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Secularização e obrigatoriedade do Ensino Religioso no Brasil

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A secularização é um produto da modernidade. Ao romper com o mundo medieval, estabeleceram-se princípios não religiosos para explicação do mundo objetivo. A secularização é a tendência em afirmar que o mundo natural representa a totalidade da realidade e que o único conhecimento possível é o científico. Tudo se explica em leis de causa e efeito. A validade de um conhecimento é mensurada empiricamente. A secularização, como dissemos, descarta explicações teológicas da realidade, e projeta conclusões negativas sobre o futuro da religião.

Por secularização entendemos o processo pelo qual setores da sociedade e da cultura são subtraídos à dominação das instituições e símbolos religiosos, Quando falamos sobre a história ocidental moderna, a secularização manifesta-se na retirada das Igrejas cristãs de áreas que antes estavam sob seu controle e influência... quando falamos em cultura e símbolos, todavia afirmamos implicitamente que a secularização... afeta a totalidade da vida cultural e da ideação e pode ser observada no declínio dos conteúdos religiosos nas artes, na filosofia, na literatura, e sobre tudo, na ascensão da ciência, como uma perspectiva autônoma e inteiramente secular do mundo. Mais ainda, subtende-se aqui que a secularização também tem um lado subjetivo. Assim como há secularização da sociedade e da cultura, também há secularização da consciência. Isso significa, simplificando, que o Ocidente moderno tem produzido um número crescente de indivíduos que encaram o mundo e suas próprias vidas sem o recurso às interpretações religiosas. 27

Se durante um período Peter Berger sustentou e defendeu a teoria da secularização da cultura ocidental, em outro momento, escreveu sobre a sua

dessecularização28, Martelli também concebe a idéia de que na própria pós- modernidade acontece a dessecularização, ou seja, as explicações teológicas da realidade surgem revigoradas e amparadas pelo pensamento emergente, o religioso pós-moderno.

O ‘pós-moderno’ caracteriza-se pela ausência daquelas contraposições fortes, das quais a tese da secularização tomava vigor. Na ausência de fundamentos absolutos e com a transformação da própria idéia de verdade, o ‘pós-moderno’ não se apresenta, de fato, nem como a superação da modernidade, nem como oposição a ela, mas sim como a sua derivação e a sua dissolução. Em outras palavras, a sociedade ‘pós- moderna’ seria uma sociedade, ‘pós-secular’ na qual a ênfase no tema secularizante, finalmente deixada de lado, permite perceber numerosos fenômenos de dê secularização.29

No campo das Ciências Sociais há um debate acirrado a respeito se o que estamos vivendo trata-se de um novo período histórico ou se vivenciamos apenas a radicalização da modernidade. O nascimento da modernidade ocorre a partir do século XVII e caracteriza-se fundamentalmente por um rompimento com o mundo medieval.

A idade média fundamentava-se na tradição, especialmente na religiosa. À Igreja cabia decidir sobre as questões físicas e sociais. A modernidade, inaugurada pela renascença, ensinava que a realidade pode ser conhecida e transformada pelo uso da razão humana, sem a mediação do conhecimento religioso. A partir daí nasceu a ciência moderna e com ela a idéia de progresso.

28 _______________. “A dessecularização do mundo: uma visão global”. In Religião & Sociedade. volume

21 – nº I. Rio de Janeiro, CER/ISER, 2001.

29 MARTELLI, Stefano. A religião na sociedade pós- moderna. Entre a secularização e dessecularização.

Esse período ficou caracterizado pelo avanço da ciência e tecnologia; pela rápida urbanização e proliferação de informação cultural. O homem da pós-modernidade não anula a religião por completo, o que não significa que esteja disposto a submeter-se a todos os pressupostos religiosos.

