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(1)UNIVERSIDADE METODISTA DE SÃO PAULO DIRETORIA DE PÓS GRADUAÇÃO E PESQUISA MESTRADO EM CIÊNCIAS DA RELIGIÃO. Cybelle Pardo Andrade Amaral Gomes. A religião na educação pública brasileira: O papel do ensino religioso no estado de São Paulo. São Bernardo do Campo 2005.

(2) 2 UNIVERSIDADE METODISTA DE SÃO PAULO DIRETORIA DE PÓS GRADUAÇÃO E PESQUISA MESTRADO EM CIÊNCIAS DA RELIGIÃO. A religião na educação pública brasileira: O papel do ensino religioso no Estado de São Paulo. Autora: Cybelle Pardo Andrade Amaral Gomes. Dissertação apresentada em cumprimento parcial às exigências do curso de PósGraduação em Ciências da Religião para obtenção do grau de Mestre. Orientador: Prof. Dr. Dario Paulo Barrera. São Bernardo do Campo 2005.

(3) 3. Ficha Catalográfica G586r. Gomes, Cybelle Pardo Andrade Amaral A religião na educação pública brasileira: o papel do ensino religioso no Estado de São Paulo / Cybelle Pardo Andrade Amaral Gomes -- São Bernardo do Campo, 2005. 96 p. Dissertação (Mestrado em Ciências da Religião) -- Diretoria de Pós-Graduação e Pesquisa, Programa de Pós-Graduação em Ciências da Religião da Universidade Metodista de São Paulo, São Bernardo do Campo. Bibliografia Orientação de: Dario Paulo Barrera. 1. Educação religiosa. 2. Ensino religioso 3. Ensino religioso - Escolas públicas. 4. Educação pública. I. Título CDD 268.

(4) 4 A dissertação de mestrado intitulada: “A RELIGIÃO NA EDUCAÇÃO PUBLICA BRASILEIRA: O PAPEL DO ENSINO RELIGIOSO NO ESTADO DE SÃO PAULO”, elaborada por CYBELLE PARDO ANDRADE AMARAL GOMES , foi apresentada e aprovada em 01 de Dezembro de 2005 , perante banca examinadora. composta. por. Prof.. Dr.. Dario. Paulo. Barrera. (Presidente/UMESP), Prof. Dr. Leonildo Campos (Titular/UMESP) e Prof. Dr. Silas Guerreiro (Titular/Puc/SP). __________________________________________ Profº. Dr. Dario Paulo Barrera Orientador e Presidente da Banca Examinadora ________________________________________ Profº. Dr. Lauri Emilio Wirth Coordenador do Programa de Pós-Graduação. Programa: Pós-Graduação em Ciências da Religião Área de Concentração: Ciências Sociais e Religião Linha de Pesquisa: Educação e Religião..

(5) 5. DEDICATÓRIA. “À minha mãe Otilia Pardo Amaral (in memoriam), que me trouxe à vida e me ensinou a ser forte e persistente nas adversidades da vida. Foi sua força e coragem que me inspiraram a nunca desistir.” “Ao meu filho Pedro Pardo Amaral Gomes, cuja vida me deu esperança e força para não temer e superar os obstáculos da vida. Sem ele, eu nada seria.”.

(6) 6. AGRADECIMENTO. À Deus, pelo sustento diário. A meu orientador Professor Doutor Paulo Barrera Rivera, pela competência na orientação prestada, disponibilidade e apoio na elaboração desse trabalho. Ao meu pai, Misael Ridaut Amaral que sempre incentivou meu progresso. Aos meus irmãos Cynthia Pardo Andrade Amaral e Misael Ridaut Amaral Filho, pela força e carinho que sempre me prestaram ao longo de minha vida..

(7) 7. “A religião não é somente um sistema de ideias, ela é antes de tudo um sistema de forças” Émile Durkheim.

(8) 8. RESUMO. A religião influenciou e esteve intimamente ligada com o processo educativo no decorrer de toda a história da educação brasileira. O Ensino Religioso é instituído obrigatório nas escolas públicas brasileiras. Sendo o Brasil um país secular e pluralista, onde há diversidade religiosa em todos os setores da sociedade, inclusive na educação, a obrigatoriedade do ensino religioso nas escolas públicas viola a laicidade do estado e contraria a Lei e Diretrizes e Bases da Educação (LDB). O contexto religioso brasileiro atual mostra que ocorreu significativa mudança no quadro da religiosidade. No estado de São Paulo, a Secretaria de Estado de Educação e UNICAMP – Universidade Estadual de Campinas elaborou um documento para orientar as secretarias de educação municipais. Tal documento defende a importância da disciplina Ensino Religioso, e argumenta que auxiliará o educando no desenvolvimento do pleno exercício da cidadania. O documento contempla temas como valores culturais, pluralidade cultural, religiosidade e ética, mas mostra-se contraditório e falho na abordagem desses assuntos. Essa pesquisa discute o lugar do Ensino Religioso nas escolas públicas de São Paulo, a fim de compreender como a religião influencia diretamente a sociedade secular brasileira. Palavras – Chave: Educação. Religião. Ensino Religioso.

(9) 9. ABSTRACT. The religion influenced and has been intimately connected to the educational progress throughout the history of Brazil education. Religious Education is compulsory in Brazil public schools. It being a secular and pluralistic country, where there is religious diversity in every sector of society, including in education, obligatoriness of religious education in the public schools violate the laicicity of the State and contrary the Law and Guidelines and Bases of Education (LDB). The Brazilian religious context shows that the religiosity board significantly changed. In the State of São Paulo, the Secretary of Education of the State and UNICAMP Public Campinas University elaborated a document to guide the secretaries of municipal education. Such a document defends the importance of the Religious Education discipline, and argues that it will help the student in the developing of the exercising of citizenship. The document contemplates themes such as cultural values, cultural plurarity, and religiousness but shows itself contradictory and flawed in the approaching of these subjects. This research discuss the place of Religious Education in public schools of São Paulo, in order to comprehend how the religion influences directly the secular Brazilian society Key Words: Education. Religion. Religious Education.

(10) 10. SUMÁRIO 1 INTRODUÇÃO ............................................................................................................... 11 2 EDUCAÇÃO E ENSINO RELIGIOSO, MARCO JURÍDICO E CONTEXTO SÓCIO CULTURAL .......................................................................................................... 16 2.1 Origem e desenvolvimento do ensino religioso no brasil............................................... 16 2.2 Análise da visão Durkeimeiana da função da educação ................................................. 26 2.4 A Lei, Diretrizes e Base da Educação, a proposta dos Parâmetros Curricular Nacional, a constituição brasileira e o Ensino Religioso ......................................................................... 29 3 A RELIGIÃO NO BRASIL SECULAR E PLURALISTA ......................................... 35 3.1 Desencantamento, secularização e pluralismo religioso .............................................. 35 3.2 Secularização e obrigatoriedade do Ensino Religioso no Brasil .................................... 42 3.3 Contexto religioso do Brasil Contemporâneo ....................................................... 55 4 ANÁLISE DO DOCUMENTO – ENSINO RELIGIOSO – O ENSINO RELIGIOSO NA ESCOLA PÚBLICA DO ESTADO DE SÃO PAULO ............................................. 64 4.1 Diversidade religiosa como parte da cultura ................................................................. 66 4. 2 A análise dos textos sagrados ....................................................................................... 71 4. 3 O pluralismo religioso cristão........................................................................................ 74 4.4 A tolerância como prática ativa e afirmativa ................................................................. 80 5 CONCLUSÃO.................................................................................................................. 86 REFERENCIAS ................................................................................................................. 93.

