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Contexto religioso do Brasil Contemporâneo

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Com o processo de desencantamento e a secularização resultou uma transformação nas últimas décadas do campo religioso brasileiro. A pesquisa “Comportamento Sexual da População Brasileira e Percepções do HIV/Aids” realizada em todo o Brasil, em 1998, revelou que 26% da população mudou de religião.” 45

O contexto religioso atual mostra que ocorreu também a multiplicação das alternativas religiosas, que encontra sua expressão máxima entre os evangélicos,

45 Esta pesquisa, cuja representatividade da amostra foi de 3,600 indivíduos entre 16 a 65 anos, moradores das

áreas urbanas de 169, por 77.018.818 pessoas, foi realizada pela área de População e Sociedade do Cebrap para o Ministério da Saúde, sob a coordenação da Dra Elza Berquó. Seu objetivo principal foi identificar representações, comportamento, atitudes e práicas sexuais da população brasileira e conhecimento sobre HIV/Aids,com vistas a estabelecer estratégias de intervenções preventivas das DSTs e HIV”.(Coordenação Nacional de DST/Aids, 2000:11). No questionário do survey foram incluídas 7 perguntas(num total de 204) para compreender como as diferentes religiões influenciam o comportamento sexual. Esta pesquisa vale-se das perguntas sobre religião e as referentes às características sóco-econômicas da população para discutir outro problema: a intensa mobilidade das pessoas pelas religiões, que também foi constatada por outras pesquisas, mas em universos menores como o município de São Paulo (Prandi,1996), verificando a atual situação religiosa da população brasileira.

cuja fragmentação institucional é estrutural ao seu próprio movimento de expansão. Nesse processo feito por “multiplicações”, as denominações continuamente dão origem a novos grupos.46

Uma das tentativas de compreender esse fenômeno reduziu a diversidade religiosa à metáfora do mercado. Estaria subjacente a esse enquadramento do pluralismo a idéia de que a racionalização do sagrado no mundo moderno se realizaria pela transformação das crenças em mercadorias a serem consumidas pelos adeptos que desencantados com a religião, escolheriam os produtos segundo necessidades imediatas. A religião no Brasil passa por um período onde a circulação de pessoas pelas diversas instituições mostra o quanto a religiosidade brasileira modificou.

46 O dicionário de dados do censo Demográfico, que serve de orientação para o entrevistador do IBGE,

apresentava 9 alternativas para a questão sobre filiação religiosa, em 1980, e, em 1991, esse número pulou para 51. Estas 51 alternativas também foram utilizadas para classificar as respostas dos entrevistados da pesquisa sobre “ Comportamento sexual da População Brasileira e Percepções do HIV/Aids” e,

posteriormente, agregadas em sete grandes categorias que expressam as principais tradições religiosas no Brasil: católicos, protestantes históricos, pentecostais , afro-brasileiras, kardecistastas, outras e sem religião.

Tabela 1 - Distribuição dos indivíduos que mudaram de religião, por religião em

que foi criado segundo religião atual no Brasil em 1998

Esta tabela mostra a freqüência aos trabalhos religiosos apontando dados interessantes como que, dentre aqueles que se encontram na categoria sem religião, 30,7% freqüenta algum serviço religioso anualmente e 20,3 % mais de uma vez ao mês. Religiões não cristãs como as afro-brasileira demonstram que a frequência aos serviços religiosos é zero.

Tabela 2 - Distribuição dos indivíduos que mudaram de religião, por religião em

que foi criado segundo religião atual no Brasil em 1998

Verificando a Pesquisa sobre comportamento sexual e percepções da população brasileira sobre HIV/AIDS, nota-se que os católicos foram os que mais perderam fiéis em números absolutos nas últimas décadas. Contudo, apesar da volumosa perda, o catolicismo continua sendo o maior grupo religioso no Brasil com 67,4% da população, dividido equilibradamente entre os sexos, com maior concentração nas regiões norte/nordeste, e é mais confesso por pessoas acima de 41 anos e jovens abaixo de 25 anos. Em parte este último dado se explica pelo fato das pessoas herdarem a religião dos pais, e mudarem de religião quando mais velhas. O quadro geral, portanto, é de perda de católicos, tendo como base os dados censitários de 1980 a 1991. Os pentecostais constituem o segundo

maior segmento com 11,8% da população, e apresentam a maior taxa de crescimento conforme os dois últimos Censos Demográficos. O grande contingente é feminino. Do total de pentecostais 63,7% são mulheres.