Para compreender melhor o lugar da religião na vida pós-moderna, é preciso compreender o processo da secularização e o processo da pluralização. A secularização não implica no desaparecimento da religião, como alguns estudiosos chegaram a afirmar. Significa mudança na influência da religião na vida dos indivíduos. Segundo Peter Berger, “secularização é o processo pelo qual setores da sociedade e da cultura são subtraídos à dominação das instituições e símbolos religiosos”. 30

A religião, com o processo de secularização perde o poder sobre as escolas, a política e os demais setores da sociedade, restando como campo de

atuação apenas a esfera privada. “No mundo ‘despoetizado’,

‘desencantado’, pela razão instrumental, as paixões, as emoções, os sentidos, a imaginação, a intuição e os mitos se tornam inevitavelmente inimigos do pensamento” 31

O homem que antes pensava por meio da visão transcendental, agora pensa exclusivamente pela ciência e pela razão. “A religião também perde autoridade em relação aos valores sociais, pois deixa de ser sua produtora” 32. No mundo moderno e secularizado a religião não é mais o único aparelho de

30 BERGER, Peter Ludwig. O dossel Sagrado:elementos para uma sociologia da religião. P. 32 31 ARANHA, Maria Lúcia de Arruda. Filosofia da educação. P. 47.

32 BARRERA, Paulo Rivera. Tradição, transmissão e emoção religiosa sociologia do protestantismo

reprodução ideológica. A escola, a mídia, o Estado, também exercem a função de reproduzir o sistema social. A religião perdeu a capacidade, que sempre teve, de regular a sociedade.

Algumas sociedades são mais secularizadas do que outras. Embora os níveis de secularização diferenciem de uma sociedade para outra, não resta dúvida que a sociedade ocidental moderna já pode receber a designação de secular. Uma sociedade que já não explica tudo por fenômenos sobrenaturais pode ser considerada uma sociedade a caminho da secularização.

A pluralização é o segundo desafio apresentado pela pós-modernidade. A industrialização, e encontro entre diferentes culturas promovido pelos meios de comunicação, ajudaram a propagar e a diversificar tudo o que há nas sociedades. Na sociedade pluralista tudo tem que existir em diversas maneiras: vários canais de televisão, vários modelos de automóveis, e várias religiões. Com a Revolução Industrial, nasceu a sociedade industrial que visa oferecer o maior número de bens e produtos.

Com o processo da pluralização, a religião deixa de ser uma dimensão pública da vida e passa para a privada.

A ação racional desenvolve-se paralelamente à religião, mas chega a um limite no qual a racionalidade religiosa perde o sentido, sendo os fins alcançados por outros caminhos que não o religioso. A religião torna-se irracional, não desaparecendo, mas tornando-se privada.33

Com a secularização a grande característica da religiosidade atual é a oferta de religiões existentes. Nela, diversas religiões podem coexistir porque tanto

a ordem social quanto a política, não precisam da religião para legitimarem-se e fazerem-se respeitar.

Nas sociedades secularizadas e pluralistas o indivíduo tanto pode mudar de religião com muita facilidade, como simplesmente não ter religião. Com a grande oferta religiosa, os fiéis, já não possuem a mesma fidelidade que antes possuíam com a sua religião.

O pluralismo religioso atual não é prova de que a modernidade trouxe sociedade mais religiosa. Ao contrário, a pluralidade religiosa existente nos tempos modernos é indicadora de que a religião perdeu a força legitimadora. Hoje a sociedade é mais livre da influência religiosa. Nesse sentido Berger afirma que “A crise de credibilidade na religião é uma das formas mais evidentes do eleito da secularização para o homem comum.”34

Se no passado os fiéis permaneciam a vida toda em uma religião, hoje não existe mais ‘fiéis’. No mesmo espírito do consumo diversificado que nasceu após a industrialização, na atualidade, as pessoas trocam de religião com naturalidade por não serem mais controladas por elas.

O Brasil já é um país de diversidade religiosa. Cerca de um quarto da população adulta já experimentou o sentido da adesão a uma religião diferente daquela em que se nasceu, num contexto em que a religião se vai ajustando cada vez mais à idéia da escolha, da livre escolha que se faz frente a variadas necessidades e diversas possibilidades de tê-las atendidas.35

34 BERGER, Peter Luwig. O dossel sagrado. p. 139

O Brasil, que antes era um país onde o catolicismo possuía grande poder legitimador, hoje, com a pluralidade religiosa, isto já não ocorre.

