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CAPÍTULO 1 – CARACTERIZAÇÃO DO MUNICÍPIO DE PARNAMIRIM

1.2 DADOS SOCIOECONÔMICOS E REFERENTES À EDUCAÇÃO

1.2.3 Contexto da Secretaria de Educação em 2009/2010

Na história do município de Parnamirim, que vem de uma origem de partidos políticos de direita, o que era comum é o chamado “mito agneliano”13, uma espécie de grandes meios de tornar-se ícone para o povo e para que se garantisse isso se fazia necessário ter controle sobre todos os espaços como as Secretarias e demais espaços que podem influir em retenção de poder. Assim, é possível manter a máquina pública nas mãos dos que já estão no poder, que na maioria das vezes são provenientes das antigas oligarquias que dominavam o cenário político no Nordeste, principalmente.

Na gestão do antigo prefeito Agnelo Alves existia a prática de criar um grande espaço de bolsas, para que as pessoas nutrissem uma gratidão ao poder político da cidade. Realidade que é conivente com o que é conhecido por coronelismo ou mesmo patriarcado. Era comum no fim do ano, já que a cidade tinha um número baixo de professores efetivos (180 docentes) e quase 600 estagiários, além de 200 temporários, os quais não gozavam de direitos trabalhistas formais de um funcionário público, que esses professores efetivos fossem agraciados com salários acima do que realmente deveriam receber e, com isso, eram revisitados à lógica patriarcal que impunha ao oprimido nutrir um sentimento de gratidão sobre as práticas opressivas do seu “bem feitor”.

Com isso, no fim do ano o que deveria ser pago a uma rede de professores equivalente a quase 1000 professores, era distribuído como rateio apenas aos efetivos, número significativamente para não dizer gritantemente menor, flagrando-se e evidenciando-se com isso uma rede docente efetiva “feliz e satisfeita” que gozava de um décimo terceiro quatro ou cinco vezes maior do que o esperado pelo quadro de uma rede de professores habitual.

Esse é um dos elementos que dão forma aos jogos políticos de fundo, que por sua vez controlam e direcionam como se dão as políticas públicas em vigência. Como se dão as oscilações

13 Agnelo Alves nasceu na cidade de Ceara Mirim, na Grande Natal, no dia 16 de julho de 1932. É membro de uma das famílias mais influentes do Rio Grande do Norte: é irmão de Aluízio Alves; pai do atual prefeito de Natal, Carlos Eduardo Alves; e tio do atual ministro do Turismo, Henrique Eduardo Alves, e do senador Garibalde Alves Filho. Em 1965, Agnelo Alves foi candidato a prefeito de Natal e venceu as eleições. Governou de 1966 até 1969, pelo MDB, quando teve seus direitos políticos cassados pelo regime militar em maio de 1969. Como jornalista, teve participação efetiva ao lado do irmão Aluízio Alves na campanha das “Diretas Já”, e depois na campanha de Tancredo Neves à

Presidência da República. Com o retorno do Brasil ao regime democrático, assumiu a diretoria de crédito geral do BNB, e em seguida a presidência do banco até maio de 1990. Em 1998, se tornou suplente do senador Fernando Bezerra. Com a posse de Bezerra no Ministério da Integração Nacional, Agnelo Alves assumiu o mandato entre 3 de agosto de 1999 a 31 de dezembro de 2000. Ainda no ano 2000 se candidatou a Prefeitura de Parnamirim, município da Grande Natal, e venceu as eleições. Foi reeleito em 2004. Em 2010 foi eleito deputado estadual pelo PDT e reeleito em 2014.

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de poder dentro desses próprios jogos políticos, dado que eles são movidos por interesses privados que nada tem a ver com propostas de melhorias para o bem público, mas ao contrário nutrem as situações de corrupção, de clientelismo que reforçam o mau funcionamento da máquina pública em geral.

Com a indicação da professora Raimunda Basílio pelo prefeito Mauricio Marques para o cargo de Secretária do município no ano de 2010, inicia-se o que a secretária (na época) chamou de planejamento para mudanças urgentes na educação do município, assim sendo, foi composta uma equipe para dar suporte aos níveis da educação básica, assim como atender as demandas de suporte técnico na secretaria.

