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Arquitectura e organização do espaço em Castanheiro do Vento

9. Arquitectura como prática construtiva

9.2. Construindo espaços circulares.

Falemos de casas, do sagaz exercício de um poder tão firme e silencioso como só houve

no tempo mais antigo.

Estes são os arquitectos, aqueles que vão morrer, sorrindo com ironia e doçura no fundo

de um alto segredo que os restitui à lama. De doces mãos irreprimíveis.

- Sobre os meses, sonhando nas últimas chuvas,

as casas encontram seu inocente jeito de durar contra a boca subtil rodeada em cima pela treva das palavras.

Digamos que descobrimos amoras, a corrente oculta do gosto, o entusiasmo do mundo.

Descobrimos corpos de gente que se protege e sorve, e o silêncio admirável das fontes –

pensamentos nas pedras de alguma coisa celeste como fogo exemplar.

Digamos que dormimos nas casas, e vemos as musas

um pouco inclinadas para nós como estreitas e erguidas flores tenebrosas, e temos a memória

e absorvente melancolia

e atenção às portas sobre a extinção dos dias altos.

Estas são as casas. E se vamos morrer nós mesmos, espantamo-nos um pouco, e muito, com tais arquitectos que não viram as torrentes infindáveis

das rosas, ou as águas permanentes,

ou um sinal de eternidade espalhado nos corações rápidos.

- Que fizeram estes arquitectos destas casas, eles que vagabundearam pelos muitos sentidos dos meses,

dizendo: aqui fica uma casa, aqui outra, aqui outra, para que se faça uma ordem, uma duração,

uma beleza contra a força divina?

Alguém trouxera cavalos, descendo os caminhos da montanha. Alguém viera do mar.

Alguém chegara do estrangeiro, coberto de pó. Alguém lera livros, poemas, profecias, mandamentos, inspirações.

- Estas casas serão destruídas.

Como um girassol, elaborado para a bebedeira, insistente no seu casamento solar, assim

se esgotará cada casa, esbulhada de um fogo,

vergando a demorada cabeça sobre os rios misteriosos da terra

onde os próprios arquitectos se desfazem com as suas mãos múltiplas, as caras ardendo nas velozes

iluminações.

Falemos de casas. É verão, outono,

nome profuso entre as paisagens inclinadas. Traziam o sal, os construtores

da alma, comportavam entre si

restituidores deslumbramentos em presença da suspensão de animais e estrelas,

imaginavam bem a pureza com homens e mulheres ao lado uns dos outros, sorrindo enigmaticamente, tocando uns nos outros –

comovidos, difíceis, dadivosos,

ardendo devagar.

Só um instante em cada primavera se encontravam com o junquilho original,

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da inspiração.

- E as casas levantavam-se sobre as águas ao comprido do céu.

Mas as casas, arquitectos, encantadas trocas de carne doce e obsessiva – tudo isto

está longe da canção que era preciso escrever.

- E de tudo os espelhos são a invenção mais impura.

Falemos de casas, da morte. Casas são rosas

para cheirar muito cedo, ou à noite, quando a esperança nos abandona para sempre.

Casas são rios diuturnos, nocturnos rios celestes que fulguram lentamente

até uma baía fria – que talvez não exista, como uma secreta eternidade.

Falemos de casas como quem fala da sua alma, entre um incêndio,

junto ao modelo das searas,

na aprendizagem da paciência de vê-las erguer e morrer com um pouco, um pouco

de beleza.

(Herberto Helder, 1996: 9-11)

“O estupendo verso do Helberto Helder é, enquanto indício, altamente problemático e

ambivalente. Não é possível tomar uma posição simples sobre o problema da casa porque ela, como metáfora e também como objecto, está no cruzamento de uma série de tendências contraditórias e indecisas.” (Miranda J. B., 2010:94).

Pautados pela ambivalência do discurso, chamamos ao texto o que apelidamos de estruturas circulares. A neutralidade do nome contrasta com a multiplicidade de abordagens, a objectividade do nome contradiz a perplexidade da própria construção do texto. Falemos de casas, como metáfora de espaço habitado continuamente e que nesse habitar contínuo

acumulou experiências e coisas. Na casa a que hoje chamamos Castanheiro do Vento construiremos pequenos espaços dentro do discurso e tentaremos, na sua construção, a desconstrução de velhos papéis de parede que revestem míticas paredes de barro.

