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A CONSTRUÇÃO SOCIAL DO TEMPO DE TRABALHO NA FRANÇA: UM OLHAR A PARTIR DOS ANOS

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este capítulo, trato da construção social do tempo de trabalho na França, a partir dos anos 1990, considerando três aspectos desta construção: as normas jurídicas, os processos de negoci- ação e as vivências dos trabalhadores. Analiso estes aspectos da realidade francesa, para cons- truir um diálogo com o caso brasileiro e melhor compreender as configurações próprias que resultam da construção social do tempo nesta sociedade. Por serem construções históricas, con- têm diversas particularidades, além de traços comuns que transcendem as suas singularidades. Para além das diferenças observadas em cada país, há um movimento mais amplo no sentido da redução dos limites impostos ao capital com relação à gestão do tempo de trabalho.

A opção por demonstrar o caso francês justifica-se também pelo fato de que a temática do tempo de trabalho tem sido amplamente discutida na França, pelos diversos atores sociais – governo, empresários e trabalhadores. Tanto estas discussões como a produção de informações e a reflexão realizadas no meio acadêmico estão documentadas e podem ser observadas, não apenas no momento atual, mas também ao longo da história da relação capital e trabalho na sociedade francesa. Ao observar o caso francês, foi possível compreender ainda o processo histórico de construção de limites para a gestão do tempo de trabalho, definidos pelo Estado ou socialmente negociados, até os ano 80, e também a “descontrução” (Thoemmes, 2000) desse processo de limitação, que se inicia em meados dos anos 90 e que culminou na redução da jornada de trabalho de 39 para 35 horas.

Para alcançar os objetivos deste capítulo, foi necessário, então, considerar as diferenças marcantes com relação à construção social do tempo de trabalho na França, em diversos mo- mentos históricos. Assim, inicio o capítulo com o período entre o final dos anos 1970 e meados de 1990, momento marcado por mudanças fundamentais no processo de definição do tempo de

trabalho. Em seguida, apresento a discussão em torno das 35 horas, entre os anos de 1998 e 20021. Na terceira parte do capítulo, são discutidas as mudanças introduzidas na redução do tempo de trabalho – RTT (na França, esta sigla é utilizada tanto nas leis, como nas falas e textos lidos), a partir da eleição em 2002, quando se abriu uma nova etapa de negociação que se pro- longa até os dias atuais. Vale ressaltar que durante todo o período analisado, procuro conciliar um enfoque mais amplo, apresentando como as principais mudanças na regulação do tempo de trabalho foram sendo constituídas, com um enfoque mais específico, ilustrando esse movimento a partir de resultados dos processos de negociação em alguns locais de trabalho. Com esta aná- lise, pretendo ampliar a compreensão sobre a relação entre as negociações tal como ocorridas no plano macro-político e no plano micro-organizacional, o que trará novos elementos para pensar- mos, posteriormente, o modo pelo qual essa discussão vem ocorrendo na sociedade brasileira e, também, as próprias negociações ocorridas na Volks Anchieta.

Finalizo este capítulo com uma análise sobre como, na França, os trabalhadores vivenciaram a RTT, buscando compreender como essa redução alterou as vivências temporais cotidianas dentro e fora dos locais de trabalho.

2.1 - O tempo de trabalho na França

Do ponto de vista das regras jurídicas e do processo de negociação, de acordo com Terssac, Thoemmes e Flautre (2004), dois períodos distinguem a construção do tempo de traba- lho na França. Primeiramente, observa-se uma intervenção autoritária e centralizada, até o final dos anos 1970, tendo a discussão, como tema central, a melhora da condição de vida e de traba- lho, bem como a distribuição dos ganhos de produtividade. E a partir deste período, a interven- ção do Estado caracteriza-se, segundo os autores, por uma “ação pública negociada”, por meio da construção de leis que passaram a ter como meta o incentivo ao processo de negociação. No que se refere ao conteúdo, o tempo de trabalho passa a ser colocado como “moeda de troca” entre a flexibilidade demandada pelas empresas e o emprego necessário à sociedade.

