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A CONSTRUÇÃO DE UM OBJETO DE ESTUDO: VIVÊNCIAS TEMPORAIS COTIDIANAS

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1. Mesmo assim, as reflexões não são muitas, entre elas: Dal Rosso (1996), Silva (1996) e Calvete (2006), sendo que este último tem como foco principal a discussão macro-econômica da redução da jornada de trabalho.

este capítulo, apresento o percurso de análise do tempo de trabalho e de não trabalho, construída a partir dos discursos dos trabalhadores sobre suas vivências temporais cotidianas. Vivências essas contextualizadas tanto ao nível macro, no que se refere às mudanças que vêm ocorrendo no tempo e no trabalho na sociedade atual, como ao nível micro, das transformações que têm se dado nos locais de trabalho.

Para apresentar esse percurso, este capítulo está estruturado da seguinte forma: primeiro apresento a perspectiva metodológica adotada, um estudo de tipo qualitativo, de um caso, a partir do local de trabalho, analisando discursos sobre vivências, contextualizados por rigorosa análise. Em seguida, abordo o contexto da pesquisa, discutindo os motivos que me levaram a escolher a Volkswagen do ABC e a observar o fenômeno no período compreendido entre os anos de 1995 e 2005. Na terceira parte, indico os procedimentos metodológicos utilizados para coleta de dados, relatando como a pesquisa foi realizada. O modo de tratamento analítico do material empírico recolhido será detalhado na quarta parte. Finalmente, apresento os sujeitos empíricos desta pesquisa coletivamente, além do perfil de cada trabalhador entrevistado.

4.1 - Perspectiva metodológica

No Brasil, os estudos já realizados com respeito ao tema do tempo de trabalho, em sua maioria, caracterizaram-se por uma abordagem de tipo macro-econômico e focalizada na nego- ciação coletiva ou institucional 1. Em minha própria dissertação de mestrado, por exemplo, tive

a oportunidade de focalizar os processos de negociação e seus resultados, deixando à margem as vivências e experiências dos trabalhadores. Com esse procedimento, na maior parte das vezes, os diversos tempos sociais não dialogam, pois o pesquisador observa apenas o tempo de traba- lho, como se ele fosse o único tempo ou o determinante de todos os outros tempos sociais. Discute-se a quantidade de tempo dedicada ao trabalho, as regras vigentes, como elas surgiram e se alteraram ao longo na história, mas não como esse tempo é vivenciado cotidianamente e como tais vivências podem levar a mudanças na negociação ou mesmo na legislação.

A partir da orientação teórica apresentada anteriormente, fica claro que além das pessoas incorporarem uma temporalidade institucional e social – estando submetidas a um tempo possí- vel de ser cronometrado e medido objetivamente, definindo os momentos de trabalho, de não trabalho, de acordar, dormir, de comer, de descansar – elas vivenciam e representam subjetiva- mente tais temporalidades. Desse modo, uma parte do tempo dedicado ao trabalho é mensurável - pelo calendário, relógio de ponto, expressando-se em horas, minutos e segundos -, mas existe outra dimensão que não é possível ser contabilizada, e que se refere às vivências temporais cotidianas de cada um, de cada grupo, em cada sociedade, em cada momento histórico.

Assim, ao empreender esse olhar a minha intenção foi a de buscar romper com um ponto de vista que busca dar conta apenas dos efeitos e resultados mais visíveis do tempo, penetrando no que Lopes (2000) denomina de historicidade dos seus condicionamentos. Por isso mesmo, busquei compreender os significados e as representações construídas pelos diferentes atores sociais que, por sua vez, foram remetidas às determinações mais amplas de uma dada cultura temporal, num dado momento histórico. Para tal, realizei uma abordagem predominantemente qualitativa, tendo como fonte de análise principal as falas dos trabalhadores sem, contudo, me restringir a elas, colocando-as diante de outras, presentes tanto dentro do local de trabalho como fora dele. As narrativas discursivas dos sujeitos foram compreendidas como um processo de "elaboração/reelaboração dos fatos, e numa organização do enredo que não se limita à descrição ipsis litteris do que aconteceu. Revela a atitude ativa de alguém que é ator, co-autor e platéia dos eventos que estão sendo narrados", sendo o relato, ele mesmo, uma construção (Lopes, 2000:95). Do ponto de vista da análise, esse método significou um esforço concentrado no sentido de interpretar e hierarquizar os significados atribuídos pelos sujeitos, submetendo-os, sempre que possível, às falas de outros atores bem como à contextualização mais ampla.