O Catolicismo brasileiro atravessa um momento histórico de perda da hegemonia, ditada, sobretudo, pela modernidade, que não suprime o religioso, mas o transforma continuamente num processo de recomposição e perdas, onde homens e mulheres refazem seus sistemas de significações”36

O que se tem visto recentemente é, espantoso crescimento de religiões e fiéis, com seitas e cultos os mais variados que surgem por toda parte. O mundo moderno colaborou para que a religião perdesse a força legitimadora. Mesmo tendo perdido o poder legitimador, a religião não está no fim. O que ocorre é que na sociedade moderna o homem mudou a forma religiosa de agir.

A secularização e o pluralismo religioso não provocaram o desaparecimento da religião, apenas transformaram o papel que possui na vida dos indivíduos. No passado, se um fiel mudasse de religião, era como se fizesse uma ruptura social e cultural com sua própria história. Hoje, mudar de religião é algo natural e faz parte da sociedade, sendo que já não é mais visto como mudança difícil de realizar.

Muito se tem dito sobre a questão da obrigatoriedade do Ensino Religioso nas escolas públicas. Alguns até sem o conhecimento elementar da Nova Lei de Diretriz e Bases da Educação em seu artigo 33 – Lei nº 9.394 de 20 de dezembro de 1996 com redação pela Lei nº 9475, de 22 de julho de 1997 que legisla sobre este assunto no artigo 33 do seguinte modo:

36 JUNQUEIRA, Sérgio Rogério, Azevedo e ALVES, Luiz Alberto Souza. O ensino Religioso em um

O Ensino Religioso, de matrícula facultativa, é parte integrante da formação básica do cidadão e constitui disciplina dos horários normais das escolas públicas de ensino fundamental, assegurado o respeito à diversidade cultural religiosa do Brasil, vedadas quaisquer formas de proselitismo. 1º - Os sistemas de ensino regulamentarão os procedimentos para a definição dos conteúdos do ensino religioso e estabelecerão as normas para a habilitação e admissão dos professores. 2º - OS sistemas de ensino ouvirão entidade civil, constituída pelas diferentes denominações religiosas, para a definição do ensino religioso”.37

Esta Lei é bastante ampla e ambígua, deixando várias lacunas a serem preenchidas pelos Conselhos Estaduais de Ensino conforme realidade e vivência regionais, ficando para as Secretarias Estaduais de Educação e os Conselhos de Educação sua regulamentação. Contudo existe a possibilidade de o Projeto Político Pedagógico de cada unidade escolar adaptar tal legislação à sua realidade.

A seguir veremos algumas considerações importantes para compreender a obrigatoriedade do ensino religioso. A sociedade brasileira tem raízes na cultura judaico-cristã. Se seguirmos o caminho ideológico da nossa colonização, observaremos este fato. Quando Pedro Álvares Cabral chegou ao Brasil, trouxe para cá catolicismo de características medievais, ou seja, indulgente, inquisitório e intolerante.

Apesar de possuir fortes traços culturais cristãos, há atualmente no país crescente número de novas religiões de outras tradições. O ensino religioso nas escolas não é definido, segundo a Lei Federal, 9394 da L.D.B., se é ou não

cristão, e por isso mesmo o ensino religioso tem contexto bastante diversificado de atuação.

O pluralismo religioso é colocado como um direito expresso na primeira constituição e é um ideal manifesto pelas associações interconfessionais. Nem todos os grupos religiosos, entretanto, possuem o mesmo poder de intervir na definição de conteúdos e estratégias da disciplina do Ensino Religioso, hoje constituído como elemento curricular”.38

Se o Brasil é país que está a caminho da secularização e possui pluralismo religioso, como fica então a participação das religiões não reconhecidas pela Constituição Federal?

É preciso repensar a questão da obrigatoriedade do ensino religioso, a fim de garantir o direito de livre expressão de culto. O ensino religioso não pode ignorar as diferentes manifestações religiosas do Brasil. Fica a pergunta: é possível trabalhar o ensino religioso, com crianças, sem fazer proselitismo e respeitando as diferenças?

Outro ponto chave é sobre o profissional do ensino religioso. Quem é o profissional habilitado para lecionar o ensino religioso? Qualquer lei que venha regulamentar a habilitação e a admissão dos professores do ensino religioso precisa levar em consideração pelo menos dois itens que a seguir analisamos.