Raimundinha escolheu então para compor a organização dos projetos para educação a professora Dorivan Lima Ritvel, professora aposentada do Centro de Educação da UFRN, nas áreas de Formação de Professores e Didática, que se responsabilizaria pelas séries iniciais e os projetos voltados a alfabetização e, Nestor lima, também professor aposentado do Centro de Educação da UFRN nas área de Ensino de Ciências e assessor da secretária de educação e responsável por pensar as estratégias de melhoria para o Ensino Fundamental II. Ambos compunham a equipe de assessoria para dar suporte às formações e pensar as melhorias possíveis para educação no município.

Segundo José Rildo Martins da Cruz, atual Secretário de Educação de Parnamirim, foi a primeira vez que o município contou com a organização de uma equipe voltada para pensar a formação de professores em todos os níveis e que em coletivo pensou, planejou e executou tomada de decisões importantes para o rumo a uma educação que se comprometesse tanto com a formação de professores quanto em medidas que beneficiariam e auxiliariam os alunos a avançarem em seus conhecimentos.

A equipe pensava em conjunto as melhores medidas e essa assessoria veio para pôr em prática todo um desejo de reorganizar e propiciar avanços, já que nessa época o município possuía, segundo ele, bastante atrasos.

Para Raimundinha, que assumiu a Secretaria de Educação nessa atmosfera de mudança de prefeito e de exigências que já vinham sendo cobradas pelo próprio Ministério Público, era preciso começar a gestão com os pés no chão, sentindo o que deveria ser feito e mantendo um diálogo para a concretização de ações que se sustentassem dentro e fora da Secretaria. Essa evidencia do grande número de estagiários supracitados na rede era o primeiro grande entrave a ser resolvido.

A mesma conta que não colocava a culpa da desorganização apenas no número alto de estagiários, mas que considerava que era de extrema urgência entender que num município que

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cresceu aceleradamente como Parnamirim e com uma rede de 25 mil alunos ainda se ter estagiários ao invés de professores efetivos não era nem de longe o ideal.

Quando se trabalha com estagiários ou professores temporários, é necessário se ter, no mínimo, instabilidades para produção do conhecimento e uma formação que se sustente. Isso porque, segundo Raimundinha, ter estagiários, perfil de pessoas que passavam no vestibular, pegavam uma declaração (por exemplo de aluno de Pedagogia) e só, isso já era suficiente para mesmo sem experiência nenhuma assumirem uma sala de aula na qual a qualquer momento poderiam deixar.

Isso a levava a crer que não haveria qualquer proposta pedagógica que se sustentasse ante um quadro oscilante de professores. A urgência foi recorrer à COMPERVE e abrir um concurso para contratação efetiva de 700 professores de imediato para amenizar a desorganização do quadro e dar início a uma formação de professores que fosse séria, contundente e crítica.

Paralelo à organização do concurso foi feita a criação de conselhos para auxiliar na gestão pública de modo que não era só o diretor que participava no que se referisse a educação participariam todos e haveriam conselhos para todos (pais, escola, comunidade, alunos, além de conselhos para cumprir as exigências do MEC a respeito do FUNDEB, na época FUNDEF).

Na época em que Raimundinha era Secretária de Educação, havia sessenta escolas em diferentes níveis e situações, e por isso em cada visita que ela fazia a essas escolas comprovava cada vez mais a ausência de práticas pedagógicas. Em uma de suas visitas a centros infantis, conta que ouviu o seguinte relato de uma professora: “com as crianças do infantil não precisamos preparar para alfabetizar, só precisa alfabetizar no tempo que for para alfabetizar”.

Imediatamente, Raimundinha contestou a afirmação da professora, alegando que era preciso dar bases às crianças assistidas pelos centros infantis de Parnamirim, porque se a criança chega ao primeiro ano habituada ao universo da alfabetização ela avança muito mais e assim deveria ser a atenção a qualquer nível, dado ao sistema educacional ser de qualidade este deve se fazer de forma continuada. Onde não haja a compreensão capciosa de que não existe relação entre os distintos níveis, já que não há uma separação entre um nível e outro, ou mesmo uma noção hierárquica que torne um nível mais importante que o outro.

