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CAPÍTULO 3 – PROJETO PARNAMIRIM INTERDISCIPLINAR: SUAS

3.1 AS ETAPAS DE FORMAÇÃO PARA A REORIENTAÇÃO CURRICULAR VIA TEMA

3.1.2 O estudo da realidade

Nas primeiras reuniões da formação em novembro/dezembro 2010 o grupo do GEPEM (iniciando sua assessoria de formação) investiu nas orientações para o grupo da SEMEC sobre o reconhecimento da realidade local das variadas áreas do município com vistas a análise do Tema Gerador.

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Nessas primeiras reuniões o GEPEM tinha um papel de orientar sobre a concepção que embasaria o projeto, e também na direção de tarefas acerca de pesquisas preliminares sobre a comunidade local, entorno das escolas. O intuito era o de já começar a registrar e analisar a realidade dos bairros.

Os servidores da SEMEC se dividiram em grupos por escolas, ou seja, de acordo com a escola que trabalhavam como coordenadores ou professores, seria essa a área que iriam pesquisar as realidades locais.

Essa pesquisa deu conta de coletar informações diversas que servissem para análise e escolha do tema gerador. Dentre as diversas informações que eles trariam foi pedido, especialmente, que fossem a campo e fizessem uma pesquisa quantitativa, análise histórica e documental do bairro, fotografias. Esta análise poderia ser recolhida em órgãos públicos e privados sobre as condições sociais da localidade. Também foram levantados dados qualitativos, estes advindos da interpretação da Comunidade, explicações dadas pela mesma, em relação aos problemas enfrentados, visitas e entrevistas com os moradores, às falas da comunidade, chamadas de falas significativas.

O levantamento preliminar da realidade local, segundo Gouvea da Silva (2013) é uma pesquisa socioantropológica participante, a partir de dados coletados na comunidade, que são organizados para que as situações consideradas significativas sejam selecionadas, no sentido de:

Evidenciar diferentes visões e percepções dos diversos segmentos da comunidade; inter-relacionar dados e informações que permitam configurar a realidade estudada; analisar coletivamente e contextualizar na sociedade os fenômenos locais; explicitar contradições que em princípio podem estar ocultas para maioria da comunidade. (SILVA, 2013, p.77).

Essa etapa de reconhecimento do local (da área onde convivem os alunos e situa-se a escola) é fundamental para que o tema gerador escolhido seja condizente com a real situação vivida. A realidade social é algo mais que fatos ou dados tomados em si mesmos, ela é todos esses fatos e todos esses dados e mais a percepção que deles esteja tendo a população envolvida. Assim a realidade concreta se dá na relação dialética entre objetividade e subjetividade (FREIRE, 2001, p. 35). A intenção era de propiciar ao grupo da Secretaria aprender, por meio da pesquisa, como interpretar os dados obtidos, as análises adquiridas da situação real, vividas no entorno das escolas.

Nessa pesquisa feita pelo grupo da Secretaria que foi a campo reconhecer a realidade, muitos foram os materiais trazidos, tanto os dados qualitativos quanto os quantitativos. Nas 40 horas de formação inicial, ocorridas em de janeiro de 2011, a sistematização dos dados coletados

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pelo grupo foi discutida e debatida por todos, antes de ser inserido no espaço virtual do projeto Parnamirim interdisciplinar.

A construção desse espaço foi parte da formação e foi pensado para registro dos dados obtidos das escolas, já que todas as escolas teriam apoio do PROINFO, e a possibilidade de utilizar o meio virtual como forma de garantir tanto o registro das escolas quanto o acesso dos professores aos diferentes dados, ou seja, a memória e a troca entre as escolas.

Esse foi um momento importante para a formação no sentido não só do aprender a inserir os dados obtidos do estudo da realidade, mas também de compreender e se comprometer com a importância do registro, da memória que as escolas deveriam poder preservar. Era uma maneira de manter inscrito, documentado e acessível, informações úteis a pesquisas que pudessem emergir.

Sabendo-se que com mudanças que ocorrem constantemente, de gestão para gestão, não se correria o risco de perder fatos relativos ao chão da escola e que fazem parte de sua identidade. Nesse espaço seriam expostas e inseridas informações necessárias de cada escola, uma espécie de plataforma de consulta e interatividade que integraria de modo sistemático e informativo às 23 escolas envolvidas no projeto.

Os grupos perceberam na prática o quão difícil é resgatar a memória das escolas, muitas delas sequer tinham informações que ajudassem a compreender o que já tinha sido feito e até do que estavam fazendo.