No Brasil ocorre um crescente movimento de não identificação com nenhuma instituição, que muitas vezes é acompanhada de desqualificação da vida religiosa. Assim, não só proliferam as religiões como também os sem religião, que formam o terceiro maior grupo. Essa polaridade do campo religioso contribui para a discussão que ainda domina parte da sociologia da religião, ou seja, se esta mudança de configuração aponta para um “reencantamento do mundo” ou trata-se apenas de um ajuste da religião no processo de secularização no qual se encontra a sociedade brasileira pelo menos desde a separação da Igreja do Estado.47

Tabela 3 - Distribuição dos indivíduos que mudaram de religião, por religião em que foi criado segundo religião atual no Brasil em 1998.

47 Montero, P. & Almeida, R. “O campo religioso brasileiro no limiar do século: problemas e perspectivas” in

Tabela 4 - Distribuição dos indivíduos que mudaram de religião, por religião em que foi criado segundo religião atual no Brasil em 1998.

Em números absolutos, os católicos foram os que mais perderam fiéis. Em seguida vem os sem religião, protestantes históricos, pentecostais, e pouquíssimos Kardecistas e afro-brasileiros. Por outro lado, a ordem de quem mais recebeu pessoas é: pentecostais (quatro vezes mais que perdeu), sem religião (cerca de metade a mais), protestantes históricos (quase igual ao que perdeu), e poucos católicos, kardecistas e afro-brasileiros.

Se observarmos o censo demográfico realizado em 2000, o Brasil, país que já nasceu pluralista religiosamente, nota-se que a diversidade religiosa cresceu nas grandes cidades, como também, progressivamente, atingiu área de todo o país, que vive a situação de uma sociedade em grande mutação social e cultural, onde se acentua a influência de um modelo ideológico-social profundamente marcado pela cultura do individualismo, que está a mudar as mediações sociais cada vez mais centrada nas opções pessoais do que comunitária.48

A religião não possui força legitimadora em seus fiéis como mostra o Censo 2000, que indica que está ocorrendo um distanciamento entre o catolicismo nominal ou cultural e o catolicismo praticante. No Censo de 1991 eram 4,7% dos que se declaravam sem religião, no Censo de 2000, eram 7,3 %.

A religião detinha há séculos o direito de fornecer à maioria dos indivíduos uma visão de explicação do universo. Perplexos e angustiados pelas indagações que faziam à vida, os homens se voltavam para a religião buscando respostas. Na modernidade esse monopólio foi rompido, e o homem e sua razão passaram a representar os únicos referenciais possíveis. Na sociedade secularizada, o homem passou a buscar essa resposta em suas próprias emoções, no estilo de vida, no

misticismo, na intuição, no hedonismo ou em qualquer coisa que possa por um momento que seja, produzir respostas. Nesse contexto, a religião é apenas uma instituição a mais. E a pluralização age como força que reduz a fé às áreas privadas.

O encontro entre diferentes culturas ajudou a propagar crenças de um povo para o outro, gerando novas combinações e até outras religiões que hoje se espalham pelo mundo todo, formando uma nova consciência religiosa. “A crise de credibilidade na religião é uma das formas mais evidentes do efeito da secularização para o homem comum”49..

Com o aumento da pluralidade religiosa criou-se a idéia falsa de que a sociedade é hoje mais religiosa. É justamente na pluralidade religiosa que se vê que a religião perdeu a sua capacidade legitimadora. A pós-modernidade criou espaço para a multiplicidade da religião

O pluralismo religioso é típico das sociedades secularizadas. Nelas, diversas religiões podem coexistir porque a ordem social e política não precisam da religião para legitimar-se e fazer-se respeitar. Em outras sociedades, as não secularizadas, sós a religião estabelece a distinção entre o bem e o mal e por isso à ordem social.

Nas sociedades secularizadas, a pessoa pode ter ou não uma fé religiosa, pois isso é visto como uma questão de foro íntimo. É o que pensam os defensores do secularismo, que confina a religião à vida individual e não admite a validade de seus preceitos éticos. O termo pós-modernidade é freqüentemente utilizado para caracterizar um período histórico que surgiu com o Renascimento em contraponto

à Antiguidade. Modernidade não significa apenas um período que se seguiu à era medieval, surgido com o advento do Iluminismo. A pós-modernidade representa uma tentativa de criar uma totalidade social com base na razão e na ciência objetiva.

A pós-modernidade aconteceu em todas as esferas sociais, trazendo como conseqüências a secularização, privatização e a pluralização que alteram três pontos da sociedade: o convívio, as relações humanas e a percepção ética.

Embora os níveis de secularização diferenciem de uma sociedade para outra, não resta dúvida que a civilização ocidental atual já pode receber a designação de secular.

