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CAPÍTULO III: METODOLOGIA DE INVESTIGAÇÃO E DE INTERVENÇÃO

3.2 Construtivismo modelo da aula-oficina

O projeto de intervenção pedagógica supervisionada desenvolvido nos contextos escolares cooperantes fundamentou-se numa perspetiva construtivista da aprendizagem, sendo que o objetivo da investigação passava por apurar o conhecimento construído pelos alunos no desenrolar do projeto, bem como entender os processos inerentes às aprendizagens desenvolvidas pelas crianças através de “…uma perspetiva construtivista da aprendizagem”, perspetiva essa que

“sugere uma abordagem do ensino que oferece aos alunos a oportunidade de uma experiência concreta e contextualmente significativa, através da qual eles podem procurar padrões, levantar as suas próprias questões e construir os seus próprios modelos, conceitos e estratégias” (Fosnot, 1996, p.9).

Em concordância com a revisão da literatura realizada com base nesta perspetiva em educação, pretende-se que o professor seja capaz de proporcionar experiencias às crianças, que lhes possibilitem cruzar os conhecimentos passados com os recentemente adquiridos, bem como estratégias impulsionadoras da constante evolução da competência de aprender a aprender, até que este atinga um nível de aprendizagem, que lhe possibilite aprender sobre o que aprende, fazendo de si um aluno autónomo fora da aula e do contexto escolar (Fosnot, 1996).

Como tal, a perspetiva pela qual nos fundamentamos, entra em confronto com os modelos de ensino solidamente enraizados na educação, perfeitamente eternizados nas escolas, e que consequentemente germinam o processo de ensino na base da transmissão de conhecimentos e o processo de aprendizagem como absorção na íntegra do que é exposto pelos professores. Sendo assim, só se perspetiva um possível rompimento destes modelos profundamente enraizados, quando se adotarem novas perspetivas do processo de ensino-aprendizagem, se o virmos como um processo que responsabiliza de forma ativa o sujeito que aprende na construção do seu conhecimento. Aludimo-nos à teoria construtivista, que, em contraste com o método de ensino predominante, responsabiliza e centraliza o papel do aluno no processo de ensino-aprendizagem., como refere Fosnot, ao afirmar que “[a] hierarquia tradicional do professor como o possuidor autocrático do conhecimento e do aluno como o sujeito ignorante e sob controlo que estuda para aprender aquilo que o professor sabe, começa a desvanecer-se à medida que os professores assumem mais o papel de facilitadores e os alunos adquirem um maior domínio sobre as ideias” (Fosnot, 1996, p.10).

Desta forma, prevê-se que a reciprocidade mútua das relações sociais, a autonomia, e a responsabilização são os objetivos primordiais no modelo construtivista, pelos quais nos orientamos no desenvolvimento do projeto.

Na perspetiva construtivista, o professor deve ser visto como um mediador da construção de conhecimento que o aluno produz, pois como refere Fosnot, o conhecimento é “…temporário, passível de desenvolvimento, não objetivo, estruturado internamente e mediado social e

culturalmente.” (Fosnot, 1996, p.9), e neste sentido a aprendizagem deve ser vista “…como um processo autorregulador de luta contra o conflito entre modelos pessoais preexistentes do mundo e novos conhecimentos discrepantes…” (Fosnot, 1996, p.9), portanto a mediação por parte do professor, deve possibilitar o aluno de construir modelos e representações da realidade inovadores, que lhe permitam construir significado, “…com ferramentas e símbolos culturalmente desenvolvidos e negociando esse significado através de atividade social cooperativa, de discurso e de debate” (Fosnot, 1996, p.9).

Neste sentido, procuramos no desenvolvimento do projeto, oferecer aos alunos a oportunidade de passarem por experiencias significativas, inovadoras, nas quais estes podem interagir com resto da turma, apelando ao trabalho cooperativo, ao debate e à discussão de ideias, permitindo que estes possam autonomamente construir modelos e conceitos, estabelecer um espírito critico e por sua vez colocar questões.

O professor encarna o papel de facilitador, facultando aos alunos o domínio da construção das suas ideias. Como tal, prevê-se que construa momentos desafiantes e auxiliadores na compreensão dos alunos, para que estes entendam que existe contradição entre as conceções que produzem e os exemplos cientificamente aceites, consequentemente abalando as suas estruturas cognitivas produzindo conhecimento. Portanto, a aprendizagem advém de conflitos cognitivos, provenientes do cruzamento dos conhecimentos prévios dos alunos com os conhecimentos novos, que lhes permitem novas representações da realidade. Como tal é fulcral credibilizar bastante quer as conceções prévias quer os conhecimentos produzidos no processo de ensino-aprendizagem, valorizando o pensamento que “Os professores que fundamentam a sua prática no construtivismo rejeitam as noções de que o significado pode ser passado para os alunos através de símbolos ou transmissão, que os alunos podem incorporar cópias exatas da compreensão dos professores para seu próprio uso, que os conceitos globais podem ser discriminados em subaptidões e que os conceitos podem ser ensinados fora do contexto” (Fosnot, 1996, p.9).

O modelo aula-oficina (Barca, 2004), serviu de base na implementação deste projeto de carácter construtivista que, em uníssono com os princípios construtivistas, planeia a aula centrando-se no levantamento das ideias dos alunos, que independentemente de se aproximarem das concessões científicas ou não, são laboradas posteriormente na aula. O modelo de aula-oficina sugere que as tarefas propostas bem como as questões colocadas aos alunos sejam desafiadoras

ao nível cognitivo, para que dessa forma se atribua relevância à mobilização de conhecimentos nos mais variados contextos. Sendo assim é fulcral a avaliação sistemática das aprendizagens, com o objetivo de avaliar o progresso das ideias dos alunos.

A perspetiva construtivista da teoria de Vygotsky por nós adotada trata-se de uma aprendizagem social, que manuseia nas zonas de desenvolvimento proximal. Como tal a construção individual do conhecimento não se esgota, se for estimulada por um par mais capaz. O socioconstrutivismo, ao qual se agrega a aprendizagem, implica o debate, a partilha e a discussão de ideias, práticas que impulsionam o processo de ensino-aprendizagem.

Em suma, no seguimento do que fora analisado na literatura e no contexto, julgámos que o modelo da aula oficina, beneficia a compreensão dos conteúdos históricos por parte das crianças, visto que o professor visa para dar início à sua prática o levantamento dos conhecimentos prévios dos alunos acerca de determinado tema ou conteúdo, bem como a avaliação sistemática de todo o processo de ensino-aprendizagem, que permite que este possa constantemente sofrer alterações. Sendo assim, este modelo baseado na teoria construtivista, “ embora…não constitua uma teoria de ensino, aponta para a adoção de uma abordagem da educação radicalmente diferente daquela que é utilizada na maior parte das escolas.” (Fosnot, 1996, p.9).