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este capítulo, tenho como objetivo analisar as narrativas discursivas dos trabalhadores da Volkswagen do ABC para buscar compreender como vivenciam cotidianamente o tempo de trabalho, no local de trabalho, e que representações criam a partir dessas vivências. A intenção é perceber como as situações do local de trabalho – artefatos tecnológicos, mudanças na organiza- ção do trabalho, na gestão das pessoas ou na jornada de trabalho - são vivenciadas e experimen- tadas cotidianamente pelos trabalhadores e quais desses elementos são por eles considerados como os principais definidores do tempo de trabalho. E retomando a discussão realizada por Grossin (1991), quais são as principais características do enquadramento do tempo de trabalho dentro da Volkswagen do ABC.

Veremos que os artefatos técnicos, como a linha de produção, as mudanças organizacionais, de gestão ou administrativas, em muito têm influenciado as vivências cotidia- nas dos trabalhadores no que se refere ao tempo de trabalho e de não trabalho. Tais mudanças podem ser divididas em dois grandes grupos, se temos como referência a vivência do tempo de trabalho: as mudanças ocorridas na organização do trabalho (mudanças organizacionais, usos e gestão de pessoal, mudanças administrativas) e mudanças diretas no tempo de trabalho. E nes- ses casos, mesmo que praticamente todos os trabalhadores tenham passado por várias dessas mudanças, os relatos explicitam vivências totalmente diferentes.

Assim, visando evidenciar as especificidades dos fatores na vivência dos trabalhadores e na construção de representações sobre o tempo de trabalho e de não trabalho, este capítulo foi organizado em cinco grandes blocos. No primeiro, analiso as narrativas discursivas sobre o tempo de trabalho daqueles trabalhadores que estão na linha de produção ou muito próximos dela, considerando que na análise das narrativas, o primeiro fato que saltou aos olhos foi a freqüência com que os trabalhadores sugerem que trabalhar mais ou menos próximo da linha de

produção cria condições muito diferentes no que se refere às vivências do tempo, tanto no espa- ço da fábrica como fora desta.

Num segundo momento, o foco passa a ser as mudanças na organização e gestão do trabalho e seus impactos sobre o tempo de trabalho, assim definidas pelos trabalhadores tanto da linha como fora desta. Em seguida, analisarei como estes trabalhadores vivenciaram as diversas mudanças ocorridas diretamente no tempo de trabalho: a redução da pausas coletivas e indivi- duais, a redução da jornada de trabalho, as antigas formas de flexibilização do tempo de traba- lho, ou a hora extra, bem como a implantação de novas formas de flexibilização do tempo de trabalho como o banco de horas, o banco de dias e a “semana Volks”. Além desses três grandes blocos, falarei ainda sobre os tempos dedicados ao trabalho, dentro do local de trabalho, mas que por ocorreram fora da jornada oficial, não são considerados como tempo de trabalho, não sendo, portanto, remunerados.

6.1 - Sob o império da linha de produção: vivências dos tempos impostos no local de trabalho

Mas o que significa, nos dias atuais e na Volkswagen do ABC, trabalhar em uma linha de produção? Quais os discursos que emergem desta vivência e quais representações do tempo de trabalho são construídas a partir delas?

Nas diversas conversas com os trabalhadores observei que muitos, ao serem pergunta- dos sobre o seu tempo no local de trabalho, faziam referência à linha de produção. E esta apare- cia de maneira muito forte mesmo quando o assunto não estava relacionado diretamente à jorna- da de trabalho, como pode ser visto na fala de Renato, sobre a constituição da Comissão de Fábrica, nos anos 80.

