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5.2. Análise das fichas e dos relatórios semestrais dos bolsistas: quanto à relação com o

5.2.1. Espaço escolar

Nesta categoria foram encontrados 66 registros, que indicam como os trabalhos desenvolvidos na pós-graduação, interferiram diretamente em suas práticas no espaço escolar. Para melhor analisar os relatos, apontamos as duas dimensões em que o projeto de pesquisa interfere decisivamente em sua cotidianidade: na prática dos professores e na reflexão sobre a prática.

5.2.1.1. Prática do Professor.

Identificamos nesta dimensão um total de 81 registros que retratam uma relação estreita com o espaço escolar e desses, 82% refere-se a prática do professor. Aqui são referendados os projetos desenvolvidos na pós-graduação e sua contribuição com a mudança das práticas docentes. São mencionadas, principalmente no primeiro relatório, a contribuição

das disciplinas cursadas para com a prática do professor, no sentido de ressignificá-la e potencializá-la para um aprendizado melhor junto aos seus alunos.

No relato abaixo, o bolsista, aponta para a compreensão de um determinado conceito sobre texto, durante as aulas na Universidade; a relevância para a transformação de suas práticas no ensino específico, bem como, a interação durante os momentos de trocas com outros colegas, quando participou de um grupo de trabalho e abraçou algumas sugestões de como levar e modificar a prática de sala de aula.

“Nesse semestre cursei uma disciplina: Texto, leitura e sentido. Nessa disciplina, foi discutido o conceito d e texto segundo a Lingüística textual. O trabalho realizado foi de fundamental importância para que eu entendesse o conceito de leitura e, assim, transformar as minhas práticas no ensino da leitura e compreensão do texto. Também cursei um Grupo de Trabalho: Normas e usos lingüísticos do português do Brasil. Nesse GT entendi a importância das variantes lingüísticas e, nas trocas com outros colegas, sugestões de ações para levar a prática das múltiplas normas lingüísticas para a minha sala de aula.”

Nesse processo de melhorar a prática o professor em contato com a Universidade busca compreender alguns mecanismos pedagógicos e até experimentais, que possibilite a sua aplicabilidade em suas práticas cotidianas. Eles apontam, conforme um dos bolsistas diz que O curso tem sido extremamente útil a minha prática docente, pois as discussões em sala e os conteúdos apresentados nos fazem refletir sobre como atuar na educação em relação e inclusão e aos portadores de necessidades especiais. Apontam ainda a partir de outras falas que:

“Os estudos que obtive nestas disciplinas, permitiram fazer uma reflexão sobre a minha prática em sala de aula e ampliou meus conhecimentos. Mostrou-me que é possível buscar maneiras diferenciadas, porém didáticas de se apresentar conteúdos matemáticos visando sempre um melhor aprendizado e exploração das potencialidades e habilidades dos nossos alunos referentes ao ensino da Matemática.”

“Buscaremos uma aplicação maior do que foi estudado na apresentação da matéria que resta a ser desenvolvida neste semestre no Ensino Médio reforçando o programa com os exemplos práticos do trabalho desenvolvido no mestrado. Em especial para os terceiros anos na medida em que o programa é eletricidade e magnetismo.”

Em outros relatórios, como podemos perceber no fragmento abaixo, muitos dos bolsistas não buscam desenvolver através de experimentos, ou de questões pedagógicas mais acadêmicas, soluções para sua prática didática, mas sim, a partir de sua própria prática diária,

junto com seus alunos e com seus problemas reais em situações de sala de aula, é que percebem essa qualidade em sua pesquisa a partir do contato com as disciplinas.

“Essa disciplina foi de grande importância ao dar a base ao processo de pesquisa na área de ensino de ciências, como podemos pesquisar e analisar problemas em sala de aula, analisar métodos de trabalho, eficácia no ensino. Como proceder de forma correta para avaliar aluno, professor ou metodologia de trabalho utilizado em sala de aula. Terei, a partir dessa disciplina, idéias e caminhos para tabular e analisar dados coletados em sala de aula, com o objetivo de melhorar a qualidade das minhas aulas e, por conseguinte, a qualidade do ensino.”