1. É importante ressaltar que tanto nas diversas entrevistas que realizei na França como na bibliografia pesquisada, há uma forte importância dada ao partido que assume o poder, se de “direita” (RPR - Rassemblement pour la République – antigo partido de direita criado nos anos 70 e que se tornou no l’UMP - Union pour un Mouvement Populaire, em 2002), ou de “esquerda”, que é o Partido Socialista. E muitas vezes, a mudança de poder é tomada como um marco referencial muito importante no que se refere às mudanças na discussão e negociação do tempo de trabalho.

No final dos 1970, de acordo com os autores, o Estado redefine sua forma de intervenção em relação à temática, num contexto de fraca pressão sindical pela RTT, à exceção da CFDT (Confederação Francesa Democrática do Trabalho)2. Por outro lado, este período já é marcado por forte demanda empresarial no que se refere à redução das limitações impostas à gestão do tempo de trabalho, bem como pelo problema estrutural do desemprego. E é neste contexto que a negociação começa a fazer da construção temporal, no que se refere ao tempo de trabalho, sendo reconhecido o poder de barganha dos setores profissionais e das empresas. Essa segunda etapa de intervenção pública, iniciada no final dos 1970, é dividida pelos autores em quatro momentos que marcam o que eles denominam de “desconstrução” do modo de regulação das regras tempo- rais até então vigentes, como veremos a seguir.

2.1.1 - A partir dos anos 1980: mudanças na construção do tempo de trabalho

Até os anos 1980 o Estado buscou proteger o trabalhador ao limitar o poder dos empre- gadores a partir, principalmente, de quatro grandes leis abrangendo diversos aspectos do tempo de trabalho. O primeiro movimento de limitação da ação empresarial resultou na lei contra o trabalho das crianças, em 1824. O segundo, em 1906, foi a lei que teve como foco o repouso semanal remunerado, limitando o trabalho que antes se desenvolvia por todos os 7 dias da sema- na. A terceira etapa foi marcada por discussões sobre a limitação da duração do trabalho, com a instauração da jornada de 8 horas em 1919 e, a última, foi a limitação do trabalho semanal, com a definição da duração semanal do trabalho e também do trabalho anual com a instituição das férias pagas, em 1936 (Terssac, Thoemmes e Flautre, 2004). Em 1956, o governo decreta a terceira semana de férias; já a quarta semana de férias será o resultado de negociações coletivas ocorridas entre os anos de 1963 e 1969 (Dares, DP e INSEE, 1997) 3. Entretanto, vale frisar que apesar da nova lei, foi apenas nos anos 1960 que o tempo de trabalho foi reduzido para 44 horas, e apenas no final dos 70 deu-se a redução para 40 horas.

Em 1978, o lado patronal incita um movimento contra o que vinha sendo implementado pelo Estado, demandando a redução das limitações impostas à gestão do tempo de trabalho, no

2. Confédération Française Démocratique du Travail

3. DARES – Direção de Animação de Pesquisa, de Estudos e de Estatísticas (Direction de l’Animation et de la Recherche des Études et des Statisques), INSEE – Instituto Nacional de Estatística e de Estudos Econômicos (Institut National de la Statistique et des Études Économique) e DP – Direção de Prévision. Este departamento não exsite mais tendo sido integrado aso DGTPE – Direção Geral do Tesouro e da Plítica Econômica, (Direction Générale du Trésor et de la Politique Économique).

processo de negociação interprofissional. Nesse momento, demandavam aumentar o limite da hora extra para 280 horas anuais, sem a necessidade de autorização da inspeção do trabalho, além de inserir a individualização das durações do trabalho, recusadas pelos trabalhadores e por seus representantes. No início dos anos 1980, a discussão acerca da redução da duração do trabalho foi retomada, ampliando as possibilidades de sua reorganização, já demandada pelo setor patronal, embora sujeito a uma política de geração e manutenção do emprego. Para Thoemmes (1997b) a primeira observação sobre este período refere-se à mudança do lugar ocupado pela temática da redução do tempo de trabalho, transformando-se em um tema não mais discutido em si mesmo, mas relacionado à redução da limitação empresarial para gerenciar o tempo de trabalho que vinha sendo construída até os anos 1980. Para o autor, esta mudança se dá em função de transformações realizadas pelo setor patronal na organização do trabalho den- tro das empresas e pela busca de maior liberdade também para reorganizar o tempo de trabalho. Assim, se antes dos anos 80 a RTT tinha como objetivo principal a melhora das condições de trabalho e de vida dos trabalhadores, a partir de então o objetivo principal será a criação de empregos, tanto por parte do Estado como dos sindicatos.