“Quando implantaram a Comissão de Fábrica lá na Volkswagen, o Lula falou o seguinte: ‘procura aqueles caras que não trabalham na linha para ser representante, porque eles vão ter tempo, como motorista, um conferente’. Até isso o cara pensou. Quando eu entrei lá, o cara tinha tirado 2 horas [redução da jornada de trabalho], aí foi mudando, os caras foram brigando e conseguiram”. (Renato)

Nesta fala observamos que a questão central era pensar quais os trabalhadores que, no seu tempo de trabalho, poderiam ter um tempo livre para atuarem na Comissão de Fábrica; e neste caso, eram justamente os trabalhadores da linha os que exemplificavam a falta de tempo

livre. Isto é, para os trabalhadores, o tempo de trabalho na linha significa um ritmo imposto que

afeta tanto o ritmo de trabalho como, até mesmo, os intervalos. Um ritmo intenso, contínuo, repetitivo, minuciosamente controlado e, muitas vezes, causador de desconforto, dor e doença. E esse ritmo desconsidera ainda necessidades básicas dos trabalhadores, como beber água, ir ao banheiro, aliviar as dores, o cansaço, além da vontade de conversar com os outros trabalhadores ou ainda as diferentes disposições ao longo do dia. Joice, ao ser perguntada se há um momento do dia em que ela tenha mais ou menos energia para trabalhar, responde: “... não há muita opção quando você está na linha. [...] Você tem que estar ali, não pode diminuir porque a linha não diminui, então o ritmo é o mesmo, independente de você.”

E dessa forma o tempo de trabalho na linha leva a uma vivência cotidiana muito forte, nova e que causa “susto”, quando os trabalhadores têm que enfrentá-la pela primeira vez, como podemos ver não apenas nos discursos de trabalhadores que já foram da linha; mas também no discurso de trabalhadores que vieram do Senai; tanto nos que entraram há mais tempo na Em- presa como naqueles contratados há menos tempo. Rogério, que veio do Senai e hoje está traba- lhando na qualidade, relata que a sua entrada na Volkswagen foi muito “estranha”. Além de começar a trabalhar em regime de turnos de revezamento, ele foi para a linha de montagem, do que decorre, no seu discurso, a necessidade de explicitar as estratégias individuais e coletivas que foi obrigado a construir para “suportar” a nova situação. Seja criando músicas (“650 câmbi- os por dia, monta mais um pouquinho”) ou brincadeiras com os outros trabalhadores.

“Eu brincava comigo mesmo, montando, eu ficava estipulando desafios, coisa de louco né? Pensava: ‘já que eu tenho que fazer, vamos tornar esse trabalho estimulante’. Então a gente estipulava o tempo de montagem para algumas outras operações e ficava imaginado: ‘vamos ver se eu consigo trabalhar mais’, aí o dia ia passando”.(Rogério - qualidade)

Aldo, hoje na linha de montagem final, nos relata ainda o quanto o seu trabalho na linha, em meados dos anos 80, influenciou a sua vida fora da Empresa. Além de um trabalho intenso e repetitivo, frisa também que eram dois turnos diferentes, 15 dias de manhã e 15 à tarde.

“Nessa época a Volkswagen produzia 400, 500 carros por turma, então você não tinha tempo para conversar, não tinha tempo para tomar café, não tinha tempo para ir ao banheiro, não tinha tempo para nada, você saía dali arrasado. Chegava em casa, eu não vou falar que era estressado para não brigar, não, chegava cansado mesmo, não tinha mais ânimo para nada. Era chegar, tomar um banho, sentar no sofá, assistir televisão ali e acordar no outro dia para a mesma coisa”. (Aldo – linha de montagem final)

Os dois últimos relatos nos possibilitam um paralelo bastante interessante com o contexto apresentado no filme “A Classe Operária vai ao Paraíso”1. Este filme relata o cotidiano de operários, dentro e fora da fábrica, vivendo as angústias e a dor do controle exercido numa linha de produção, bem como as estratégias criadas por eles para trabalhar mais rápido e aumentar sua produção e, ao mesmo tempo, para que o tempo passasse mais rápido, assim como apresentado por Rogério. Da mesma forma, a fala de Aldo, assim como o filme, explicita quanto o tempo de trabalho e todo desgaste ali vivido em nome da produção, podem influenciar o tempo de não trabalho. Tanto na ficção quanto na vida real, o resultado, ao fim da jornada de trabalho, acaba sendo o estresse, o desânimo, com interferência direta na saúde e nas vivências temporais cotidianas.

