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2.2 Teoria Baseada em Recursos

2.2.1 Teoria do Aprendizado

O conjunto de transformações políticas, sociais e econômicas que marcaram as últimas décadas trouxeram consigo um grupo de mudanças tecnológicas, financeiras e de informação que repercutiu no campo industrial, alterando o processo produtivo. Esses sistemas interligados constituem a base de sustentação do processo de globalização, definido pela ligação dos mercados financeiros.

A partir desse contexto surge um novo paradigma denominado economia do aprendizado, em que a aprendizagem assume papel primordial no processo e o conhecimento passa a ser o principal ativo na dinâmica organizacional em busca de vantagens competitivas (VARGAS, 2006). Diante disso, o investimento em inovação se mostra como um diferencial estratégico, uma vez que contribui para promover o aprendizado, a capacitação e a acumulação de conhecimentos.

Toda economia deve ser compreendida pelo processo de aprendizado, dado que o conhecimento depende das competências dos agentes e baseado na dinâmica do ambiente. O conhecimento, segundo Lundvall (2001) pode ser aprendido pelo intercambio de ideias através do aprendizado, sendo possível perceber que o conhecimento tácito pode ser disseminado por processos de intercâmbio e cooperação.

Em uma empresa o aprendizado pode ser adquirido por meio de experiências acumuladas ao exercer atividades produtivas, no contato com os processos, na repetição de atividades e na interação com demais agentes da cadeia produtiva, como clientes e fornecedores. Leite e Porsse (2003) afirmam que a ideia central da TBR está na ligação entre a criação de conhecimento e aprendizagem organizacional à conquista da vantagem competitiva da firma.

A Teoria do Aprendizado é uma abordagem que deriva das ideias lançadas pelos neoshumpeterianos. Sendo que sua proposta central é compreender essa nova dinâmica capitalista, determinado pelo novo cenário criado com a globalização. Um dos destaques dados por essa corrente teórica está relacionado ao valor dado ao conhecimento e o aprendizado dos agentes como fator determinante para o desempenho da empresa e consequentemente a competitividade desta no mercado.

Esse novo paradigma marcado por inovações tecnológicas e desregulamentação do comércio internacional, acarreta como consequência o aumento da concorrência no mercado interno. A partir daí, mudança e aprendizado são as duas faces da mesma moeda. A aceleração das mudanças confronta agentes e organizações com novos problemas e a solução para os mesmos requer habilidade (LUNDVALL, 2001).

As políticas de inovações, cada vez mais presente na economia, devem contribuir para a capacitação de empresas voltadas para o aprimoramento humano. Dando a empresa o papel de promotora do aprendizado. A importância do conhecimento e do aprendizado dos agentes econômicos como fator determinante do desempenho econômico é destacado pela corrente teórica neoschumpeteriana.

A primeira hipótese dessa abordagem enfatiza que os agentes possuem racionalidade limitada, essa limitação ocorre pela relação entre o agente e o ambiente. A segunda hipótese considera a informação distinta do conhecimento; no sentido de que um individuo pode possuir muita informação, mas pouco conhecimento. Essa hipótese deriva da racionalidade limitada e pela incerteza presente em ambientes complexos (SANTOS, 2006).

Essa abordagem neoschumpeteriana conceitua conhecimento como tendo caráter tácito, conhecimento baseados nas habilidades dos indivíduos, dificilmente transferidas e adquirido ao longo da vida.

Em uma empresa o aprendizado pode ser adquirido por meio de experiências acumuladas ao exercer atividades produtivas, ao se utilizar um mesmo bem ou serviço e na interação com demais agentes da cadeia produtiva, como clientes e fornecedores. Em uma

empresa verticalmente integrada cresce o investimento em pesquisa e desenvolvimento por haver facilidade de comunicação entre os estágios da produção.

Um ponto a ser destacado nessa teoria diz respeito ao papel das instituições. Elas são indutoras não só das inovações, mas, sobretudo da conduta dos agentes no sentido de aumentar suas capacidades e conhecimentos.