Ao contrário de Thoemmes (1997b), acredito que se uma sociedade define que um de seus principais problemas é a falta de emprego, talvez não se deva considerar que a RTT deixa de ter como objetivo a melhora das condições de vida e de trabalho; afinal, o emprego, nesse caso, é entendido como um dos elementos possibilitadores dessa melhora. Isto não significa, entretanto, deixar de reconhecer que houve uma forte mudança de orientação, que faz da RTT um elemento de troca, portanto, vinculado a outros temas. Isso, porém, não faz com que ela deixe de ter como objetivo a melhora da condição de vida e de trabalho. O maior problema é que os outros temas a ela vinculados nada têm a ver com essa melhora; eles objetivam, como é o caso da reorganização do tempo de trabalho buscando a sua flexibilização, atender a uma de- manda patronal voltada a melhorar a produção e aumentar o lucro. Por isso mesmo, geram, na maior parte das vezes, efeitos negativos para o trabalhador, seja no sentido da intensificação do trabalho, seja no sentido da perda do controle e da previsão do tempo de trabalho.

Outra mudança ressaltada pelo autor refere-se à forma da definição das novas regras. A partir de 1982, ela deixa de ser o resultado da ação centralizada do governo e passa a decorrer de amplos processos de negociação coletiva. Desde então, o governo demanda às organizações de trabalhadores e empregadores que iniciem o processo de negociação, abrindo assim a possibilidade para que estes influenciem na definição das modalidades de aplicação

da RTT. Tais mudanças aparecem no processo de negociação em 1981, resultando em um acordo interprofissional assinado por todas as centrais, exceto a CGT (Confederação Geral do Trabalho)4. Nesse acordo estava prevista a RTT de 40 para 39 horas, a generalização da quin- ta semana de férias, a criação de um contingente anual de hora-extra não submetido à inspe- ção do trabalho, bem como a continuidade da negociação por setor (Dares, DP e INSEE, 1997). Entretanto, apesar do acordo, as negociações não tiveram continuidade, demonstran- do, a meu ver, o desejo dos empresários no sentido de ampliar as formas de gerenciar o tempo de trabalho, como já explicitado em 1978, mas sem que isso significasse passar por um pro- cesso de negociação coletiva com os sindicatos.

Em função deste quadro, a lei Auroux de 1982 introduziu a obrigação de negociação anual dentro das empresas, englobando quatro leis, sendo uma delas referente à negociação da duração do trabalho. Nesta lei, havia a obrigação das empresas negociarem, no caso de demanda por parte do movimento sindical, sem que isso significasse a obrigação de se chegar a um acor- do. Novamente, diante do reduzido número de negociações incitadas, conforme relata Bloch-

London5, houve um forte debate dentro do governo resultando na retomada do acordo

interprofissional firmado em 1981. A maior inovação apresentada foi a inserção de um princípio de permissão6 para as empresas descumprirem a lei sobre tempo de trabalho, através do recurso à negociação coletiva, dando assim um forte poder ao processo negociado. Permitiu ainda a contabilização das horas tendo como referência o ano e não mais a semana, autorizando igual- mente a modulação de horário7. Como resultado, ao ter o objetivo de possibilitar às empresas uma melhor adaptação às flutuações do mercado, o decreto colocou em questão alguns direitos já adquiridos pelos trabalhadores, como o repouso dominical e os horários coletivos (Askenazy, Bloch-London e Roger, 2004).

4. Confédération Générale du Travail.

5. Entrevista realizada com Catherine Bloch-London – DARES - Ministère de l’Emploi, de la Cohésion Sociale et du Logement, em 2006. Portanto, quando seu nome for citado no texto, sem a referência do ano, trata-se da entrevista e não de alguma publicação.