(11) 11. 1 INTRODUÇÃO. A religião, no decorrer de toda a história da educação brasileira, influenciou e esteve ligada com o processo educativo. A história do Brasil no século XVI não pode ser desvinculada dos acontecimentos da Europa, pois a colonização resultou da necessidade de expansão comercial da burguesia enriquecida com a Revolução Comercial. No contexto do Brasil colônia, a educação não foi meta prioritária, já que não havia necessidade de formação especial para o desempenho de funções na agricultura. Apesar disso, as metrópoles européias enviavam religiosos para o trabalho missionário e pedagógico, com a finalidade principal de converter os nativos ao catolicismo, bem como impedir que os colonos se desviassem da fé católica. Durante séculos a Igreja Católica deteve o poder legitimador na sociedade brasileira valendo-se inclusive da educação para legitimar seus princípios. No contexto. atual. vivemos. um. período. conhecido. como. Pós-modernidade. caracterizado pelo processo de secularização o qual é caracterizado pela perda de hegemonia da religião. Pode-se afirmar que a secularização não se caracteriza pelo desaparecimento da religião, mas sim na mudança de sua função social na sociedade brasileira. Neste contexto marcado pela secularização encontramos um aumento significativo de instituições religiosas, porém com maior índice de infidelidade de seus fiéis. Com a secularização a conversão do indivíduo para outra religião tornou-se uma situação socialmente aceita. Outro processo que caracteriza a pós-modernidade é o da pluralização religiosa, onde a grande oferta de novas religiões e sua aceitação, permitiu a descentralização do poder legitimador do Estado para o privado. Sendo o cidadão brasileiro livre para decidir qual educação religiosa deseja seguir..

(12) 12. O Catolicismo brasileiro atravessa um momento histórico de perda da hegemonia, ditada, sobretudo, pela modernidade, que não suprime o religioso, mas o transforma continuamente num processo de recomposição e perdas, onde homens e mulheres refazem seus sistemas de significações1 O que se tem visto recentemente é, o crescimento de religiões e fiéis, com seitas e cultos os mais variados, que surgem em toda a sociedade brasileira. O mundo moderno colaborou para que a religião perdesse a força legitimadora. Mesmo tendo perdido o poder legitimador, a religião não está no fim, apenas mudou a forma social e legitimadora dentro do contexto histórico em que existe. A secularização e o pluralismo religioso, temas que serão discutidos neste trabalho, não provocou o desaparecimento da religião, apenas transformou o papel que possui na vida dos indivíduos. No passado, se um fiel mudasse de religião, era como se fizesse uma ruptura social e cultural com sua própria história. Hoje, mudar de religião é algo natural e faz parte da sociedade, sendo que já não é mais visto como mudança difícil de realizar. O Estado, responsável pela maior parte da Educação da sociedade exige nas escolas seculares pública o ensino religioso, sem, no entanto, dizer como realizálo. A nova Lei de Diretrizes e Bases da Educação em seu artigo 33 – Lei n.º 9.394 de 20 de dezembro de 1996 com redação dada pela Lei 9.475, de 22 de julho de 1997 que legisla sobre o Ensino Religioso nas Escolas afirmam: Art. 33º - O ensino Religioso, de matrícula facultativa, é parte integrante da formação básica de cidadão e constitui disciplina dos horários normais das escolas públicas de ensino fundamental, assegurado o respeito à diversidade cultural religiosa do Brasil, vedadas quaisquer formas de proselitismo. & 1º - Os sistemas de ensino regulamentarão os procedimentos para a definição dos conteúdos do ensino religioso e estabelecerão as normas para a 1 JUNQUEIRA, Sérgio Rogério Azevedo e ALVES, Luiz Alberto Sousa. O Ensino Religioso em um contexto pluralista. In - Estudos de religião. Ano XVII, nº 25 p. 69.

(13) 13 habilitação e admissão dos professores. & 2º Os sistemas de ensino ouvirão entidade civil constituída pelas diferentes denominações religiosas para a definição do Ensino Religioso.. Na perspectiva da sociologia de Durkeim, a educação é o meio pelo qual as crianças são educadas para a vida em sociedade.. Segundo sua teoria a. sociologia determinaria os fins da educação, pois é o meio pelo qual ela prepara, no íntimo das crianças, as condições essenciais da própria existência. Pela educação forma-se cidadão adequado ao seu contexto. A educação escolar é uma das responsáveis pela inculcação da ideologia dominante em todos os sujeitos das sociedades humanas e, conseqüentemente, pela reprodução das relações de exploração que caracterizam estas sociedades. Esta educação é instrumento de reprodução das relações da força vigente na sociedade. Ela permite a reprodução da cultura dominante, em suas relações reais. A obrigatoriedade do ensino religioso nas escolas públicas é uma iniciativa que vem colaborar com a manutenção da ordem social. Sendo ainda ato inconstitucional, pois transfere os recursos e a legitimidade do estado para a religião. Promover o ensino religioso mesmo de ordem não confessional, com professores da rede pública viola a laicidade do estado e ainda contraria o artigo da Lei e Diretrizes e Bases da Educação, que estabelece que o ensino religioso deve ser oferecido “sem ônus para os cofres públicos”. Quando se promove a religião e seus valores, o que se faz na verdade é privilegiar os indivíduos religiosos e suas concepções e discriminar todos os demais. Ao obrigar o ensino religioso nas escolas públicas estaria ferindo o artigo 19 da Carta Magna, que veta que o Estado subvencione a religião que se criem distinções ou preferência entre brasileiros. E, ao favorecer a religião sobre o secularismo, estaria infringindo o artigo cinco da Constituição, privando os secularistas, em função de suas convicções, dos mesmos direitos que os religiosos..

(14) 14 A problemática dessa situação é se todas as religiões terão liberdade para ensinar seus próprios credos? Ainda há o problema de escolher os representantes de cada credo. Dentro de uma mesma religião existem diferentes facções, por exemplo, os religiosos que se dizem católicos, mas que não seguem os preceitos do Vaticano, terão o mesmo direito à voz que seus colegas mais ortodoxos? E o que fazer quando o grupo não possui hierarquia formal? Serão admitidos também o “satanismo”, “religiões pagãs” e as que pregam o abandono da família, o consumo de drogas ou o sexo livre? Negar acesso a qualquer uma dessas correntes também seria inconstitucional, mas a variedade de crenças e descrenças quanto à escolha das religiões e filosofias não religiosas aponta que a inclusão total seja impossível. Portanto, como será feita e a quem caberá o poder de decisão que seriam aceitas ou não pelo ensino religioso? É inevitável a exclusão ou a predominância de algumas delas. O fato de que se institua o ensino religioso da primeira à quarta série do ensino fundamental deixa em dúvida que a orientação desejada seja tão democrática quanto se quer fazer crer. O tema exige larga reflexão e considerável maturidade em níveis bastante além do que se pode esperar de crianças de sete a onze anos. Dispersá-lo em outros conteúdos aparentemente abranda o problema, mas na verdade esse expediente avança sobre a determinação constitucional de matrícula facultativa. Mesmo quando a matrícula for efetivamente facultativa, é preciso considerar que professores e colegas exercem forte poder de persuasão sobre qualquer ser humano, especialmente em jovens alunos do ensino fundamental. Discriminação, zombaria, pressão tácita ou explícita, desejo de não ser diferente, todos esses fatores podem com facilidade coagir os alunos a fazerem escolhas que não estejam de acordo com suas inclinações, distorcendo violentamente qualquer nobre ideal eventualmente contido na proposta do ensino religioso. Frente a esta problemática apresentada esta pesquisa observará as complicações da Lei na sua aplicação. Para isso, num primeiro momento será estudada a lei, a constituição brasileira e a Lei e Diretrizes e Base da Educação Brasileira. Neste capítulo abordaremos como o caminhar da educação brasileira.