Desta forma, concordo com Tedesco quando argumenta que "o desafio acadêmico está em estruturar metodologias e teorias que promovam o diálogo epistemológico entre o micro e o

macro e que dêem conta das várias modalidades que a vida social hoje apresenta (...)" (2002:204, in Tedesco 1999). Ou ainda, com Demazière (1995), quando salienta que a análise sociológica de uma determinada realidade deve abarcar diversas dimensões: a forma como a construção de um conceito se institucionaliza nas políticas do Estado, isto é, o que passa a ser reconhecido institucionalmente; o seu reconhecimento social; bem como a situação subjetiva e de identidade dos indivíduos. E o mais importante, como se dá a relação entre essas dimensões dado que, apesar de separadas analiticamente, estão totalmente imbricadas no mundo real, havendo uma influência mútua entre as estruturas e as práticas sociais.

A partir desse olhar, analisei como os tempos dedicados ao trabalho e ao não trabalho foram socialmente construídos, articulando as histórias individuais ao contexto coletivo e social do local de trabalho e da sociedade. Construí a análise vinculando as vivências cotidianas indi- viduais dos trabalhadores aos processos de negociação coletiva no local de trabalho, por sua vez influenciadas e influenciando as estruturas e os valores presentes na sociedade atual.

Para tal, defini como locus de análise o espaço do local de trabalho. Nele os empresários definem mudanças na organização e gestão da produção e do trabalho que afetam diretamente o tempo de trabalho. Enquanto que os trabalhadores e seus representantes pressionam, ou não, para que tais mudanças sejam objeto de negociação. Tais mudanças, por sua vez, influenciam as vivências cotidianas dos trabalhadores tanto no local de trabalho como para além deste e, ao mesmo tempo, recebem influências externas ao cotidiano de trabalho. Para melhor acompanhar as vivências temporais cotidianas no local de trabalho, o desenho metodológico centrou-se na escolha de um estudo de caso. Assim fazendo, busquei melhor compreender este fenômeno social, por meio do detalhamento das relações dentro das organizações e também entre os indi- víduos e as organizações, bem como das relações que são estabelecidas entre esses e os meios nos quais estão inseridos. Pude, então, observar uma relação recíproca de influência entre as construções temporais no âmbito do espaço fabril e as realidades para além deste espaço, isso porque os atores que em determinados momentos então dentro da fábrica, em outros, estão nos demais espaços por onde também constroem e reconstroem suas necessidades, valores, interes- ses e projetos políticos.

Escolher um estudo de caso, em um local de trabalho, para estudar as vivências tempo- rais cotidianas, justifica-se ainda pela existência de um processo de substituição dos princípios da organização fordista do trabalho por novos conceitos de produção, alterando totalmente o tempo dentro do local de trabalho. As mudanças implementadas têm como objetivo o desenvol-

vimento de uma capacidade de resposta efetiva e rápida às circunstâncias de mudanças, (Caputto, 1983, apud Salerno, 1989), criando assim um fluxo tenso e intenso que abrange todos os setores da empresa (Durand, 2004). Entretanto, em cada local de trabalho tais mudanças têm sido reali- zadas de uma maneira específica, daí a necessidade de compreender como se deu este processo em um local particular, pois como salienta Leite,

"... mesmo que possamos identificar um caminho comum, a realidade não está determinada aprioristicamente a trilhar caminhos irreversíveis, mas está antes aberta a conflitos, contradições, acidentes e acontecimentos não previstos de antemão, os quais são capazes de moldá-la de formas diferentes, ainda que circunscritas ao interior de um universo de possibilidades" (Leite, 2003:24).