Mas apesar do trabalho na linha não considerar os sujeitos e suas necessidades, estes reclamam e buscam, formal ou informalmente, resolver os incômodos e sofrimentos causados por este tipo de trabalho. Isso obriga a Empresa a buscar cotidianamente respostas às reivindica- ções e pressões dos trabalhadores e de seus representantes. É por isso também que não podemos dizer que exista uma única vivência do tempo na linha de produção. Podemos perceber que além das diferenças resultantes da existência de diversas linhas, as falas dos trabalhadores explicitam ainda que cada um pode vivenciar o mesmo tempo de trabalho, em uma mesma linha, de manei- ras totalmente diferentes. Se mais não fosse, como salientado por Grossin (1991), porque seus

mundos não se restringem ao tempo presente, ao tempo de trabalho e ao tempo da linha, mas são bem mais amplos do que estes.

6.1.1 - As vivências nas diferentes linhas

A experiência do trabalho imposto pela linha de produção muda na mesma medida em que mudam as características da linha. Essas diferenças podem ser percebidas mais objetiva-

mente, quando analisadas por perspectivas diferentes, como pela observação das alterações ocor-

ridas nas mesmas linhas ao longo do tempo; nos diversos turnos de trabalho; nos diversos seto- res (como no setor de pintura, de estamparia ou da montagem final); e subsetores (como a montagem da porta e a da bateria, por exemplo); pelos diferentes processos de produção em um mesmo setor (como é o caso da montagem final onde há as linhas da Kombi; do Gol, Saveiro e Santana e a do Pólo e do Fox). Enfim, são diversas as características da organização do trabalho

que influenciam, em maior ou menor medida, as experiências dos trabalhadores em relação ao trabalho e ao tempo, tanto na linha como fora desta.

Assim, após o “susto” da entrada, os trabalhadores vão experimentando o trabalho e o tempo de trabalho nas diversas linhas e setores, o que me levou à necessidade de distinguir os discursos sobre as vivências do tempo de trabalho na linha hoje e em tempos passados. Como a maior parte dos trabalhadores tem muitos anos de casa, há vários relatos sobre a passagem por diversos espaços de trabalho dentro da Volkswagen. Vagner, um dos mais velhos trabalhadores entrevistados e que atualmente está na linha do Pólo, nos conta a sua experiência desde que entrou na Volkswagen, em 1980, frisando a diferença entre os diversos momentos na Empresa. Sua fala nos traz elementos para melhor compreender o que significa estar hoje na linha e o que isso significou em tempos passados e, mais do que isso, como o fato de ter a experiência da linha no passado torna diferente a vivência presente e a sua percepção desta. Ou seja, se objetivamen- te a linha no presente é a mesma, subjetivamente os trabalhadores constroem representações do trabalho e do tempo de trabalho muito diferentes, a partir de suas experiências vividas.

“[...] hoje, às vezes esses jovens que estão saindo do Senai, eles ficam reclamando de tudo. Eu falo: ‘se vocês tivessem entrado aqui na minha época, vocês não tinham trabalhado nenhum dia’. Só agüentava o pessoal que vinha de fora mesmo, pessoal da roça mesmo. Mas naquela época eles nem exigiam que você tivesse muito estudo, porque eles sabiam que não agüentava. Mas hoje já ta diferente, né, hoje tem uma exigência muito grande pra entrar lá.[...] você tinha que trabalhar agachado, por isso que muita gente naquela época tinha problema de coluna, né, e era na base da marreta, não tinha máquina. Era aquela correria toda, ...e quem ficou daquela época até agora vê que a diferença é muito grande, né” (Vagner – linha do Pólo).