(15) 15 levou à obrigatoriedade do ensino religioso nas escolas. Analisaremos ainda o conceito de educação em Durkheim, a Lei e Diretrizes e Base da Educação Brasileira e as propostas dos Parâmetros Curricular Nacional. Num primeiro momento, a idéia deste trabalho era estudar as implicações sociais da obrigatoriedade do Ensino Religioso nas escolas públicas de São Paulo. Com as pesquisas realizadas nestas escolas verificou-se que a falta de orientação sobre como trabalhar o Ensino Religioso, ficou constatado que seria difícil fazer essa análise. Assim, surgiu a necessidade de estudar o contexto e analisar o documento feito pela Secretaria da Educação para orientar as Diretorias de Ensino sobre o Ensino Religioso. No segundo capítulo, este trabalho fará uma análise do atual contexto nacional em que está inserida, observando a contradição entre a obrigatoriedade do ensino religioso em um país secular e pluralista. Através da análise da pesquisa “Comportamento Sexual da População Brasileira e Percepções do Hiv/Aids” realizada em todo o Brasil, em 1998, que revela a realidade atual da religiosidade brasileira, faremos uma abordagem sobre como se encontra essa religiosidade. Por último, este trabalho fará a análise do documento “Ensino Religioso na Escola Pública do Estado de São Paulo. Este documento foi elaborado pela Secretaria de Educação e UNICAMP – Universidade Estadual de Campinas com intuito de orientar as escolas públicas municipais acerca do Ensino Religioso. Este documento oferece muitas pistas importantes sobre a influência da Religião na educação brasileira e o papel do ensino religioso no Estado de São Paulo”..

(16) 16. 2 EDUCAÇÃO E ENSINO RELIGIOSO, MARCO JURÍDICO E CONTEXTO SÓCIO CULTURAL 2.1 Origem e desenvolvimento do ensino religioso no brasil. O Ensino Religioso no Brasil surgiu com a crise do ensino leigo.. A. proclamação da República, em novembro de 1889, trouxe como conseqüência a abolição do Padroado, deixando o catolicismo de ser religião oficial do estado. À semelhança do que já vinha ocorrendo na Europa a constituição republicana decretou a implantação do estado leigo, com as respectivas conseqüências na área da família e da educação. Com a mesma força de repúdio a laicização do Estado e ao casamento civil, os bispos passaram a condenar o ensino leigo nas escolas. Segundo a hierarquia eclesiástica, a laicização do ensino era considerada como uma forma prática de ateísmo e causa de profundos males para o país. Já na reclamação feita pelo episcopado ao governo provisório, datada de 6 de agosto de 1890, existe uma crítica explícita do ensino leigo; numa interpretação tendenciosa, afirma-se que o governo havia optado pelo ateísmo oficial: Que há de ser, dentro de poucos anos, quando as funestas doutrinas do ateísmo nas escolas públicas, houverem produzido entre nós os deploráveis frutos de dissolução e imoralidade que a experiência de outros países já deixou tristemente evidenciados?2. 2. O episcopado brasileiro ao Clero e aos fiéis da Igreja do Brasil, São Paulo: Salesiana, 1890 Apêndice, p.X.

(17) 17 As escolas públicas, desprovidas do seu caráter sacro, eram condenadas explicitamente pelos membros da hierarquia eclesiástica, afirmando que a Igreja católica detesta e condena as escolas neutras, mistas e leigas, em que se suprime todo o ensino da doutrina cristã. O contraponto era a necessidade de escolas de confissão católica. O clero diocesano foi incentivado a que patrocinasse essas fundações, no âmbito de suas paróquias. Nas circunstâncias em que se acaba a Igreja diante do ensino leigo é de necessidade inadiável que em todas as paróquias, haja escolas primárias católicas, a que chamam paroquiais, nas quais a mocidade nascente encontre o pasto espiritual da doutrina cristã, e de outros conhecimentos para a vida prática. Ordenamos, portanto, aos reverendos párocos que envidem todos os esforços para fundálas o quanto antes, onde as não houve; e não descansem, enquanto não conseguirem, por si ou por outrem a realização deste ideal, em suas paróquias, custe o que custar.”.3. A finalidade básica da escola paroquial era oferecer aos meninos uma instrução elementar que lhes permitisse assimilar melhor os conceitos da doutrina católica, preparando-se assim de forma adequada para a recepção dos sacramentos da penitência e da eucaristia. Foi sobretudo nas regiões de imigração européia no sul do país onde esse apelo foi atendido de forma mais plena. Sobre isso Cury afirma: A maior vinculação com Roma torna possível a aplicação das doutrinas católicas elaboradas na Europa aqui no Brasil. O Brasil, pela época da Primeira Grande Guerra, em recente surto de industrialização, parece ter características semelhantes às dos países centrais. Pelo menos nas grandes capitais. As ameaçadoras forças emergentes contra as quais se insurge o Governo Brasileiro e se casam muito bem com encíclicas papais da época e tornam possível a defesa conjunta dos dois poderes na “manutenção da ordem” e na Promoção do progresso nacional. 4. 3. Pastoral Coletiva dos senhores Arcebispos e Bispos das Províncias Eclesiásticas de São Sebastião do Rio de Janeiro, p.5. 4 CURY, Carlos Roberto Jamil, Ideologia e educação brasileira, 3º ed. São Paulo: Cortez, 1986, p. 14..

(18) 18 Instalados no Rio Grande do Sul, em 1900, os Irmãos maristas tornaram-se valiosos colaboradores dos párocos na promoção das escolas católicas. Em Santa Catarina, foi fundada em 1913 a congregação das Irmãs Catequistas Franciscanas, cuja finalidade específica era o magistério nas escolas paroquiais. Na medida em que se ampliava à rede escolar pública, muitas famílias católicas passaram a optar por ela pelo aspeto da gratuidade, tanto mais que freqüentemente eram os mesmos professores que lecionavam tanto nas escolas municipais como nas escolas paroquiais. Nesse período, intensificou-se no país o ensino secundário, e os religiosos passaram a ocupar lugar significativo nessa área,. com. a. fundação. de. colégios,. nas. diversas. regiões. do. país.. Três razões principais podem ser indicadas para essa opção de atividade, dentro da Igreja do Brasil. A fundação de escolas passou a constituir o meio principal de prover o sustento econômico das novas fundações religiosas, sobretudo quando o governo republicano, recém-instalado no Brasil, se negava a amparar as obras de cunho religioso. Por último, a criação das escolas católicas era uma das grandes metas do episcopado, sobretudo após o decreto de separação entre Igreja e Estado. Escrevendo em 1968, Michel Schooyans assim justificava a implantação de uma rede escolar católica, em fins do século passado: Muitas congregações educadoras fundaram aqui colégios semelhantes aos que dirigem em seus países de origem. Há um século, a existência dos colégios era compreensível e mesmo justificada, dada a fraqueza dos poderes públicos. Por outro lado,.

