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Seguimos o seguinte percurso de análise:

I – leitura global dos textos para levantamento das categorias de análise. Numa primeira abordagem do objeto, as lentes teóricas orientam a escolha das categorias

3 Disponível em: http://www.cnt.org.br. Acesso em: 22 outubro 2005. 4 Disponível em: http://www.senado.gov.br. Acesso em: 26 fevereiro 2009. 5 Disponível em: http://www.jornalistas.org.br. Acesso em: 04 abril 2006. 6 Disponível em: http://www.fenaj.org.br. Acesso em: 04 abril 2006.

7 Disponível em: http://senna.globo.com/institutoayrtonsenna (Instituto Ayrton Senna);

http://www.ibccrim.org.br (Instituto Brasileiro de Ciências Criminais); http://www.cnt.org.br (Confederação Nacional de Transportes). Acesso em 18 e 22 outubro 2005.

129 discursivas de autoria e sujeitos enunciativos (cf. capítulo 2), que mobilizam diferentes formas materiais a serem identificadas no objeto, e não pré-estabelecidas pela teoria nem pelo método de análise;

A) Eixo do prescrito:

A.1) rastreamento das noções de responsabilidade e autoria na Lei de Imprensa em suas diferentes reformulações, desde o primeiro decreto baixado por D. Pedro I em 1823 até a lei nº 5.250/67, por meio da análise do contexto de produção das leis e da organização dos textos legais. Para verificar os movimentos discursivos na legislação, comparamos os seguintes elementos constituintes do enunciado jurídico: a natureza do texto – decreto ou lei – e sua redação – parte preliminar, normativa e final;

A.2) identificação das mesmas noções de responsabilidade e autoria no Código de Ética dos Jornalistas também a partir da análise do contexto de produção e divulgação e de sua disposição textual. As formulações deônticas configuram importante chave de percepção do modo como a classe desenha a responsabilidade profissional;

A.3) descrição das relações intersubjetivas empreendidas no Manual de

Redação O Dia e análise do lugar enunciativo-discursivo daqueles que compõem as matérias jornalísticas para ponderar sobre a possibilidade de assinatura discursiva dos enunciados veiculados pela empresa de informação. Identificamos as marcas verbo- visuais do locutor e do destinatário para descrever a maneira como a editoria compreende a autoria das matérias que veicula;

A.4) identificação da representação dos sujeitos enunciativos do texto jornalístico nas normas dos três concursos. Pontuamos as maneiras como os regulamentos revelam concepções de autoria e locutor e os modos como concebem o objeto jornalístico para analisar as relações intersubjetivas ali pré-figuradas.

B) Eixo do realizado:

B.1) identificação e descrição das marcas dos sujeitos enunciativos nas séries de reportagens. Procuramos os índices do locutor e do destinatário nas formas verbo- visuais, tais como as manifestações dêiticas, a composição fotojornalística, a organização de infográficos, articulação de títulos e sub-títulos, entre outros, e descrevemos o modo de construção do objeto enunciativo para interpretar sua implicação discursiva, isto é, identificamos o modo como o objeto é tratado no

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enunciado e analisamos a natureza de sua constituição como apenas falado ou também falante;

B.2) identificação e descrição da representação do objeto do discurso de cada série de reportagens, considerando o contexto de concurso e premiação, que envolve o de produção e publicação, a partir da análise do modo de apresentação das personagens envolvidas na trama narrativa das reportagens. Analisamos as escolhas lexicais e sintáticas para sua apresentação e descrição tanto no corpo da reportagem quanto nas legendas fotojornalísticas, o tipo de fotografia utilizada para mostrá-las e o modo de citar suas falas.

II – interpretação da relação entre os aspectos identificados no eixo do prescrito e no do realizado para demonstrar como os processos de subjetivação nas séries de reportagens se organizam e desenham o perfil editorial. As invariantes na maneira de construir o objeto enunciativo-discursivo nas diferentes situações de premiação apontam para a singularidade na gestão das tensões éticas da esfera jornalística que consolida a identidade da editoria como legitimadora, de resistência ou de projeto, de acordo com a adesão, rearranjo ou desacordo com o funcionamento cultural (cf. capítulo 1).

