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O papel das políticas públicas para o desenvolvimento do Turismo é de extrema importância por se tratar de instrumento de desenvolvimento da atividade, desenvolvimento este que se traduz na preocupação de um Turismo voltado para a responsabilidade dos destinos.

De acordo com a OMT (1999), as políticas de turismo precisam ser desenvolvidas observando o respeito pelo patrimônio artístico e natural das comunidades, de uma forma que permita a sobrevivência das tradições e o

desenvolvimento sustentável. Deve-se, assim, evitar a padronização e o empobrecimento do local. Deste modo, cabe à política de turismo estabelecer metas e diretrizes as quais orientem o desenvolvimento sócio espacial da atividade, na esfera pública e até mesmo na esfera privada, já que na ausência da orientação política o turismo se desenvolveria de forma inapropriada, de acordo somente com iniciativas ou interesses particulares, esquecendo o interesse coletivo.

Seguindo essa percepção, ao adotar uma política para o turismo, o papel que o turismo viria a desempenhar na sociedade seria explicitado, bem como sua importância cultural, social e econômica para com as comunidades envolvidas, implicando uma tomada de posição, por parte do poder público, capaz de constituir uma orientação, uma direção, tanto para o setor público como para o setor privado.

Como resultado do fortalecimento das políticas públicas de turismo no século XX, alguns governos instituíram os primeiros organismos – de abrangências nacional ou internacional – especializados na promoção e no planejamento da atividade objetivando o monitoramento dos impactos negativos e a potencialização dos seus benefícios. Há várias estruturas organizacionais diferentes para o envolvimento do governo no turismo em países de todo o mundo. Como exemplos de organizações nacionais podem-se citar: Office Nacional du Tourisme, em 1910, na França; Comissaria Regia de Turismo, em 1911, na Espanha; Office Nacional Suisse du Tourisme, em 1917, na Suíça; Ente Nazionale per le Industrie Turistiche, em 1921, na Itália; Travel Association of Great Britain and Ireland, em 1927, no Reino Unido e instituições de abrangência internacional verificam-se também alguns exemplos, tais como: a Associação dos Albergues da Juventude, em 1909; a Federação Internacional das Agências de Viagem (FIAV), em 1919; a American Society of Travel Agency (ASTA), em 1930; a Internacional Air Transport Association (IATA)58, em 1944; a Associação Internacional de Hotelaria (AIH)59, em 1946; e a União Internacional de Organismos Oficiais de Turismo (UIOOT), cuja criação remonta a 1925, quando ocorreu o Congresso Internacional das Associações Oficiais de Propaganda Turística (COOPER et al, 2007).

Nesse contexto, Hall (2004) se utiliza de uma citação importante de Mercer (1979) sobre a ligação da importância dada a um determinado assunto e a criação no

58Em substituição a Air Traffic Association, criada em 1919.

governo de departamentos ou seções e a de órgãos consultivos relacionados àquele determinado assunto:

A criação de departamentos governamentais, seções ou órgãos consultivos totalmente novos dentro da administração existente é uma estratégia bem organizada pelo governo para demonstrar em alto e bom som que algo positivo está sendo feito com respeito a determinado problema. Além disso, como a burocracia do serviço público é inerentemente conservadora quanto à abordagem da delineação do problema e do modo de funcionamento preferido, (...) a reestruturação administrativa, juntamente com a legislação a ela relacionada, é quase sempre um indicador importante da pressão pública por ação e mudança. (MERCER, 1979, p.107 apud HALL, 2004 p. 196).

Na maioria das nações do ocidente desde o final da década de 1970, a tendência de privatizar e comercializar funções que antes eram desempenhadas pelo governo influenciou significativamente a natureza de vários tipos de envolvimento do governo federal no setor do turismo (HALL; JENKINS, 1995, apud HALL, 2004).

