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INES: A PRIMEIRA ESCOLA DE SURDOS NO BRASIL 51

No documento 2013AndreiaMendiolaMarcon (páginas 52-55)

Em 1857, foi fundada a primeira escola para surdos no Rio de Janeiro, o Instituto Nacional de Surdos-Mudos24 por meio da Lei 839:

[A lei foi assinada no dia] 26 de setembro de 1857, durante o Império de D. Pedro II, quando o professor francês Hernest Huet fundou, com o apoio do imperador o Imperial Instituto de Surdos Mudos. Huet era surdo. Na época, o Instituto era um asilo, onde só eram aceitos surdos do sexo masculino. Eles vinham de todos os pontos do país e muitos eram abandonados pelas famílias.

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A primeira escola de surdos no Brasil passou a funcionar em 1º de Janeiro de 1856, nas dependências do colégio de M. De Vassimon, no modelo privativo (ROCHA, 2008, p. 30).

O Instituto recebia surdos dos principais estados do Brasil, e nele os alunos permaneciam durante todo o período letivo, em regime de internato, retornando para suas casas apenas nas férias.

O professor tinha em seu programa de ensino as disciplinas de Língua Portuguesa, Aritmética, Geografia, História do Brasil, Escrituração Mercantil, Linguagem Articulada, Leitura sobre os Lábios e Doutrina Cristã. É importante, nesse ponto, fixar que a disciplina de Leitura Labial somente era oferecida a alunos que tinham resíduos auditivos, em outras palavras, os deficientes auditivos que tivessem chances de desenvolver a língua oral.

De acordo com Rocha (2008, p. 35):

Para o ensino, foram adotadas as seguintes matérias: leitura escrita, doutrina cristã, aritmética, geografia, com ênfase no Brasil, geometria elementar, desenho linear, elementos da história, português, francês e contabilidade. Após a publicação desse regulamento, o Marquês de Olinda deixou de acompanhar o trabalho no instituto, transferindo essa responsabilidade para a secretaria de estado dos negócios do império.

Com o passar do tempo, vários fatos ocorreram, como a publicação, em 1875, do primeiro dicionário de Libras intitulado Iconographia dos Signaes dos Surdos-Mudos. É pertinente destacar que esse material consistia numa reprodução dos sinais da Língua Francesa, tendo sido ilustrado pelo ex-aluno do Instituto de Surdos-Mudos Flausiano José da Costa Gama, o qual tinha a função de registrar os sinais dos surdos do Brasil. Essa tarefa tinha como objetivo manter registros sobre a criação da Libras, podendo servir como material didático para facilitar a comunicação entre professores e alunos surdos.

Segundo Rocha, o sucesso de seu trabalho foi reconhecido pelo diretor do Instituto, à época, José Tobias Leite (apud ROCHA, 2008, p. 43):

A instituição progrediu satisfatoriamente no último ano. Concorreu para isso não só a maior prática que vão tendo os professores, mas o terem tido os alunos como repetidor de suas lições o ex-aluno Flausiano José da Gama, que manifestou as melhores condições para o professorado.

A nomeação desse Repetidor não foi só a satisfação de uma das maiores vitais necessidades do instituto, foi também um ato fecundo de bons resultados para os alunos, que se animaram e regozijaram com as lições de um acompanhamento de infortúnio, e para o público, que, vendo um surdo-mudo educado neste instituto exercer as funções de professor, tem a maior prova de proficuidade do ensino.

No entanto, o instituto, que tinha como modelo o Instituto de Surdos da França, acompanhava uma tendência, a saber, o fato de ter professores surdos atuando como educadores de outros surdos. Esse aspecto deu abertura para uma vasta polêmica com o impacto do Congresso de Milão ocorrido na Itália em 1880.

Rocha (1997) salienta que, em 1911, com o Decreto 9.19825, em seu artigo 9º26, o INES passou a adotar como filosofia na educação de surdos o método oral. Retoma-se, aqui, o método oralista, que, de acordo com a votação do já mencionado Congresso, deveria ser adotado por todos os institutos de educação para surdos em todas as disciplinas.

Diante desse contexto, os surdos brasileiros passaram a sofrer o mesmo impacto que os surdos da Europa, de modo que a Libras passou a ser desvalorizada e proibida na comunicação desses indivíduos.

Góes (1999, p. 40) relata que:

O oralismo, nas suas diversas configurações, passou a ser amplamente criticado pelo fracasso em oferecer condições efetivas para a educação e o desenvolvimento da pessoa surda. Entre as muitas críticas, aponta-se o fato de que, embora pretenda propiciar a aquisição da linguagem oral como forma de integração, esse trabalho educacional acentua, ao invés de eliminar, a desigualdade entre surdos e ouvintes quanto às oportunidades de desenvolvimento. Dificulta ganho na esfera linguística e cognitiva por exigir do surdo a incorporação da linguagem exclusivamente numa modalidade à qual este não pode ter acesso natural. E, na tentativa de impor o meio oral, interditando formas de comunicação visual-gestual, reduz as possibilidades de trocas sociais, somando, assim, obstáculos à integração pretendida.

Com efeito, o Instituto retomou, com precisão, a disciplina de linguagem articulada na educação de surdos, com vistas à oralizá-los. Segundo Rocha (2008, p. 13), “a disciplina oralizada era defendida para todos e fundamentada na percepção de que as pessoas surdas poderiam viver naturalmente em sociedade se a escola desenvolvesse sua fala”. Entretanto, essa visão reabriu outra discussão decorrente da imposição do oralismo na educação de surdos, a qual assinalava que tal método não estava sendo eficaz para a aquisição do conhecimento desses indivíduos, reproduzindo uma tendência meramente mecânica.

Em 1970, pais e educadores de surdos passaram a perceber que o método oral produzia um resultado insatisfatório em relação à aprendizagem, notando que seus filhos e

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Este decreto retoma o Método Oral Puro em Todas as Disciplinas. Assim, os três professores de Linguagem Escrita foram transferidos para recém criada cadeiras de Linguagem Articulada e Leitura sobre Lábios, já que apenas uma vinha funcionamento desde 1887 (ROCHA, 1997, p. 54).

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alunos, em vez de progredirem na leitura e na escrita, retrocediam, de modo a demonstrar uma grande defasagem nos estudos, sem estabelecer comunicação com os outros, pelo fato de não possuírem uma língua. Em vista disso, no mesmo ano, surgiu uma nova filosofia de comunicação para a educação de surdos denominada “comunicação total”, sobre a qual se passa a explanar na próxima subseção.

No documento 2013AndreiaMendiolaMarcon (páginas 52-55)