• Nenhum resultado encontrado

3.2.1 | Construtivismo Russo

No documento Cenografias urbanas e cidades cenário (páginas 105-110)

A exploração espacial, ou seja, tridimensional, iniciou-se na segunda dé- cada do século XX, através do experimentalismo do arquitecto Vladimir Tatlin (1885-1953).

A técnica da construção da escultura a partir de elementos distintos, em oposição à modelação, foi inicialmente desenvolvida por Pablo Picasso em 1912, ao expandir a linguagem do cubismo para a terceira dimensão. Este método foi elaborado inicialmente na Rússia por Vladimir Tatlin a partir de 1914, a partir da combinação de materiais diversos como o metal, vi- dro, madeira, cartões etc.

Figura 18.

Still life with Guitar. Paris, Novembro, 1913, Pablo Pi- casso. Paperboard, paper, string, and painted wire installed with cut cardboard box, 30 x 20 1/2 x 7 3/4” (76.2 x 52.1 x 19.7cm). The Museum of Modern Art, New York.

Figura 19.

Vladimir Tatlin, Counter Relief, 1914/ 1915, - 2.Se- lection of materials. 1914.

Figura 20.

Vladimir Tatlin, Coun- ter Relief, 1914/ 1915, - 2.Selection of materials. 1914.

A este tipo de artistas russos chamou-se, após a Revolução de 1917, de construtivistas pela sua relação directa com a ‘’construção’’ de objectos. Es- tes artistas foram fundamentais nas discussões teóricas que surgiram acerca da distinção entre composição e construção enquanto princípio de orga- nizações artísticas. Chegaram a conclusões de que ‘construção’ teria uma certa conotação tecnológica e de engenharia associada, por ser fundamen- talmente caracterizada pela economia dos materiais, precisão, organização e sobretudo, a abstinência de elementos supérfluos ou decorativos.

Esta atitude artística foi fruto da atmosfera utópica gerada pela revolução, e pelas condições específicas do período da Guerra civil (1918-21). Após 1917, a indústria e a máquina viriam a tornar-se objectos fundamentais para a classe trabalhadora, e também, para a nova ordem Comunista. Em termos práticos, o desenvolvimento industrial, foi também, para as autoridades do estado, uma chave para o progresso político e social. Assim, a máquina, não só, funcionava como metáfora para a difusão da nova cul- tura em construção, mas também, enquanto meio prático que ajudaria a reestabelecer a economia.

Os próprios artistas, foram encorajados a acreditar que, ao participarem na propaganda comunista – decorando cidades na Rússia para festivais revo- lucionários, e fazendo o design de posters propagandistas e educacionais – teriam um papel social importante a desempenhar na sociedade. Assim, o construtivismo tornou-se numa extensão lógica entre uma nova vanguarda artística e o progresso político e social.

Os projectos construtivistas foram directamente estimulados pelo projecto de Tatlin, Monument to the Third International. O monumento foi conce- bido como sendo um enorme esqueleto de um edifício industrial, com- posto por três volumes circulares que abrigariam os escritórios administra- tivos, executivos e de propaganda do comité Internacional Comunista. A torre demonstrava o poder da máquina enquanto símbolo revolucionário, e a seu propósito, Tatlin declarou que esta obra visava reunir a unidade artística entre a pintura, a escultura e a Arquitectura.

A extensão dos ideais Construtivistas para a área da Arquitectura foi ini- cialmente visível nos trabalhos dos irmãos Vesnin (Aleksandr112, Leo-

nid113 e Viktor114) e de Moisey Ginburg. O projecto do Palácio de Labour

(1922/23) dos irmãos Vesnin em Moscovo e o design efectuado para o edifício Leningrad Pravda (1924) estabeleceram um contacto directo com o vocabulário arquitectónico.

112 Alexander Aleksandrovic Vesnin (1883 — 1959), foi um arquitecto Russo que se

destacou também pelos seus trabalhos na área da pintura e cenografia.

113 Leonid Aleksandrovich Vesnin (1880 – 1933), juntamente com os seus irmãos, foi

um dos grandes impulsionadores do movimento construtivista na Arquitectura.

114 Viktor Aleksandrovich Vesnin (1882–1950), foi um arquitecto russo soviético. Os

seus primeiros trabalhos (1909–1915) seguiam um estilo revivalista Neoclássico. Na década de 20 dos anos 90, Viktor e os seus irmãos, emergiram como impulsionado- res da Arquitectura construtivista. Até à data da sua morte, Viktor Vesnin foi um dos mais reconhecidos arquitectos do sistema Soviético.

