• Nenhum resultado encontrado

Contato inicial com as professoras, observações e registros

No documento Linguagem verbal e linguagem imagética (páginas 88-93)

3.2 A ABORDAGEM METODOLÓGICA E O CORPUS A PARTIR DA AD

3.2.2 Contato inicial com as professoras, observações e registros

Apresentada a contextualização de onde esta pesquisa de doutorado parte, descrevo como ocorreu o processo de levantamento do corpus, desde o meu contato inicial a com as professoras (escola), passando pela observação das práticas, somando-se a isso os registros.

Antes de iniciar as observações na Escola A, em junho de 2012, estive, juntamente com outra integrante do projeto (mestranda), na escola com o objetivo de conhecer a direção, a escola e conversar com a professora titular da turma objeto da pesquisa. Ao chegarmos, fomos recepcionadas pela direção que já tinha conhecimento do projeto do Observatório da Educação. Na sala da direção, em uma conversa que não demorou mais de dez minutos, expusemos os objetivos da pesquisa e a necessidade de observar uma turma vespertina53 do 3° ano do Ensino Fundamental I. Logo, fomos encaminhadas à sala da Professora A54 que foi chamada à porta pela direção. A direção nos apresentou à professora, falando-lhe da pesquisa; em seguida se despediu e nos deixou com ela.

De forma bem espontânea, a Professora A demonstrou curiosidade com a pesquisa e concedeu que as observações fossem feitas. Nesse primeiro contato, fez-nos entrar na sala, apresentou-nos aos alunos e, próximo a sua mesa, mostrou o que faria naquele dia, bem como deixou claro que não alteraria o seu planejamento e que não mudaria a sua forma de trabalhar

53 A escolha do turno vespertino deveu-se à disponibilidade para observar as aulas, uma vez que no turno

matutino eu lecionava e não consegui conciliar o horário com a escola.

54 Os nomes das escolas, professores e alunos não foram utilizados, conforme acordado com as Professoras A e

B. Todavia, a coordenadora do projeto do Observatório junto à CAPES possui em arquivo os documentos assinados pela direção que oficializam meu trabalho dentro das escolas. Também não vou aqui usar a expressão diretor e diretora, mas sim a direção.

na presença de pesquisador em sala. Como foi uma conversa para contato inicial, foi rápida e teve o objetivo de obter a licença para fazer a observação naquela turma em específico e de me apresentar à professora, bem como conhecê-la. No dia 20 de junho de 2012, agora sem a presença da outra pesquisadora, é que iniciei as observações.

Nesse primeiro dia de observação, ao chegar à escola, fui encaminhada à sala dos professores, onde estava a Professora A. Ao toque do sinal, juntas seguimos ao pátio, local onde todos os alunos esperavam seus professores em fila para a oração e depois seguirem às salas. Inicialmente, a direção fez uma conversa a respeito da Gripe A55 e, após a oração do Anjo da Guarda, em fila, os alunos seguiram para suas respectivas salas acompanhados do professor.

Ao chegar à sala de aula, as cadeiras estavam sobre a mesa e então os alunos organizaram o espaço; em seguida, um aluno pegou o frasco de álcool em gel e colocou duas gotinhas nas mãos de cada colega. Na minha vez, ainda não entendendo a minha presença, perguntou-me se também deveria colocar; disse-lhe sim. A Professora A, percebendo a situação, fez a minha apresentação, dizendo que eu era aluna da Unisul e que participaria de algumas aulas. Houve, então, aquela agitação inicial dos alunos que queriam saber se eu também seria professora deles. A Professora A, pensando que se tratava de estágio de observação, explicou que eu estava me formando e precisava observar algumas aulas para ver como acontecem. Com essa explicação, as crianças se acalmaram, dado que já haviam recebido estagiários da graduação e conheciam como funcionava.

Esse foi, então, o primeiro contato com os alunos. Não vou descrever todo o percurso da aula do dia 20 de junho de 2012, nem mesmo os outros encontros. Na análise, foram feitos os recortes e assim a descrição deles ocorreu em conjunto com a interpretação. O que interessa aqui é mostrar como aconteceu o primeiro contato nas duas escolas.