“[A sub-circular structure is] any round structure with a certain size, of the kind that archaeologist call often “hut” or even “house”, according to a very broad mythology of these concepts as self-evident (the “domestic space”, the “domestic context” and so on). They are defined by a more or less narrow “ring” of stones, which sometimes include grinding stones. In any case, their periphery is very different (much narrow in size) from that of the main walls or of the bastions. It would not be possible to settle a large wall on it; so, the superstructure would be necessarily light, but roofed. Typically, they contain a more or less thick layer with very small plaques of schist. Especially when the area around was more intensively excavated by us, we notice that their base is made of a very compact yellow sediment (clay) contained by a periphery of stones which tend to be disposed in an oblique situation forming a sort of “basin” or “box”.” (Jorge, V. O. [et al.], 2006: 246)

Fig. 9.2.1: Estrutura Circular 26 de Castanheiro do Vento.

No sítio de Castanheiro do Vento foram, até à campanha de escavações de 2010 (inclusive), identificadas 28 estruturas circulares e um conjunto de pequenas estruturas circulares com cerca de 0,50 metros de diâmetro e delimitadas sobretudo por elementos de moinhos manuais em granito. As convencionalmente apelidadas “estruturas circulares” em

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Castanheiro do Vento são elaboradas com lajes de xisto colocadas de forma vertical ou oblíqua, ou ainda na horizontal em alguns casos. Os materiais utilizados, a sua distribuição assim como a sua morfologia possibilitam a inserção destas 28 unidades na designação de “estruturas circulares”. Contudo, as suas dimensões, localização no sítio, e a rede de relações que estabelecem entre si (de forma agrupada ou isolada), implicam um olhar mais atento a estes dispositivos arquitectónicos. J. M. Cardoso (2007), na sua tese de Doutoramento, ensaiou uma tipologia de estruturas circulares (geminadas e não geminadas) que sintetizamos neste quadro:

Estrutura Tipo Subtipo Características

Ec3, Ec10, Ec12 &

Ec25 I Ia

Dimensão modal1: 201mm - 600mm Forma: circular - 40%

subcircular - 60% Área: entre 1.92m² & 5,29m²

Ec 4, Ec14 & Ec20 I Ib

Dimensão modal: 201mm - 600mm Forma: circular - 66%

subcircular - 33% Área: entre 4.83m² & 5,29m²

Ec 5, Ec15 & Ec21 I Ic

Dimensão modal: 201mm - 600mm Forma: circular - 66%

subcircular - 33% Área: entre 6.37m² & 9,90m²

Eg 11 & 13 II IIa Dimensão modal entre 201mm & 401mm Área não excede os 3m²

Eg 23 & 24 II IIb Dimensão modal entre 401mm & 600mm Área entre os 4m² & 5,5m²

Eg 1, 2 & 6 / 17, 18 &

19 III IIIa

Dimensão modal entre 401mm & 600mm Área não excede os 4m² (excepto o 17 - 8,64m²) Eg 7, 8 & 9 III IIIb Dimensão modal menor 201mm

Área entre 5m² & 7m²

Quadro 9.2.1: Tipologia das estruturas circulares de Castanheiro do Vento (a partir de Cardoso, 2007)

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A dimensão modal refere-se ao cálculo da medida modal (ou seja, do valor de uma variável que ocorre com maior frequência numa série) do comprimento das lajes de xisto que integram a construção. (Cardoso, 2007: 120)

Os tipos criados por Cardoso obedecem essencialmente à organização e disposição destas unidades – isoladas ou geminadas. As estruturas geminadas, cujas lajes que definem a sua forma são partilhadas em determinado espaço, (Tipo II e Tipo III), apresentam genericamente dimensões menores e preferencialmente assumem uma forma circular (Cardoso, 2007: 213). O autor analisou as matérias-primas empregues na elaboração das estruturas, assim como anotou se os constituintes definidores da unidade arquitectónica, preferencialmente lajes de xisto, eram ou não facetados (Ibid: 148-151). Em relação à distribuição destas estruturas no sítio de Castanheiro do Vento, o autor sublinha dois pontos:

a) A aparente distribuição aleatória deste tipo de estruturas. Não parece existir qualquer padrão na sua localização. O facto de todas elas estarem associadas a troços de muretes, “bastiões” ou muros apenas reflecte o facto de a escavação ter privilegiado até ao momento as grandes linhas estruturais do sítio.

b) A não existência de qualquer estrutura deste tipo associada ao murete 1, no entanto é importante referir que a área entre o murete 1 e o murete 2, não se encontra completamente escavada. (Cardoso, 2007: 216).