A qualificação do professor de ensino religioso. A Lei, Diretrizes e Base da educação brasileira exige que o profissional de ensino seja portador de diploma de

38 JUNQUEIRA, Sérgio Rogério Azevedo e ALVES, Luiz Alberto Souza Alves. O ensino religioso em um

nível superior, mas como aplicar isto se a maioria dos cursos de Teologia, por exemplo, não são reconhecidos pelo Ministério da Educação e Cultura? Fora isso, os cursos de Teologia formam bacharéis e para formação do docente de ensino religioso precisaria haver uma reformulação curricular, onde ofereça as disciplinas de Licenciatura Plena para o exercício do magistério. Já os cursos de Pedagogia ou Filosofia, não qualificam o profissional para lecionar nos padrões esperados.

A seleção do professor do ensino religioso precisa ser criteriosa. Mas qual é o critério utilizado se não há formação específica para este profissional? E ainda, qual a religião que deverá ter este professor? Ou ele não pode ter religião?

A lei 9394 indica caminhos para que o ensino religioso seja ministrado por voluntários, por se tratar de disciplina não obrigatória e com matrícula facultativa. Será possível ensinar religião, como voluntário sem que se esteja fazendo proselitismo?

Fora estas questões a separação entre Estado e Igreja está configurada no artigo 19 da Constituição Federal, da seguinte maneira:

É vedado à União, aos Estados, ao Distrito Federal e os municípios; estabelecer cultos religiosos ou igrejas subvencioná-los, embaraçar- lhes o funcionamento ou manter com eles ou suas representantes relações de dependência ou aliança ressalvada, na forma da lei, a colaboração de interesse público”. 39

Como entender a obrigatoriedade do ensino religioso nas escolas públicas? A obrigatoriedade do ensino religioso nas escolas públicas é iniciativa que pode possuir implicações sociais importantes.

O objetivo final da educação é o desenvolvimento pleno do sujeito humano na sociedade. É aí que o ensino religioso fundamenta a sua natureza: para formar a indivíduo integral, é preciso desenvolver a sua religiosidade.

O Estado a quem se confia a educação da maior parte da sociedade reconhece a necessidade de uma educação religiosa, sem, no entanto, dizer como realizá-lo. Se vivemos em sociedade secularizada e pluralista, onde o Estado não interfere na vida religiosa do indivíduo, justifica-se a obrigatoriedade do ensino religioso nas escolas públicas?

A idéia de que o ensino religioso vem para suprir a necessidade de educação global e integral é boa. Toda sociedade possui um ethos cultural que lhe confere caráter todo particular e fundamenta a sua organização, seja ela social, religiosa etc. A partir da compreensão do ethos é que se contribui para as novas gerações, por isso a ideia de que o conhecimento religioso esteja à disposição na escola.

O ensino religioso pelo que propõe a L.D.B., não é para ser experiência de fé, mas forma de levar o indivíduo a buscar e conhecer àquilo que é transcendente.

O Ensino Religioso ocupa-se com a educação integral do ser humano, com seus valores e suas aspirações mais profundas. Quer cultivar no ser humano as razões mais íntimas e transcendentais, fortalecendo nele o caráter de cidadão, oferecendo critérios para a

segurança de seus juízos e aprofundando as motivações para a autêntica cidadania”.40

Tudo isto, mostra a necessidade e a seriedade para orientar a formação de profissional qualificado para promover este ideal de ensino religioso. Mas se o Estado não prepara o profissional e não dá suporte didático pedagógico para a promoção desta disciplina, podemos dizer que há algo por trás desta obrigatoriedade.

Se por meio da educação transmitem-se valores que ajustam o sujeito a viver e conviver em sociedade, a escola é um aparelho que reproduz a ideologia existente no sistema.

Para Bourdieu e Passeron, 41a escola serve como um mecanismo legitimador das desigualdades sociais. A sociedade capitalista é marcada por profundas desigualdades, onde os grupos beneficiados com as posições privilegiadas naturalmente têm interesse de manter o status quo como é, para isso fazem a sociedade se reproduzir como ela é. Por meio da educação escolar a ideologia dominante é imposta aos dominados.