(19) 19 nessa época a Igreja estava apta a exercer uma função supletiva, levando em conta os recursos de que dispunha, as necessidades reduzidas em matéria de escolaridade e a relativa escassez da população escolar.5. Foi, sobretudo, na área da educação que os padrões europeus, e especialmente os franceses, passaram a exercer um domínio incontestável na vida cultural urbana. A difusão da cultura francesa foi feita através do transplante de programas de ensino e currículos da França, bem como mediante numerosos estabelecimentos de educação sob a direção de religiosos franceses, como maristas e lassalistas. Não obstante seus limites, esse tipo de educação ministrada pelos colégios católicos femininos contribuiu para operar uma mudança significativa no comportamento da mulher brasileira e, conseqüentemente, na própria vida familiar. O exemplo dado pelas religiosas, como professoras, indicava que se abria um espaço para a presença da mulher na vida social: o magistério. A elevação do nível cultural nas mulheres contribuiu para despertar nelas o espírito crítico, abrindo-lhes. assim. uma. perspectiva. maior. do. mundo,. e. rompendo. progressivamente o enclausuramento feminino típico da sociedade rural tradicional. Habituada a conviver numa estrutura rural, onde o poder social da religião emergia com bastante nitidez, era entre os representantes da antiga classe senhorial, transformada em burguesia agrária, que a Igreja encontrava maior afinidade. para. afirmar-se. no. novo. regime. republicano.. Colaboradoras do episcopado brasileiro, as congregações religiosas 5. SCHOGYANS, Michel, O desafio da secularização, São Paulo, herdes, 1968, p. 112..

(20) 20 masculinas e femininas, vindas da Europa, não terão dificuldades em aceitarem a estrutura socioeconômica vigente no país. A maior parte desses religiosos carece de uma visão crítica da realidade brasileira. Na educação católica, o enfoque principal dizia respeito à formação religiosa dos alunos. Os colégios tinham como finalidade específica a formação de bons cristãos, dentro dos padrões vigentes na época: a prática sacramental era considerada como a expressão mais importante da vida cristã. A missa freqüente, e até diária, constituía uma prática comum. As primeiras comunhões eram realizadas com solenidade. Os alunos eram exortados a participarem de associações religiosas, como o apostolado da oração e a congregação mariana. A orientação moral era muito rígida, havendo controle dos livros e revistas lidos pelos alunos. Nos internatos, até as cartas enviadas ou recebidas pelos alunos passavam por uma censura prévia. As visitas de pais e parentes eram muito limitadas. Na medida do possível, tanto os meninos como as meninas eram afastados de qualquer contato com pessoas do outro sexo. Outro aspeto bastante valorizado era a formação intelectual. Os professores, em geral competentes, estimulavam os alunos a uma intensa vida de estudo. Em diversos colégios eram organizadas academias destinadas a favorecer a expressão das qualidades dos jovens. Simultaneamente a esses aspetos, havia certo distanciamento da realidade brasileira, sendo dada pouca atenção aos problemas de ordem política, econômica e social..

(21) 21 A tônica espiritualizante, aliás, chegou a ser considerada excessiva por algumas famílias que continuavam colocando seus filhos em colégios católicos. Não obstante, a oficialização do ensino e a instrução militar adotado em diversos colégios, a partir dos primórdios deste século, auxiliaram os religiosos a realizar uma aproximação maior da própria sociedade brasileira.. Cury nesse sentido. escreve “A consciência católica via o Brasil como filho da desordem moderna, da anarquia pedagógica, do empirismo científico e da cultura generalizada.”6 De fato, o centralismo da política educacional, nas mãos do governo federal, obrigou os educadores católicos a uma vinculação maior com o poder político, a fim de obterem o necessário reconhecimento para suas escolas. A obrigatoriedade dos currículos oficiais e a própria fiscalização realizada pelo governo abriram perspectivas para que a instrução ministrada pelos colégios dos religiosos fosse considerada adequada para o ingresso nos cursos superiores, conforme as profissões e carreiras escolhidas pelos alunos. As solenidades de colação de grau realizadas nos principais colégios católicos eram uma demonstração pública do atendimento dessas expectativas. Daí a atração exercida por esses colégios, mesmo sobre famílias pouco sensíveis ao específico projeto religioso inserido na educação. A prescrição do governo com relação aos exercícios militares nos estabelecimentos de nível secundário, por sua vez, aproximou os religiosos da classe militar. Era do exército que vinham os instrutores e o armamento necessário, e a ele competia fazer a fiscalização do aproveitamento dos alunos nesse setor específico.. 6. CURY, Carlo Roberto Jamil, Ideologia e educação brasileira, 3º ed. – São Paulo: Cortez, 1986. p. 3..

(22) 22 Convém ter presente que as concepções de ordem e disciplina e respeito à autoridade, típicas da formação militar, uniam-se perfeitamente com os princípios que orientavam a educação católica, o que facilitava uma sintonia maior entre religiosos e militares. A militarização dos colégios era ainda facilitada pela própria concepção bélica "exército de Cristo” - atribuída à Igreja nesse período. Por seu turno, a participação dos alunos nas celebrações cívicas e nas festas nacionais serviu para projetar uma imagem positiva dos colégios católicos sobre a sociedade local. Os desfiles dos alunos eram sempre acompanhados com grande interesse e entusiasmo popular. Após a proclamação da República, a Igreja iniciou um movimento de reação contra o novo regime, em vista do seu caráter leigo; havia ainda muitos prelados e clérigos saudosistas da época imperial, quando a instituição eclesiástica gozava de uma série de privilégios, por ser o catolicismo religião oficial. A legitimação do governo republicano foi promovida, sobretudo pelos positivistas, cuja doutrina teve grande aceitação no exército, através do incentivo ao espírito cívico. A partir das comemorações do centenário da Independência, registra-se uma mudança de estratégia por parte da Igreja: a ênfase do discurso eclesiástico passa a ser a união entre fé católica e pátria brasileira. Na concepção do episcopado, era necessário recuperar a influência junto ao poder político. De fato, a partir da década de 20, iniciou-se uma etapa que pode ser designada como Restauração católica ou neo-Cristandade brasileira. A Restauração católica não significava uma ruptura com o movimento iniciado pelos bispos reformadores na época imperial. Tratava-se apenas de uma evolução na mesma concepção de Igreja..

(23) 23 No pensamento da hierarquia católica, era importante criar uma ordem política e social fundamentada nos princípios cristãos; em outras palavras: transformar o regime político inspirado no ideário positivista num verdadeiro estado cristão. “As leis, decretos e instruções, em geral propunham, em primeiro plano, a evangelização dos gentios. O caráter disciplinador de toda catequese concorreu para a transmissão de uma cultura que visava à adesão ao catolicismo.”7 Nesse sentido, dois enfoques marcavam a ação da Igreja: em primeiro lugar, a necessidade de uma presença mais efetiva da fé católica na sociedade; em seguida, e como conseqüência do primeiro aspeto, uma maior aproximação e colaboração entre Igreja e Estado. A presença mais efetiva da Igreja visava criar uma sociedade que respeitasse os valores tradicionais do cristianismo; para que essa presença fosse eficaz, os bispos desejavam reconquistar uma série de privilégios e regalias típicas do período de Padroado. Dois pontos tinham vinculação direta com a esfera educativa: o restabelecimento do ensino religioso nas escolas públicas, e o direito à obtenção de subvenções públicas para as instituições católicas com finalidade social. Em 1928, porém, a instituição eclesiástica conseguiu em Minas uma vitória significativa: o presidente Antônio Carlos autorizava o ensino religioso nas escolas públicas, em atenção aos votos do congresso catequético reunido em Belo. 7 FIGUEIREDO, A. O ensino religioso no Brasil: tendências, conquistas e perspectivas. Petrópolis: Vozes, 1995, 22 ss..

