• Nenhum resultado encontrado

3.2.1 A equipe de produção em O Dia

A estrutura da equipe de trabalho no Dia não difere muita das demais empresas de informação. Há um quadro administrativo superior, composto pela figura dos diretores executivo e de produção, que efetivamente delibera as ações institucionais. Esse grupo restrito se localiza fisicamente num espaço delimitado por vidro de maneira que os diretores possam visualizar toda a equipe de trabalho e sejam por ela visualizados. A peculiaridade espacial do corpo diretivo motivou uma designação informal interna à empresa de aquário. Como dizem na própria redação: a última palavra no jornal é do aquário.

124

O acesso aos diretores na empresa é livre. Repórteres, fotógrafos, diagramadores etc. têm a possibilidade de consultarem a opinião do aquário sem restrições significativas, como ocorre em outras empresas. Isso, entretanto, não deve ser confundido com democratização na produção das matérias. O lugar enunciativo- discursivo alocado para os jornalistas deve ser analisado, e não pressuposto a partir desse dado. Essa questão será discutida na seção 4.1.3 do próximo capítulo. Por ora, detemo-nos na descrição do espaço de redação do jornal.

Antes de uma matéria chegar ao aquário, ela passa por um percurso que envolve múltiplos elementos. O plano de carreira do jornalista de redação é dividido em onze níveis: pauteiro; repórter trainee; repórter 1, 2 e 3; repórter especial 1, 2 e 3; redator; sub-editor e editor. Além do pessoal de redação, existem o departamento de pesquisa e as figuras do fotógrafo, do motorista, do diagramador. Todos esses são peças da engrenagem definida como Jornal O Dia, cuja marca dá acabamento estético ao enunciado impresso nas edições diárias. Os diferentes cargos com suas funções características moldam uma verdadeira linha de produção que organiza o produto final veiculado para o leitor.

A figura do pauteiro não é essencial para a produção de uma matéria, uma vez que o repórter pode seguir sua própria pauta. De qualquer maneira, um texto tem início na pauta, a partir da qual são feitas as apurações, pesquisas, levantamentos, investigações. Os repórteres especiais se diferenciam dos repórteres propriamente ditos pelo tempo de carreira, que é valorizado salarialmente e confere maiores possibilidades de atuação na empresa. Os repórteres especiais têm mais chances de desenvolverem, por exemplo, as reportagens especiais, cujas coordenadas mais detalhadas e elaboradas implicam maior refinamento na pesquisa, envolvendo, por vezes, viagens etc. Essa hierarquia não é evidente para o leitor, já que diz respeito exclusivamente ao funcionamento da redação, e não traz, necessariamente, uma implicação para o produto disponibilizado nas edições.

Trabalhando paralelamente com o pessoal de redação estão os fotógrafos, que capturam as imagens pertinentes à pauta; os diagramadores, que organizam a página do jornal, determinando o espaço para publicidade, texto verbal e imagem; e o motorista, que viabiliza o deslocamento da equipe.

125 A fragmentação da produção das matérias não se limita aos cargos. O jornal divide-se em editorias: de fotografia, de cidade, de política, de interior, de economia. O conjunto impresso nas páginas de uma edição é o resultado de atividades múltiplas coordenadas de diversos funcionários (indivíduos profissionais) e de diferentes editorias (grupos de trabalho).

Assim, podemos sintetizar as etapas de produção de uma reportagem a partir dos profissionais que atuam no processo. O texto nasce na pauta, que mobiliza motorista, fotógrafo, departamento de pesquisa e repórter(es). Feita a apuração de informações, o texto verbal passa pela vista do redator. Após o tratamento do diagramador, o sub-editor (da editoria correspondente) avalia a proposta de página já com texto verbo-visual. Por fim, o editor dá o parecer, consultando o aquário. Essas múltiplas personagens que elaboram o enunciado singular que circula na edição compõem a equipe de trabalho.

3.2.2 Os concursos

3.2.2.1 Grande Prêmio Ayrton Senna de Jornalismo

Segundo as informações disponibilizadas no sítio da instituição1, o Instituto Ayrton Senna (IAS, daqui por diante) é uma Organização Não-Governamental, fundada em 1994, a partir da preocupação da família Senna com o desenvolvimento integral de crianças e jovens vítimas das desigualdades e injustiças sociais. A ONG presidida por Viviane Senna tem, desde sua fundação, trabalhado com empresas, governos, instituições de ensino e outras ONGs na tentativa de garantir qualidade de vida às pessoas, o que inclui longevidade, acesso à educação e aos recursos econômicos. Assim, o IAS entende que o que uma pessoa se torna ao longo da vida é resultado das oportunidades que teve e das escolhas que fez. Além do acesso às oportunidades, as pessoas precisam ser preparadas para fazer escolhas.

Com esse compromisso assistencialista, o IAS desenvolveu algumas estratégias de mobilização social que visam, principalmente, a construção de conhecimento e tecnologias de ponta em desenvolvimento humano, para serem disponibilizados a outros atores sociais e, assim, a ampliar as oportunidades oferecidas às novas gerações. Dentre as estratégias, ressaltamos duas: o GP Ayrton Senna de Jornalismo e a Biblioteca

126

Instituto Ayrton Senna. Tanto uma quanto outra sinaliza a preocupação do IAS com a divulgação de conhecimento.