Louis Althusser42 caracteriza os aparelhos ideológicos de Estado como instituições distintas e especializadas que em suas linguagens específicas, materializam a ideologia dominante. Althusser destaca o papel ideológico do Aparelho Ideológico Escolar afirmando que é pela aprendizagem de alguns

40 BRASIL, Lei nº 9.394/96, estabelece as diretrizes da educação nacional. Brasília: Diário Oficial da União,

20 de dezembro de 1997, seção I.

41 BORDIEU, Pierre e PASSERON, Jean Claude, A reprodução: elementos para uma teoria do sistema de

ensino, Rio de Janeiro, 1982.

saberes, contidos na inculcação maciça da ideologia da classe dominante que, em grande parte, são reproduzidas as relações de produção de uma formação capitalista. A escola é instrumento que vem sendo utilizado ao longo da história como instrumento de manutenção da ordem existente. A religião, tal qual a educação é aparelho reprodutor do sistema social, sendo órgão que reproduz a ideologia oficial. Beger mostra que:

o objetivo essencial de toda as formas de legitimação pode, assim, ser descrito como manutenção da realidade, tanto ao nível objetivo como subjetivo... A religião legitima de modo eficaz porque relaciona com a realidade suprema as precárias construções da realidade erguida pelas sociedades empíricas”.43

Dessa forma, podemos concluir que o ensino religioso enquanto disciplina obrigatória nas escolas públicas vem para ser mais um instrumento de manutenção da ordem social estabelecida. Sendo a educação e a religião fortes aparelhos ideológicos de Estado, como propõe Althusser a união da religião com a educação possuirá uma força maior de coagir a fim de manter a ordem social e reproduzi-la. No Brasil, O conteúdo transmitido nas escolas é aquele que interessa à perpetuação da hegemonia cultural da classe média e alta: a realidade do branco, urbano e bem-sucedido é passada como exemplo natural de sucesso.

Nesse contexto, o Ensino Religioso deveria oferecer formas de pensamento que libertasse o indivíduo da ideologia dominante, porém vem para somar e objetivar a manutenção da ordem vigente. O ensino religioso tem a função social de transmissão de valores, compatíveis com o modo de produção capitalista e industrial.

Como já foi visto, hoje vivemos o período chamado de pós-moderno que é secularizado e pluralista. O Contexto secularizado não é contexto sem religião. A sociedade secularizada é uma sociedade onde o papel que a religião exercia no indivíduo e no grupo já não é mais o mesmo. Se antes a religião determinava e legitimava a sociedade, hoje ela não mais exerce a mesma influência. A religião possui apenas influência no privado e perdeu a esfera pública.

O pluralismo religioso existente nas sociedades secularizadas não é prova de que a modernidade trouxe uma sociedade mais religiosa. Ao contrário, a pluralidade existente mostra que hoje a religião não possui mais ela força legitimadora. O Brasil é país que possuí pluralidade religiosa muito grande. Não há religião oficial brasileira, ao contrário, o cidadão brasileiro tem o direito de pertencer a qualquer religião. Sendo assim, por que a obrigatoriedade do ensino religioso nas escolas públicas?

A escola transmite o conteúdo de maneira a legitimar a hegemonia das classes dominante. O ensino religioso será mais uma forma utilizada para a manutenção da ordem social. Ao utilizar-se da religião, a escola terá maior força legitimadora.

A sociedade configura-se em estrutura estabelecida que trabalhe para ser perpetuada. Com a necessidade de manter esta estrutura, Peter Berger diz que a religião aparece como expressão óbvia da “natureza das coisas”44 uma vez que entre outras, contribui para a manutenção da ordem.

Ao lado da religião, está a educação como fenômeno que afirma e reafirma a estrutura social determinada. Trabalhando o patrimônio cultural da sociedade, as

crenças, as idéias, os usos e costumes, a educação indica como e o que fazer, não admitindo desvios em relação às normas a serem observadas pelo indivíduo no mundo social.

A educação e a religião são vinculadas a todos os segmentos da sociedade assim pode-se dizer que elas tanto estruturam como são estruturadas pelos processos sociais. A educação aliada à religião promoverá a cultura como produto da classe dominante, por meio da obrigatoriedade do ensino religioso e assim colaborar para reproduzir as relações de classe, de poder, de distribuição do capital cultural e econômico.

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