Figura 21.

Monument to the Third International, constructed by Tevel’ Sha- piro, Sofia Dymshits-Tolstaia, losif Meerzon, and Pavel Vinogradov under Tatlin’s direction.

Figura 22. Vesnin brothers 1923 Palace of Labor draft.

3.2.2 | Minimalismo

“Minimal art, (…), reveals the literal space of the viewer and the viewer’s presence in this space. Placed in the center of the gal- lery, the Minimal work sets up a ‘theatrical’ relationship with the spectator, demanding his or her attention, much as an actor does.”115

É também no tema da espacialidade que se realça a escultura Minimalista tendo esta sido directamente influenciada pelas vanguardas russas e pelos ideais pressupostos por Marcel Duchamp116 de que a arte é feita pelo pú-

blico.

Neste movimento, o espaço entre o espectador e a obra de Arte, tornam-se cúmplices. Desta forma o artista começa a encarar a obra de Arte de uma forma completamente diferente, aproximando-a da Arquitectura.

O crítico e filósofo britânico Richard Wolheim117, empregou o termo Mi-

nimalismo, pela primeira vez em 1965, para se referir à radical redução racionalista promovida pelas novas tendências artísticas. Este termo aplica- va-se a um tipo de arte que promovia a continuação e aprofundamento de uma pesquisa espacial que visava uma abordagem tridimensional, relevan- do assim o uso dos materiais no seu estado mais natural e puro.

115 Tradução livre: ‘‘ A Arte minimalista, (...), revela o espaço literal entre o espectador e a sua própria presença neste espaço. Situada no centro da galeria, a obra de arte Minimalista configura uma relação “teatral” com o espectador, exigindo a sua aten- ção, tal e qual como faz um actor.’’ MEYER, James- Minimalism, p.33.

116 Marcel Duchamp (1887 – 1968), pintor, escultor e poeta francês, cidadão dos Es-

tados Unidos a partir de 1955. É um dos grandes representantes do movimento ar- tístico conhecido como dadaísmo. Fez várias experimentações artísticas e criou o ready-made, introduzindo objectos da vida quotidiana no campo das artes plásticas. Embora seja considerado um artista dadaísta, trabalhou com vários conceitos artísti- cos do impressionismo, cubismo e expressionismo.

117 Richard Arthur Woolheim (1923 - 2003) foi um filósofo britânico reconhecido pelo

Estas obras, catalogadas como minimalistas, pretendiam ao invés de uma admiração estética, uma interacção física, emotiva e interactiva da parte do espectador.

Uma das características deste movimento, é a introdução do espaço físico e perceptivo, enquanto parte integrante e fundamental da obra de arte. Este processo levará a uma consequente aproximação da Arte com a Arquitec- tura, pela introdução da corporalidade espacial. Neste sentido, torna-se fundamental para o artista, a compreensão formal da caracterização do espaço. Ao mesmo tempo, a procura por um espaço distinto de enquadra- mento artístico, fora das salas brancas e neutras dos museus, torna-se num importante desafio, que levara à integração da Arte com a Arquitectura.

Para vários autores (Rosalind Krauss118), foi a escultura minimalista que

proporcionou à Arte, a sua transição para o espaço público. Como é o caso dos trabalhos de Robert Morris119 ou de James Turrell120, que inserem no

objecto escultórico uma reflexão que culmina na combinação de exclusões formais. Este exercício cognitivo é de extrema significância para a reflexão acerca da questão da inserção da Arte na forma urbana.

118 KRAUSS, Rosalind - A escultura no campo ampliado, ver ponto 3.2.3 O Campo

Ampliado.

119 Robert Morris (1931), artista, escultor, e escritor. É uma referência dos movimen-

tos minimalista e land art.

120 James Turrell (1943), artista plástico conhecido pelo seu trabalho que envolve a

temática da Luz e do Espaço.

Figura 23.

Esta nova realidade introduzida pelo minimalismo, realça também os te- mas que incluem a corporalidade e a conceptualidade.

A arte, no geral, dos anos 1960, desde o Pop Art até à arte minimalista e conceptual, corresponde ao apogeu da dupla formada pela produção in- dustrial e pelo consumo de massas.

No documento Cenografias urbanas e cidades cenário (páginas 105-110)