Com a emancipação das mentes após séculos de opressão religiosa, a sociedade secularizada já não é mais legitimada pela religião. Nessa sociedade secularizada o homem passou a acreditar que mereceria o maior número de produtos, criou-se então a mentalidade pluralista e consumista. Da mesma maneira necessita que as idéias, sistemas e religiões estejam ao seu inteiro dispor.

Na pós-modernidade a religião deixa de ser uma dimensão pública da vida e passa para a privada. As pessoas querem optar pela opção religiosa, sem ser importunada por opiniões contrárias. Numa sociedade pluralista a religião passa a ser uma instituição a mais entre tantas outras.

Os indivíduos se percebem mais como consumidores que exigem um produto cada vez melhor e que se adapte a suas necessidades ou desejos. Numa sociedade secularizada a religião perdeu o centro da sociedade. Se antigamente

legitimava as diversas atividades sociais, agora, cada tarefa social se justifica em si mesma.

4 ANÁLISE DO DOCUMENTO – ENSINO RELIGIOSO – O ENSINO RELIGIOSO NA ESCOLA PÚBLICA DO ESTADO DE SÃO PAULO

Este texto é apresentado em quatro cadernos diferentes, intitulado, “Ensino Religioso – O Ensino Religioso na Escola Pública do Estado de São Paulo” foi elaborado pela Secretaria de Estado de Educação e UNICAMP – Universidade Estadual de Campinas. Partindo do princípio de que a aquisição ininterrupta de conhecimento é um fator determinante para uma formação de excelência e para a criação de cidadãos conscientes e bem-sucedidos, e que o educador deve possibilitar aos aprendizes o alcance dos saberes fundamentais ao desenvolvimento de suas potencialidades e talentos, é que este texto foi elaborado com perspectivas da implantação do ensino religioso nas escolas públicas. Nesse sentido afirma Chalita “É essa educação a responsável direta por

nossa capacidade de discernimento e de escolha, essencial ao exercício do livre- arbítrio e da cidadania”.50

O texto trabalha a idéia que a inserção do ensino religioso no currículo da rede estadual tem importância indiscutível, pois proporcionará aos alunos uma visão histórica e social ampla e capacitando à reflexão e levando os alunos ao caminho do bem. Esta publicação teve o objetivo de oferecer informações que auxiliem os educadores a compreender a proposta do ensino religioso e suas numerosas possibilidades em sala de aula.

Gabriel Chalita, Secretário da Educação do Estado de São Paulo, faz o prefácio deste documento. Assim é necessário mostrar que Chalita possui um programa de televisão em formato de entrevista com duas horas de duração, às quartas-feiras, às 22 horas, na Rede de TV Canção Nova, canal 40 UHF, com sede em Cachoeira Paulista, interior de São Paulo. “ A canção Nova é uma comunidade católica que tem como objetivo principal a evangelização através dos meios de comunicação”.51 A programação da Rede Canção Nova, abrange

diferentes gêneros e formato. É importante destacar que Chalita, em seu programa fala como apresentador, mas é a figura do Secretário da Educação que a população vê. O programa trabalha assuntos diversos inclusive voltados à educação. No dia oito de outubro, liderado por Chalita, ocorreu o “I Educando com amor”, no centro de Evangelização Dom João Hipólito de Moraes, em Cachoeira Paulista. O próprio Chalita convocou mestres, professores, e todos interessados em educação para participar deste evento. O interessante é que este evento,

50 CHALITA Gabriel, in: Os ensinos religiosos na escola pública do estado de São Paulo V. 1, p. 5 51 CHALITA Gabriel. Disponível em http://www.canção nova.com. Aceso em 28 de outubro de 2005.

convoca educadores, mas possui base na religião católica. O encontro começou às oito horas e trinta minutos com uma oração conduzida por Luzia Santiago e Padre Jonas Abib. Neste evento Chalita fez uma pregação intitulada “Cinco qualidades do educador”, onde trabalha a sabedoria, a simplicidade, a perseverança, a ética e o amor como qualidades do verdadeiro educador. Chalita afirma: “O professor sábio é aquele que tem uma profunda ligação com a sabedoria. O educador não desiste nunca.” 52 Isto mostra que a educação no Brasil ainda é confundida com religião, mesmo pelo Secretário da Educação do Estado de São Paulo.

O texto estudado privilegiou a abordagem de diversos temas, tais como a função dos valores culturais e religiosos, as crenças, os mitos, os ritos, o monoteísmo, o politeísmo, o sagrado e o profano, as tradições, a ética e a diversidade religiosa como parte da cultura. Assim, a implantação do ensino religioso será um aliado na educação numa época repleta de desigualdade, de preconceito, de violência e de injustiça.

No documento Download/Open (páginas 55-66)