A Biblioteca IAS, criada em parceria com a editora Saraiva, busca disponibilizar a outros atores sociais conhecimento e práticas desenvolvidas ao longo de toda a atuação do IAS para que possam atuar na assistência a jovens e crianças menos favorecidas com tecnologias sociais de ponta. Percebemos, então, não uma mera preocupação assistencialista, mas um comprometimento com a divulgação de ações relevantes àquilo que o IAS entende por desenvolvimento humano.

O GP Ayrton Senna de Jornalismo lançado em 21 de março de 1997 tem o intuito de reconhecer e estimular repórteres, fotógrafos, editores de jornais, revistas, rádios e televisão, enfim, as equipes de reportagem a abordarem temas relevantes para o desenvolvimento humano infanto-juvenil. Entendemos que também esta estratégia prima pela divulgação de temas centrais para o IAS, o que aponta um traço marcante da instituição: a circulação de conhecimento que promova melhores oportunidades e poder de escolha para aqueles que sofrem com os desajustes sociais. Isso significa dizer que o IAS bem como o GP Ayrton Senna de Jornalismo sinalizam uma circunscrição ideológica voltada para emancipação de minorias sociais.

Esse prêmio foi anual desde seu lançamento e, a partir de 2004, passou a ser bienal, tendo sua oitava edição ocorrido em maio de 2006. Assim como outros concursos, conta com a avaliação de uma Comissão Julgadora formada por membros de diferentes organizações do jornalismo brasileiro (Aner, Abert, Fenaj e ANJ), representantes de veículos de comunicação e de organizações voltadas para o Desenvolvimento Humano de crianças e adolescentes, jornalistas de expressão nacional, além da presidente do IAS.

As categorias avaliadas na oitava edição do concurso, que premiou a série Crise

da Educação, são: destaque editor, destaque veículo, fotojornalismo, jornal, jornalismo econômico, jornalismo político, mídia jovem e infantil, rádio, revista e televisão.

3.2.2.2 Prêmio de Jornalismo IBCCRIM

De acordo com as informações disponibilizadas no sítio do Instituto2, fundado em 1992, o IBCCRIM também é uma Organização Não-Governamental sem fins

127 lucrativos. Voltado para a defesa dos direitos humanos, dos direitos das minorias e marginalizados e preocupado com os princípios do Estado Democrático de Direito, o Instituto apresenta um apelo ideológico bem marcado. A discussão das questões sociais e a denúncia das injustiças e desigualdades sinalizam um posicionamento político aparentemente não legitimador.

Assim como o IAS, o IBCCRIM tem preocupação com a divulgação de conhecimento que contribua para a qualidade de vida dos que são vítimas das desigualdades sociais. Dentre as várias estratégias do Instituto para atingir seu objetivo de garantir dignidade à pessoa humana por meio de um Direito Penal de intervenção mínima, destacamos a Biblioteca, os convênios científicos e o intercâmbio de publicações e o prêmio de jornalismo. Este, lançado em 2003 não tem sido mais realizado. Entretanto, tomamos a reportagem duplamente premiada em sua segunda edição, no ano de 2004.

O Prêmio IBCCRIM de Jornalismo visava prestigiar o trabalho dos jornalistas na apuração e divulgação de informações relevantes para a redução das injustiças sociais. O foco do prêmio eram especificamente reportagens da mídia impressa e eletrônica que tratassem de aspectos sociais relacionados à criminalidade e à defesa da cidadania, integridade do cidadão e defesa dos direitos humanos. As categorias avaliadas foram: telejornalismo, rádio-jornalismo, imprensa escrita, direitos humanos, fotografia e geral (incluindo todas as categorias). A série Nesta briga, o menor sai

ferido recebeu o prêmio da categoria de imprensa escrita e o geral. 3.2.2.3 Prêmio CNT de Jornalismo

A Confederação Nacional de Transportes (CNT), fundada em 1954, é uma entidade sindical, sem fins lucrativos. Uma confederação é uma associação sindical de grau superior que reúne pelo menos três federações; uma federação, por sua vez, é uma associação sindical que reúne ao menos cinco sindicatos representativos de atividades ou profissões idênticas, similares ou conexas. Já um sindicato é associação prevista na legislação brasileira para representação de categoria profissional ou econômica. A CNT, portanto, configura uma instituição sindical de grau máximo no Brasil no ramo de transportes e tem como objetivo, conforme as informações disponibilizadas no seu

128

próprio sítio3, promover o desenvolvimento e a defesa dos transportadores e do setor de transporte. Dentre suas várias atuações, destacamos o Prêmio CNT de Jornalismo.

Criado em 1994, o prêmio tem como meta reconhecer os trabalhos jornalísticos que destacam o papel fundamental do transporte no desenvolvimento econômico, social, político e cultural do Brasil e que versam sobre diferentes aspectos ligados ao tema e apontam tanto os problemas quanto as soluções para o setor de transportes.

Mais esta premiação privilegia a denúncia social e, portanto, também articula posicionamento ideológico bem marcado. Essa postura, entretanto, não desmerece o valor de trabalhos jornalísticos sérios, pelo contrário, vem referendar processos e produtos de subjetivação com uma abordagem responsável diante dos pontos de conflito da sociedade. As categorias premiadas na décima edição do concurso da CNT foram: mídia impressa, fotografia, televisão, rádio e mídia internet.