(24) 24 Horizonte.. Essa assembléia tinha como meta afirmar a presença católica na. sociedade mediante a promoção de sua doutrina. Em 12 de outubro do ano seguinte a autorização para o ensino religioso nos estabelecimentos de ensino, dentro do horário escolar, era oficializada pela lei nº 1092. A partir da década de 20, portanto, a Igreja procura uma reaproximação com o Estado, não em termos de subordinação, mas de colaboração. A hierarquia eclesiástica mostra-se disposta a colaborar com o governo na manutenção da ordem pública, mas exige em troca que o Estado atenda as suas reivindicações de ordem religiosa. Essa aliança passou a ser mantida após a revolução de 1930, com a ascensão dos novos líderes políticos. Para conquistar o apoio da Igreja, não faltaram concessões explícitas do governo revolucionário, como a autorização para o ensino religioso nas escolas públicas. A esse respeito, é bem expressiva a carta de Francisco Campos a Getúlio Vargas, datada de 18 de abril de 1931, onde o ministro da educação advogava a assinatura desse decreto-lei pelo presidente nestes termos: Permito-me acentuar a grande importância que terá para o governo um ato da natureza do que proponho a VExcia. Neste instante de tamanhas dificuldades, em que é absolutamente indispensável recorrer ao concurso de todas as forças materiais e morais, o decreto, se aprovado por VExcia., determinará a mobilização de toda a Igreja católica ao lado do governo, empenhando as forças católicas de modo manifesto e declarado toda a sua valiosa e indispensável influência no sentido de apoiar o governo, pondo ao serviço deste um movimento de opinião pública de caráter nacional.8. 8. A Revolução de 30. Textos e Documentos, Brasília Editora Universidade de Brasília, 1982 p.330..

(25) 25 A publicação do decreto, de fato, conquistou a simpatia e o apoio do clero e do laicato católico em prol do movimento revolucionário e, em seguida, do Estado Novo. As reivindicações católicas nesse período diziam respeito à educação religiosa nas escolas públicas, à manutenção da indissolubilidade do matrimônio e ao reconhecimento civil do rito sacramental, à assistência religiosa às forças armadas, à liberação de verbas públicas para as obras sociais da Igreja e à introdução. do. nome. de. Deus. no. prólogo. da. constituição.. Para melhor garantir a aceitação dessas propostas, foi criada a Liga Eleitoral Católica (LEC), como instrumento de pressão junto à Assembleia Constituinte de 1934 obtendo a Igreja pleno êxito em todas estas pretensões. Simultaneamente, a Igreja alinhava-se nesse período ao lado das correntes de pensamento e ação mais conservadora, como era o caso de Ação Social Nacionalista, fundada em 1920, como uma instituição cívico-patriótica. Os compromissos com o catolicismo constituíam um dos pontos marcantes do programa, como ressalta Jorge Nagle: Essa impregnação não é fenômeno superficial, pelo contrário, constituem ponto de partida para ulteriores elaborações. Na realidade, irá repercutir nos quadros gerais do pensamento e da ação dos nacionalistas, especialmente quanto aos princípios de liberdade e autoridade - governo democrático e governo” forte “. Os nacionalistas defendem o autoritarismo dos governantes e se opõem aos ideais do liberalismo político. Além disso, a integração do nacionalismo com o catolicismo leva-os a criticar a civilização material do mundo moderno e a não aceitar a instituição do ensino leigo. O elo final do encadeamento é a pregação da doutrina da disciplina e da ordem. E no esforço para a integração do civismo com a religião, acena-se com o exemplo do fascismo italiano. 9. 9. Nagle, Jorge, Educação e Sociedade na primeira república, São Paulo: EDUSC, 1974, p.52.

(26) 26 Importantes reformas educativas promovidas tanto em nível federal como estadual. Esse interesse e entusiasmo pela educação foram provocados pelo movimento da escola nova, tendo com principais líderes Fernando de Azevedo, Sampaio Dória, Lourenço Filho e Anísio Teixeira.. 2.2 Análise da visão Durkeimeiana da função da educação. Durkeimn discute qual é a ligação existente entre a educação e sociologia. Para Durkeim a educação é a socialização da criança. Para cada sociedade, a educação é o meio pelo qual prepara na formação das crianças, as condições essenciais de sua própria existência. Assim cada povo tem a educação que lhe é própria, e que pode servir para defini-la, da mesma forma que a organização política, religiosa ou moral. Para Durkeim a melhor definição para educação é:. A é a ação exercida, pelas gerações adultas, sobre as gerações que não se encontram ainda preparadas para a vida social; tem por objeto suscitar e desenvolver, na criança, certo número de estados físicos, intelectuais e morais, reclamados pela sociedade política, no seu conjunto, e pelo meio especial a que a criança, particularmente, se define. 10. Em outras palavras a educação tem a função de socializar a criança com o meio social em que vive. Sobre isso afirma Durkeim: No homem, ao contrário, as múltiplas aptidões que a vida social supõe, muito mais complexas, não podem organizar-se em nossos tecidos, aí se materializando sob a forma de predisposições. 10. DURKHEIM, Émile, Educação e sociologia, São Paulo: Edições Melhoramentos, 1955 p. 33..

(27) 27 orgânicas. Segue-se que elas não podem transmitir-se de uma geração a outra, por meio da hereditariedade. É pela educação que essa transmissão se dá. 11. Em cada indivíduo existe dois seres distintos: o individual e o social. O individual diz respeito a tudo aquilo que é fato pessoal e particular do indivíduo. Já o social é aquele que representa um sistema de idéias, de sentimentos e de hábitos que exprimem, em nós, não a própria vontade, mas o grupo ou diversos grupos, de que fazemos parte; aí inclui as práticas morais, tradições nacionais, ou qualquer espécie de prática coletiva. O homem deixa de ser animal para ser homem quando se apropria dos sistemas sociais: moral, língua, religiões e ciências. É a partir daí que se forma a sociedade. O objetivo da educação é formar o cidadão para se apropriar destes sistemas. A educação da criança cabe aos pais, mas se educar tem um aspecto coletivo o estado não pode desinteressar-se dela. Isto não justifica o fato de o Estado querer monopolizar o ensino. A educação é a ação exercida, principalmente junto às crianças, pelos mais velhos. A pedagogia ao contrário da ação, consiste em teorias que buscam maneiras de conceder a educação. Para se falar em Ciências da educação é necessário que se tenha as seguintes características: fatos realizados e passíveis de observação, ou seja, o objeto de estudo. É preciso ainda que esses fatos apresentem homogeneidade suficiente para serem classificados numa mesma categoria.. 11. Idem, p. 68..