4.2 - O contexto da pesquisa: o caso Volkswagen do ABC

A partir dessa perspectiva, o passo seguinte foi definir o local de trabalho que seria objeto de estudo. Em alguns setores e empresas houve uma transformação mais intensa, em outros, mais pontual; em alguns casos essas mudanças foram negociadas, em outros não; em alguns gerou mais desemprego e em outros não; em alguns o tempo de trabalho foi mais modi- ficado, em outros menos. Diante dessa multiplicidade de opções, escolhi a Volkswagen visto

que, como documentado por Rodrigues (2002)2, foi a empresa montadora que, na década de

1990, apresentou o maior número de negociações sobre jornada de trabalho. Enquanto nas ou- tras empresas o tema mais freqüente foi a Participação nos Lucros e Resultados - PLR, abran- gendo 27% da amostra, seguido do tema da jornada, 26% do total, na Volks o tema mais presen- te nos acordos foi o da jornada de trabalho.

A Volkswagen está inserida no setor metalúrgico, constituído por fábricas montadoras e de autopeças, que têm presença considerável na economia brasileira. Segundo estimam a Asso- ciação Nacional dos Fabricantes de Veículos Automotores (Anfavea) e o Sindicato dos Fabri- cantes de Autopeças (Sindipeças), o setor fatura mais de 15% do valor da produção total da indústria de transformação do país. Além disso, é um segmento importante na geração de renda, na criação de empregos – diretos e secundários –, na produção de máquinas e equipamentos, nas atividades de serviços aos veículos, assim como tem peso no conjunto dos investimentos indus- triais por ser demandante de bens de capital e de insumos básicos. Sua importância está igual- 2. As empresas pesquisadas por Rodrigues foram: Volkswagen, Mercedes-Benz, Scania, Toyota e Ford.

mente no fato de estar em um dos setores mais dinâmicos da economia mundial, sendo represen- tante dos avanços tecnológicos e das inovações de toda ordem, principalmente nos últimos trinta anos (DIEESE,2002).

Minha escolha considerou, igualmente, o fato de já haver um razoável conhecimento acumulado sobre esse setor, com consistentes e sólidas análises teóricas em relação às diversas mudanças ali ocorridas, tanto no que se refere aos processos de inovação técnico-organizacional quanto aos de negociação3. Isso me possibilitou, a partir da análise da bibliografia já existente, uma abordagem muito mais focada na questão específica das vivências e representações dos trabalhadores, ainda pouco presente nos estudos que se debruçaram seja sobre o setor, seja sobre esta Empresa, seja sobre o tema do tempo de trabalho e de não trabalho.

Ao escolher a unidade da Volkswagen localizada no ABC, encontrei características par- ticularmente adequadas à realização da pesquisa, tais como:

a planta escolhida tem uma importância estratégica tanto na história da Volkswagen no Brasil como na do setor;

por ser uma planta antiga, são quase 50 anos de existência, poderemos analisar, a partir da fala dos trabalhadores, dirigentes sindicais e dos gerentes, a construção social do tempo dedicado ao trabalho ao longo da sua história, que se confunde com a história da automobilística brasileira, comparando períodos diferentes, ao mesmo tempo em que teremos a possibilidade de analisar as vivências e representações dos trabalhadores com menos tempo de trabalho e mais jovens;

do ponto de vista quantitativo, na planta temos mais de 14 mil trabalhadores; o Sindicato e a Comissão de Fábrica, por sua força no cotidiano das relações de trabalho, constituem-se como importantes interlocutores e pressionam pela abertu- ra de diversos processos de negociação;

os trabalhadores têm participação ativa nesse processo;

do ponto de vista da negociação coletiva, nos últimos anos e principalmente a partir de 1995, há uma intensificação desse processo no que se refere à discussão de temas relacionados ao tempo dedicado ao trabalho, como a redução da jornada de traba- lho, o banco de horas e o banco de dias.

3. A bibliografia referente ao setor é muito ampla, abrangendo teóricos de diversas áreas. Dentre as referências utilizadas neste trabalho temos: Arbix (1995), Barbosa (2002), Brandão (1991), Bresciani, (1994 e 1997), Cas- tro (1995), Hirata (1993), Gitahy, e Bresciani, (1998), Leite (1997 e 2003), Rodrigues (2002), Salerno (1995), além de trabalhos que já realizei como Cardoso, (1993 e 1998a) e Bresciani e Cardoso (1999).

