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4. RESULTADOS E DISCUSSÃO

4.3. Consumo do alimento

Durante os 132 dias de fornecimento dos alimentos o consumo total variou de 150,69 a 534,49 g/colônia (Tabela 8), havendo diferença significativa entre os tratamentos (t = 11,45; P < 0,01). Entre os alimentos fornecidos, a pasta de pólen com o açúcar invertido foi o mais consumido (450,95±110,90 g/colônia), estando de acordo com o observado por Dietz (1975) e Sanford (1996). Entretanto, Chhuneja et al. (1992) testaram seis formulações de alimento diferentes contendo 4% de leite desnatado e 26% de sacarose em pó, perfazendo 14,72% de proteína bruta, e perceberam que em determinadas épocas do ano as rações eram mais consumidas do que o pólen.

O menor consumo das três rações formuladas ocorreu nos 45 dias finais da mensuração dos dados, mesma época em que se observou maior consumo de pólen (tabela 8). A análise do consumo mensal mostrou haver diferença significativa pelo teste

t de Kruskal-Wallis no mês de dezembro (t = 10,31; P < 0,05) e fevereiro (t = 10,33; P < 0,05). Não houve diferença significativa no mês de janeiro (t = 4,76; P > 0,05).

A ração formulada por feno de mandioca e farinha de algaroba (T01) foi a menos consumida, sugerindo ter menor palatabilidade do que as demais rações. O pólen foi o alimento mais ingerido. As demais rações tiveram um consumo variado, mas pelo consumo final verifica-se que foram menos ingeridas do que o pólen.

Observa-se que as três rações formuladas tiveram uma redução do consumo entre dezembro e janeiro de 67%, aproximadamente, e entre janeiro e fevereiro de 39%. Nas colônias alimentadas com pólen também houve uma redução do consumo entre dezembro e janeiro, só que esta foi mais acentuada, 89%. Entre janeiro e fevereiro o consumo da pasta de pólen aumentou 15%.

Tabela 8: Postos médios, médias e desvios-padrões (dp) do consumo do alimento em dezembro, janeiro e fevereiro e do consumo total (g) das colônias de Apis mellifera referente ao ensaio instalado em Castelo do Piauí no período de 03 de novembro de 2003 a 18 de fevereiro de 2004. Consumo/ tratamento T01 1 T022 T033 T044 Postos Dezembro 4,80 c 11,40 ab 9,20 abc 16,60 a Janeiro 7,60 11,00 8,40 15,00 Fevereiro 6,60 b 11,60 ab 6,80 b 17,00 a Consumo total 6,40 b 9,60 b 8,00 b 18,00 a Médias±dp Dezembro 62,19±14,00 85,12±6,35 87,11±3,86 122,49±24,22 Janeiro 47,63±21,50 56,49±9,33 50,36±14,23 108,22±58,83 Fevereiro 19,49±26,55 23,12±13,47 17,20±18,52 113,86±56,74 Consumo total 200,51±49,15 235,13±15,06 229,28±51,31 450,95±110,90

Postos seguidos por letras semelhantes na mesma linha não diferem significativamente entre si ¹ 260 g de mandioca; 140 g de algaroba; 437,39 g de xarope e 0,96 g de essência de baunilha.

2 68 g de mandioca; 332 g de babaçu; 437,39 g de xarope e 1,32 g de essência de baunilha.

3 304 g de babaçu; 96 g sucedâneo do leite; 507,73 g de xarope e 1,08 g de essência de baunilha.

Garcia et al. (1986) estudando o fornecimento de diversos alimentos protéicos com 20, 30 e 40% de PB e enriquecidos com lisina, metionina e metionina + cistina observaram um consumo médio de 3,77 g/dia, havendo uma redução no consumo ao longo do tempo. Segundo os autores, apesar de haver diferença significativa entre o consumo das rações fornecidas, a quantidade de proteína bruta ingerida pelas abelhas teve pouca variação (1,06 a 1,47 g), demonstrando que o teor de PB influencia na coleta de alimento.

Vários fatores podem influenciar o consumo do alimento protéico como o tamanho da família (BITIOLI & CHAUD NETTO, 1992) e o fornecimento de alimento que contenha o requerimento nutricional necessário para as abelhas (STACE & WHITE, 1994). As pesquisas realizadas com alimentação suplementar das colônias têm observado que o consumo varia de 100 a 476,28 g/colônia/semana (STANDIFER et al., 1977; CRAILSHEIM et al., 1992; CREMONEZ, 1996; COUTO, 1998), contudo, estes alimentos são energético-protéicos.

Quando se analisa somente o consumo de alimento protéico, os resultados são diferenciados. Stace & Hayter (1994) verificaram que o consumo de diversos alimentos protéicos variou de 1,29 a 4,65 g/dia. Campana & Moeller (1977) observaram que o consumo de pólen da colônia pode variar de 8,45 a 15,17 g/dia. Moraes & Nogueira- Couto (2000) verificaram que o fornecimento de 10 g de alimento a cada três dias (aproximadamente 3,3 g/dia) é suficiente para aumentar a produção de geléia real.

Neste ensaio o fornecimento de alimento energético e protéico foi realizado separadamente, sendo que cada colônia recebeu 437,39 g de xarope/semana (71,43 ml/dia). O consumo diário dos alimentos variou de 0,23 a 4,37 g/dia/colônia em T01; 0,35 a 4,86 g/dia/colônia em T02; 0,00 a 5,59 g/dia/colônia em T03 e 1,49 a 10,69 g/dia/colônia em T04.

