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A pesquisa científica é a concretização de um estudo com planejamento, sendo que o método de abordagem do problema é o que caracteriza o aspecto científico da investigação. Esta objetiva encontrar respostas para questões diante da aplicação do método científico (LAKATOS e MARCONI, 2003).

O método de abordagem empregado nessa pesquisa foi o Hipotético-Dedutivo. Seu uso nas pesquisas em ciências sociais mostra-se eficiente, uma vez que, como fundamenta Gil (1989), seus princípios são mostrados por um grande número de autores para a construção de modelos lógicos de pesquisa em ciências sociais.

Esse método foi definido por Karl Popper a partir de críticas à indução (GIL, 1999). E sua linha de raciocínio pode ser explicada no seguinte trecho:

(...) quando os conhecimentos disponíveis sobre determinado assunto são insuficientes para a explicação de um fenômeno, surge o problema. Para tentar explicar as dificuldades expressas no problema, são formuladas conjecturas ou hipóteses. Das hipóteses formuladas, deduzem-se consequências que deverão ser testadas ou falseadas. Falsear significa tornar falsas as consequências deduzidas das hipóteses. Enquanto no método dedutivo se procura a todo custo confirmar a hipótese, no método hipotético-dedutivo, ao contrário, procuram-se evidências empíricas para derrubá-la (GIL, 1999, p. 30).

Portanto, ao se verificar essa lógica apresentada, conseguimos entender que a pesquisa científica com abordagem hipotético-dedutiva inicia-se com a formulação de um problema, ou seja, com uma lacuna no conhecimento científico. Após essa constatação há a formulação de hipóteses, que por um processo de dedução, gera consequências, as quais são testadas na tentativa de falseá-las. Podemos apresentar o método hipotético-dedutivo a partir do esquema mostrado na Figura 02, a seguir.

Figura 02 - As fases do método Hipotético Dedutivo Fonte: Adaptado de Gil (1999) e Lakatos e Marconi (2003).

Para melhor entendimento da linha de raciocínio desse método e, assim, explicitar com mais nitidez como ele foi aplicado para a realização dessa pesquisa, recorreu-se também a Lakatos e Marconi (2003), as quais explicam que o surgimento do problema infere de um contexto antecedente, que consiste no conhecimento prévio ou na expectativa do pesquisador. Afirmam que o problema precisa ser descrito de forma precisa e clara, e que ele é o direcionador do estudo a partir do momento que evidencia o que é ou não relevante para a pesquisa, além de demonstrar quais os dados que devem ser analisados.

Vale ressaltar, que essas mesmas autoras ainda explicam que, posteriormente ao problema há um momento de observação que não é aleatório, mas sim direcionado, já com um objetivo. É uma fase cautelosa em que é observado determinado aspecto do universo, objeto da pesquisa, para então surgir a segunda fase do método hipotético- dedutivo, a hipótese, também chamada por elas de conjectura ou suposição. Esta se trata de uma solução que é apresentada na forma de uma proposição (normalmente no formato ―Se... então‖) passível de teste, e que é formulada para se explicar ou para se previr o que despertou a curiosidade no cientista (LAKATOS e MARCONI, 2003).

Da mesma forma que Gil (1999), as autoras Lakatos e Marconi (2003) também explicam que o método hipotético-dedutivo exige uma fase de eliminação de erros com a realização de testes e tentativas de falseamento das consequências deduzidas da hipótese. Ao final, existe a fase da verificação da hipótese, que resultará no seu refutamento ou na sua corroboração. Caso seja refutada, dá-se início novamente ao ciclo das fases do método, com a construção de outra hipótese.

Para situar a presente pesquisa nas etapas do método de Popper, pelo qual ela foi balizada, será explicado o problema de pesquisa deste trabalho e apresentada a hipótese que foi levantada para a aplicação de tal método. No decorrer do estudo, com base nessa hipótese, serão deduzidas consequências a serem testadas também durante o seu desenvolvimento. Por fim, haverá a verificação se a hipotése foi corroborada pela pesquisa desenvolvida.

Assim, essa pesquisa teve início com o aparecimento de um problema ocasionado pelas pré-concepções estabelecidas pela pesquisadora, na junção da teoria – sua graduação e pós-graduação em turismo – com a prática – sua experiência no MTur. Percebeu em meio às evidências da importância de se planejar o turismo com responsabilidade – o que já não era diferente do discurso estudado há dez anos em sua

graduação – um reflexo contemporâneo dessa preocupação nos órgãos oficiais de gestão do turismo de vários países no mundo (África do Sul, Gâmbia, Índia, Espanha, Inglaterra, Alemanha, Belize, Oman, entre outros), na medida em que vários começaram a desenhar políticas nacionais de Turismo Responsável, o que acarretou o movimento do TR. Ao mesmo tempo, constatou que no MTur não havia nenhum documento que fazia referência explícita a esse termo. Estaria então o MTur fora do padrão das preocupações atuais com a gestão do turismo? Ou não, ele somente não usa o termo, mas possui princípios, objetivos e premissas do Turismo Responsável de maneira implícita em suas iniciativas?

Como resultado dessa problemática, surgiu a questão de pesquisa: as atuais políticas públicas do MTur contemplam de alguma forma o Turismo Responsável nos seus diversos campos – ambiental, social, cultural e econômico?

Diante disso, desenvolveu-se um estudo exploratório, no qual o objeto da pesquisa foi observado, o que possibilitou o desenho da seguinte hipótese: Sendo o Ministério do Turismo o órgão responsável pela gestão federal do turismo no Brasil e se o Turismo Responsável é um pilar fundamental da gestão contemporânea do turismo no mundo, então o MTur está incorporando de alguma maneira o Turismo Responsável no delineamento de sua gestão.

O falseamento dessa hipótese e de algumas de suas consequências dedutivas estaria em constatações como: O Turismo Responsável não é um pilar fundamental da gestão contemporânea do turismo no mundo, portanto o MTur não precisa preocupar-se com sua incorporação nas suas políticas públicas; ou, o Turismo Responsável é sim um pilar fundamental da gestão contemporânea do turismo no mundo, porém o MTur não está seguindo os padrões/as tendências internacionais de planejamento e gestão do turismo, o que iria de encontro com os valores atuais e enfraqueceria a credibilidade do órgão.

Ao seguir a lógica do método, e assim desenvolver o trabalho de maneira a testar essa hipótese – com a construção de uma fundamentação teórica e a realização de pesquisas e análises –, foi preciso recorrer-se a determinados tipos e a algumas técnicas de pesquisa. A seguir, esses procedimentos serão discutidos.