6. O termo utilizado em francês “dérogation”, traduzido literalmente para o português teria o sentido de descumprimento, no sentido de uma falta que deve ser corrigida. Entretanto, neste contexto, o sentido desta palavra é de uma licença ou uma permissão definida por lei, para que as negociações coletivas possam redefinir as regras mesmo que contrárias às já existentes.

7. O funcionamento da modulação é muito parecido com o “banco de horas” no Brasil. Sua forma de organização do tempo de trabalho comporta a realização de uma jornada de trabalho irregular, evitando assim o pagamento de hora-extra. Para ser aplicada na França ela deve ser objeto de negociação coletiva tanto por setor como por empresa, diferentemente do Brasil onde pode haver a negociação individual. Está previsto na legislação o limite máximo de 1607 horas de trabalho por ano, mantidos os limites diários e semanais já citados anteriormente, bem como o limite de 220 horas extras por ano.

A partir de 1982, como afirmam alguns autores (Freyssinet, 1994; Morin, Terssac e Thoemmes, 1998), toda a política geral de RTT foi abandonada. E se no início ela apareceu ligada à reorganização do tempo de trabalho, a partir de então se percebe que ela passa a ser vista como uma contrapartida à flexibilização demandada pelo setor patronal, invertendo assim

a ordem de prioridade. A redução do tempo de trabalho tornou-se facultativa, sendo o objetivo

principal harmonizar a organização do tempo de trabalho ao ritmo da produção, cada vez mais inconstante, adaptando o tempo dos indivíduos, no trabalho e fora deste, ao novo movimento do

mercado (Morin, Terssac e Thoemmes, 1998).

Num contexto de mudanças no mercado de consumo bem como de aumento do desem- prego estrutural, o início dos anos 1990 marca uma nova etapa do processo de negociação sobre o tempo de trabalho na França. Isto se deu através da lei qüinqüenal de 1993, sobre trabalho, emprego e formação profissional, que ampliou as possibilidades jurídicas de reorganização do tempo de trabalho vinculando redução do tempo de trabalho, compensação salarial e flexibilização8. Essa lei incentivou igualmente o trabalho a tempo parcial, reduzindo o custo de contratação e possibilitando a utilização do tempo de trabalho de maneira variável no ano. Per- mitindo, assim, uma extrema margem de opções e vantagens para o setor patronal, ao vincular

a flexibilidade interna e externa do tempo de trabalho em um único dispositivo, isto é, o tempo parcial anualizado9 (Thoemmes e Tressac, 1997a). Outro novo modo de organização do tempo de trabalho aparece em 1994, por demanda de empresas que buscavam negociar com os geren- tes a não utilização de todos os dias de férias em uma única vez, guardando uma parte para um outro período, quando fosse melhor para a empresa. A partir desta discussão o governo criou a lei sobre a “conta-poupança” – CET10 e, em 1998, esta nova regra passa a valer para o conjunto dos trabalhadores.

Como resultado de todas essas negociações e alterações nas leis sobre tempo de traba- lho, observa-se uma grande diversidade no que se refere às maneiras de sua organização, de

8. Foram três as leis sobre modulação, a modulação do tipo 1 em 1982, do tipo II em 1987 e do tipo 3, chamada anualização, em 1993 (Dares, DP e INSEE, 1997).

9. Como conseqüência, o tempo parcial passou de 8,6%, em 1982, para 17,4%, em 1997, sendo que no caso das mulheres este aumento foi ainda maior passando de 13,5% para 31%, respectivamente. Ver mais detalhes sobre as regras do trabalho parcial no quadro no final deste capítulo.

10. A Compte épargne-temps – CET, possibilita aos trabalhadores acumular dias de folga remunerados ou realizar uma “poupança” (épargne) em dinheiro, sendo que as regras de conversão devem ser definidas por acordos coletivos. Essa conta é uma poupança que pode ser alimentada por horas resultantes do trabalho em feriados, férias ou de hora-extra. Ver quadro no final deste capítulo.

forma que o percentual de trabalhadores com horário fixo de trabalho torna-se cada vez mais

reduzido11. Além disso, se por um lado as negociações apresentaram modulações muito am-

plas, as reduções do tempo de trabalho a elas relacionadas são muito pequenas, limitadas a

meia ou uma hora por semana, e vinculadas ainda, na maior parte dos casos, a uma compensa- ção salarial (Thoemmes e Tressac, 1997a).

