ano nós abrimos uma nova aba nesse projeto. (Josué Limeira).

O que houve foi o entrelaçamento entre a teoria e a prática. O Pai já fazia, o filho (aluno) não sabia que era dessa forma. O aluno sabia e o pai não sabia que o aluno tinha aquele conhecimento mais sistematizado. E o pai tinha o conhecimento assistemático que ele aprendeu na vida. Então o que houve foi o encontro destes dois conhecimentos, agora eles, pai e filho compreendem que o que um sabe o outro sabe de outra forma, mas que sabe também. O que aconteceu foi exatamente isso: O pai conseguiu ver a escola dentro dele e o aluno conseguiu, dentro da vivência dele, ver a escola também. Então os conhecimentos que eu aprendo na escola são para a minha vida! E o Pai consegui perceber que os conhecimentos que o aluno aprende na escola ele vai aplicar dentro de casa. Deu para entender? É complicado, mas ao mesmo tempo é esclarecedor. Porque tá tudo aqui, a gente só não entende até que ponto cada um entende isso. Esse entendimento, esse entendimento do Pai para com o filho, o nosso aluno e dele para com o Pai – poxa meu Pai já faz isso a tanto tempo e tá tudo aqui na Física, na Química e ele faz lá de forma tão natural, então o aluno começa a também fazer de uma forma natural e entender aquilo de forma natural. (Sâmela).

[...] a gente sai da sala de aula, chegou um momento em que nós estávamos dando aula para outros alunos, para outros professores, pais, foi o que aconteceu nas feiras, a gente apresentava uma coisa assim para pessoas de 30, 40 anos que não sabia, ficavam perguntando e a gente respondia com o

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maior gosto, a gente dominava o conteúdo, e a gente passava isso, e eles percebiam que a gente dominava o conteúdo, por isto que a gente levou alguns prêmios. (Josué Limeira).

Instigados a conhecer-se e a conhecer o mundo, alunos e professores se viram no processo de transformação individual. Impelidos a reformular suas questões e a buscar outras respostas, compreenderam que poderiam transformar sua realidade. Freire reflete sobre este momento dizendo: “se os homens são estes seres da busca e se sua vocação ontológica é humanizar-se, podem, cedo ou tarde, perceber a contradição em que a “educação bancária” pretende mantê-los e engajar-se na luta por sua libertação.” (FREIRE, 1987, p. 62). Felizes com este novo encontro consigo, agora se reconhecem como comunidade, compreendem as limitações da forma de educação que praticavam. É a problematização que aponta para a possibilidade de os educandos se tornarem críticos. MUENCHEM (2010, p. 160) nos diz:

Ao problematizar, de forma dialógica, os conceitos são integrados à vida e ao pensamento do educando. Ao invés da memorização de informações sobre Química, Física ou Biologia, ocorre o enfrentamento dos problemas vivenciados. Em síntese, a problematização pode possibilitar que os educandos tornem-se críticos das próprias experiências, interpretando suas vidas, não apenas passando por elas.

Então ousaria a dizer que deixamos “a curiosidade “desarmada” com que olho as nuvens que se movem rápidas, alongando - se uma nas outras, no fundo azul do céu.” e entramos em uma “curiosidade metódica, exigente, que, tomando distância do seu objeto, dele se aproxima para conhecê-lo e dele falar prudentemente. (FREIRE, 1993, p. 55). Foi o primeiro passo para a saída da “curiosidade ingênua” em busca da curiosidade epistemológica.

Foi a conexão com os conteúdos, não porque os conteúdos tenham esta dimensão por si só, mas porque agora educando-educador, educador-educando se sentem empoderados do conteúdo, sentem-se construtores desse conteúdo. O que se compreendeu é como os conteúdos estão organizados nos currículos, e muito mais do que isso, é como eles podem ser reorganizados.

É um ato de ação-reflexão-açao. Esse entendimento foi tão intenso que os alunos propuseram e articularam encontros com outras turmas, outros turnos e outras escolas. Nos parece que eles se entenderam professores.

Esse é o poder da educação problematizadora. O que se propõe é dar oportunidade ao educando para fazer intervenções, dar as suas ideias, construir a sua

86 formação. Tudo isso é o que estamos chamando aqui de empoderamento, que só se tornou evidente quando permeado pelo diálogo. Diálogo entre escola e comunidade.