Percebemos nos relatos, muitas divergências de como focar a pesquisa sobre a prática do professor; e, defendemos o princípio de que as soluções para desencadear novas práticas didáticas e pedagógicas, que venham a reorientar os professores em sala de aula e consecutivamente, solucionar algumas questões que envolvam o trabalho docente com seus alunos. O professor, necessita investigar primeiramente, suas próprias práticas, buscando assim, uma maior aproximação destas com as teorias já existentes e não, partir de modelos teóricos que foi desenvolvido em outro espaço e tempo bem definido e que, apesar da aproximação dos fatos serem muito parecidos, foram outras situações problemas, outras exigências, diferentemente do que o espaço escolar e seus alunos necessitam.

Entendemos aqui, que os projetos desenvolvidos na academia, distanciados do espaço escolar FUSARI (2005) e por meio das individualidades dos professores pesquisadores e dos pesquisadores acadêmicos MOLINA (2007), buscam formas de estreitar essa distância que não é somente geográfica, que passam também, por questões teóricas e metodológicas de conceber um trabalho de formação contínua em parcerias entre a universidade e a escola pública PIMENTA (2004), GARRIDO (1998), MOLINA (2000; 2003;2007), ROCHA (2005). Em que considere o professor como profissional reflexivo ZAICHENER (1995) CHÖN (1995), NÓVOA (1995) de suas práticas escolares, participando coletivamente na construção de projetos NÓVOA (1995) E FUSARI (2005) que interfiram decisivamente na realidade das escolas.

5.2.1.2. Reflexão Sobre a Prática.

Considerada a prática do professor como ponto de partida para investigação na busca de uma qualidade de suas aulas, a reflexão na e sobre a prática SCHÖN (1995) torna-se fundamental e necessária para a compreensão das problematizações do fazer docente.

Nesta perspectiva, muitos professores conhecem e utilizam-se desde procedimento para compreender sua prática de sala de aula, como processo que fundamenta e respeita a cotidianidade, no desenvolvimento de suas pesquisas.

Nos relatórios dos bolsistas são encontrados dez registros que mencionam esse procedimento filosófico de análise da sua prática, como percebemos abaixo, o professor cita a importância do contato com as disciplinas, no sentido de ampliar seu conhecimento teórico e acrescenta que é fundamental para qualquer professor pesquisador e reflexivo:

“O que aprendi não ensinarei aos meus alunos, mas descobri a importância da gramática para a formação dos alunos de ensino fundamental e médio. A outra disciplina, Análise de textos escritos, foi também muito importante, pois ampliou meu conhecimento teórico para entender textos escritos e, consequentemente, ensinar a compreensão e interpretação de textos, aprendizagem fundamental para qualquer aluno de ensino fundamental e médio. Por fim, participei de um seminário de Historiografia, que me deu subsídios teóricos para realizar uma pesquisa histórica, o que é fundamental para qualquer professor pesquisador e reflexivo.”

O PBM/D não exige dos bolsistas uma atitude de pesquisa tendo o professor como pesquisador reflexivo ZAICHENER (1995; 1998), ou outra denominação, mas entende que uma atitude de reflexão sobre sua prática é fundamental e necessária. Nesta perspectiva, os bolsistas na sua maioria, contemplam essa exigência, mesmo não deixando clara essa terminologia em seus relatórios, entretanto, os que mencionam argumentam:

“Os estudos que obtive nestas disciplinas, permitiram fazer uma reflexão sobre a minha prática em sala de aula e buscar maneiras diferenciadas de se apresentar conteúdos matemáticos visando um melhor aprendizado dos nossos alunos referentes ao ensino da Matemática.”