Vagner nos remete, a partir da sua experiência, às diversas características do tempo e do trabalho na linha. Considerava como um trabalho para o pessoal da “roça”, quase sem estudo, diferente do pessoal que hoje sai do Senai, filhos de metalúrgicos e que logo vão fazer um curso superior, nova exigência da Empresa. Diz que era um trabalho duro, na marreta, com muitas pessoas e poucas máquinas; pouco espaço, problemas de saúde por trabalhar em posições não cômodas e também por estar exposto ao barulho, além de muita discussão e correria. Em segui- da, ele compara com a linha do Pólo, uma das mais recentes e “modernas”:

“Então, primeiro que você vai trabalhar na altura que você quer. Quando você vai colocar uma peça embaixo dele assim, ele fica na altura certa, se é pra abaixar também ele baixa, naquele

espaço ele sobe e desce, e você também. Tem o privilégio também, mas é assim; se caso precisar, então também você assim, quando não dá pra segurar o serviço, que tava com um problema ou então precisava ir no banheiro rapidinho e não tem quem ficar no lugar, você tinha que segurar e tudo. Agora não, agora é uma linha que você puxa [um dispositivo] e que ela [a linha] pára. Eles não querem né, mas quando necessário, se for um caso de necessidade, um caso que ta caindo o serviço, né, pode puxar, né. Só não pode é demorar muito tempo”. (Vagner)

Mas, mesmo se considerarmos apenas o tempo presente, veremos que as diferenças se mostram, igualmente, entre as linhas em cada um dos setores da Empresa. Renato, que trabalha na linha da estamparia, lança luz sobre estas diferenças ao falar a respeito de alguns trabalhadores da montagem final que foram “emprestados” para a estamparia e depois não quiseram mais voltar para sua linha de origem. Explicitando, assim, as diferenças entre linhas de diversos setores.

“Porque lá [montagem final] é linha, corrido, você não tem tempo nem de tomar água. Eu trabalhei lá 1 dia, bebedouro aqui, não dá tempo, senão o carro vai embora e você tem que fazer. Você fala assim: ‘o serviço é esse, você vai colocar esses três parafusos aqui, está aqui a maquininha, três parafusos’. Mas se você for apertar três parafusos, em um minuto, um minuto e meio, é moleza, agora, um atrás do outro, quando você termina aqui, o outro já está chegando, é diferente. No outro dia você está que não agüenta”. (Renato)

E há diferenças ainda se considerarmos as diversas linhas dentro de um mesmo setor. Ao comentarem sobre o trabalho na montagem final, por exemplo, todos que passaram pela linha da Kombi foram unânimes em dizer que ela é muito “dura”, que o trabalho é “muito pesado” e “muito grosseiro”. “Eu tenho histórico muito bom para estar indo para um serviço que eu iria fisicamente me desgastar mais”, é a fala de Anderson a respeito do momento em que a Empresa o “mandou” para a linha da Kombi, tendo nela permanecido apenas um dia. Em relação às duas outras linhas da montagem final, nas quais Anderson já trabalhou, ele diz preferir a do Gol, já que na do Pólo e do Fox, as novas linhas, não há um mínimo de tempo livre.

“Eu acho que aquilo ali é serviço escravo. [...] Aquilo ali para mim, é um absurdo. Aquilo ali é um descaso humano. A linha é tão otimizada, o processo é tão enxuto, tão otimizado o processo que você não tem tempo para tomar água. A liderança tem outra maneira de agir e os próprios funcionários que estão lá, é característica deles é tão... Às vezes se torna até arrogante, porque eles fazem de tudo para que não pare o processo. Mesmo que o funcionário não esteja conseguindo executar sua tarefa, eles ajudam, são os braços direitos dos encarregados. Eu acho isso um absurdo”. (Anderson)

Na mesma direção se exprime Vagner ao dizer que muitos trabalhadores reclamam de sair da linha do Gol, porque nas novas linhas, do Pólo e do Fox, eles não conseguem produzir nenhum tempo livre, além do intervalo coletivo determinado pela Empresa, que é cada vez menor:

“Porque o Gol, a vantagem que eles tavam acostumados, lá faltando uma hora pra refeição ou pra ir embora já acelera todo mundo e atropela todo mundo. [...] O Pólo é uma linha moderna só que você não consegue adiantar [o trabalho], cada espaço que ele tem é aquela quantidade de carro, né...”. (Vagner)

E como enfatiza Sato (1997:06), “a busca de controle é uma estratégia criada informal- mente pelos trabalhadores para lidarem com as demandas de trabalho que ameaçam o seu bem estar” e, neste caso, a nova linha significa a perda da capacidade dos trabalhadores criarem um tempo livre que não tenha sido previsto pela empresa. Afinal, o controle do trabalho e do tempo de trabalho é importante tanto para os trabalhadores como para as empresas, transformando-se assim em objeto de disputa nos locais de trabalho, de forma explícita ou implícita.