(28) 28 As teorias pedagógicas são especulações de diversos gênero. Seu objetivo não é descrever ou explicar o que é, ou o que tem sido, mas de determinar o que deve ser. Não estão orientadas nem para o passado nem para o futuro. Para Durkheim a pedagogia é diferente de ciência da educação. Para ele a pedagogia é uma teoria prática que estuda cientificamente os sistemas de educação e reflete sobre estes sistemas a fim de fornecer ao educador uma visão teórica que o dirija. As teorias pedagógicas precisam avaliar a evolução social que a cada dia torna-se mais rápida. É preciso analisar que uma época se não assemelha àquela que a precede; cada tempo tem novas características. Novas necessidades e novas idéias. Para atender às transformações incessantes que sobrevêm, faz-se necessário que a educação mude também, e permaneça num estado de maleabilidade que permita as adaptações desejáveis. Na história a pedagogia precisa ser uma função contínua na vida social. Durkeim trabalha o fato de que a pedagogia para produzir efeitos úteis, necessita estar submetida à disciplina da cultura a qual ela esteja inserida. Não basta que se conheça o sistema social atual, mas é preciso conhecer o passado histórico que o formou. A cultura pedagógica deve ter, portanto, uma base histórica profunda. A educação, para Durkeim não tem o indivíduo como objeto único ou principal, mas acima de tudo o meio pelo qual a sociedade renova perpetuamente as condições de sua própria existência. Cabe à educação perpetuar a homogeneidade da sociedade, por isso consiste sob qualquer de seus aspectos, numa socialização metódica de cada geração..

(29) 29 Durkeim trabalha aspectos fundamentais da educação: A educação socializa a criança ao meio em que vive. Para ser funcional é preciso que a educação conheça o passado histórico do sistema social inserido, a fim de compreender a realidade atual. O objeto de estudo da educação não é simplesmente o indivíduo, mas como este se relaciona com o meio social em que vive. A pedagogia precisa estar atenta às transformações profundas que a sociedade contemporânea tem, a fim de tornar-se útil para o momento em que esteja atuando.. 2.4 A Lei, Diretrizes e Base da Educação, a proposta dos Parâmetros Curricular Nacional, a constituição brasileira e o Ensino Religioso. Com a Lei, Diretrizes e Base da Educação, (L. D. B.) muitas mudanças vêm sendo organizadas a curto e longo prazo, seja do ponto de vista estrutural, quanto do conteúdo do sistema educacional. Para o Ensino Religioso, inicia-se uma nova fase da história, foi aprovada uma lei que o constitui em disciplina com todas as propriedades, enquanto tal. Isto significa que o Ensino Religioso não se dá mais no processo linear como foi concebido até recentemente, mas por meio de articulações complexas num mundo pluralista, pois é nela e a partir dela que se inicia o processo. No caso do Brasil, antes de qualquer coisa, cumpre recordar dispositivos constitucionais que remetem à problemática em discussão e que permitem maior amplidão da temática. Assim, diz o art. 19 da Constituição Federal de 1988:.

(30) 30 É vedado à União, aos Estados, ao Distrito Federal e aos Municípios: I – estabelecer cultos religiosos ou igrejas, subvencionálos, embaraça-lhes o funcionamento ou manter com eles ou seus representantes relações de dependências ou aliança, ressalvada, na forma da lei, a colaboração de interesse público; A laicidade e o respeito ao culto são claros, e quando a lei assim determinar pode haver campos de mútua cooperação em prol do interesse público, como é o caso de serviços filantrópicos.”. Além disso, o art. 1º, inciso III, põe como fundamento da República “a dignidade da pessoa Humana”. Já o artigo 3º, inciso IV, coloca como objetivo da República a promoção do “bem de todos, sem preconceitos de origem, raça, sexo, cor idade e quaisquer outras formas de discriminação” Nota-se o repúdio a toda e qualquer forma de discriminação e assinalação de objetivos maiores como cidadania em nível nacional e os direitos humanos em nível internacional. Aí entra em contradição a obrigatoriedade do ensino religioso. Fischmann em uma entrevista a revista Veja afirma: “Não podemos deixar que as crianças sejam alvo de disputas que nem sempre envolvam interesses puramente espirituais”. 12. Segundo Fischimann haveria uma disputa religioso em que a criança perderia o direito a liberdade religiosa, além de constrangê-la. Não contente com esses dispositivos, a Constituição Federal explica no longo e detalhado art. 5º uma pletora de direitos e deveres individuais e coletivos entre os quais se podem citar o inciso: VI – é inviolável a liberdade de consciência e de crença, sendo assegurada aos locais de cultos religiosos e garantida, na forma da lei, a proteção aos locais de culto e suas liturgias; VII – é assegurada, nos termos da lei, a prestação de assistência religiosa. 12. FISCHIMANN, Roseli. Nas escolas não. In: Revista Veja, 8 de novembro de 1995, Op. Cit., p.7.

(31) 31 nas entidades civis e militares de internação coletiva; VIII – ninguém será privado de direitos por motivo de crença religiosa ou de convicção filosófica ou política, salvo se as invocar para eximir-se de obrigação legal a todos impostas e recusar-se a cumprir prestação alternativa, fixada em lei.”. Isto já é por si só garantia de direito à liberdade e respeito a todas as opções, as igrejas, e cultos religiosos. O direito a livre escolha religiosa entra em conflito com a obrigatoriedade do Ensino Religioso, pois como ensinar religião sem ferir a cidadania das crianças? A Constituição Federal de 1988, seguindo praticamente todas as outras constituições federais desde 1934 e atendendo a pressão de grupos religiosos, inclui o ensino religioso dentro de um dispositivo constitucional como disciplina em seu art. 210:” O ensino religioso, de matrícula facultativa, constituirá disciplina dos horários normais das escolas públicas de ensino fundamental”. Há que se destacar aqui que o ensino religioso é de matrícula facultativa. A Lei nº 9.394/96, Diretrizes e bases da Educação nacional, em sua versão original, diziam, no art, 33: O ensino religioso, de matricula facultativa, constitui disciplina dos horários normais das escolas públicas de ensino fundamental, sendo oferecido, sem ônus para os cofres públicos, de acordo com as preferências manifestadas pelos alunos ou por seus responsáveis, em caráter: I – confessional, de acordo com a opção religiosa do aluno ou do seu responsável ministrada por professores ou orientadores religiosos preparados e credenciados pelas respectivas igrejas ou entidades religiosas; ou II – interconfessional, resultante de acordo entre as diversas entidades religiosas, que se responsabilizarão pela elaboração do respectivo programa.. Em parecer normativo relativo ao assunto, ainda na vigência da primeira redação do art. 33, o Conselho nacional de Educação (CNE), através do parecer.

(32) 32 CNE nº 05/9713 se pronunciou a fim de dirimir a questão relativa aos ônus financeiros da oferta desta disciplina pelo poder público já que violaria o artigo 19 da Constituição Federal que veda a subvenção e cultos religiosos e as igrejas. Essa redação não agradou várias autoridades religiosas, em especial as católicas, cujo objetivo inicial era pressionar a presidência da República a fazer uso de seu direito de veto. O próprio Poder Executivo assumiu, então, o compromisso de alterar o art. 33 mediante projeto de lei, daí resultando a lei nº 9475/97. Por ela, o art. 33 passou a ser expresso nos seguintes termos: O ensino religioso de matrícula facultativa é parte integrante da formação básica do cidadão e constitui disciplina dos horários normais das escolas públicas de ensino fundamental, assegurado o respeito à diversidade cultural e religiosa no Brasil, vedadas quaisquer formas de proselitismo. Essa nova reação introduz um novo aposto: o ensino religioso é parte integrante da Formação do cidadão. Isto deixa claro a inadequação dessa introdução num assunto que toca diretamente ao direito à diferença e à liberdade. O ensino religioso ficaria livre dessa complexidade político-burocrática se mantivesse no âmbito dos respectivos cultos e igrejas em seus espaços e templos. Mas, dada a obrigatoriedade da oferta nas escolas públicas e o caráter facultativo de sua freqüência para o conjunto dos alunos, importa refletir um pouco sobre aspectos da religiosidade que podem ser úteis em favor da tese da importância da religião.. 13. Disponível em:www.mec.gov.br/cne/pareceres (pareceres normativos do Conselho Pleno). Acesso em jun. 2004..