Na Escola B, o trajeto até chegar à sala de aula foi um pouco diferente. A professora bolsista da escola fez o primeiro contato com a professora titular da turma onde foram feitas as observações. Explicou-lhe o projeto do Observatório da Educação, bem como os objetivos desta pesquisa; assim, quando fui à escola pela primeira vez, a Professora B já tinha conhecimento de quem eu era e o que faria ali. Esse contato ocorreu no dia 5 de outubro de 2012, sendo o segundo dia de observação.

55

Em 19 de junho de 2012, Santa Catarina contabilizava 28 mortes motivadas pela Gripe A (H1N1). Disponível em: < http://www.gazetadopovo.com.br/saude/conteudo.phtml?id=1266693>. Acesso em: 10 jan. 2014.

Ao chegar à Escola B, fui recebida pela direção, que me mostrou a sala da Turma B, dizendo que naquele dia as primeiras aulas seriam de Artes e que eu poderia ter ido mais tarde. Expliquei-lhe que a observação seria feita no decorrer de todo o período em que eu estivesse na escola, independente da disciplina, porque meu objetivo era observar o uso do gênero imagético. Sendo assim, pediu-me para aguardar em frente à sala, que assim que o sinal tocasse a professora de Artes se dirigiria à sala.

Observava as crianças – em pequenos grupos – brincarem (carrinhos, jogos, bonecas), até que duas meninas vieram em minha direção e perguntaram quem eu era. Disse- lhes que era uma professora pesquisadora e que observaria as aulas que aconteceriam naquela sala. Demonstrando alegria, falaram que estudavam ali, permaneceram comigo dizendo o nome das professoras, que disciplinas teriam naquele dia e a conversar a respeito dos jogos que os colegas estavam fazendo.

Ao toque do sinal, as meninas correram até a sala dos professores para receber a professora de Artes; ao observá-las, percebi que falavam da minha presença na escola. Ao chegar à sala, apresentei-me; afinal, a professora não tinha conhecimento da minha pesquisa, apenas a Professora B (titular); ela então abriu a sala, os alunos entraram, depois pediu que eu entrasse e buscasse o melhor local para as observações. Nesse dia, como nos demais, mantive- me na última carteira, da terceira fila.

Assim que todos sentaram, solicitou que as crianças abrissem o caderno de artes e iniciou a aula chamando a atenção – de forma geral da turma – por não terem levado para a escola o material da disciplina. A aula então seguiu e não será aqui descrita, pelo motivo do qual já tratei. Durante a aula, os alunos não se mostraram incomodados com a minha presença e nem fizeram perguntas.

Terminada a aula de Artes, as crianças permaneceram com a direção, uma vez que a Professora B estava fora da instituição envolvida com projetos da escola e, naquele dia, não se faria presente. Após os alunos sentarem e se acalmarem porque estavam agitados ao saber da ausência da Professora B, a direção explicou o motivo e aproveitou para dizer quem eu era e o que faria ali durante as aulas. Foi então o momento de os alunos perguntarem de onde eu vinha, o que estudava, quantos anos tinha, e de me inserir no grupo. De alguém que estava lá na última carteira, passei a ser colega, assim o que faziam de atividade ficavam me cuidando para saber se eu também estava fazendo ou se estava anotando (diário de campo). Como perguntavam o que tanto eu escrevia, achei que deveria explicar que era um caderno de registros e funcionava como um diário das aulas assistidas. Contentaram-se com a explicação e a aula seguiu com a leitura e contação de histórias.

No dia 5 de outubro de 2012, retornando à Escola B, tive o primeiro contato com a Professora B. Nesse dia, ao chegar, fui diretamente à sala dos professores onde estava a professora bolsista que me apresentou aos demais professores da escola, bem como à Professora B, esta se justificou quanto à sua ausência no dia 2 de outubro de 2012. Tranquilizei-a, dizendo que a direção havia explicado em sala de aula o motivo, e que eu havia observado a aula de Artes, assim o tempo foi igualmente aproveitado. Quis saber mais da pesquisa, o que eu faria, qual era o objetivo e quantos dias ainda iria à escola. Expliquei- lhe que o tempo dependeria das observações, mas que em princípio estavam previstos dez encontros.

Ao toque do sinal, fomos à sala de aula; como já me conheciam, cumprimentaram-me e alguns foram até mim para me beijar e abraçar, mas procurei pedir que sentassem para não interferir na rotina da sala. Percebendo que as crianças já me conheciam, apenas mencionou que eu já estava na sala observando e pediu cooperação quanto ao barulho, trocou alguns lugares e fez a chamada. E então, a aula seguiu. A Tab. 3 mostra os dias de observação, totalizando doze encontros em cada escola.

