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Falar de formação de professores seja inicial MIZUKAMI (2002) FELDMANN (2004) ou continuada MIZUKAMI (2002) FELDMANN (2004), em serviço ou não, essas questões remetem-nos a outras opções, entre elas, alcançar uma educação de qualidade para todos os alunos em idade escolar e com profissionais bem formados. Compreender e investir na melhor opção formativa do professor que está em serviço é o grande desafio.

Eis o desafio, pois as propostas governamentais trazem como saída para uma educação que está a desejar, melhorar a formação dos docentes que estão em serviço. Acredita-se assim, que uma formação pontual venha resolver uma situação definida, posta historicamente por um modelo político e econômico comprometido com o capital internacional em detrimento das questões sociais e de um não investimento na educação inicial nas Universidades, aposta unicamente em cursos distanciados dos postos de trabalho. Como afirma FUSARI (2005):

Essa proliferação de termos que foram e ainda são utilizados reflete os diferentes entendimentos que foram sendo feitos sobre a formação contínua e, por conseqüência, sobre seu papel na formação do profissional docente. Dentre elas podemos destacar a formação contínua como compensação de deficiências iniciais, isto é, a ela competia “repor” conhecimentos, atitudes e habilidades que careceram ou não foram trabalhadas na formação inicial. Outra seria a formação contínua como atualização do repertório de conhecimentos superados e envelhecidos pelo desgaste do tempo; ou, ainda, a formação contínua como elemento de aperfeiçoamento dos conhecimentos, ou seja, aperfeiçoar aquilo que o sujeito já sabe, mas ainda precisa aprofundar. ( FUSARI, 2005, p.18-19).

Uma formação mais técnica, ou pedagógica? Uma formação mais teórica, ou prática? Uma formação em serviço, ou fora do espaço de trabalho? Uma formação única para todos, ou que considerará os diferentes estágios nos quais estão concentrados os trabalhadores em educação, como: idade, tempo de serviço, gênero? Ou simplesmente investir em modelos apostilados e simplificados para que os professores sigam, assim, garantindo uma educação única para todos? Responder a essas questões e muitas outras que poderíamos acrescentar indicam as escolhas realizadas na formatação de um currículo educacional para uma Nação e pontua FUSARI (2005):

Pesquisas realizadas no Brasil, a partir dos anos 70, e também em outros países, revelaram muitos limites para políticas que caminharam nas propostas explicitadas no parágrafo anterior. Os dados revelam um descompasso muito grande entre a mobilização para a “capacitação” e os poucos resultados e mudanças no processo de ensino-aprendizagem. Estas constatações foram contribuindo para o questionamento do entendimento de capacitação como sinônimo de mudança. Houve, então, um grande avanço

na crítica às ações de formação baseadas numa concepção linear, prescritiva e extremamente pontual. (FUSARI, 2005, p.19).

Em um país em que os educadores não possuem vozes, quem fala em nome da educação são os jornalistas, economistas, administradores e políticos, é nítida a opção pelos Governos por uma educação empresarial (ALMEIDA, 2005), pois é definida primeiramente como questão essencialmente técnica e não no sentido humanístico, que busca uma valorização profissional, no sentido de caminhar para uma identidade profissional para com o espaço escolar e para com o percurso a ser seguido pelos nossos alunos e consecutivamente, na construção de um projeto político pedagógico para o Brasil.

Uma das escolhas que o Governo do Estado de São Paulo fez para o educador que está trabalhando na escola foi a formação continuada fora do seu serviço, a partir da criação do PBM/D em 2003, que acontece em nível de Pós-Graduação nas diferentes Universidades, seja pública ou privada. Destinada aos professores efetivos de cargos nas escolas públicas de Educação Básica. Com essa medida específica, a SEE-SP acredita que formará um profissional mais qualificado para atuar em sala de aula com seus alunos e contraditoriamente, aplicar junto aos alunos, após a conclusão do curso, as apostilas contendo os conhecimentos mínimos e desejados numa sociedade tecnológica.

O Brasil, país subdesenvolvido e de economia fragilizada, se comparado aos países tecnologicamente avançados em produção industrial e com uma melhoria na qualidade de vida da população, sempre se espelhou nesse modelo desenvolvimentista dos países europeus e norte americano, consumindo não somente seus produtos materiais, mas também, intelectuais e culturais. Dentro de um sistema capitalista de produção, tudo é mercadoria (FELDMANN - 2004), logo, passivo de ser comercializado e a educação neste sentido é vista como “negócio”, sendo ofertada e adquirida como forma de solucionar os problemas emergenciais existentes em países de economias fragilizadas.

Historicamente, o Brasil sempre foi influenciado por políticas internacionais, em especial, pelos modelos de educação produzidos em outros espaços, um modismo desarticulado com as reais necessidades latentes da nossa sociedade e que em muitos casos, sofrem de um hibridismo que piora ainda mais as situações postas. Neste contexto, o espaço escolar, os alunos e a sociedade sofrem com essa interferência internacional e o professor, fica perplexo ao perceber sua prática desarticulada e sem resultados favoráveis para com seus alunos, expressos nos índices colhidos e divulgados pela SEE-SP.

As últimas três décadas foram decisivas em marcar na história brasileira, as consequências existentes hoje. As poucas conquistas trabalhistas conseguidas, aos poucos foram se perdendo, como o enfraquecimento dos sindicatos e a privatização não somente das empresas estatais, mas também, da educação. O capital transnacional através da política neoliberal e seus seguidores brasileiros realizaram um verdadeiro turbilhão de mudanças que somente favoreceram alguns poucos brasileiros e aos interesses externos.

É nesta perspectiva de um mundo globalizado e de uma política neoliberal, que o trabalho do professor fica fragmentado a partir das mudanças nas últimas décadas. Segundo NÓVOA (2003), houve um aumento no leque de funções do educador além do que é trabalhado em sala de aula, o professor está sobrecarregado, sem tempo, e sendo obrigado a exercer suas funções de forma fragmentada num mundo dominado pela especialização.

Outro problema apontado por António Nóvoa (2003), diz respeito ao isolamento do professor:

O isolamento é a característica comum mais importante dos professores seriamente afetados pelo desajustamento provocado pela mudança social. A formação permanente deve construir-se a partir de uma rede de comunicação, que não se deve reduzir ao âmbito dos conteúdos acadêmicos, incluindo também os problemas metodológicos, pessoais e sociais que, continuamente, se entrelaçam com as situações de ensino. A inovação educativa está sempre ligada à existência de equipes que abordam os problemas em comum, refletindo sobre os sucessos e as dificuldades, adaptando e melhorando as práticas de intervenção (objetivos, métodos e conteúdos). O contacto com os colegas é fundamental para a transformação da atitude e do comportamento profissional, nomeadamente com os grupos portadores de uma perspectiva inovadora, cuja experiência permite visualizar ações e realidades concretas. (NÓVOA, 2003, p. 119-120).

Percebemos que as mudanças decorridas do fenômeno da Globalização, atreladas à política neoliberal, influenciam de diferentes maneiras a nossa cotidianidade e o nosso modo de viver e perceber o mundo.