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METODOLOGIA DA INVESTIGAÇÃO

2. Contexto e metodologia utilizada

O contexto escolhido para a realização da pesquisa deveu-se, em parte, à facilidade de acesso ao objecto de investigação, uma vez que a investigadora colabora e coordena, conjuntamente com outros colegas, o projecto europeu denominado «Preservar o Passado, Confrontar o Presente, para Criar o Futuro» - 2004/2007.

Este projecto insere-se no programa Sócrates/Comenius Acção 1.3 (Projecto de Desenvolvimento Escolar) e encontra-se em fase de conclusão. Nele participam onze escolas de nove países: Portugal, Alemanha Espanha, Polónia, Suécia, Letónia, Bulgária, Itália e Turquia.

A pesquisa foi realizada durante os dois últimos anos de concretização do projecto «P.P.C.P.C.F». O estabelecimento de ensino onde a investigadora lecciona é a escola coordenadora deste projecto o que facilitou e motivou este trabalho.

Na escolha da metodologia esteve presente o objectivo deste estudo: analisar os objectivos e expectativas de cada escola participante no projecto comunitário em análise. A natureza do objecto de estudo determinou assim a opção de não recorrer a técnicas não documentais como, por exemplo o inquérito por questionário para colheita de dados empíricos. Estabeleceu-se recorrer aos intervenientes directos (gestores das escolas e coordenadores dos projectos) com competências específicas na área em estudo enquanto fontes detentoras dos registos oficiais, tendo por base o critério de fiabilidade.

A metodologia utilizada foi de cariz qualitativo, já que se pretendia a obtenção de dados descritivos, contextualizados, que relatassem a realidade de forma pormenorizada e completa.

Uma das características da investigação qualitativa é o facto de ser descritiva: «os dados recolhidos são em forma de palavras ou imagens e não de números.» Bogdan & Biklen (1994:48) para além de que a fonte directa de dados é o ambiente natural; interessa mais o processo do que simplesmente o resultado ou os produtos; os dados tendem a ser analisados de forma indutiva e é dada especial importância ao ponto de vista dos participantes.

Neste estudo, estão presentes as características enunciadas: revela-se necessária a recolha de dados ricos em pormenores descritivos uma vez que serão analisados os documentos oficiais e os documentos de cada escola envolvida no projecto; alguns dos dados são recolhidos em ambiente natural (reuniões de trabalho nas escolas intervenientes no projecto); releva particularmente a forma como cada uma das escolas intervenientes concretizou o programa (actividades, intercâmbios, ateliers, etc.); não se pretende testar qualquer teoria previamente estabelecida, fazendo-se a análise de dados de forma indutiva, procurando contribuir para a construção de novo

conhecimento; finalmente, a perspectiva dos participantes (escolas intervenientes – coordenadores e gestores) assume a maior importância, de modo a compreender a forma como vivem as suas experiências com as escolas estrangeiras, parceiras no projecto, e o significado que lhes atribuem.

Tendo em conta a diferença entre abordagem quantitativa e abordagem qualitativa, nos termos em que Bardin (1979) a enuncia - na primeira«o que serve de informação é a frequência com que surgem certas características do conteúdo», sendo na segunda «a presença ou a ausência de uma dada característica de conteúdo ou de conjunto (…) num determinado fragmento de mensagem que é tomado em consideração (…) o que caracteriza a análise qualitativa é o facto de a inferência – sempre que é realizada – ser fundada na presença de um índice (tema, palavra,…)»

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optámos nesta investigação, por assumir uma abordagem qualitativa, tendo como referência o paradigma interpretativo.

A abordagem qualitativa implica que o observador observe determinada acção, no seu contexto natural, já que este influencia o indivíduo; privilegie o contacto directo com os intervenientes no processo; descreva de forma pormenorizada os factos, as situações observadas, dotando os dados de significado e realizando a sua análise indutiva.

O observador pretende dar uma visão real e global da realidade que visionou, para que ela possa ser entendida na sua totalidade, não afastando os elementos antagónicos, que venham a ser revelados nas técnicas de investigação utilizadas.

As técnicas, que melhor caracterizam este paradigma, são segundo Bogdan & Biklen (1994:16), “a observação participante e a entrevista em profundidade”.

Privilegiámos, assim, a técnica de observação participante onde, nas palavras de Carmo & Ferreira (1998:107), «a investigadora deverá assumir explicitamente o seu papel de estudiosa junto da população observada, combinando-o com outros papéis sociais cujo posicionamento lhe permitiu um bom posto de observação.»

A opção metodológica foi definida, tendo por base uma série de pressupostos e fundamentos teóricos, sendo necessário seleccionar a tipologia de estudo a realizar, perante a situação educativa que se quer investigar.

