• Nenhum resultado encontrado

2 O OBJETO DA PESQUISA: A EXPERIÊNCIA DA CASA DO MENOR TRABALHADOR

2.1 O CONTEXTO DE NOSSA PESQUISA

A Escola Estadual Casa do Menor Trabalhador (CMT) situa-se na Rua Presidente José Bento nº 927 no Bairro do Alecrim, um dos mais populosos da cidade de Natal/RN e marcado pelo comércio popular. A instituição foi idealizada, em 1987, pela Irmã Lúcia Montenegro juntamente com Dom Nivaldo Monte e Dom Antonio Soares Costa, Bispos da Arquidiocese local e iniciadores da Pastoral do Menor, ano em que o tema da então Campanha da Fraternidade foi “Quem acolhe o menor, a mim acolhe”.

Ainda no ano de 1987, no dia 05 de outubro, a Casa foi inaugurada e no período a responsabilidade institucional foi entregue ao Serviço de Ação Urbana (SAUR) e à Pastoral do Menor da Igreja Católica.

A Casa do Menor Trabalhador atende a meninos e meninas da faixa etária compreendida entre cinco anos e seis meses até dezoito anos. Teve em 2007 aproximadamente 550 alunos matriculados, número que não é fechado em função da constante procura pela instituição, de modo que a coordenação pedagógica realiza cotidianamente contagens para verificar, por dia, o número de alunos que fizeram matrícula.

Esta ação se faz necessária pelo caráter filantrópico da instituição que recebe crianças de rua que a procuram. Outras, cujos pais vêm do interior do estado em busca de melhores condições de vida; pelos encaminhamentos de outras instituições escolares para a CMT solicitando que a Irmã Lúcia aceite crianças denominadas como “difíceis” e que já passaram por inúmeras escolas.

A escola caracteriza-se pela dependência administrativa ao sistema estadual, no que diz respeito às salas de aula do ensino regular e a parte de funcionamento de oficinas de trabalho e assistência aos educandos tem caráter filantrópico.

Na publicação do Diário Oficial do Estado de 03 de setembro de 1988, consta que a Casa do Menor Trabalhador de Natal funcionará sob administração da Secretaria de Educação do Estado, o que assegura as duas refeições diárias, responsabilidade do estado. A outra refeição dos estudantes, bem como, as demais atividades extracurriculares são viabilizadas por parcerias com empresas privadas que, ao longo dos anos de existência da CMT, vêm ajudando Irmã Lúcia a continuar oferecendo este tipo de serviço.

As ações concretas solicitadas pela Campanha da Fraternidade do ano de inauguração da Casa diziam respeito ao apoio necessário às crianças e adolescentes ou “menor abandonado”, como era mais denominado na época. As recomendações da referida Campanha impulsionaram um grupo de sessenta jovens da capela São Vicente de Paulo, no bairro de Dix-Sept Rosado, a recolherem donativos e doarem às pessoas pobres.

O mesmo grupo procurou Ir. Lúcia Montenegro para falar da preocupação com crianças de classe pobre. Ela então procurou se informar sobre pessoas que desenvolviam trabalhos nessa área e encontrou Ir. Hildegarda no bairro de Santos Reis. Depois de contactadas, essas pessoas passaram a se reunir na Catedral Metropolitana de Natal para discutir sobre a situação das crianças e adolescentes carentes de nossa cidade.

Com o interesse de fazer da idealização da Casa do Menor Trabalhador um espaço concreto, Ir. Lúcia foi em busca de um local para a construção da Casa, conseguindo um prédio no centro da cidade que seria cedido pela igreja, mas este não atendia às necessidades da Casa. Pelo intenso trabalho realizado pelas Irmãs Lúcia Montenegro e Hilda Saldanha, pertencentes à Congregação Filhas da Caridade, a Irmã Provincial Heloísa Maia fez doação de parte do terreno do Externato Dom Marcolino Dantas para a construção do prédio de apoio ao trabalho com meninos de rua, tendo ainda a ajuda de Dom Eugênio Sales que obteve verbas junto ao Governo Federal.

