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3.3 Cadeia Produtiva de Maçã em Santa Catarina

3.3.1 Contexto histórico da produção de Maçã no estado catarinense

A produção de maçãs é uma atividade característica de regiões com clima temperado, pelo fato da fruta necessitar de repouso no inverno para que ocorra a quebra de dormência, processo que possibilita a brotação e o florescimento da planta. Além disso, requer grandes extensões de terras para produção. Para tanto, a pomicultura encontrou no estado catarinense clima e local propício para se desenvolver.

O início da pomicultura de maçãs no estado se deu no final da década de 1950 com os irmãos René e Arnoldo Frey, em Fraiburgo. Segundo Brandt (2004) os irmãos eram proprietários de um grupo econômico que atuava em diversas áreas, como açougue, moinho, granja de suínos, serraria, dentre outras atividades; perceberam a decadência da atividade madeireira na região e decidiram mudar de ramo. A partir daí, os irmãos Frey optaram por investir no setor frutícola. Apesar da falta de experiência na área, pela escassez de tecnologias

e capital humano, Arnoldo e René pesquisaram e viajaram para se informar sobre qual a cultivar melhor se adaptaria ao clima do local. Além disso, buscaram ajuda de pessoas especializadas que pudessem auxiliar na implantação de novas variedades frutíferas no local (BRANDT, 2004).

Ainda de acordo com Brandt (2004), foi em uma viagem de pesquisas à Argélia que René conheceu Gabriel Evrard e seu filho Henri, proprietários de uma vinícola e também produtores de outras variedades de frutas. Os dois estavam descontentes com a situação em que o país se encontrava, diante dos conflitos de independência enfrentados no período. Os Evrard decidiram aceitar o convite de René e partiram para o Brasil, para junto com outro empresário francês Albert Mahler e os irmãos Frey fundar em 1962 a Sociedade Agrícola Fraiburgo, a Safra. A criação da Safra marcou o início da pomicultura moderna no Brasil, por meio da implantação de um pomar experimental, que continha várias espécies de frutas de clima temperado.

Em 1963, Roger Biau se muda da Argélia para Fraiburgo, para assumir a direção técnica da Safra. Biau e sua família trouxeram na bagagem 525 espécies de plantas da França para serem testadas em solo catarinense. Todas foram analisadas individualmente até se chegar a conclusão que a maçã seria a fruta que melhor se adaptaria as condições locais. Ainda restaram, porém, 165 variedades de macieiras a serem estudadas para se chegar à conclusão, após 12 anos, de que os melhores resultados, segundo pesquisas, seria investir nas cultivares Gala e Fuji (BALDISSARELLI, 2012).

Pereira e Simioni (2008) destacam quatro fatores que tiveram importância fundamental como justificativa do surgimento e desenvolvimento da pomicultura no estado catarinense: o primeiro deles é resultado da decadência da atividade madeireira no Vale do Rio do Peixe e arredores, dado que esta era a principal atividade econômica do período e começou a entrar em decadência na década de 1950; o segundo fator foi resultado da comprovação, depois de vários estudos técnicos, realizados por meio de pomares experimentais, de que a maçã era a fruta que melhor se adaptaria ao clima temperado da região; o terceiro fator diz respeito ao modelo de substituição de importações estabelecido pelo governo na época, levando em conta que a maçã ocupava lugar de destaque na pauta de exportações do período; e, finalmente, o último fator elencado pelos autores está relacionado aos incentivos fiscais concedidos, em grande parte, pelo governo, o que possibilitava que 50% do imposto de renda da pessoa jurídica fosse revertido em atividades de florestamento e reflorestamento.

Outros programas em nível estadual também deram impulso a pomicultura em Santa Catarina, como o Programa Executivo Frutícola para Santa Catarina, implantado em 1968 e que possibilitou o lançamento do Programa de Fruticultura de Clima Temperado (PROFIT), em 1970 (PEREIRA e SIMIONI, 2008). Com base nesses programas de cunho político, elaborados pelos governos federais e estaduais, foi alicerçada a pomicultura da maçã em Fraiburgo, se estendendo para os demais estados produtores anos depois.

Brandt (2004) destaca que não foi só o clima local que levou os Evrard-Mahler a firmar sociedade com os irmãos Frey para investir no setor macieiro, um dos aspectos principais dessa escolha foi pela questão econômica. Isso porque a pomicultura no país era algo nascente e o mercado consumidor pouco explorado e com chances de crescimento. O relato era de que a produção no país ainda era pequena e o mercado consumidor era grande. Outro fator levado em consideração dizia respeito a relação custo da mão de obra com o preço da maçã no mercado brasileiro, tal fator possibilitaria a acumulação de capital para os pioneiros do setor (BRANDT, 2004).

Foi a partir de meados da década de 1970 que a pomicultura experimentou um forte crescimento, estabelecendo as bases para a instalação de grandes empresas verticalmente integradas que passaram a abranger se não todas, a grande maioria das etapas da cadeia produtiva da maçã, estabelecendo o marco de partida para a produção em grande escala.

O desenvolvimento da cultura da macieira no estado de Santa Catarina, bem como no Brasil, pode ser dividido em períodos distintos como apresentam Pereira e Simioni (2008). O primeiro deles é marcado pela formação da estrutura de produção, período que se estende até o final da década de 1980, marcado pelo aumento da produção, da área planta, expansão e conquista do mercado interno e redução das importações da fruta. O segundo período corresponde à década de 1990, caracterizado pela intensificação e consolidação do setor. A produção se intensificou nessa época, a maçã nacional passou a abastecer o mercado interno, além de conquistar espaço na exportação. A partir do final da década de 1990 houve a reestruturação da produção que sinalizou o início do terceiro período destacado pelos autores, marcado pela execução de programas de produção integrada, que visavam garantir a qualidade e a segurança do produto.

Graças ao pioneirismo e ousadia dos produtores e pesquisadores, que semearam as primeiras mudas de maçã e desbravaram essa área frutícola pouco conhecida até então, implementando técnicas especiais para que a maçã se adaptasse ao solo e clima brasileiro.

Além dos investimentos em pesquisas e as tecnologias aos poucos implantadas na cadeia, que possibilitou ao setor macieiro conquistar a abrangência e a importância que possui atualmente.