Observam igualmente esses autores que, entre os anos de 1984 e 1994, apesar da obriga- ção legal em matéria de negociação anual sobre o tempo de trabalho, em apenas uma minoria dos casos se chegava a um acordo. E no que se refere ao conteúdo dos acordos pesquisados, em metade deles o tempo de trabalho foi tratado de maneira isolada, sendo que nos outros ele veio acompanhado de temas como formação, saúde, emprego e compensação de salários. E mesmo dentre aqueles que trataram apenas da questão do tempo de trabalho, os temas presentes foram muito diversos, considerando que em muitos casos foram negociados tempos diferentes a de-

pender do setor de trabalho, da função, do sexo, da idade ou da profissão. Como salientam

Thoemmes e Terssac (1997a), essas negociações em torno dos dispositivos legais disponíveis serviram para as empresas regularem o tempo de trabalho à demanda do mercado. Isto é, permi- tiram controlar a variabilidade de fluxo que se exerce no dia ou na semana, via tempo parcial, bem como desenvolver as capacidades de produção da empresa, restituindo os gastos com o maquinário, por meio do trabalho em turnos, no final de semana, no trabalho noturno ou através da modulação.

Do ponto de vista dos resultados, nos anos 1990 o tempo de trabalho estava em torno de 39 horas. Em 1994, apesar dessa média de 39 horas, nas empresas com até 50 trabalhadores, 18% deles tinham uma duração do trabalho acima de 39 horas, contra 4% nas empresas com mais de 500. Já em 1997, 12,8% dos trabalhadores tinham uma duração do trabalho acima de 39 horas. No que se refere ao setor, podemos observar também uma grande disparidade, pois, en- quanto na indústria química e naval cerca de 23% dos trabalhadores tinham uma jornada menor que 38 horas, na indústria automobilística, 68,9% trabalhavam entre 38 e 39 horas (Dares, DP e

ACEMO,1997)12.

11. Quando comparo os anos de 1984 e 1991 (Dares, DP e INSEE, 1997), observo uma redução de 65% para 52%. Em 1994, por exemplo, 7,6% dos estabelecimentos com mais de 10 trabalhadores declaravam ter um acordo sobre modulação, sendo que 3,6% tinham implementado este modo de reorganização do tempo de trabalho sem negociação, e 47% declararam ainda utilizar a hora-extra. De acordo com a análise de 68 acordos realiza- dos em 1995, em ¼ dos documentos constava a negociação vinculando a modulação à criação de empregos. (idem).

2.1.2 - A partir de meados dos anos 1990: negociação, redução e flexibilização do tempo de trabalho

De acordo com a entrevista realizada com Bloch-London, o governo tirou muitas lições do processo de negociação da RTT ocorrido nos anos 80, considerando, sobretudo, que de fato não houve a redução negociada para as 35 horas, nem tampouco a geração de empregos. Em relação a esse último fato, a constatação foi de que a redução de apenas uma hora de trabalho foi facilmente recuperada com o aumento da produtividade. Assim, a idéia do governo de Lionel Jospin, do Partido Socialista, ao ser eleito, foi não a de fazer uma lei que obrigasse as empresas a passarem para 35 horas, mas sim a de criar espaços de negociação com participação dos atores sociais envolvidos. E ainda, de possibilitar que a redução fosse ampla e ocorresse de uma única vez, em cada local de trabalho, reduzindo assim as possibilidades de ser recuperada via ganhos de produtividade.

Em relação ao contexto no qual a lei foi apresentada, efetivamente, embora as principais centrais sindicais já reivindicassem a semana de 35 horas desde 1975, naquele momento, não havia uma demanda explícita e organizada voltada para essa pauta. A questão do emprego aca- bou por mobilizar a sociedade civil e as diversas organizações, mas a questão da RTT não se incluía dentre os focos principais. Houve diversas mobilizações por parte dos movimentos so-