Figura 6 – Inserção dos dados da escola no espaço virtual do projeto Parnamirim Interdisciplinar

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Evidenciamos o quão importante é a iniciativa de se criar um espaço de consulta interativa para as escolas e tentar se garantir, com isso, a preservação e registro das ações nas mesmas. No entanto, nos deparamos com a dificuldade tanto do pessoal do PROINFO em organizar pela primeira vez um só espaço de intercâmbio entre as escolas, quanto à dificuldade de boa parte da equipe em inserir os dados na plataforma de consulta.

Tereza, coordenadora do PROINFO, conta que essa dificuldade dos professores em lidar com o meio digital era esperada, dado ao fato da recente utilização do meio por muitos deles. Para a equipe do PROINFO foi pioneira a criação de um espaço com a característica de agregar tantas diversidades de informações e documentos, mas que com o tempo esses desafios seriam trabalhados com a intenção de buscar aprender com eles.

Diante desse cenário, em que vivemos hoje, o espaço virtual torna-se quase que imperioso na ligeireza de acesso a novas informações. Essa rede de contato e trocas de informações sobre as escolas e suas características gerais, faz jus aos princípios dialógicos imbuídos na natureza da formação, já que, comunicar-se, transtrocar, complementar e conhecer é uma tarefa presente e contínua.

Os dados e impressões das pesquisas feitas, fotos das diferentes escolas e seu entorno, e as falas dos moradores sinalizaram diferentes e macros problemas vivenciados pelos diferentes bairros. Pôde-se em grupo discutir sobre quais seriam os próximos passos, diante das falas descritas e do uso das informações junto ás problematizações coletivamente construídas.

Nessa perspectiva, foi possível elucidar algumas situações-limites, conceito freireano que expressa as barreiras que o ser humano encontra em sua caminhada, diante das quais pode assumir várias atitudes como se submeter a elas, ou então, vê-las como obstáculos que devem ser vencidos. Segundo Freire (2011):

O esforço de propor aos indivíduos dimensões significativas de sua realidade, cuja análise crítica lhes possibilite reconhecer a interação de suas partes. Desta maneira as dimensões significativas que, por sua vez, estão constituídas de partes em interação, ao serem analisadas, devem ser percebidas pelos indivíduos como dimensões da totalidade. Deste modo a análise crítica de uma dimensão significativo-existencial possibilita aos indivíduos uma nova postura, também crítica, em face das “situações-limite”. A captação e a compreensão da realidade se refazem, ganhando um nível que até então não tinham. (FREIRE, 2011, p. 134)

Muitas delas apresentam-se codificadas ou como formas culturais aceitas naturalmente e quem delas participa não percebe nenhuma possibilidade de alterá-las, pois sente-se sem condições de produzir mudanças. Daí a intensão de encontrar as situações limites para desdobrar possíveis

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apreensões de esclarecimento de seus problemas e de como trabalhar esses problemas em conteúdo, neste caso, de sala de aula.

A partir da pesquisa das falas percebidas começamos (todos os grupos da formação) a refletir sobre as intencionalidades presentes nas mesmas, selecionando aquelas que seriam mais significativas.

Das 23 (vinte e três) escolas municipais envolvidas na pesquisa, as primeiras impressões e relatos deram conta de que dentre os diferentes problemas, encontrados nos bairros e suas escolas, a violência, drogas, prostituição, desemprego, famílias desestruturadas, falta de saneamento e atendimento

à saúde, despontaram dando, deste modo, início das primeiras problematizações e diálogos

coletivos, daquilo que cada um trouxe nos reclames principais das entrevistas levantadas.

Esta é uma etapa fundante no que alude o processo crítico-reflexivo de investigação do tema gerador, já que esse processo investigativo de pesquisa em equipe multidisciplinar informa o encadeamento dos temas significativos e a interpenetração dos problemas, envolvendo as visões de mundo, experiências vivenciais dos alunos incorporados aos planos de processos pedagógicos dos professores.

Assim, investigadores e sujeitos investigados da dada realidade concreta se tornam sujeitos da investigação. Logo, “educação e investigação temática, na concepção problematizadora da educação, se tornam momentos de um mesmo processo” (FREIRE, 2011, p.140).

Portanto começar com o estudo da realidade dos bairros e escolas de Parnamirim foi um exercício necessário para todo grupo envolvido, nós do GEPEM, a SEMEC, PROINFO. Estávamos aprendendo a pesquisar a realidade local e também compreendendo uma perspectiva de formar professores num viés crítico. Assim, pôde-se entender melhor a prática de busca do tema gerador e que etapas são necessárias para chegar nele.

Buscamos o entendimento e a compreensão prática do como fazer uma formação qualificada e autêntica, percebendo que ensinar exige pesquisa, que exige prudência, atenção ao funcionamento da sociedade e, enquanto grupo, se pôde discutir e elaborar possíveis trajetos de pesquisa.