A Casa do Menor Trabalhador foi fundada com a ajuda voluntária de muitas pessoas preocupadas com a realidade social de marginalização das crianças de rua. Entre essas pessoas podemos destacar as duas coordenadoras administrativas Maria da Paz Silva e Wanja Barros as quais continuam trabalhando na Casa do Menor e perseveram no ideal de proporcionar maiores subsídios aos alunos para que eles lutem pela superação das dificuldades impostas pela sociedade na qual estão inseridas.

A instituição foi criada para atender aos meninos de rua, mas em virtude de Natal não possuir, na época, uma demanda expressiva, a instituição passou a receber alunos com histórias de vida marcadas por atos de infração e pela não aceitação de outras instituições. Verificamos que a procura maior pela Casa diz respeito às famílias dos segmentos mais pobres da população, que recorrem à CMT por sua característica peculiar de realizar uma associação entre educação e

trabalho, bem como horário integral e três refeições diárias, o que põe à mostra a situação socioeconômica das famílias que matriculam seus filhos na referida instituição.

Após a construção do prédio, o grupo de jovens passou a se reunir nos finais de semana na instituição, onde promoviam eventos esportivos, atividades culturais e catequese. Perceberam, ao longo dos encontros, a urgência de escolarização das crianças e adolescentes, pois era muito alto o nível de analfabetismo. Com isso, organizaram três turmas que totalizavam setenta alunos e iniciaram o processo de alfabetização.

Em pouco tempo foram surgindo as dificuldades. Entre elas, a alimentação e o material esportivo, aumentando a necessidade de mais verbas para dar continuidade ao trabalho. Contudo, diante da experiência exitosa na alfabetização dos alunos, logo a instituição passou a fazer parte da Organização Não Governamental AMENCAR (Amparo ao Menor Carente), ligada à Associação Brasileira de Organizações Não Governamentais, que aqui no Nordeste ajudava trinta e quatro instituições.

Depois da alfabetização, a instituição conseguiu junto ao estado, professores para lecionarem de 1ª à 4ª série do Ensino Fundamental sendo nesse momento, mais precisamente no ano de 1997, que ocorreu o processo de estadualização das aulas, continuando as oficinas de trabalho a serem mantidas pela ação de caráter filantrópico.

No Projeto Político-Pedagógico a CMT destaca como missão da escola:

Assegurar aos alunos um ensino dentro de uma visão voltada para o respeito ao indivíduo garantindo um trabalho comprometido e participativo para devolver um indivíduo criativo, capaz de desempenhar bem o exercício da vida profissional e os desafios do mundo moderno. (PPP, 2006, p. 3).

No Regimento Interno, cita-se a realização de avaliação interna. O documento mostra que a escola garante efetuá-la, de forma diagnosticada, contínua e mediadora tendo como principal objetivo favorecer ao corpo docente, discente e outras instâncias da comunidade escolar, uma análise crítica da prática pedagógica e permitir ao aluno o conhecimento de suas dificuldades, possibilidades e avanços.

Ainda no Regimento Interno – Título II Das finalidades e dos objetivos educacionais aponta-se:

Art. 3º - A Escola tem a finalidade de oferecer a Educação Básica no nível fundamental, inspirada nos princípios de liberdade e nos ideais de solidariedade humana.

Art. 4º - A Educação ministrada tem por finalidade desenvolver o educando assegurando-lhe a formação comum indispensável para o exercício da cidadania e fornecer-lhe meios para progredir no trabalho e em estudos posteriores. (Regimento Interno, 2004, p. 6).

Na exposição acerca de sua missão, a escola apresenta sua preocupação com a escolarização e transparece seu desejo em associá-la à formação para o mundo do trabalho. Assim, discutiremos a seguir um pouco desta realidade vivenciada na CMT quanto à formação proporcionada nas oficinas e o encaminhamento dos jovens ao mercado de trabalho.