(33) 33 O caráter facultativo da oferta do ensino religioso merece uma reflexão. Ser facultativo é não ser obrigatório. O caráter facultativo caminha para não ofender o princípio da laicidade. O mesmo pode-se dizer da vedação de quaisquer formas de proselitismo e do fato de deixar a uma entidade civil de várias religiões a definição de conteúdos. Como diz o parecer CO/CNE nº 05/97:. A constituição apenas reconhece a importância do ensino religioso para a formação básica comum do período de maturação da criança e do adolescente que coincidi com o ensino fundamental e permite uma colaboração entre as partes, desde que estabelecida em vista do interesse público e respeitando - pela matrícula facultativa – opções religiosas diferenciadas ou mesmo a dispensa de freqüência de tal ensino na escola .14. O caráter facultativo de qualquer coisa implica o livre-arbítrio da pessoa responsável por realizar ou deixar de realizar algo que lhe é proposto. A faculdade implica, pois, a possibilidade de poder fazer ou não, de agir ou não como algo inerente ao direito subjetivo da pessoa. Para que o caráter facultativo seja efetivo e a possibilidade de escolha se exerça como tal, é necessário que, dentro de um espaço regrado como é o das instituições escolares, haja a oportunidade de opção entre o ensino religioso e outra atividade pedagógica igualmente significativa para tantos quantos que não fizeram a escolha pelo primeiro. Este exercício de escolha deverá ser feito pelo aluno juntamente com seus responsáveis, assim será um momento importante para exercerem conscientemente a dimensão da liberdade como elemento constituinte da cidadania.. 14 CNE. Resolução CEB. Nº 05. Diretrizes Curriculares Nacionais para o Ensino Fundamental. Brasil[ilia, 1997. p. 2.

(34) 34 Norberto Bobbio e Mauruzio Viroli, ambos intelectuais agnósticos constatam o desaparecimento do sentimento de vergonha, conseqüente à consciência moral, passam a discutir sobre as diferenças entra caridade leiga e caridade cristã, os limites do mistério e outros temas. Um trecho em favor de uma educação religiosa que, conduzida nos espaços próprios das igrejas, abriria espaço para um ensino extraescolar mais pleno de sentido afirma: Os católicos [escreve Virola] falam de solidariedade, de caridade e de compaixão, e além de falar, praticam. E nós, laicos? Temos uma concepção de caridade, da compaixão e da solidariedade distinta daquela dos católicos? Creio que exista uma diferença importante entre a caridade laica e a caridade cristã. A caridade cristã é Cristo que compartilha com você o sofrimento; é partilhar o sofrimento. A caridade laica também é partilhar o sofrimento, mas é também desprezo contra aqueles que são responsáveis pelo sofrimento. É o desprezo que promove a força interior para lutar contra as causas do sofrimento. È exatamente porque quem não possui uma fé religiosa não vê qualquer valor no sofrimento que os homens padecem devido a outros homens e porque não acredita na possibilidade ou não de um prêmio em outra vida, que a caridade laica procura, se pode, o remédio para o sofrimento. Impele os oprimidos a combater a causa da opressão.”15. Os princípios constitucionais e legais obrigam os educadores todos a se pautar pelo respeito às diferenças religiosas, e o respeito ao sentimento às diferenças religiosas, pelo respeito ao sentimento religioso e à liberdade de consciência, de crença, de expressão de culta reconhecido a igualdade e dignidade de toda pessoa humana. Tais princípios conduzem à crítica de todas as formas que discriminem ou pervertam esta dignidade inalienável dos seres humanos.. 15 BOBBIO, Noeberto, VIROLLI, Maurizio. Diálogo em torno da República: os grandes temas da política e da cidadania, Rio de Janeiro: Campus, 2002 p. 67-68).

(35) 35 3 A RELIGIÃO NO BRASIL SECULAR E PLURALISTA. 3.1 Desencantamento, secularização e pluralismo religioso A obrigatoriedade do ensino religioso nas escolas públicas é uma iniciativa que pode estar revestida de excelentes intenções e até mesmo com amparo legal. O objetivo da disciplina Ensino Religioso é conhecer as diversas tradições religiosas e proporcionar ao aluno, individualmente e socialmente, percepção da transcendência religiosa. Tal objetivo não parte de religião específica, do contrário tornaria o ensino proselitista, mas parte da vida em sociedade e dos valores que caracterizam o ser humano. Se esta proposta fosse possível e praticável sem prejuízos do objetivo, o ensino religioso auxiliaria na configuração de uma sociedade inclusiva, democrática e laica, onde as diferentes religiões teriam convivência pacífica, sem nenhum tipo de violência, tanto objetivada ou simbólica. Analisaremos. algumas. características. que. retratam. a. sociedade. secularizada e pluralista. Temos por finalidade compreender se é necessária ou não a implantação da disciplina Ensino Religioso no currículo escolar. Para entender a conjuntura religiosa do Brasil secularizado e pluralista é preciso compreender o que é pós-moderno, pois a secularização e o pluralismo são características da sociedade pós-moderna. O advento da pós-modernidade, uma das possíveis denominações empregadas para classificar as transformações políticas, sociais e culturais recentes, se materializa no questionamento de um dos ideais da modernidade, ou seja, a tão desejada emancipação humana através do domínio da razão científica. As críticas iluministas abriram espaço para a discussão sobre o lugar da religião.

(36) 36 na sociedade. E, estudar alguns fatores que mostram a relação da religião na sociedade contemporânea é o objetivo deste capítulo. A pós-modernidade não se define como uma nova era que suplanta e sepulta a modernidade. É um tempo de transição, de busca e de incertezas, de problemas e de interrogações, muito mais do que respostas. A estrutura fundamental econômica, social, política e cultural da era moderna, que recebe o nome de capitalismo tardio ou neoliberalismo, ainda persiste, mas vai emergindo situações novas, um clima diferente de viver e pensar, por isso chamado pós-modernidade. Os últimos cinqüenta anos assinalam a chegada da pós-modernidade e apresentam no campo da economia um aspecto novo, ou seja, a produção em grande escala de bens não duráveis ou decantáveis. Milhões de marcas vão sendo reproduzidas e substituías por objetos e modelos novos, que o mercado faz envelhecer e torna obsoletos em curto prazo, alimentando o ritmo perpétuo de produzir, vender, consumir, reproduzir. Por essa característica, define-se a pósmodernidade como uma sociedade de consumo ou um sistema de objetos e a velocidade, a transitoriedade e o descartável são os seus vestígios mais acentuados. É possível compreender a pós-modernidade como “o nome aplicado a mudanças ocorridas nas ciências, nas artes e nas sociedades avançadas desde 1950, quando por convenção se encerra o modernismo (1900-1950).”16 Este mesmo autor, Jair Ferreira dos Santos, lança mão das várias áreas do. 16. SANTOS, Jair Ferreira dos. O que é Pós-Moderno, Editora Brasiliense, São Paulo, 1991, pg. 8..