O contexto histórico que analiso compreende os anos entre 1995 e 2005, dado se tratar de um período particularmente denso em termos de mudanças direta ou indiretamente relacio- nadas ao tempo de trabalho. Entre o final de 1994 e início de 1995 temos o fim de dois importan- tes eventos; a parceria entre a Volkswagen e Ford – Autolatina, (Bresciani e Cardoso, 1999) e a Câmara Setorial Automotiva, iniciada em 1991. De acordo com depoimentos dos diretores do Sindicato dos Metalúrgicos do ABC4, ao final desses processos, a retomada da luta pela redução da jornada de trabalho, sem redução de salário, parecia afigurar-se como um dos caminhos mais importantes para responder politicamente ao problema do desemprego. Não sem razão, já no final de 1995 temos a negociação sobre a redução da jornada efetiva semanal de 42 para 40 horas e o primeiro acordo de banco de horas (Blass,1998), o banco de dias e a chamada "jornada alemã", negociada no final de 2001 (Barbosa, 2002). A mera enumeração desses fatos deixa entrever a importância desta Empresa e, nela, desta unidade de produção, para elucidarmos o tema que interessa aqui focalizar.

4.3 - Procedimentos metodológicos

O processo de construção dos resultados desta pesquisa teve três etapas metodológicas distintas: a) pesquisa e análise bibliográfica para a elaboração do arcabouço teórico e para a contextualização dos modos de construção social do tempo e do tempo de trabalho na França e no Brasil; b) análise das negociações coletivas sobre o tempo de trabalho no Brasil e em particu- lar no contexto da Volkswagen do Brasil a partir de material documental e de entrevistas com representantes institucionais da Empresa e dos trabalhadores; e, c) análise das vivências tempo- rais cotidianas dos trabalhadores a partir da realização de entrevistas.

No que se refere à construção do arcabouço teórico, esta foi uma etapa inicial do traba- lho que teve continuidade durante todo o processo de elaboração da tese, inclusive no período de atividades na França. Teve como foco principal as discussões relacionadas à temática da construção social, das representações simbólicas, das vivências temporais cotidianas e da subje- tividade; da construção histórico- social do tempo de trabalho e de não trabalho; e da relação entre as diversas inovações tecnológicas e organizacionais e o tempo de trabalho.

A segunda etapa, que também se estendeu ao longo de toda a pesquisa, teve como obje- tivo conhecer o contexto das interações sociais desenvolvidas na Volkswagen do ABC, sendo realizada tanto pela análise bibliográfica como pela realização de entrevistas com representan- tes da Empresa e dos trabalhadores. Primeiramente, realizei uma análise bibliográfica para com- preender a maneira como se articularam as diversas inovações tecnológicas e organizacionais, por um lado, e o tempo de trabalho, por outro; tal articulação precisava ser descrita tendo em vista o modo especifico como este processo se deu dentro da Volkswagen. É digno de nota que nenhuma das obras pesquisadas concentrava seu interesse nessa relação entre os processos de inovação e o tempo de trabalho. Em seguida, realizei um levantamento das negociações com respeito ao tempo de trabalho na Empresa, desde meados dos anos 1990 até o ano de 2005, tendo como objetivo perceber como o tempo de trabalho foi sendo (re)negociado. Analisei não apenas as negociações relacionadas diretamente ao tempo de trabalho como também aquelas que acarretaram mudanças no tempo de trabalho, como as relacionadas à PLR, às células de produção e ao Plano de Cargos e Salários (PCS).

Ainda como forma de compreender as mudanças e sua relação com o tempo de trabalho, e também a história da negociação sobre o tema, realizei entrevistas semi-diretivas e gravadas com técnicos do DIEESE, alocados no Sindicato dos metalúrgicos do ABC. Em seguida, foram também realizadas entrevistas com representantes institucionais envolvidos diretamente neste processo, incluindo gerentes das áreas de Recursos Humanos e Relações Trabalhistas, membros das comissões de fábrica e diretores sindicais.