Pretendendo-se a pesquisa de um determinado fenómeno no seu contexto, o processo mais adequado será o estudo de caso.

«O estudo de caso» consiste na observação detalhada de um contexto ou indivíduo, insere-se no paradigma qualitativo que, segundo Merriam (1988, citado por Bogdan & Biklen (1994:89), traduz-se em «um estudo sobre um fenómeno específico tal como um programa, um acontecimento, uma pessoa, um processo, uma instituição ou um grupo social», sendo particularmente adequado para lidar com problemas da prática e alargar o conhecimento sobre vários aspectos da educação.

Os autores citados identificam ainda quatro propriedades essenciais neste tipo de metodologia: o seu carácter descritivo e indutivo, que se coaduna com uma abordagem qualitativa, o seu particularismo, por se focar na especificidade de uma situação ou identidade e a sua natureza heurística, por levar à compreensão do fenómeno em estudo.

Yin (1988, citado por Carmo e Ferreira, 1998:216), define o «estudo de caso» como uma abordagem empírica que: investiga um fenómeno actual no seu contexto real; quando os limites entre determinados fenómenos e o seu contexto não são claramente evidentes; e no qual são utilizadas muitas fontes de dados.

O «estudo de caso» afigura-se assim, uma metodologia adequada, face ao tema proposto, e ao perfil metodológico acima traçado.

Este método de investigação pressupõe a descoberta de novos elementos importantes para a discussão da temática, pois o conhecimento não é algo acabado, mas continuamente construído e refeito, procurando a compreensão holística do fenómeno, pois o que interessa é a realidades na sua globalidade e profundidade. Permite ainda a utilização de várias fontes de informação, com dados obtidos em momentos diferenciados, podendo os dados contribuir para tratamentos diversificados.

Segundo Merriam, (1988, citada por Carmo & Ferreira, 1998:217) este tipo de estudo qualitativo tem as seguintes características: é um estudo particular porque está focalizado numa determinada situação ou fenómeno; é descritivo porque o produto final é uma descrição do fenómeno em estudo; é heurístico porque serve para descobrir, compreender o fenómeno; indutivo, uma vez que tem partimos dos factos observados em número finito para, na medida do possível, generalizar e é holístico porque tem em conta a realidade na sua globalidade.

Acresce que as diversas metodologias propostas não são estanques, podendo a investigação qualificar-se, quanto ao propósito e ao método, predominantemente de uma determinada forma, com contributos válidos de outras qualificações possíveis.

O estudo pretende preencher os requisitos supra mencionados, pois procura-se a descrição precisa e pormenorizada, num determinado contexto histórico, de um fenómeno educativo, que tem por finalidade prioritária a análise o conhecimento de um projecto Sócrates / Comenius, com intervenientes de nove nacionalidades diferentes, e a averiguação sobre se a execução do projecto abriu novos caminhos de tolerância e compreensão, se promoveu o diálogo intercultural e o estudo das línguas estrangeiras, se desenvolveu um sentimento de cidadania e de responsabilização europeia

2.1. Validade e fiabilidade

A validade interna do estudo é assegurada, seguindo a proposta de Carmo & Ferreira (1998), pela triangulação de dados (uso de uma variedade de fontes num mesmo estudo; pela fiabilidade dos documentos (relatórios da Comissão Europeia e relatórios das instituições envolvidas); pela verificação se o que os participantes disseram está de acordo com os dados recolhidos; pelo envolvimento dado aos participantes e pela discussão dos resultados com outros investigadores.

A fiabilidade será assegurada através da descrição, o mais pormenorizada e rigorosa possível, de todos os passos da realização do estudo, o que implica, citando novamente Carmo e Ferreira (1998): «não só a explicitação dos pressupostos e da teoria subjacentes ao próprio estudo, mas também uma descrição do processo de escolha de dados e da forma como se obtiveram os resultados.»

2.2. Limitações do estudo

São várias as limitações deste, enumerando-se, entre outras:

• O factor distância: a distância entre o observador e o seu objecto de estudo; • O factor língua. Nem todos os gestores têm fluência do inglês ou do francês

(por exemplo o caso da directora da escola da Bulgária, fala apenas o búlgaro e o russo), o que obriga a uma intervenção de um tradutor - interprete,

interferindo na essência da comunicação e nas ideias transmitidas, havendo como que um filtro;

• Dificuldade de acesso físico aos documentos de algumas escolas.

• O factor tempo. Para um estudo esta natureza era importante uma disponibilidade de tempo que a investigadora não possui uma vez que, a par da investigação, lecciona em regime de horário completo.