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3 REVISÃO BIBLIOGRÁFICA

3.3 CONSUMO DE CARNE BOVINA

Segundo o IBGE (2011c), o rebanho bovino brasileiro em 2010 chegou a 209,5 milhões de cabeças, com crescimento de 2,1% em relação ao ano anterior, estando os maiores rebanhos concentrados na região Centro-Oeste (34,4%); Norte (19,7%) e Sudeste (18,5%). Ainda no segundo trimestre de 2013, o Brasil abateu aproximadamente 8,5 milhões de cabeças bovinas e indicando aumento de 5,3% referente ao trimestre anterior. Nesse mesmo período de 2013 destacam-se os três estados da região Centro-Oeste quando considerado o abate de bovinos: o Mato Grosso, o Mato Grosso do Sul e Goiás (IBGE, 2013).

Dados do último levantamento da Pesquisa de Orçamentos Familiares (POF)

2008-2009 destacaram a carne bovina como um dos alimentos mais consumidos pelas

famílias brasileiras, considerando apenas a alimentação no domicílio. A região Centro- Oeste foi caracterizada pelo consumo médio per capita de carne bovina acima da média nacional, com 88,1 g/dia; seguida pela região Norte com 68,2 g/dia, Sudeste com 63,2 g/dia e Sul com 60,1 g/dia. O consumo deu-se em maior valor entre os adultos (66,3 g/dia), seguidos pelos adolescentes (59,9 g/dia) e idosos (52,6 g/dia) (IBGE, 2011a).

Em pesquisa desenvolvida por Rodrigues (2009) na cidade de Vitória, ES, observou-se que o tipo de carne que apresentou maior predileção entre os entrevistados foi a bovina (49%), seguida pelo pescado (24,5%), aves (21%), suínos (5%) e outros (0,5%). Já os cortes mais consumidos de carne bovina foram: contrafilé (37,31%), alcatra (21,76%), patinho (14,51%), picanha (6,74%), filé-mignon (5,18%), músculo (2,59%), fraldinha (2,07%), costela (2,07%), lagarto (1,55%), maminha

(1,55%), peito (1,04%) e outros (3,63%). Em relação a preferência, os cortes mais citados foram: filé-mignon (30,57%), picanha (22,28%), contrafilé (16,06%), alcatra (15,54%), patinho (4,15%), fraldinha (3,11%), outros (2,59%), costela (2,07%), músculo (1,55%), peito (1,04%), lagarto (0,52%) e maminha (0,52%).

É reconhecido que a carne vermelha é um alimento de grande valor nutricional, fonte primária de água e de gordura, que contribui com o fornecimento de energia, proteína e ácidos graxos de cadeia longa, apresenta bons níveis de vitaminas do complexo B (B1, B2, B6 e B12) e vitamina D, potássio, fósforo, magnésio, zinco, selênio e em particular o ferro. Ela fornece os aminoácidos essenciais (lisina, treonina, metionina, fenilalanina, triptofano, leucina, isoleucina e valina), bem como uma boa quantidade de vários micronutrientes (FERGUSON, 2010; MCAFEE et al., 2010; ROBINSON, 2001). Portanto, a carne é considerada como uma importante fonte de proteína em muitas regiões do mundo (WHO, 2003), onde se pode considerar que a carne vermelha faz parte da dieta habitual de muitos adultos (COSGROVE; FLYNN; KIELY, 2004; HENDERSON; GREGORY; SWAN, 2002).

Assim, considera-se a carne vermelha uma valiosa fonte de nutrientes essenciais, porém, os seus riscos e benefícios à saúde vêm sendo amplamente discutidos em meio a pesquisas desenvolvidas atualmente. Isso se justifica, pois, além de considerar a sua composição proteica e vitamínica, encontram-se, em sua composição, conteúdos elevados de AGS (BRASIL, 2008a; POPKIN, 2009; SANTOS FILHO et al., 2001; SINHA et al., 2009).

A carne bovina apresenta maior teor de gordura saturada entre as carnes consumidas: 100 g de carne suína apresentam 35 g de gordura saturada; 100 g de carne de frango, 30 g e 100 g de carne bovina, 50 g (MEDEIROS, 2008). Porém, o teor de gordura em carnes varia muito de acordo com a idade, o tipo de corte e a espécie animal. A gordura é composta principalmente de ácidos graxos monoinsaturados e AGS (VALSTA; TAPANAINEN; MÄNNISTÖ, 2005).

Estudos têm evidenciado que a diminuição do consumo de carne vermelha gorda e de carne processada tem sido recomendada para a redução dos fatores de risco de diversas doenças (MCAFEE et al., 2010), como doença cardíaca coronariana (VAN

HORN et al., 2008), diabetes tipo 2 (PAN et al., 2011), AVC (FISHER; LESS; SPENCE, 2006), e em recente publicação da World Cancer Research Fund e American Institute for Cancer Research (2007)6, ao câncer colorretal. Outros tipos de câncer também têm sido associados positivamente ao consumo de carne processada, como o da próstata, pulmão, esôfago, bexiga e pâncreas (WORLD CANCER RESEARCH FUND; AMERICAN INSTITUTE FOR CANCER RESEARCH, 2007).