Na terceira etapa – de análise das vivências temporais cotidianas dos trabalhadores –, previ o uso de três tipos diferentes e complementares de fontes de pesquisa: a) a observação direta, que buscaria entender como os trabalhadores vivenciavam as normas de utilização do tempo no espaço fabril, a partir das condições impostas pela empresa, como as mudanças técni- co-organizacionais, as horas de trabalho, o ritmo e a intensidade; b) entrevistas semi-diretivas e gravadas com os trabalhadores nas quais busquei recolher os seus discursos sobre as vivências cotidianas e as suas representações em relação às situações e normas de utilização do tempo; c) aplicação de diários de usos do tempo5, com a finalidade de entender quanto tempo os trabalha- dores dedicam a cada uma das atividades, dentro e fora da jornada de trabalho.

5. De forma resumida, podemos dizer que o diário de usos do tempo (ver anexo 2) é uma agenda onde as pessoas devem anotar todas as suas atividade durante um dia inteiro, informando o horário de início e de fim, sendo o intervalo de tempo a cada 30 minutos. As questões que fazem parte do diário são: a) atividade principal desen- volvida, b) atividade secundária, c) com que a atividade é exercida, d) para quem a atividade é desenvolvida e f) lugar em que a atividade é desenvolvida. Para mais detalhes, ver em anexo um diário de usos do tempo.

Como veremos no decorrer deste texto, não foi possível realizar a observação direta de modo sistemático visto que a empresa, após muitas tentativas, apenas permitiu a minha entrada para a realização das entrevistas e não para visitas sistemáticas e prolongadas à fábrica. A obser- vação que pude desenvolver foi, assim, assistemática e restrita aos momentos em que colhia entrevistas. Estas, por sua vez, nem sempre se realizaram na unidade da Volkswagen. Elas abran- geram grupos diferenciados, que selecionei de modo a representar a necessária presença de todo o leque de diversidade que caracteriza o coletivo de trabalhadores na Volkswagen, de modo a poder contemplar indivíduos com vivências diferentes em relação ao tempo dedicado ao traba- lho. Assumi que duas seriam as fontes principais de diferenciação dessas vivências: a) a nature- za do engajamento profissional na Empresa, expressa tanto na ocupação ali desempenhada, como no setor de atuação e tempo de contrato; b) o perfil do trabalhador, expresso por caracte- rísticas como sexo, idade, e posição no ciclo de vida. Tendo em mente essas fontes de diferenci- ação procurei compor a minha amostra de casos a entrevistar.

Além das entrevistas, também empreguei o diário de usos do tempo com a finalidade de entender como os trabalhadores utilizam o seu tempo, dentro e fora da jornada de trabalho, ou seja, o que fazem e quanto tempo dura cada atividade. No que se refere à forma de preenchimen- to, a idéia inicial era de que os trabalhadores levassem os diários para casa e depois devolves- sem, devidamente preenchidos. Entretanto, essa maneira não se mostrou eficaz; os quatro pri- meiros trabalhadores entrevistados não o fizeram e tive que reencontrá-los para preencher os diários juntamente com os mesmos. Esta mudança acarretou uma forte transformação no con- teúdo das respostas e na natureza da informação que obtive. Isso porque, se num primeiro mo- mento o alvo da coleta seria a captura dos tempos e das atividades no momento da sua realiza- ção, sob esta nova sistemática passei a dispor de um outro tipo de material empírico, os discur- sos e lembranças desses trabalhadores em relação ao tempo e às atividades realizadas nos dias anteriores. Vale ainda frisar que, por razões de exigüidade de tempo, não foi possível explorar, neste trabalho, todas as possibilidades abertas por esta técnica de pesquisa e pelos dados produ- zidos a partir dela; não obstante eles tenham sido de grande valia para elucidar práticas de grupos desses trabalhadores, como se verá no curso da tese.

Quanto ao modo de realização das entrevistas, é importante detalhar que as primeiras seriam realizadas os gerentes da Empresa e depois com dirigentes sindicais. Essa primeira seleção dos sujeitos teve como objetivo conhecer melhor a fábrica para compreender, do pon-