Luana, que atualmente trabalha na montagem das portas do Gol, também discorre sobre a sua preferência em trabalhar nessa linha, mesmo depois de ter feito o treinamento para traba- lhar na nova linha do Pólo. Ela relata que ficava muito isolada na linha do Pólo, que os grupos se fechavam e não havia muito contato com as pessoas dos outros grupos, pois eles ficavam muito distantes fisicamente. Além disso, questiona se o trabalho no Pólo é realmente mais leve:

“Era um trabalho mais pesado, porque tinha que colocar o eixo e mesmo o dispositivo requer força. Eu fiquei lá por um ano dizendo, para mim mesma: ‘eu tenho que me adaptar à nova realidade, é nova mudança, é uma nova linha’”. (Luana)

Mas ela não agüentou e hoje trabalha na linha do Gol. Joice, que trabalha no II turno, disse que havia acabado de ser mandada novamente para trabalhar na linha do Pólo e do Fox, mas que também prefere a do Gol.

“Não sei se é porque eu estou há mais tempo. [...] A linha do Pólo tem uma forma, não sei se porque ainda é começo, tem umas operações lá que eu acho que até o jeito de montar está mais difícil, poderia dar uma ajeitada para ficar mais fácil. Às vezes você está fazendo uma coisa aqui, você sai daqui tem que ir lá na outra peça, lá embaixo, você anda muito”. (Joice)

Assim, vemos que dentre os trabalhadores que já passaram pelas linhas na montagem final, muitos dizem preferir a linha do Gol por diferentes motivos. E é interessante observar que Anderson, que prefere a linha do Gol, assim como Vagner, que prefere a do Pólo e do Fox, explicitam a mesma percepção de redução do tempo livre nessas últimas, ou melhor, que esta linha torna mais difícil a possibilidade dos trabalhadores criarem tempos livres dentro do tempo de trabalho. Tais falas explicitam talvez a maior diferença, no que se refere ao tempo de traba- lho, entre as velhas linhas e as novas linhas, já que estas submetem o trabalhador a um novo tipo de tempo imposto.

Vimos ainda que outros fatores influenciam as vivências dos trabalhadores nas diferentes linhas, como o esforço físico, pois tanto Luana como Joice dizem que na linha do Pólo o trabalho é duro e mais difícil, o mesmo dito por Anderson, mas em relação à linha da Kombi. E há também o sentimento de isolamento em relação aos colegas, explicitado por Luana, ao dizer que nas novas linhas fisicamente as pessoas ficam mais distantes dificultando a conversa entre os trabalhadores, aumentando ainda mais o chamado tempo produtivo. Assim, além da experiência de uma vivência do passado, como citada por Vagner, esses são outros elementos importantes que diferenciam o modo pelo quais os trabalhadores representam as suas vivências nas linhas de produção.

Temos ainda de observar em que parte de uma mesma linha o trabalhador está. Por exemplo, o caso de Tamara, que trabalhava na colocação de vidros da linha do Gol, considerava o trabalho nessa parte muito repetitivo, quando foi para a montagem da bateria, nessa mesma linha e onde está até hoje, diz que a mudança foi muito boa e que o trabalho agora é “bem mais interessante e menos monótono”. Este sentimento em relação à qualidade do tempo de trabalho também aparece quando os trabalhadores falam sobre o revezamento de funções, isto é, sobre o fato de trabalharem em linhas, setores ou funções diferentes. Joice, por exemplo, diz que gosta muito de trocar de “tarefa” porque assim “o tempo passa mais rápido”.

“Se você fica meses após meses na mesma tarefa, chega uma hora que parece que a hora demora, o tempo não passa. Agora se você está sempre mudando de operação, então é... O dia que você pega uma coisa nova para fazer, a hora passa que você nem vê, porque você está aprendendo, você está quebrando a cabeça, você está naquela correria, a hora passa, você fala: ‘Nossa! Já é