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Ao se levar em consideração o conceito de Turismo Responsável até aqui discutido, ao buscar suas raízes nas regiões pioneiras no desenvolvimento de suas principais diretrizes e práticas – a partir da publicação de whitepapers, guidelines, estratégias e manuais – e após a identificação de elementos-chave em políticas de TR em curso em países de referência, torna-se possível avaliar se e em que medida a prática também é uma tendência no turismo brasileiro. Ao se tomar como objeto de estudo as iniciativas em curso no Ministério do Turismo do Brasil, coube analisar se o conceito de TR está abarcado, de alguma forma, no Plano Nacional de Turismo do Brasil e nos programas do MTur, e se tais ações indicam uma tendência no Brasil em direção ao Turismo Responsável, tendo em vista a maneira como governos de outros países o adotaram como uma estratégia do turismo e, mais, como meio deste contribuir em temas definidos como prioritários no desenvolvimento dessas nações.

6.1.2 O Plano Nacional de Turismo 2013 – 2016

Segundo o atual Secretário Nacional de Políticas de Turismo, Vinícius Lummertz Silva, o Plano Nacional de Turismo do Brasil 2013 – 2016 ―define as contribuições do setor para o desenvolvimento econômico, social e a erradicação da pobreza‖ no Brasil. Elaborado como um instrumento de planejamento que comunica as políticas públicas de turismo a serem executadas por determinado período, define como principais diretrizes a geração de oportunidades de emprego e empreendedorismo; participação e diálogo com a sociedade; incentivo à inovação e ao conhecimento; e ―regionalização como abordagem territorial e institucional para o planejamento‖ (BRASIL, 2013a, p. 8). São quatro os objetivos estratégicos: ―preparar o turismo brasileiro para os megaeventos; incrementar a geração de divisas e a chegada de turistas estrangeiros; incentivar o brasileiro a viajar pelo Brasil; e melhorar a qualidade e aumentar a competitividade do turismo brasileiro‖.

Não há menção do Turismo Responsável como uma estratégia do Governo ou do plano de desenvolvimento do turismo nacional, apesar de ações de cunho social e responsável serem uma preocupação, no entanto, pontuais. Dentro das sete grandes

ações estabelecidas como prioritárias, uma delas inclui o estímulo ao desenvolvimento de um turismo sustentável.

6.5 Estimular o desenvolvimento sustentável da atividade turística

6.5.1 Combater a exploração de crianças e adolescentes na cadeia produtiva do turismo (...) O conteúdo da ação refere-se à prevenção e ao enfrentamento da exploração sexual de crianças e de adolescentes nos equipamento turísticos. (...) 6.5.2 Integrar a produção associada na cadeia produtiva do turismo

Promoção da integração da produção local à cadeia produtiva do turismo por meio de (...) criação de metodologias inovadoras e de incentivo à formação de redes que garantam a sustentabilidade das iniciativas locais. (...)

6.5.3 Fomentar o turismo de base comunitária

Fomento e apoio a projetos e ações para o desenvolvimento local e sustentável do turismo (...), particularmente com relação a produtos e serviços turísticos de base comunitária com representatividade da cultura local, valorização do modo de vida ou defesa do meio ambiente. (BRASIL, 2013, p. 98-99)

Essas diretrizes aproximam-se de iniciativas de turismo responsável sem, no entanto, abarcá-lo integralmente ou tê-lo como base de ação. Já o termo ―sustentável‖ está presente, mas de forma genérica. O Plano Nacional de Turismo Brasileiro menciona o conceito de sustentabilidade sem talvez realmente incluir a sua prática nas políticas públicas, que visam o crescimento econômico indiscriminado. Vale dizer que Borges (2013), um pesquisador com estudo no foco do uso do termo sustentabilidade nas políticas do MTur, confirma a hipótese de ―uma utilização indiscriminada da sustentabilidade no turismo, especialmente nas políticas públicas federais, permitido pela escassez de reflexões aprofundadas sobre o assunto na área‖. O estudo de Borges concluiu que a ―ideia de desenvolvimento sustentável não está clara‖. Quanto ao conceito de responsabilidade no turismo, ele não aparece na elaboração do plano nacional estabelecido de 2013-2016.

O viés da sustentabilidade aparece mais do que o de responsabilidade no discurso do Ministério do Turismo, sem, entretanto, adotar um e/ou outro como visão estratégica de planejamento. "(...) Aproveitamos para incluir conceitos que até então ocupavam uma posição periférica na estratégia de turismo no Brasil. A sustentabilidade é um deles. (...)‖, afirma o então Ministro do Turismo, Gastão Vieira, na mensagem introdutória do PNT 2013 – 2016. O ministro ainda aponta a intenção de desenhar uma política de turismo em áreas protegidas em parceria com o Ministério do Meio Ambiente

com o intuito de preservar e divulgar a natureza do país e gerar renda para as populações do entorno de parques nacionais (BRASIL, 2013a, p. 6-7).

Vale ressaltar que não são apresentados, no PNT, dados que relacionem o crescimento do turismo como atividade econômica com o índice de desenvolvimento humano (IDH) e social das regiões onde ele se configura como um setor relevante.

A atenção voltada primordialmente aos resultados econômicos e financeiros do turismo é herança de décadas de tensão econômica. ―O raciocínio em termos de taxa de crescimento e a realização de índices estatísticos ainda são muito difundidos na política do turismo‖ (KRIPPENDORF, 1989, p. 186).

Mas se o Turismo Responsável não aparece em momento algum como uma política de desenvolvimento do turismo no Brasil, a preocupação com a inclusão de iniciativas de caráter sustentável e social está presente, o que demonstra, talvez, uma vocação do setor no país para a prática do TR.

Selecionamos, aqui, sete programas atualmente em curso no MTur que, assim como apontado pelas políticas internacionais de TR tomadas como referência nesse estudo, têm relação direta com os princípios e elementos-chave do conceito e das práticas de Turismo Responsável, quais sejam: Programa Turismo Sustentável e Infância (TSI); Turismo de Base Comunitária (Turismo de Base Local); Programa Turismo Acessível; Passaporte Verde; Viaja Mais Melhor Idade; Programa de Regionalização do Turismo e Talentos do Brasil Rural.

Essas iniciativas serão descritas e analisadas a seguir. O objetivo é analisar essas ações para verificar como a responsabilidade é abarcada pelo MTur, de forma a evidenciar quais as dimensões da responsabilidade são trabalhadas e de que maneira isso é feito.