“Cursando o primeiro semestre do mestrado em Educação Física da Universidade São Judas Tadeu, pude refletir a concepção de saúde adotada nos dias atuais. Meu projeto pretende tornar a escola na qual atuo uma escola promotora da saúde, e para isso algumas reflexões são necessárias quanto ao tema. Nesse semestre refleti minha prática docente quanto à promoção da saúde com leituras, discussões e debates nas aulas, além do andamento do projeto nas tutorias.”

Na perspectiva do professor reflexivo, não basta que ele reflita sobre as situações de sala de aula, ou até mesmo, sobre a escola, ele precisa discutir outra instância de tomada de decisão e de poder que determina a existência de uma proposta FUSARI (2005) de se ou não trabalhada. Envolve também e é apontado pelo bolsista no fragmento abaixo, o compromisso político e ético do professor FELDMANN (2004), que vai além dos muros da escola,

perpassando as discussões que envolvem um sentido de pertencimento ao espaço escolar e para com seus alunos.

“Esses dois assuntos têm me possibilitado refletir sobre o meu trabalho em sala de aula, junto aos meus alunos, uma vez que elucidou questões com as quais lido todos os dias: organização das aulas de modo a possibilitar de forma adequada a socialização dos alunos, tendo em vista a socialização dos saberes, a socialização entre os alunos e demais agentes escolares. Neste contexto, a minha função de professora adquire outro significado, pois ficou claro que o ato de ensinar pressupõe, além do domínio da técnica, reflexão e comprometimento ético e político. Portanto, esse primeiro semestre foi extremamente importante para a minha formação pessoal e profissional, o que tem contribuído imensamente para a minha prática como professora da Rede Estadual de Ensino e, em decorrência, para a formação dos meus alunos.”

Outro bolsista cita o educador Paulo Freire para justificar esse processo reflexivo sobre a educação, que nos remete a participação, as possibilidades pedagógicas que contribuem com a qualidade da educação, em um movimento político ALMEIDA (1999), como afirma abaixo:

“As disciplinas estudadas foram desenvolvidas dentro do processo instrumental, na reflexão sobre as praticas docência, através de atividades desenvolvidas em sala de aula, com objetivo de refletirmos sobre a ação na ação, no processo de ensino e aprendizagem. Através das experiências vividas nas situações cotidianas, com base nos conceitos freireanos de participação, procuraremos refletir sobre as possibilidades pedagógicas de um currículo que não somente apresenta propostas inovadoras, mas, principalmente, contribui com ações nas esferas de políticas públicas para a educação”.

As discussões sobre as análises das aulas dos professores como um movimento apontado por SCHÖN (1995), que preferencialmente considere as formas de abordagens mais conhecidas como aponta MOLINA (2007) e ZAICHNER (1998) as pesquisa-ação e a participante e mais especificamente, as pesquisas denominadas colaborativas MOLINA (2003; 2007), PIMENTA (1999) GARRIDO (1998 ), possuem mais resultados para o espaço escolar e para as práticas dos professores, diferentes de projetos desarticulados FUSARI (2005) ALMEIDA (2005) da escola e da vida dos professores FELDMANN (2004).

Nos cursos de pós-graduação, ofertado pela SEE-SP, os professores estão tendo um referencial teórico que lhes possibilitam enxergar um trabalho mais significativo e até possuem boa vontade em desenvolver no espaço escolar, porém, isolados como discute NÓVOA (2003), distanciados dos colegas, boa vontade somente não basta. Cabe à SEE-SP,

assumir trabalhos que articulem propostas pedagógicas FUSARI (2005), com o coletivo existente nas unidades escolares, propondo inclusive, projetos de formação contínua dos professores em nível de pós-graduação, em parceria com as universidades e a escola pública, deixando de lado o que ela compreende como formação continuada, nos moldes desarticulada e distanciada da escola.