A análise das 28 estruturas circulares identificadas em Castanheiro do Vento põe em relevo a existência de uma grande diversidade, não só tipológica, mas também verificável quando se atende à sua localização, à sua articulação com outras unidades arquitectónicas, à estruturação do seu espaço interno, ao nível das super-estruturas (isto atendendo por exemplo à identificação ou não de buracos de poste e ao reconhecimento ou não de entradas elaboradas ao nível da base da estrutura). J.M. Cardoso realça as localizações distintas destas estruturas em Castanheiro do Vento. Chama a atenção para a área escavada e neste sentido para os constrangimentos de um estudo de distribuição destas unidades arquitectónicas pelo sítio. No entanto parece-nos útil desdobrar este ponto e registar os diferentes locais onde foi possível até ao momento identificar “estruturas circulares”:

1. Encostadas a muretes: Ecg6, 2 e 1; Ec12.

2. Terminus de murete: Ec5.

3. Associadas a passagens: Ecg23 e 24.

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6. No interior do Recinto Principal: Ecg11 e 13; Ec27; Ec28.

7. Em relação com o Recinto Anexo: Ec14; Ec15; Ec16.

Fig. 9.2.2: Localização das estruturas circulares e estruturas circulares geminadas em Castanheiro do Vento

Atendendo a esta localização geral das estruturas surgem alguns aspectos a reter. Concentremo-nos nas estruturas associadas a bastiões. Estas unidades encontram-se no espaço interno dos bastiões ocupando quase toda a área ou condicionando de forma evidente os movimentos dentro destas estruturas. Pela sua elaboração os espaços foram modificados em termos de percepção do local, alterando-se possíveis movimentos e práticas no interior do “bastião”, tanto no momento da construção da estrutura circular como da sua “utilização”. Posteriores à construção dos bastiões e em íntima associação com as suas paredes, as

estruturas circulares foram elaboradas num espaço que, mesmo que por um curto espaço de tempo, era passível de “livre circulação”, ou seja, os espaços definidos pelas paredes dos bastiões, aparentemente, antes da construção das estruturas circulares, não teriam barreiras físicas efectivas à circulação no seu interior. Claro que esta observação levanta um conjunto de problemas, pois os constrangimentos ao andar, como referimos já, não são apenas dados por estruturas pétreas evidentes ao olhar do arqueólogo, mas podem encontrar-se sob a forma de outros materiais ou em interditos não materializados.

O caso, por exemplo, das estruturas tipo “bastião” S, Q, K e W associadas a estruturas circulares é revelador da construção e reconstrução de espaços onde as estruturas se parecem emaranhar sem contudo se sobreporem. Estas encostam-se, são contíguas, em termos estratigráficos foram construídas no mesmo depósito. Mas lançam hipóteses acerca da alteração de movimentos e de práticas no sítio. O processo construtivo destes espaços parece ser contínuo e nesse sentido, as estruturas registadas em Castanheiro do Vento não se afiguram como um cenário onde um conjunto de actividades é desempenhado após a sua construção. É pela construção e reconstrução permanente que o sítio é vivenciado2 e nesse sentido recusamos que as estruturas pétreas de hoje tenham sido pano de fundo permanente, inalterável, para as mesmas actividades durante centenas de anos. No entanto, a diversidade de práticas e de movimentos potenciados pela elaboração e reestruturação de espaços não pode ser equacionada tendo em conta apenas as linhas mais visíveis, mais “estáveis”. Neste sentido, ganha toda a pertinência o estudo de todos os outros materiais e problematizar a constelação de possíveis relações.

Olhando de perto para estas estruturas circulares e colocando-as lado a lado na nossa mesa de trabalho, emergem certas características que nos parecem importante realçar. Comecemos pelos materiais empregues e sua distribuição na estrutura. A matéria-prima utilizada para estruturar estas unidades é o xisto grauváquico. Trata-se de lajes de xisto extraídas muito provavelmente do local onde se implanta o complexo arquitectónico identificado ou de áreas próximas do mesmo. Em vários casos regista-se ainda a presença de xisto azul, granito, quartzo e quartzito. Os dois últimos elementos registam-se com fraca frequência (o quartzo em 3 e o quatzito em apenas uma unidade) (Cardoso, 2007). As lajes de xisto azul – matéria- prima não proveniente do local – foram identificadas em algumas estruturas circulares e o

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Ressalvamos no entanto que construção e reconstrução dos espaços não se materializa apenas na feitura de muretes como sublinharemos na continuação deste texto.

