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2.2.3 | Elementos Arquitectónicos

No documento Cenografias urbanas e cidades cenário (páginas 65-69)

A Arquitectura e a Cenografia estão intimamente conectadas, e vários ar- quitectos transportaram o seu conhecimento acerca do espaço para o tea- tro. Adolphe Appia33, foi o primeiro arquitecto-cenógrafo do século XX e

trouxe uma nova abertura arquitectónica aos seus espaços cénicos, distan- ciando-se dos padrões da altura que se definiam, na maioria das vezes, com um cenário ilusionista pintado.

Em 1911, na cidade de Hellerau na Alemanha, Adolphe Appia criou o Rhythmic Space – um cenário arquitectónicamente organizado através de vários degraus e plataformas modulares, dispostas vertical e horizontal- mente.

Deliberadamente, as sombras provocadas pelos diversos objectos em dife- rentes níveis permitiu aos actores o isolamento ou a exposição em locais específicos do palco, enaltecendo, a sua presença no palco e no espaço, abrindo desta forma, as possibilidades cénicas, elevando-as a um nível bas- tante mais escultural e arquitectónico.

33 Adolphe Appia (1862-1928), arquitecto e encenador suíço, cujas teorias, especial-

mente no campo interpretativo da luz, ajudaram a concretizar as encenações simbo- listas do século XX.

Figura 8.

Perspectiva do cenário, Rythmic Space, Adophe Appia, 1911.

Figura 9.

Perspectiva do cenário, Rythmic Space, Adolphe Appia, 1911.

Figura 10.

Perspectiva do cenário e sombras, Ryth- mic Space, Adolphe Appia, 1911.

Figura 11.

Perspectiva do cenário e sombras, Ryth- mic Space, Adolphe Appia, 1911.

2.3 UMA INTRODUÇÃO ÀS CENOGRAFIAS

URBANAS;

‘’Urban Scenography - the occupation of formal and informal performing spaces - encourages spontaneous public gatherings and street theatre events. The building becomes the setting and the performers act not only in front of the walls but often on them, defying gravity and safety and providing a human face to a concrete wall.’’34

É a partir do instante em que a história é criada que se inicia o evento, dando assim, novo focos e inspirações. A principal conexão dá-se entre o espaço e os participantes, ambos performers e espectadores, providen- ciando experiências significativas ao cenógrafo que permanece numa busca constante, de animação espacial, recorrendo a todas as possibilidades geo- métricas.

O teatro ocorre num lugar místico que se altera e define pelo confronto entre dois mundos: o espaço fascinante, estranho e perigoso habitado pelo actor; e o mundo do dia-a-dia, a partir do qual observamos o primeiro. A caracterização teatral não se revela pela simples existência destes dois luga- res, mas sim pelo seu confronto, pela sua coexistência.

A Cenografia é a expressão visual do teatro, podemos considerar que é uma linguagem não-verbal que tem a capacidade de comunicar através de um discurso dialéctico espacial. É o espaço físico mutável em que se desenrola a representação do texto dramático.

34 Tradução livre: ‘‘Cenografia Urbana - A ocupação de espaços de performance for- mais ou informais - incentiva encontros públicos espontâneos e eventos de teatro de rua. O edifício torna-se no cenário e os artistas actuam não apenas em frente às paredes, mas muitas vezes sobre elas, desafiando a gravidade e a segurança propor- cionando um rosto humano a uma parede.’’ HOWARD, Pamela – What is Scenogra- phy, p.10.

A Cenografia e a cidade estão intimamente relacionadas. O teatro é ma- téria em constante mutação, é uma estrutura estética e social onde várias pessoas podem participar, é também localizado nas cidades. Deste modo, o teatro assemelha-se ao processo urbano, demonstrando as estruturas so- ciais e de poder. O teatro não demonstra apenas o processo urbano, na realidade, é uma parte deste processo.35

´´Because the city can trap you, nurture you, teach you, unravel you unspeak you. Because you are just one among many here, and the dynamic of one in relation to many (conversation, dia- logue, difference, the negociation of public space) is what the- atre emerges from and thrives on, what art must address and what cities must somehow contend with if they are to survive.’’ 36

Ao não se limitar à boca de cena, o espaço cénico existe em locais interiores e exteriores, despertando em nós reacções emotivas e sensoriais, seduzindo emocionando e condicionando a nossa postura.

Podemos assim concluir que a cenografia, tal como a Arquitectura, opera no domínio do simbólico e a cidade é, não mais do que, um vigoroso e complexo palco onde inúmeros actores se reúnem, munidos de diferentes olhares, perspectivas e culturas a fim de questionar a definição do que é a própria realidade.

Ao adoptar a sua forma no lugar da ideia, a arte contemporânea, incluin- do a Cenografia, examina os referenciais históricos ao mesmo tempo que articula conceitos cénicos e de ambiência com a inovação fomentada pelas novas tecnologias.

35 HARVIE, Jen - Theatre & the city.

36 Tradução livre: ‘‘Porque a cidade pode prender, alimentar, ensinar, desvendar. Porque tu és apenas um entre muitos aqui, e a dinâmica de um em relação a muitos (a conversa, o diálogo, a diferença, a negociação do espaço público) é de onde o teatro emerge e prospera, é o que a arte deve abordar e é com isso que as cidades devem de alguma forma lidar, se quiserem sobreviver.’’ ETCHELLS, Tim cit. por HAR-

‘’The way an audience experiences and interprets a play, we now recognize, is by no means governed solely by what happens on the stage. The entire theatre, its audience, even its locations within a city, are all important elements of the process by wich an audience makes meaning of its experience.’’37

Como refere Marvin Carlson (1989), na citação acima transcrita, o factor urbano está sempre presente e ligado ao teatro, torna-se pois, relevante estabelecer estas comparações de modo a compreender os conceitos, só as- sim, será possível um estudo aprofundado acerca das cenografias urbanas. A cidade tem vindo, ao longo do tempo a constituir-se enquanto palco e espaço de performance dos mais variados rituais. Como tal, a Arquitectura enquanto cenário, sempre forneceu os lugares e espaços onde estes rituais ganhavam vida.

No documento Cenografias urbanas e cidades cenário (páginas 65-69)