Tabela 3 – Datas das observações

Escola A Escola B 20 de junho 02 de outubro 28 de junho 05 de outubro 02 de julho 08 de outubro 09 de julho 09 de outubro 12 de julho 16 de outubro 10 de agosto 19 de outubro 14 de agosto 22 de outubro 28 de agosto 29 de outubro 30 de agosto 30 de outubro 11 de setembro 05 de novembro 13 de setembro 08 de novembro 20 de setembro 19 de novembro Fonte: Da autora (2014)

Durante as observações, os registros foram sendo feitos. Para isso: usei como instrumento principal o diário de campo. Minayo (1993, p. 100) explica que nesse tipo de instrumento:

constam todas as informações que não sejam o registro das entrevistas formais. Ou seja, observações sobre conversas informais, comportamentos, cerimoniais, festas, instituições, gestos, expressões que digam respeito ao tema da pesquisa. Falas, comportamentos, hábitos, usos, costumes, celebrações e instituições compõem o quadro das representações sociais.

Nesse sentido, o diário de campo foi utilizado para registrar o que era observado, desde o momento em que eu chegava à escola até a saída. Dessa forma, atitudes, fatos e fenômenos percebidos, bem como a aula em si foram sendo registrados em tempo real, e no decorrer da pesquisa puderam ser utilizados como elemento de análise a partir da perspectiva teórica. Assim a re-leitura do diário de campo possibilitou refletir sobre a prática. No apêndice A, apresento uma página do diário de campo utilizado a fim de mostrar a forma como as anotações foram se efetivando.

Além do diário, a filmagem foi utilizada como recurso em alguns momentos. Explico-me. Na Escola A, a professora aceitou ter as aulas gravadas, todavia, havia na turma uma criança com deficiência múltipla56 (acompanhada pela segunda professora); quando via a filmadora posta sobre um armário, a criança ficava muito agitada e, por isso, foi acordado com a professora que as filmagens seriam feitas apenas quando a criança não estivesse presente na sala. Então o diário de campo passou a ser importante para os registros. Na Escola B, a Professora B, bem como a professora de Artes, aceitaram a utilização da filmagem, considerando a seguinte rotina: ao toque do sinal, ela iria antes à sala a fim de organizá-la, e após aproximadamente dez minutos, eu poderia entrar na sala e fazer a filmagem; além disso, durante a aula, caso ela sentisse necessidade, solicitaria que eu desligasse57 o equipamento. Nestes momentos, os registros no diário de campo se fizeram ainda mais presentes, bem como a gravação em áudio.

Minha posição enquanto observadora nas duas escolas se restringiu quase que no mesmo espaço: última carteira de uma determinada fila e a filmadora em cima do armário ao meu lado (Escola A) ou sobre uma carteira também ao meu lado (Escola B), diário e gravador de voz a minha frente. Quanto às crianças da Escola A, elas não se importavam com as filmagens e eu não sentia diferença no comportamento e andamento da aula com a filmadora ligada ou não, a não ser quando a criança com deficiência múltipla estava presente. Na Escola B, todavia, ao perceber a presença da filmadora, as crianças ficavam agitadas no sentido de quererem aparecer na filmagem, por isso, era comum a solicitação para ir à lixeira,

56

O termo está sendo entendido conforme a Resolução n.112 que Fixa normas para a Educação Especial no

Sistema Estadual de Educação de Santa Catarina.

57

beber água, ir ao banheiro ou simplesmente ir até minha carteira para me mostrar algo. Assim, optei por filmar algumas atividades para não comprometer o escopo da pesquisa e alterar demais a rotina da sala.

Aos dois instrumentos de coleta de dados (diário e filmagem), soma-se o registro por meio de fotografia e a gravação de voz. Registrava, assim, o resultado de atividades escolares, tanto na Escola A como na Escola B. No caso da Escola B, as crianças davam muita importância a esse tipo de registro; se eu fazia a fotografia do desenho de um determinado aluno, tinha que fazer o de todos e ainda mostrar como ficou a foto. A professora B se mostrava contente com isso, porque também era uma forma de os alunos valorizarem o que havia sido feito.

Exposto o contexto das observações, a seguir exponho outra forma de registro que foi necessário à complementação do corpus.

No documento Linguagem verbal e linguagem imagética (páginas 88-93)