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granito está presente em praticamente metade das unidades registadas até ao momento (Cardoso, op.cit.:120). Os elementos em granito são na sua totalidade peças de moinhos manuais (dormentes); ou seja, todas as peças em granito utilizadas na delineação da estrutura tinham sido já manipuladas em outros contextos. Algumas apresentam-se fragmentadas, mas a maioria inteiras. Encontram-se também no “enchimento” das estruturas, como é o caso da Ec5, onde fragmentos de dormentes e moventes, juntamente com pequenas lajes de xistos (algumas rubefactas) e nódulos de quartzo ocupam o espaço interno da estrutura. Mais uma vez chamamos ao texto a ideia de transplantes de V. O. Jorge (2009a), ou seja, do entendimento do transporte de matérias-primas e outros objectos de um local para o outro como citações, como transplantes de matéria, e consequentemente de significados (não necessariamente estáticos) de um sítio para outro. Estas estruturas são também locais de reunião de diferentes materiais, de diferentes objectos que provêm de diferentes locais e que acarretam consigo diferentes tempos e memórias – a laje extraída da base do sítio, a laje que é trazida para o sítio, o bloco em granito que é “re-utilizado”, incorporado num outro espaço e tempo.

Estes materiais delinearam estruturas que podem ser iluminadas pelas suas particularidades. Vimos a sua localização e as matérias-primas. Prestemos agora atenção à sua organização interna. Algumas destas estruturas encontram-se conectadas com buracos de poste. Estes elementos, que seriam bases de sustentação de troncos em madeira não se dispõem no entanto de uma forma regular nem ocupam uma posição central. Por exemplo, nas estruturas geminadas 17, 18 e 19 verificou-se a existência de buracos de poste no interior das estruturas assim como no exterior destas mas em provável conexão com a elaboração das super-estruturas destas unidades. No entanto, em algumas estruturas não foi identificado nenhum buraco de poste no seu espaço interno ou em associação com estes dispositivos. Poderá este aspecto remeter para diferentes formas construtivas da cobertura da estrutura? Outro dado a registar é a existência em algumas estruturas circulares de uma passagem. O alinhamento parece intencionalmente interrompido como é o caso da Ec 20. Contudo, em alguns casos não é possível verificar a existência de uma entrada como é o caso das Ec 3, 4 e 5. Poderia, nestes casos, a entrada nas estruturas efectuar-se por uma espécie de degrau? Parece que em algumas unidades a existência de uma abertura de acesso é pensada ao nível basal da estrutura, materializando-se por uma interrupção no alinhamento que define a estrutura enquanto em outras unidades a abertura é efectuada no processo de moldagem.

A estrutura circular 3 (Ec3), localizada na área sul do sítio de Castanheiro do Vento, entre o murete 2 e o murete 3, foi intervencionada durante a campanha de 2005 e o estudo dos resultados foi efectuado por A. Queirós (2006). A escavação desta unidade circular apenas revelou 160 fragmentos cerâmicos, 17% dos quais decorados, maioritariamente com impressão penteada. Esta estrutura não se encontrava conectada com outros elementos tipo buracos de poste e apenas revelou um nível caracterizado por pequenas lajes de xisto associadas a um sedimento muito compacto, argiloso, de cor amarela. Várias estruturas semelhantes à Ec3 revelaram também a existência de um nível caracterizado por lajes de xisto de pequeno tamanho (formando uma espécie de lajeado) como é o caso das estruturas Ec7 e Ecg 22 e 25. Em algumas unidades registou-se um depósito semelhante; contudo, é efectiva a presença de lajes de xisto de dimensão média colocadas na horizontal, como são exemplos os casos de Ec4, Ec15, Ec20 e Ec21.

Contexto Ref. Laboratório BP Cal BC 2 sigma Ec3 Ua-32080 3895+/-40 2475-2211 Intersecção Bastião Q e Ecg18 Ua-33631 3855+/-35 2462-2206

Periferia de Ecg1/2/6 Ua-32079 3820+/-40 2457-2141 Intersecção Bastião S e

Ec21 Ua-33632 3725+/-40 2278-1982

Ecg6 Ua-32087 3630+/-80 2204-1758

Ecg2 Ua-33980 3395+/-35 1868-1564

Ec15 Ua-33982 3170+/-35 1511-1391

Intersecção de Ecg11 e 13 Ua-32082 2350+/-35 702-367

Quadro 9.2.2: Conjunto de datações disponíveis para as estruturas circulares de Castanheiro do Vento (calibração com o programa Calib Rev. 5.0).

