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Thomas Gallaudet (1814) 39

No documento 2013AndreiaMendiolaMarcon (páginas 40-43)

1.1 OS PERÍODOS HISTÓRICOS QUE MARCARAM A EVOLUÇÃO DAS LÍNGUAS

1.1.6 Thomas Gallaudet (1814) 39

Em 1814, surgiu Thomas Gallaudet, um educador que havia iniciado a faculdade de Direito e estava voltado a seguir uma carreira religiosa. No entanto, um acontecimento em sua vida proporcionou uma mudança em seus planos. No mesmo ano, Gallaudet, em férias na casa de seus pais, conheceu uma criança surda chamada Alice Cogswell15. Pelo que consta na história, seria essa menina a inspiradora de Gallaudet para sua dedicação na area da educação de surdos.

Certo dia, Gallaudet observava a menina no pátio de uma escola, a qual estava ao meio de várias outras crianças que brincavam no local. Foi então que percebeu que a menina não se relacionava com as demais crianças, o que chamou a sua atenção. O professor aproximou-se de Alice e tentou se comunicar com ela. Sem respostas, realizou outras tentativas para que ela participasse da conversa: desenhou no chão de terra com uma vara, mostrou objetos e fez apontamentos. Alice passou a demonstrar interesse pelo que fazia Gallaudet. Este pôde, então, perceber que a menina era surda, concluindo que, por tal motivo, se afastava das outras crianças: não compreendia o que estas comunicavam, uma vez que utilizavam a fala. Sacks (1998, p. 35, nota de rodapé) conta que:

Certo dia, observando algumas crianças brincar em seu jardim, o reverendo Thomas Gallaudet surpreendeu-se porque uma delas não participava da brincadeira. Ele descobriu que seu nome era Alice Cogswell – e que ela era surda. Tentou ensiná-la pessoalmente, depois conversou com o pai da menina, Mason Cogswell, cirurgião de Hartford, a respeito da fundação de uma escola para surdos no local (não havia escolas para surdos nos Estados Unidos naquela época). Gallaudet viajou para a Europa à procura de um professor, alguém que fundasse, ou ajudasse a fundar uma escola em Hartford.

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Educador americano, era a favor da língua de sinais. Interessou-se pelos surdos e sua educação quando teve contato com uma menina surda, sua vizinha, chamada Alice Cogswell. Atualmente, existe a Universidade de Surdos denominada Gallaudet University, em Washington (MOURA, 2000).

A partir daquele momento, Gallaudet resolveu mudar sua vida profissional. Começou a estudar sobre a educação de surdos nos Estados Unidos, mas como essa era uma área ainda não descoberta, não havia ninguém que se dedicasse a esse trabalho. Em virtude dessa limitação, Gallaudet, juntamente com o pai de Alice, decidiu criar um projeto de ensino para surdos do seu país. Gallaudet passou a realizar pesquisas sobre o ensino para os surdos em outros países, na tentativa de verificar se existiam métodos específicos a respeito.

Figura 4 - Estátua de Thomas Gallaudet e Alice Cogswell na University Gallaudet Fonte: Bakersfield College, 2011.

Na ocasião, o professor descobriu os estudos voltados à educação para surdos, realizados, na França, pelo abade L´Epee, o que o levou a viajar até o referido país, em busca de conhecimentos mais aprofundados sobre o assunto. Gallaudet entrou em contato com o abade Roch Ambroise Sicard16 e dois dos seus ajudantes surdos – Jean Massieau17 e Laurent Clerc18 –, com a intenção de visitar a escola para conhecer a forma como se davam os ensinamentos. Dessa forma, o educador permaneceu durante aproximadamente dois meses no

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A criança que fez despertar em Thomas Gallaudet o desejo de criar condições para ensinar surdos (SACKS, 1991, p. 22).

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Substituindo L’Epée, foi nomeado diretor no Instituto Nacional de Surdos-Mudos.

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Francês, foi um dos primeiros professores surdos, ministrando aulas de Língua de Sinais no Instituto Nacional de Surdos-Mudos em Paris, durante 32 anos. Seria diretor do Instituto, se não fosse afastado pelo médico Jean Itard. Deu aula em outras escolas francesas para surdos.

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Um dos professores surdos, aprendeu Língua de Sinais na França, devido ao seu interesse pelo método utilizado no ensino da língua por L´Epée. Ministrou aulas de Língua de Sinais nos Estados Unidos.

Instituto de Surdos e Mudos de Paris, estudando os métodos de ensino da língua para os surdos.

Gallaudet viajou para a Europa, em busca de um professor, alguém que pudesse fundar ou ajudar a fundar uma escola em Hartford. Foi primeiro à Inglaterra, visitou uma das escolas Braidwood, escolas “orais” criadas no século anterior [...]. Teve ali uma recepção fria: o método oral, informaram-no, era um “segredo”. Depois dessa experiência na Inglaterra, ele seguiu para Paris e ali encontrou Laurent Clerc, ensinando no Instituto de Surdos-Mudos (SACKS, 1990, p. 38).

Após adquirir conhecimento suficiente, o professor retornou para o seu país, a fim de iniciar o seu projeto. Laurent Clerc, o auxiliar surdo, o acompanhou na viagem à América do Norte, com a intenção de apoiar a fundação de mais uma escola para surdos, disposto a lhes ensinar os conhecimentos por meio da língua de sinais. Os dois passaram 52 dias viajando, e, nesse tempo, Clerc ensinou a Gallaudet a língua de sinais francesa; em troca, Gallaudet ensinou a Clerc o inglês escrito.

Em 1817, na cidade de Hartford, Gallaudet e Clerc fundaram a primeira escola para surdos da América, a American School for the Deaf. O sistema de sinais francês misturou-se aos sinais nativos dos surdos americanos, dando origem à Língua de Sinais Americana (ASL). Em meio a esse contexto, surdos de outras regiões foram ingressando na escola, em número cada vez maior, de modo a contribuir com suas diversidades linguísticas e a aprimorar os sinais, de acordo com as regras gramaticais adaptadas da língua inglesa.

Contudo, existiam profissionais da área da surdez com outra visão sobre o método de ensino para os surdos. A percepção dos profissionais ouvintes que trabalhavam com os surdos, era de que os alunos, em vez de compreenderem os conteúdos, acabavam por automatizá-los. Assim, longe de internalizarem o conhecimento, aprendiam de forma mecânica, beneficiando somente o contexto religioso ou educacional, na medida em que aquilo que aprendiam para a vida cotidiana não fazia sentido.

Essa divergência entre o método utilizado pelos educadores que defendiam a Língua de Sinais e as hipóteses levantadas por outros mestres em relação ao mesmo assunto provocou uma polêmica na educação dos surdos, isto é, qual o método mais apropriado para ser utilizado na educação das pessoas surdas¿ Diante dessa questão, no final do século XVIII, as discussões que comparavam o método sinalizado com o método oralista marcaram o início de uma grande discussão. Eis o assunto na próxima seção.

No documento 2013AndreiaMendiolaMarcon (páginas 40-43)