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Questão 2: Em relação à imagem escolhida:

4 A EDUCAÇÃO ESCOLAR E O TRABALHO: UM DIÁLOGO POSSÍVEL?

4.2 O TRABALHO E A EDUCAÇÃO ESCOLAR

No que concerne ao trabalho realizado por todo trabalhador, verificamos um distanciamento entre o fazer e o conceber, levando à dominação. Ou talvez fosse melhor falarmos em manipulação pelo capital da mão-de-obra do trabalhador, e mais ainda, deixando-o debaixo do jugo do capital. Nesse sentido, há uma desqualificação do trabalho realizado, já que de forma alienada o trabalhador realiza

funções fragmentadas, gerando exacerbada mais-valia no menor espaço de tempo possível.

O capitalismo vive uma relação dilemática com a educação escolar. Ele precisa que as pessoas sejam educadas científica e tecnologicamente. Mas, por outro lado, para manter a mais-valia e o lucro, o mesmo capitalismo faz tudo que seja possível para “conter” os salários, mantendo-os o mais baixo possível. Daí um estado permanente de tensão.

Uma das classes de trabalhadores que mais sofre com a “lógica” supracitada é a dos professores. São importantes e necessários para o país, para o futuro, para a formação de trabalhadores e cidadãos. Mas são mantidos “a pão e água”, pelo menos nos países do chamado terceiro mundo. Temos então alguns aspectos onde características antônimas parecem conviver simultaneamente.

Mesmo que seja dito que a escolarização é o meio, o instrumento, pelo qual se obtém o progresso. Isto porque,

[...] a educação tem ainda efeito importante no próprio desenvolvimento do outro elemento da produtividade do trabalho: a geração da tecnologia. É no próprio seio do processo educativo que, através do desenvolvimento científico, se criam as condições necessárias ao aperfeiçoamento das técnicas, processos e instrumentos de produção (ROSSI,1980, p.51).

Nessa perspectiva, se por um lado, a escola é entendida como o lugar onde se busca o aperfeiçoamento, o conhecimento científico para conquistar-se um espaço e situar-se socialmente, por outro lado, vem se configurando como a instituição responsável por conformar os oprimidos e fazê-los aceitar incontestavelmente as estruturas sociais vigentes.

Logo, verificamos que:

A pedagogia do trabalho desempenha papel fundamental, na medida em que novas formas de organização do trabalho implicam nova concepção do trabalho, que, a partir das condições concretas do desenvolvimento, tem que ser elaborada e veiculada, ou seja, o fenômeno educativo faz a mediação entre a mudança estrutural e sua manifestação no campo político e ideológico (KUENZER, 1989, p. 55).

A escola, enquanto uma das esferas de capacitação para o trabalho, pode e deve atuar diretamente na busca pela construção de uma sociedade menos desigual

em seus diferentes aspectos (econômico, político, intelectual, cultural), propondo aos sujeitos envolvidos no processo de ensino-aprendizagem o repensar acerca das estruturas sociais vigentes. A educação escolar precisa refletir sobre o futuro da sociedade, a exploração no mundo do trabalho e sobre o mundo que desejamos para as próximas gerações.

Gostamos das liberdades (mesmo relativas) da sociedade capitalista, mas chegam a ser apavorantes as desigualdades sociais constantemente presenciadas. As oportunidades de acesso aos conhecimentos formais parecem refletir a estratificação socioeconômica das populações. Semelhantes às condições de vida de ricos e pobres, mantêm-se dois tipos de educação escolar: uma para os ricos e outra para os pobres.

Os saberes, os conhecimentos, os trabalhos, as oportunidades de ascensão social, as condições de subsistências parecem pedras próximas de um dominó. Há uma pergunta basilar: como deve ser a educação escolar para tentar garantir condições de pessoas entrarem e se manterem no mercado de trabalho, e, ao mesmo tempo, serem sujeitos da história, atores e cidadãos?

Por um lado, a educação pode viabilizar conhecimentos que proporcionem aos educandos a problematização acerca da lógica dos interesses da camada detentora dos meios de produção e a sociedade estratificada como um todo que se caracteriza por ter aqueles que criam a riqueza e um outro grupo que dela se beneficia.

Ao mesmo tempo muitos trabalhadores encontram-se concretamente num estado de alienação e já não utilizam os meios de produção para produzir valores de uso social que satisfaçam suas necessidades, mas dos donos dos meios de produção, ou seja, o trabalhador produz valores de troca que não lhe pertencem.

Aquilo que era uma finalidade básica do ser social – a busca de sua realização produtiva e reprodutiva no e pelo trabalho – transfigura-se e se transforma. O processo de trabalho se converte em meio de subsistência e a força de trabalho se torna, como tudo, uma mercadoria especial, cuja finalidade vem a ser a criação de novas mercadorias objetivando a valorização do capital (ANTUNES, 2005, p.69).

Revendo um pouco a história, constatamos que cada momento social capitalista vem impondo aos trabalhadores variadas qualificações que são exigidas socialmente em um dado período histórico.

Mas parecem existir duas evoluções diferentes: uma para os proprietários do capital e outra na vida dos trabalhadores. Como também parece mantermos uma educação dual: uma para dominantes e outra para dominados. De modo semelhante situamos a idéia do que poderíamos, na essência, chamar de progresso na ou para a humanidade, pois certamente dependerá da posição da pessoa na sociedade. Para uns, pode significar uma vida com mais facilidades. Para outros, a perda parcial ou total das funções que vinha exercendo.

O que o mundo veio assistindo nestes períodos é a articulação de novos processos de trabalho que atingem todos os setores da vida social. Nos dias atuais, no mundo do trabalho, já não é suficiente se falar em habilidades psicofísicas. Se faz necessário e urgente a transposição de procedimentos rígidos para os flexíveis. Com isso, muda-se também o perfil do trabalhador especializado para o “especializado flexível”, momento em que se dá a superação do taylorismo/fordismo pelo modelo toyotista, conforme constatamos a seguir:

Nessas condições o avanço tecnológico foi utilizado para alterar o padrão produtivo, introduzindo a acumulação flexível a qual substituiu o taylorismo-fordismo pelo toyotismo, com o que se deslocaram os mecanismos de controle para o interior das próprias empresas, secundarizando o papel dos sindicatos e do Estado (SAVIANI, 2002, p.21).