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OS ECOS DA EXPERIÊNCIA PARA OS PROFESSORES/COORDENADORES

CAPÍTULO 3 – PROJETO PARNAMIRIM INTERDISCIPLINAR: SUAS

3.4 OS ECOS DA EXPERIÊNCIA PARA OS PROFESSORES/COORDENADORES

Foi assim... algo apaixonante, porque quando você se depara com Paulo Freire apresentado pelos olhos de quem tem experiência e sabe do que estão falando, é outra coisa. Porque na graduação passamos por muito teóricos. De Paulo Freire fica só a questão dialógica. (Professora da rede).

Um ano e meio depois, para o desenvolvimento dessa análise, acerca do que ficou para os professores que participaram da experiência do projeto Parnamirim Interdisciplinar, foi feito um resgate preliminar para sustentar a reflexão da quebra do projeto, que visava, além da interdisciplinaridade, a reorientação curricular via Tema Gerador o sentimento que fica para os professores de um momento de formação sob aquele modelo freireano crítico.

3.4.1 Escolha dos participantes e instrumento de coleta de dados

A escolha dos participantes entrevistados, cujos depoimentos foram reunidos para exame, admitiu o seguinte critério: ser professor e/ou coordenador pedagógico e estar em escola na época

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do projeto, considerando, pois, que uma parcela significativa dos envolvidos no Parnamirim

Interdisciplinar integrava o quadro de técnicos da SEMEC que, após a semana pedagógica, seriam

multiplicadores (acompanhariam os projetos desenvolvidos nas escolas).

Desta maneira, a partir da lista dos participantes do projeto, foram feitos contatos telefônicos e o convite a participar de uma entrevista, isto é, uma “conversa informal” para se abordar a experiência sobre a semana pedagógica, que ocorreu em 2011, organizada pela SEMEC de Parnamirim em parceria com a UFRN, bem como as demais etapas do projeto.

Procuramos deixá-los a vontade e não seguimos o modelo clássico de perguntas e respostas, mas procuramos aprofundar o que não parecia elucidativo. Neste processo, a pergunta basilar foi: “como foi para você esta semana pedagógica e o que foi mais significativo? ”. No decorrer da conversa procuramos aprofundar a discussão seguindo com outros questionamentos, tais como: “o que você destaca de importante? ” E “o que foi relevante para sua prática e para sua formação profissional? ”; “quais foram os principais óbices que impediram a continuidade do projeto? ”.

3.4.2. Sujeitos participantes

Participaram cinco sujeitos que vivenciaram a experiência do projeto: professores (2) e coordenadores (3). Todos eram do sexo feminino. O tempo de experiência na educação variava de 6 a 23 anos; todos com pós-graduação sendo um em nível de mestrado e os demais em nível de especialização.

3.4.3. Os conteúdos trabalhados a partir da realidade do aluno e de modo interdisciplinar Convém comentar que a proposta de Freire (2011), em relação à prática educativa, é oriunda das contradições sociais, questionando a realidade que se apresenta naquele lugar, para aquela comunidade. Os conteúdos não são dados, e sim construídos, organizados, sistematizados a partir da realidade concreta que é questionada, problematizada.

Dessa forma, os conteúdos emergem como questões que necessitam de uma resolução pelo grupo. Daí a necessidade de que seja um trabalho coletivo, para que partindo de inquietações individuais se chegue ao problema comum, suscitando uma mudança para todos e não apenas individual.

Após análise das falas nas entrevistas e nas reuniões poderíamos interrogar se o projeto Parnamirim Interdisciplinar trouxe mudanças para o currículo desenvolvido nas escolas ou mesmo para a proposta pedagógica mesmo tendo sido um projeto com pouco tempo de realização, mas

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com vontade de mudança. Neste viés, vejamos algumas falas que demonstram a percepção dos participantes:

Um projeto maravilhoso... porque trabalha com a interdisciplinaridade e busca dentro disso a problemática da comunidade... trabalhar com aquilo que a comunidade está precisando... porque a proposta era fazer um levantamento prévio, no bairro, na comunidade para ver que problemas a comunidade vivenciava. (Coordenadora Pedagógica)