Dessa forma, Raimundinha cada vez mais tomava consciência da urgência que a situação impunha tanto do ponto de vista político quanto pedagógico, tendo em vista que desvios de condutas, falta de compreensão em relação à complexidade da responsabilidade em fazer parte de um sistema de ensino começaram a se mostrar cada vez mais serias, complexas e imperativas, causando também uma urgência de tomadas de atitude que pudessem amenizar tal realidade de

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desacertos. Essa transformação se mostrava para a gestora um caminho escorregadio diante do gerenciamento de todas essas atribuições.

Para que essa transformação pudesse se dar da melhor forma, Raimundinha conta que era necessária atenção, observação, escutas, cautelas e sobre tudo um planejamento conciso, não rígido e honesto em relação ao destino da educação que se pretendia desenvolver. Para isso, em suas visitas diárias às escolas não eram apenas diretores e professores que eram ouvidos, o diálogo era com todos: merendeiras, zeladores, pessoal de apoio. Característica essa compatível com uma conduta democrática, uma vez que numa situação democrática todos os populares são chamados a fazerem parte das discussões sobre aquilo que está sendo pleiteado, e ao gestor cabe, entre outras coisas, proporcionar esse olhar inclusivo.

A gestora por ser responsável pela Secretaria de Educação no ano de 2010 compreendia que todos, em seus papeis, poderiam contribuir e participar, logo deveriam estar dentro das discussões e podendo operar nos planos para mudanças construtivas na educação do município. Por isso era necessário que fosse construído um diálogo entre todas as partes que compunham a realidade da educação de Parnamirim, como caminho para que as demandas dessas partes fossem pleiteadas pelo projeto que deveria surgir em sua gestão.

Mesmo com toda sua bagagem de sala de aula e gestão escolar, Raimundinha sabia que precisaria unir forças com aqueles que partilhavam da mesma essência de compreensão do que é se fazer educação e nisso seu assessor Nestor Lima foi de fundamental papel, tanto nas trocas de orientação quanto nos planejamentos sobre o que fazer.

Havia inúmeras questões imediatas para cobrir, que o grupo de Raimundinha tinha que dar início; melhoria dos dados educacionais, por exemplo: a escola que possuía o melhor IDEB era num bairro distante do centro e só havia 60 alunos, o que diante do quadro era um número muito ínfimo, e com isso começaram a pensar alternativas para minimizar as diferenças quanto à quantidade versus qualidade.

Havia escolas que tinham computadores, salas de laboratório com 15-20 computadores, mas cerca da metade dos professores da rede se quer sabiam utilizá-los. A formação era algo imprescindível.

Dorivan que tinha experiência com formação para alunos das series inicias foi quem primeiro comentou sobre um projeto de intervenção pedagógica. Como era comum trazer professores de fora para realizar formações junto aos professores, nessa situação se fez diferente, começaram chamando os professores mais experientes da rede para serem multiplicadores em suas escolas e aos poucos se foram montando em cada escola uma linha de formação.

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Nascia, assim, a primeira tentativa de formação próxima e conectada entre os professores, neste caso de series inicias coordenada pela Dorivan Lima Ritzel. Era comum chegar aluno no 6º ano do Ensino Fundamental II sem saber ler e escrever, muitos colocavam a culpa no que chamavam de lei, já que tinham que passar os alunos de ano. Raimundinha dizia que o entendimento era errôneo, que até o 3º ano a criança deve ser alfabetizada para que consiga chegar ao 6º ano não só alfabetizada, mas em estado de letramento.

Assim, com essas orientações, deu-se início o caminho de formação para não só o ensino das series iniciais, mas todo o ensino básico. A aposta dessa gestão era deixar não só para as próximas gestões que viessem, mas para a educação de Parnamirim, um rumo autônomo e de maior qualidade.

Acredita-se que quando as pessoas se sentem parte de uma construção curricular e veem que essa construção fornece mudanças, melhoras, que estão dentro desse processo, a satisfação e o desejo de aprender se torna latente e as reais mudanças podem acontecer.