Segundo Davis et al (1993, p.24, apud HALL, 2004, p. 195), três razões econômicas fundamentais podem ser identificadas para essa tendência: ―os governos estão interessados em fazer com que as empresas estatais dependam menos dos orçamentos públicos, em reduzir a dívida pública com a venda de bens e em elevar as eficiências técnicas pela comercialização.‖ As próprias razões econômicas, no entanto, são encobertas por fundamentos políticos racionais pautados nas perspectivas filosóficas mais amplas referentes à questão de quais são os papéis adequados para o Estado e o indivíduo dentro da sociedade. A ideologia, assim, exerce um efeito prático na composição das instituições governamentais e suas tarefas (HALL, 2004).

Ademais, em todo o mundo existem diferentes estruturas organizacionais para o envolvimento do governo no turismo. As estruturas organizacionais utilizadas pelos governos desenvolvem-se ao longo do tempo em relação a vários fatores, os quais incluem além das filosofias políticas referentes ao papel apropriado do Estado, as ―tradições nacionais da administração pública, a natureza do sistema político e os valores e interesses no processo burocrático‖. Na medida em que novas exigências e interesses, como preocupações ambientais, alcançam uma posição protuberante na agenda política, novos departamentos podem ser instituídos como parte do crescimento da atividade e influência notadamente do governo (HALL, 2004, p.196).

O turismo passou a ocupar distintas posições nas estruturas administrativas governamentais em diferentes partes do mundo, como já foi exemplificado. Mesmo que o turismo seja muitas vezes considerado uma atividade com forte dependência do setor privado, ―órgãos do governo em todos os níveis, desde o internacional a pequenas cidades, adotaram um papel progressivamente mais ativo no uso do turismo como instrumento de desenvolvimento‖ (SMITH, 1989, apud HALL, 2004, p.184). Isso se deve ao fato de características do turismo que já foram relatadas nesse trabalho – como, por exemplo, fonte de grande oferta de empregos. ―Os órgãos governamentais atualmente divulgam o turismo como uma panaceia para o subemprego em áreas economicamente desfavorecidas‖ (SMITH, 1989, apud HALL, 2004, p.184). Dessa forma, o governo auxilia a modelar a estrutura econômica para o turismo, mesmo que fatores internacionais relacionados a taxas de câmbio, taxas de juros e confiança do investidor sejam cada vez mais importantes. Além disso, ele deve apoiar o fornecimento de infraestrutura e o atendimento a exigências educacionais para o turismo, necessita criar, também, o ambiente regulador no qual as empresas atuam e ainda desempenhar um papel ativo em divulgação e marketing (HALL, 2004).

Aliás, o turismo pode ser política e economicamente atraente para o governo, uma vez que pode proporcionar a impressão de produzir resultados a partir de iniciativas políticas em um curto período de tempo em relação a números de visitantes e/ou geração de empregos (HALL, 1998b apud HALL, 2004).

―Uma política nacional de turismo pressupõe uma tomada de posição, por parte do poder público federal, ante a atividade, tendo como base o território nacional, capas de estabelecer um norte, uma orientação tanto para o setor público como para o setor privado – incluindo-se setores de atividades que influem no desenvolvimento do turismo – no sentido de atingir os objetivos estabelecidos por essa política (sejam eles quais forem)‖ (CRUZ, 2002, p. 49).

Mesmo que possam existir variações de um local para o outro em termos do grau em que são aplicáveis, é possível identificar múltiplas funções do governo no turismo. Nesse sentido podemos citar a precursora da OMT, a União Internacional de Organizações Oficiais de Viagens (IUOTO, 1974), que ao debater o papel do Estado no turismo, identificou cinco áreas de envolvimento do setor público, quais sejam: coordenação, planejamento, legislação e regulamentação, empreendimentos e incentivo. Além do mais, a esses papéis podem-se adicionar duas outras funções: um papel de

turismo social e outro, mais amplo, de proteção de interesses (HALL, 1994 apud HALL, 2004, p.185).