Eu me encantei com o projeto porque era mais empírico do que teórico. Para mim, o que ficou o que me encantou foi a questão de associar os conteúdos à realidade. Atualmente os professores das disciplinas pecam muito no sentido de ensinar os conteúdos afastados da realidade do aluno. A aula não é convidativa. O aluno não consegue perceber a teoria, fica só nos conceitos, fica na ‘decoreba’. A partir da realidade o aluno é capaz de associar a teoria à empiria. (Professora da Rede Estadual e Técnica da SEMEC)

O projeto tinha como proposta trabalhar de forma interdisciplinar. Tudo começava com a história do aluno. Cada escola construía um projeto. Dentro do projeto de cada escola o trabalho foi 7 dividido por subtemas, por bimestre. Aqui na escola funcionou todo o ano de 2011, mesmo que depois não tivesse o acompanhamento da SEMEC. (Coordenadora Pedagógica)

Na Semana Pedagógica foi assim... algo apaixonante, porque quando você se depara com Paulo Freire apresentado pelos olhos de quem tem experiência e sabe do que está falando, é outra coisa. Porque na graduação passamos por muito teóricos. De Paulo Freire fica só a questão dialógica, de Freinet fica só a aula passeio. Mas quem é Paulo Freire, quem é Freinet? Então, fica muito superficial. (Coordenadora Pedagógica).

Com efeito, podemos considerar que a finalidade da proposta Freirana para a educação é que ao longo do processo educativo o ser humano se torne cada vez mais humano. Isso implica conscientização do processo de opressão que o ser humano está submetido no decorrer de sua existência.

3.4.4 A sensibilização e o envolvimento da comunidade escolar sobre os problemas do entorno das escolas

Foi perceptível que a sensibilização e o envolvimento de toda comunidade escolar a partir dos problemas do entorno das escolas com o propósito de construção de um trabalho coletivo, foi destacado pelos participantes como demasiadamente importante, o que é inseparável à proposta de se partir da realidade dos alunos.

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Entretanto, observa-se a insegurança diante do novo; as dificuldades com os professores que têm uma formação específica e se preocupam em ministrar bem os conteúdos de suas áreas. Esses professores amiúde incorporam desde a graduação que o seu dever é ensinar bem os conhecimentos específicos adquiridos em sua formação.

Em contrapartida a este cenário, os estudos nas áreas das políticas de formação de professor observam que os avanços tecnológicos, a globalização da economia, trouxeram mudanças para o campo educacional. Se antes o trabalho exigia da escola uma formação pautada na memorização, agora exige capacidade de trabalhar em grupo, capacidade de adaptação. Diante deste panorama, como os professores/coordenadores envolvidos no Projeto Parnamirim Interdisciplinar recebem esta nova proposta de trabalho?

Os professores questionavam como iam solucionar os problemas detectados e a gente dizia que não iria solucionar, mas proporcionar o entendimento aos alunos acerca da problemática que está acontecendo com eles, para que eles tenham instrumentos para futuramente modificar aquela realidade... isso mexeu muito com os professores porque quer queira quer não eles se envolvem. (Professora da Rede Estadual e Técnica da SEMEC)

A semana pedagógica não foi àquela situação maçante de você estar numa palestra que muitas vezes não te interessa. Era um trabalho de construção coletiva. (Professora da Rede Estadual e Técnica da SEMEC)

Esse primeiro momento foi muito rico porque teve discussão junto com outros professores, de outras escolas, outros professores que enfrentavam os mesmos problemas. Foi muito salutar e proveitoso porque estávamos tendo espaço para discutir e encontrar caminhos para quando chegarmos à escola termos as condições de elaborar o projeto. (Coordenadora pedagógica)

Esse projeto a gente pegou porque tinha a ver com a história do bairro. Se trabalhava a partir do conhecimento do aluno. Para isso foi feito um levantamento prévio dos problemas que o bairro enfrentava. (Coordenadora pedagógica).

Neste contexto muda-se também a formação do professor. Se antes a escola exigia um professor que transmitisse conteúdo da sua área de formação específica, agora o professor deve ter uma formação ampla que consiga dar conta da diversidade de problemas que encontra na escola, fruto do meio social e do momento histórico em que vive. Antes para ser bom professor bastava o domínio da área do conhecimento específico que se aí ensinar (KUENZER, 1999).

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