Em relação aos processos de aprendizagem desempenhadas dentro da firma, como o projeto, desenvolvimento e fabricação de um produto, Pondé (1993) destaca algumas características. A primeira relacionada a incerteza quanto aos resultados diante dos esforços de aprendizado, além do empenho despendido para chegar aos resultados. No decorrer do processo a interação entre os participantes envolvidos tende a se intensificar, acarretando intercambio de informações e conhecimentos, além de troca de experiências a fim de resolver problemas.

A segunda característica diz respeito a presença de conhecimentos tácitos envolvidos no processo de aprendizagem, ou seja, um conhecimento que não é facilmente transferível ou comercializável. A transferência desse tipo de conhecimento se dá através de relações interpessoais permanentes, as quais tendem a compartilhar experiências e capacidades, adquiridas com o tempo despendido para realizar determinada função ou atividade.

E finalmente a terceira característica, esta é apresentada durante a criação de novos produtos e processos, diante da qual está inserida um vasto conjunto de conhecimentos. Alguns deles requerem maior especialização, o que demanda maior experiência ou habilidade; além do fato de que o meio em que a empresa está inserida também precisa ser estudado, tal como os concorrentes, fornecedores e consumidores que estarão ligados ao produto desenvolvido.

Tais características apontam para as inovações como produto do processo de aprendizado, entretanto a eficácia no desenvolvimento destas inovações é resultado das relações sociais firmadas entre os envolvidos no processo de produção (PONDÉ,1993). É importante frisar que essa teia de relações é formada não só por indivíduos, mas também por firmas, organizações e grupos de indústrias.

Como lembra Santos (2006), a aquisição de conhecimento é um processo coletivo, depende das competências dos agentes econômicos, sobretudo, do aprendizado, modo pelo qual as capacidades se desenvolvem e se adaptam a dinâmica do meio que atuam.

Além de o aprendizado ter origem no aprender fazendo (learning by doing); no aprender usando (learning by using); outra importante fonte de aprendizado é aprender por meio da interação (learning by interacting) (SANTOS, 2006). Essa última forma faz referência à transmissão de conhecimentos e informações entre os agentes, para que o aprendizado inovativo se efetive é necessário que haja interações sistemáticas, de modo que alcancem o progresso da organização.

O contexto em que a empresa está inserida exerce influência sobre o aprendizado interativo. A respeito disso Pondé (1993, p. 103) afirma que:

Quando a tecnologia apresenta-se como a síntese ou a convergência de um amplo espectro de experiências, conjunto de informações com maior ou menor grau de formalização, qualificações, habilidades, capacitações, etc., o aprendizado ocorre a partir de um processo coletivo e interativo.

É importante que se tenham instituições para controlar os fluxos de conhecimentos, a fim de que os agentes possam se favorecer do aprendizado interativo. Tal aprendizado é resultado de dois tipos de interação, interno à firma que trata das relações entre agentes de uma mesma firma; e externo à firma, está ligado as relações entre fornecedores e clientes.

A economia do aprendizado expõe o desenvolvimento das capacitações dos agentes presentes na cadeia produtiva por meio do aprendizado interativo. Isso permite que os agentes compartilhem conhecimentos, habilidades e experiências de modo que toda a organização se beneficie com a transferência de conhecimento. Tal cenário pode resultar em inovações tecnológicas e consequentemente em ganhos de competitividade no arranjo cooperativo em que a empresa está inserida.

Outro autor que advoga sobre este assunto é Teece (1977, apud Pondé, 1993), ao afirmar que as fronteiras entre as firmas, resultado da distância geográfica entre elas, acarreta obstáculos ao fluxo de informações, problemas de cultura, além de provável diferença na língua e custo de transporte. O que pode demandar tempo de adaptação e elevados custos de transferência de conhecimento. Já no interior da empresa dificilmente se tem esse tipo de problema, dado que o fluxo de conhecimento e informação no interior da empresa ocorreria mais facilmente. Além do fato de que vários estágios da produção em uma mesma firma pode possibilitar um ambiente mais propício para o aprendizado e para inovações.