CAPÍTULO 04

Processos de subjetivação e autoria na reconfiguração identitária do jornal O Dia: tensões éticas da prescrição à premiação de reportagens

Para compreender, a partir de uma perspectiva ética, como os processos de subjetivação se organizam nos textos jornalísticos do jornal O Dia submetidos a concursos e premiados no momento em que a editoria buscava construir uma imagem institucional de seriedade, detalhamos o modo como entendemos a relação entre os processos de subjetivação e o funcionamento cultural no qual o jornalismo se constituiu e se desenvolveu como esfera discursiva e destacamos nossa concepção da produção jornalística como enunciado institucional. Neste capítulo, debruçamo-nos sobre as diferentes reformulações de textos prescritivos que constroem a tensão ética na imprensa e sobre as premiações de três séries de reportagens do jornal O Dia que compõem nosso corpus de análise a fim de responder à inquietação que orienta esta investigação.

Para dar conta da questão principal que motiva o estudo, retomamos o desdobramento sugerido como percurso de análise. Assim, responderemos:

a) Que espaços os textos prescritivos do trabalho jornalístico abrem para as posições enunciativas no meio impresso, dentro de uma esfera discursiva construída a partir da noção moderna de verdade em direção à objetivação? b) O que as marcas de posicionamentos enunciativos nas séries de reportagens

selecionadas revelam dos processos de subjetivação implicados nos enunciados da editoria que circulam nos concursos?

c) Quais os posicionamentos ideológicos referendados nas situações de premiação? Entendendo que tanto o eixo dos textos prescritivos quanto o das séries de reportagens constituem, a partir das tensões éticas que deflagram, a situação de

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enunciação institucional que investigamos, destacamos a questão da responsabilidade como elemento que marca o caráter ético inerente ao ponto aqui levantado. Assim, propomos duas etapas de discussão e análise do corpus. Na primeira, abordamos a construção da noção de responsabilidade nos textos jornalísticos ao longo do que se prescreveu para a imprensa em quatro planos:

1. a prescrição nos termos da lei no Brasil, desde o primeiro decreto de D. Pedro I em 1823 até a Lei nº 5.250/67, que ainda regia a imprensa na ocasião em que as séries aqui estudadas foram publicadas e premiadas;

2. a prescrição nos termos da classe profissional, com a criação do Código de Ética dos Jornalistas no Brasil em 1987;

3. a prescrição da editoria O Dia para o trabalho jornalístico com a elaboração de um manual de redação do jornal;

4. o trabalho jornalístico abordado a partir das regras dos três concursos em que as séries aqui analisadas foram premiadas.

Nesses quatro planos do eixo prescritivo do trabalho jornalístico, rastreamos especificamente aquilo que pré-figura a prática profissional, e não normatizações técnicas propriamente ditas. Abordar tais documentos como pré-figurativos possibilita identificar os lugares enunciativos reconhecidos na prescrição jornalística e os valores estruturantes das relações de alteridade nessa esfera. Além disso, as diferentes perspectivas da prescrição favorecem a descrição das fronteiras éticas próprias da imprensa. Assim, na primeira etapa de análise respondemos a questão a) destacada e apresentamos uma resposta parcial para a indagação c).

Na segunda etapa, focamos as três séries de reportagem na situação de premiação. Nesse contexto, as relações intersubjetivas entretecidas são rearranjadas de modo que aquilo que, na esfera de produção, configura o trabalho das equipes passa a ocupar o lugar e a função de objeto do discurso. O recorte de três diferentes situações de premiação permite rastrear os movimentos discursivos institucionais no processo de reconstrução identitária e identificar a tendência da editoria no modo de gerir as tensões éticas jornalísticas. Desse modo, demonstramos como o objeto enunciativo é construído nos textos inscritos e premiados nos concursos para responder à questão b) e complementar a resposta parcialmente apresentada à questão c).

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4.1 As responsabilidades prescritas para o jornalismo impresso e os