Atendendo às datas de carbono 14 disponíveis para as estruturas que temos vindo a apresentar (dados sistematizados no quadro 3) podemos posicionar a construção e

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manutenção destas estruturas na segunda metade do IIIº milénio a.C3. Neste grupo aparecem três datas consideradas problemáticas, mas se tivermos em atenção o seu contexto os resultados não parecerão tão anómalos. Assim, a Ec15 localiza-se numa área junto ao Recinto Anexo que terá sido alvo de diversas transformações e alterações materializadas em dois troços de murete difíceis de enquadrar na planta geral do sítio. Também as estruturas geminadas 11 e 13 se situam numa área bastante complexa, junto da Torre Principal, estrutura que terá sido alvo de remodelações constantes, algumas em períodos mais recentes4. Fica apenas por explicar a data referente à Ecg2 distinta daquela obtida para a periferia da estrutura e para a estrutura que lhe é contígua, a Ecg65.

Até ao momento falámos apenas de unidades que têm como máximo de área interna 9,9 m2, nunca excedem em diâmetro 3,3 m e registam como diâmetro mínimo 1,6 m. Contudo, em Castanheiro do Vento foram detectadas outras unidades de grande dimensão às quais se resolveu chamar convencionalmente “grandes estruturas circulares”. Apenas uma destas unidades se define por um círculo completo enquanto os outros elementos que encaixamos neste grupo são apenas caracterizados por semicírculos. Caracterizam-se por um diâmetro médio de 8 m. Foram registadas no interior do Recinto Principal e entre o murete 2 e o murete 3 na área oeste do sítio de Castanheiro do Vento. Identificaram-se 6 unidades deste tipo, intervencionadas em 2008, 2009 e 2010 (como foi já apresentado no ponto 2).

Tal como as estruturas circulares que definimos anteriormente, estas unidades são delineadas por lajes de xisto fincadas obliquamente sobre o seu lado maior. Em algumas destas estruturas é possível verificar a existência de um segundo alinhamento externo, paralelo ao que define a estrutura, mas não registado de forma contínua, como é o caso da

3 Importa referir que a distribuição de probabilidades da data Ua-33632, após calibração a 2 sigma, nos diz que existe 94% de hipóteses da amostra ser datada de 2210-2020, 0,03% de o ser de 2278-2251, 0,7% de o intervalo corresponder a 2229-2221 e 1% para o período de 1994-1982.

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O estudo desta estrutura encontra-se ainda em preparação. A campanha arqueológica de 2010 revelou a existência de reformulações profundas desta estrutura materializadas de forma evidente em dois troços de murete construídos no que se poderia chamar de espaço interno de um “bastião” na sua fase inicial. A presença de materiais tradicionalmente conectados com o IIº milénio a.C. e os diferentes aparelhos construtivos identificados pressupõem reformulações constantes e que ocorreram até períodos tardios.

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No entanto, é importante sublinhar novamente que as datas de 14C datam apenas a amostra (neste caso carvões de origem vegetal) e não a estrutura. Contudo os pontos no tempo cronológico que estes dados nos fornecem ajudam a investigação a colocar balizas temporais, na medida em que ainda nos é impossível escapar a um modo de fazer ciência de tradição cartesiana.

GEc3 e GEc 5. O espaço entre os dois alinhamentos (cerca de 60 cm) é preenchido por pequenas lajes de xistos envolvidas por um sedimento argiloso, muito compacto, de cor amarela. Poderão estas estruturas comportar paredes espessas (delimitadas pelos dois alinhamentos)? Conectado com a estrutura GEc3 foi registado um agrupamento de moinhos manuais em granito (num total de 18 unidades) e um grande bloco de quartzito alaranjado organizados de forma tendencialmente circular. Imediatamente a sul desta estrutura foi escavado um conjunto de blocos de quartzo de filão, de forma irregular e de pequeno e médio tamanho, aparentemente termoclastos, dispostos também de forma tendencialmente circular. Esta estrutura composta por elementos de quartzo parece também estar conectada com a GEc4 (é possível que ambas as estruturas estivessem conectadas por uma passagem no seu interior). A estrutura GEc4 revelou bastantes fragmentos de barro de revestimento (um total de 125 fragmentos, que se traduzem em 3546 gr); aí se procedeu, numa pequena área, a uma intervenção em profundidade que revelou uma pequena “fossa”, de contorno genericamente circular, cujo enchimento era caracterizado por um sedimento cinzento-escuro; no seu interior identificou-se ainda um buraco de poste, em negativo, de contorno genericamente subquadrangular, também caracterizado por um sedimento de cor escura. Ambas as estruturas apresentavam apenas uma profundidade de 10 cm.

Durante as campanhas de 2008 e 2010 foi também intervencionada a GEC1, tendo sido escavada na sua totalidade. A análise dos materiais recolhidos neste espaço delimitado será apresentado no ponto 10.2 e também em Anexo. No entanto, podemos sublinhar alguns pontos de reflexão: a escavação do espaço interno da estrutura permitiu a identificação de

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