Segundo Winston (1987) são necessários 125 a 145 mg de pólen para criar uma única operária. Free (1980) avalia que esta quantidade varia de 70 a 150 mg. Segundo Woyke (1999), a quantidade de alimento fornecido às larvas é maior nas épocas de disponibilidade de alimento no campo (32,1 a 43,9 mg/dia) do que na época de escassez (12,8 a 16,6 mg/dia), sendo a alimentação influenciada também pela presença ou ausência de rainha na colméia.

Considerando-se que a necessidade diária de alimento protéico de uma larva de operária é de aproximadamente 27 mg e supondo que todo o alimento consumido neste ensaio foi destinado às crias, como o consumo médio dos alimentos foi 1.350

mg/dia/colônia em T01; 1.740 mg/dia/colônia em T02; 1.850 mg/dia/colônia em T03 e 3.650 mg/dia/colônia em T04, pode-se calcular que as operárias de cada colméia possuíam a capacidade de alimentar diariamente 50 larvas em T01; 64 larvas em T02; 68 larvas em T03 e 135 larvas em T04.

Apesar da capacidade de postura da rainha estar relacionada com a disponibilidade de alimento na colônia e a quantidade de alimento fornecida à mesma pelas operárias (WINSTON, 1987), pode-se considerar que uma rainha nova faz postura de 1.000 ou mais ovos por dia (FREE, 1980). Assim, se a rainha manteve sua capacidade de postura, verifica-se que a quantidade de alimento consumido não foi suficiente para sustentar toda a prole. Estes resultados sugerem que seria interessante tornar as rações mais palatáveis, para que se pudesse aumentar a capacidade das famílias de cuidar das crias.

A palatabilidade de alimentos para as abelhas é uma preocupação das pesquisas que buscam uma alternativa para o período de entressafra. Szymas et al. (1996) verificou que a adição de pólen na composição dos alimentos aumenta a palatabilidade das rações. Apesar da vitamina C ser considerada fagoestimulante para os insetos (DADD, 1973; KRAMESR & SEIB, 1982 citado por PARRA, 1986), Chang et al. (1993) não conseguiram correlacionar o consumo com o teor de vitamina C do alimento fornecidos às abelhas, contudo os autores atribuíram os resultados obtidos aos baixos teores desta vitamina por eles utilizados. Segundo Stace & Hayter (1994), a presença de 6 a 10% de lipídeos nos alimentos aumenta a palatabilidade para as abelhas. Lopes et al. (2004) verificaram aumento de produção de geléia real em colônias alimentadas com ração enriquecida com óleo de girassol.

Neste experimento não foi possível mensurar os teores de vitamina C e lipídeos nas rações formuladas, entretanto, segundo Embrapa (1989), a quantidade de extrato etéreo na farinha de algaroba é 0,59%, no feno de mandioca é 3,48% e no farelo de babaçu 3,04%. A quantidade de extrato etéreo no sucedâneo do leite, segundo informações do fabricante, é 9%. Com estes dados estima-se que o teor de extrato etéreo em T01 seja de 2,46%; em T02 é de 3,13% e em T03 é de 4,47% . Por outro lado o pólen seco pode conter de 5 a 9% de lipídeos segundo Almeida-Muradian et al. (2004). Comparando os dados de teores de extrato etéreo nos alimentos fornecidos não é possível concluir se houve influência do mesmo no consumo.

Segundo Kim & Smith (2000) em Apis mellifera o consumo do alimento é potencializado pela glicina, entretanto, neste ensaio não foi possível relacionar esses

dois fatores, pois nos meses em que houve diferença significativa no consumo do alimento, a ração com menor teor de glicina (T02) foi mais consumida. O teor de glicina no pool de aminoácidos livres foi 12,43 μg em T01; 4,62 μg em T02 e 19,43 μg em T03. A localização do alimento na colméia também interfere no consumo. Baidya et al. (1993) compararam o consumo posicionando o alimento acima dos quadros de cria e entre os quadros de cria e verificaram maior consumo nesta última posição. Neste experimento utilizou-se o alimentador de cobertura, assim os alimentos foram posicionados acima da colméia.

Apesar do consumo da ração ser um parâmetro que deve ser considerado quando se trabalha com alimentação suplementar das abelhas, Shoreit & Hussein (1993) ofereceram o mesmo suplemento protéico em quantidades diferentes para um grupo de colônias de Apis mellifera e verificaram maior desenvolvimento das famílias que receberam menor quantidade de alimento.

Segundo Lengler (informação verbal1) o odor da essência de baunilha é atrativo

para as abelhas e estimula o consumo alimentar. Como neste ensaio utilizou-se proporcionalmente a mesma quantidade de essência de baunilha nas três rações formuladas (10 gotas:100 ml de xarope) é difícil analisar a eficiência da baunilha no consumo.

A quantidade de AST contida na ração antes de ser adicionado o xarope invertido provavelmente não interfere na aceitação do alimento, pois foi observada diferença grande entre os níveis de AST (57.120 mg/g em T01; 11.440 mg/g em T02 e 22.688 mg/g em T03) e, nos meses em que houve diferença significativa entre os tratamentos, a ração contendo níveis de açúcares solúveis totais intermediário (T02) foi a mais consumida depois do pólen.