No Reino Unido foi observada uma associação significativa entre o consumo de carne vermelha e o risco de câncer de mama em mulheres pós-menopausa, com efeito mais intenso ao se considerar os produtos processados de carne (TAYLOR et al., 2007).

Em pesquisa desenvolvida por Monteiro, Mondini e Costa (2000), ao analisarem os dados das Pesquisas de Orçamentos Familiares de 1987-1988 e 1995-1996, foi encontrada crescente participação do grupo de carnes na disponibilidade total de energia das regiões Norte e Nordeste, passando de 12,5% em 1988 para 14,1% do total calórico em 1996. E a região Centro-Sul apresentou o maior aumento, de 10,5%, para 13%, no período avaliado.

Levy-Costa et al. (2005) avaliaram o consumo de carne a partir da Pesquisa de

Orçamentos Familiares 2002-2003, em uma amostra de 48.470 domicílios. Eles

constataram que os alimentos básicos de origem animal representavam 18% das calorias da dieta, e as carnes participaram com 11,8%, sendo maior entre os indivíduos que viviam no meio urbano e com níveis maiores de rendimentos familiares. Em pesquisa desenvolvida por Levy et al. (2012), a partir da Pesquisa de Orçamentos

Familiares 2008-2009, foi verificado que os produtos de origem animal (carnes, leite e

derivados e ovos) corresponderam a 45% das calorias disponíveis para consumo. É importante salientar que Lambert et al. (2005) observaram que há preferência de carne com marmoreio (gordura intramuscular), o que representa grande aporte calórico.

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Essa publicação está fundamentada nos estudos S. C. Larsson e A. Wolk, em Meat Consumption and Risk of Colorectal Cancer: A Meta-Analysis of Prospective Studies (2006), e T. Norat et al., em Meat Consumption and Colorectal Cancer Risk: Dose-Response Meta-Analysis of Epidemiological Studies (2002).

Propostas que visam reduzir esses fatores de risco a partir de estratégias dietéticas globais, estabelecendo limites para o consumo de nutrientes, têm sido amplamente divulgadas entre a população, no intuito de aumentar a conscientização e a compreensão do papel da dieta na saúde. De acordo com WHO (1996), os guias alimentares têm sido empregados para orientar sobre as recomendações dietéticas por meio de informes à população, promovendo a prevenção de doenças, a saúde e o bem- estar nutricional.

Outras orientações quanto ao consumo adequado referente à quantidade são enfatizadas pela U.S. Department of Health and Human Services, em Dietary

Guidelines for Americans (2010) (UNITED STATES OF AMERICA, 2012). Com o

objetivo de alcançar reduções no nível médio de colesterol-LDL, propõe-se para a população geral o consumo inferior a 7% de gordura saturada do total de energia diária, ou seja, para uma dieta contendo 2.000 calorias, é orientado o consumo máximo de 14 g de gordura saturada (USA, 2012). No intuito de reduzir os riscos cardiovasculares, a American Heart Association (2006) sugere que esse objetivo pode ser alcançado limitando a ingestão de alimentos ricos em AGS, como produtos lácteos, carnes gordurosas, além de outras recomendações gerais de alimentação.

No Brasil, o Ministério da Saúde, por meio do Guia Alimentar para a População

Brasileira, orienta a adoção de dez passos para alimentação saudável e apresenta

diretrizes traçadas para a população brasileira de uma dieta saudável com o objetivo de promover a saúde, prevenindo doenças causadas por deficiências nutricionais e DCNT (BRASIL, 2005a). O instrumento é composto de quatro níveis com oito grandes grupos de produtos, de acordo com a sua participação relativa no total de calorias de uma dieta saudável: grupo 1: produtos de panificação, cereais e derivados, outros grãos, raízes e tubérculos = 8 porções diárias; grupo 2: legumes e verduras = 3 porções diárias; grupo 3: frutas e sucos de frutas = 3 porções diárias; grupo 4: leite e derivados = 3 porções diárias; grupo 5: carnes e ovos = 2 porções diárias; grupo 6: leguminosas = 1 porção diária; grupo 7: óleos e gorduras = 2 porções diárias; grupo 8: açúcares, balas, chocolates, salgadinhos = 2 porções diárias.

Em relação a dietas, citam-se as tabelas de composição dos alimentos, onde se têm a Tabela Brasileira de Composição de Alimentos-USP (TBCA-USP), criada em

1998, (GIUNTINI; LAJOLO; MENEZES, 2006) e a Tabela Brasileira de Composição de

Alimentos – TACO (UNIVERSIDADE ESTADUAL DE CAMPINAS [USP], 2011).

Essas informações são necessárias para fornecer subsídios para a promoção de uma educação nutricional e por meio delas promover ações de orientações a políticas públicas.