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Contexto escolar 88

No documento 2013AndreiaMendiolaMarcon (páginas 89-93)

2.3 AQUISIÇÃO DA LÍNGUA(GEM) PELO SURDO EM DIFERENTES CONTEXTOS

2.3.2 Contexto escolar 88

No item anterior, o qual trata da aquisição da linguagem e do desenvolvimento linguístico do surdo no seu contexto familiar, pôde-se observar a importância de ele estar

exposto à Língua de Sinais (L1), que lhe proporcionará uma compreensão de mundo e produção cognitiva no decorrer de sua vida, podendo servir, posteriormente, de base para a aquisição de uma segunda língua (L2).

Bergmann (apud QUADROS; PERLIN, 2007, p. 82), ao estudar uma educação em que a Língua de Sinais seja o instrumento de uso para a aprendizagem dos sujeitos surdos, em uma pesquisa realizada sobre a aquisição da Língua de Sinais Dinamarquesa (DSL) com surdos em fase escolar, relata que:

A disciplina de DSL visa [a] proporcionar o estudo da gramática da língua e a discussão sobre valores, história e cultura surda. A autora observa ainda mais dois aspectos: nesta aula proporciona-se o desenvolvimento de uma postura adequada diante do intérprete de língua de sinais e, posteriormente, desenvolvem-se as habilidades artísticas (poesias, estórias, teatros) que envolvem a expressão. Na segunda situação mencionada, em (b), Bergmann discute o papel da DSL no ensino da língua dinamarquesa. A DSL é utilizada como meio de ensinar a língua dinamarquesa, isto é, as crianças aprendem o dinamarquês através da DSL, seguindo estratégias de ensino de segunda língua. No último caso, descrito em (c), Bergmann explicita que os professores usam a DSL para ensinar todas as disciplinas escolares.

Essas considerações levam a refletir sobre outro ponto essencial para o aprendizado da primeira língua do surdo na escola, um espaço onde esse sujeito está exposto ao aprendizado das propriedades de uso e das funções da sua primeira língua. Além disso, na escola ele também aprende a desenvolver sua capacidade de produzir atos conversacionais adequados a sua idade, respeitando a estrutura da língua (L1). Nesse sentido, Ferreira Brito (1993, p. 68) salienta que:

A aquisição de uma língua gestual-visual tem para o surdo uma função tão importante no seu desenvolvimento quanto a aquisição de uma língua falada para o ouvinte desde a mais tenra idade, antes da aprendizagem da escrita. Ela funciona como suporte do pensamento, como meio de comunicação e é através dela que o surdo pode fazer uma “leitura do mundo”.

De acordo com a autora, o surdo precisa do contato com uma língua que lhe proporcione interação com o mundo. Nesse caso, como ele utiliza o canal visual para recepcionar as informações, é importante, então, que a língua seja gestual-visual, a exemplo

da Língua de Sinais. Por meio dela, a criança terá condições de criar o seu mundo e interagir com ele.

Outro ponto a ressaltar é o olhar do professor relativo ao aprendizado das propriedades da primeira língua da criança surda, isto é, o docente precisa estar atento ao nível linguístico que o sujeito apresenta no momento em que chega à escola e, também, a sua etapa de evolução da língua. Dito de outro modo, o professor precisa considerar os fatores internos e externos para a exploração da Língua de Sinais do surdo.

Os fatores internos estão ligados ao processo de aquisição da linguagem por parte do surdo, isto é, ele está em um nível de proficiência na Língua de Sinais adequado a sua faixa etária, pois foi exposto desde cedo a uma língua, ou não possui nenhuma língua. É importante que essas questões sejam evidenciadas assim que a criança chega à escola.

Os fatores externos, por sua vez, estão relacionados às condições para o ensino de uma língua, isto é, se a escola é de surdos ou inclusiva. Em outras palavras, é necessário que a escola verifique aspectos como o ambiente, a interação entre professor e aluno, as estratégias de aprendizado, os fatores afetivos e sociais da língua em questão. Todos esses elementos precisam ser considerados no momento em que o professor elabora sua aula de ensino da língua, para que a criança surda possa desenvolver suas capacidades cognitivas através desse aprendizado. Goldefeld (1997, p. 57) entende que:

A fala interior tem suas próprias leis gramaticais. Sua sintaxe parece desconexa e incompleta se comparada à fala social. A fala interior é basicamente uma cadeia de significados, de generalizações, sua expressão fonética é secundária. Os indivíduos pensam basicamente através de conceitos. A aquisição da linguagem segue, então, a orientação do exterior e no seu percurso ela passa a dominar e a orientar para o pensamento através da fala egocêntrica, até se tornar a principal forma de pensar através da fala interior, que pode ser chamada também de pensamento linguístico.

A autora destaca que os fatores internos e externos fazem parte do movimento de aquisição da linguagem pelo surdo, pois esses elementos serão essenciais para seu desenvolvimento cognitivo. Sendo assim, torna-se fundamental que a escola lhe proporcione um contato com profissionais fluentes na Língua de Sinais e que tenham conhecimento do seu uso e da sua função na sociedade. É importante que a escola trabalhe de forma a estimular as habilidades de compreensão da criança surda no que diz respeito à estrutura gramatical da Língua de Sinais, às escolhas linguísticas adequadas aos diferentes gêneros, à leitura de sinais,

à atenção aos sinais do outro e à necessidade de comportar-se apropriadamente em eventos ou afins.

Bergmann (apud QUADROS, 1997, p. 89), em estudos realizados na DSL, salienta que a formação dos profissionais para o desenvolvimento de uma escola bilíngue precisa levar em conta algumas competências:

a) Comunicar-se fluentemente com as crianças surdas; b) Funcionar como modelo linguístico para crianças surdas;

c) Ter habilidade de analisar e avaliar a língua de sinais das crianças surdas e de outras pessoas;

d) Conhecimento das variações da DSL

e) Conhecimento da cultura e história dos surdos.

Corroborando todos esses aspectos, Quadros (1997, p. 83) reforça a importância da implantação de uma escola bilíngue-bicultural no contexto brasileiro:

A implantação de uma proposta bilíngue-bicultural no Brasil exige das escolas um trabalho que inicia com a abertura de espaço para profissionais surdos que possam ser formados para servirem de modelo linguístico-cultural para os alunos surdos e a formação dos princípios profissionais quanto à Libras e aos pressupostos da educação bilíngue. A partir dessas iniciativas, poder-se-á pensar em programas com pais ouvintes e com crianças surdas com objetivo de garantir a aquisição de sinais.

Constata-se, portanto, a necessidade de expor o sujeito surdo a sua língua e a sua cultura, em um espaço adequado com profissionais formados segundo os princípios que regem a Libras.

Chomsky (1972) analisa o conhecimento de língua e pressupõe que, ao adquirir a linguagem, o sujeito está envolvido por um processo de maturação para o desenvolvimento de capacidades internas. Para explicar essas capacidades internas, o autor propõe duas dicotomias, a competência e o desempenho. A primeira está ligada ao conhecimento de língua que o falante possui, ou seja, uma língua interna. A segunda é relativa ao uso de conhecimento da língua que o falante desenvolve em uma situação conversacional, isto é, uma língua externa. A seguir, explica-se como se dá o processo dessas duas dicotomias.

No documento 2013AndreiaMendiolaMarcon (páginas 89-93)