(37) 37 conhecimento e expressões culturais para situar o nascimento da pósmodernidade. De forma simples e objetiva, ele esboça que a pós-modernidade:. Nasce com a arquitetura e a computação nos anos 50, toma corpo com a arte Pop nos anos 60, cresce ao entrar pela filosofia durante os anos 70, como crítica da cultura ocidental e amadurece hoje, alastrando-se na moda, no cinema, na música e no cotidiano programado pela tecnociência (ciência + tecnologia) invadindo o cotidiano desde alimentos processados até microcomputadores”17. Há. autores18 que situam o surgimento da pós-modernidade com o. movimento estudantil europeu de maio de 1968, quando nova geração de intelectuais e eruditos surge caracterizando movimento de contracultura que visava contestar valores da sociedade industrial, centrada na tecnocracia e no consumo. Também como contrapé histórico caracterizado pela decepção com as propostas do Iluminismo europeu e com as afirmações da modernidade. A modernidade vaticinava a favor do avanço do saber científico, do domínio da natureza pela tecnologia, do aumento exponencial da produtividade e da riqueza material, da emancipação das mentes após séculos de opressão religiosa (também superstição e servilismo), do progresso e salvação dos povos pelas instituições políticas, do aprimoramento intelectual e moral dos homens por meio da ação conjunta da educação e das leis.. 17. Idem.p. 10 Dentre eles, Zeunir Ventura, em sua obra 1968 – O ano que não terminou, diz que “um neoexistencialismo não pressentido na época convencia aquela juventude a rejeitar uma secular esquizofrenia cultural que separava política e existência, arte e vida, teoria e prática, discurso e ação, pensamento e obra... as mutações desses tempos de ruptura deveriam passar pela destruição do que viera antes (modernidade)”.Pg. 32. 18.

(38) 38 Não é tarefa fácil definir exatamente quando surge a pós-modernidade, mesmo porque não há afirmações categóricas neste sentido. A questão é situá-la como momento histórico contemporâneo. Também seria difícil definir as suas principais características, mesmo porque a pós-modernidade não é um estilo de época a ser estudado como o Romantismo ou Realismo, por exemplo. Há uma Condição Pós-Moderna19 que corresponde a uma “sociedade pós-industrial, que marca um momento pós-utópico, que não tem sentido na projeção de um futuro, da utopia, pois o tempo privilegiado não será o futuro, mas o presente”.20 A cultura pós-moderna também é caracterizada pela tecnologia eletrônica de massa e individual, que visa a saturação de nosso cotidiano com informações. Aprendemos a lidar mais com “signos” do que com coisas. A era atual da Informática configura-se no tratamento computadorizado do conhecimento. A mídia recria o mundo nas imagens. Nossa sensibilidade é modelada por imagens sedutoras, criando ambiente de simulação sensitiva. Os meios tecnológicos de comunicação, não têm como objetivo último a informação sobre o mundo, eles o refazem à sua maneira. A realidade torna-se espetáculo. Uma reportagem com produção cinematográfica sobre retirantes do Nordeste deve primeiro nos seduzir e fascinar para depois nos indagar. Caso contrário mudamos de canal.. 21. Outra. questão que requer reflexão na pós-modernidade é o estabelecimento do conceito de identidade do sujeito, ou então identidade cultural.. 19. Este é o tema desenvolvido por Jean-François Lyotard. Uma de suas obras mais influentes tem o título La Condition Postmoderne, traduzido para o português como Condição Pós-moderna. Rio de Janeiro, José Olímpio LTDA, 2002. 7º ed. 20 GOMES, Renato. Olhar crítico sobre a cidade na narrativa brasileira. Jornal da PUC n 9 – junho 1999. 21 SANTOS, Jair Ferreira dos. O que é Pós-Modernos, Editora Brasiliense, São Paulo, 1991, pg. 13..

(39) 39 Stuart Hall22 estabelece paradigmas da identidade cultural na pósmodernidade, fazendo análise sociológica desde o Iluminismo, até os dias atuais. Para ele o sujeito pós-moderno não é composto de uma única identidade, mas de várias. Segundo Hall, uma mudança estrutural está fragmentando as diversas identidades culturais, de classe, gênero, sexualidade, etnia e nacionalidade. Se até pouco tempo essas identidades eram sólidas e localizadas, onde o sujeito moderno se encaixava socialmente, hoje se encontram como fronteiras menos definidas. A secularização ocorre em todos os prismas da sociedade. O termo secularização é bastante complexo por tenta interpretar um fator social ocorrido nas sociedades pós-moderna. “O conceito de secularização constitui um exemplo clamoroso de metamorfose de um vocábulo específico em uma das principais palavras-chaves da era “contemporânea.”. 23. Sendo um conceito bastante. complexo, estudaremos neste trabalho a definição proposta por Peter Berger. Berger não é somente um sociólogo da religião, mas quando estuda a religião tem como pano de fundo o paradoxo Weberiano de que a racionalidade no mundo ocidental tem origem e se baseia em idéia e sentimentos religiosos. Para Berger a sociedade é produto da ação humana. O homem por ser um ser incompleto é instável e versátil. “O homem não pode existir independentemente da sociedade. As duas asserções, a de que a sociedade é produto do homem e a de. 22 23. HALL, Stuart. Identidade cultural na pós-modernidade. 1999. MARRAMAO, Giacomo Céu e terra, p. 15..

(40) 40 que o homem é produto da sociedade, não se contradizem.”. 24.. Para Berger isto. mostra o caráter dialético do fenômeno social. A sociedade, como parte da cultura, também é fruto de um processo de construção da realidade social que para Berger ocorre em três momentos: a exteriorização, a objetivação e a interiorização. A exteriorização é a contínua ação do ser humano sobre a sociedade, essa ação pode ocorrer tanto pela atividade física como mental dos homens. A objetivação é a conquista por parte dos produtos destas atividades e a interiorização é a reapropriação dessa mesma realidade por parte dos homens. Essa explicação da sociedade que Berger faz é evidente na sua primeira obra dedicada à sociologia da religião. No processo de construção social da realidade, à religião é fruto do trabalho humano que cria um cosmo sagrado. O cosmo sagrado é aí uma proteção contra os perigos da sociedade. Uma das funções da religião para Berger é a legitimação da realidade socialmente construída. “A religião legitima de modo tão eficaz porque relaciona com a realidade suprema as precárias construções da realidade erguidas pelas sociedades empíricas.”. 25. A legitimação tem o objetivo essencial de manutenção. da realidade, tanto a nível objetivo como ao nível subjetivo. Outra função a religião é a integração das experiências marginais ou limite como êxtase, sonho, violência morte e outros, que colocam em discussão a realidade da vida cotidiana.. 24 25. BERGER, Peter. O dossel sagrado, p. 15 BERGER, Peter. O dossel sagrado, p. 45..

(41) 41 Há ainda para Berger algumas funções negativas da Religião. Para Berger entre estas está a negação de si em favor da sociedade podendo chegar até ao sacrifício. Além disso, para Berger, a religião pode exercer também uma função de mistificação do caráter socialmente construído da realidade. O que torna a religião funcional para a manutenção da ordem pois, legitima as estruturas existentes. “A religião serve, assim, para manter a realidade daquele mundo socialmente construído no qual os homens existem nas suas vidas cotidianas.” 26 Sem ser funcionalista Berger trabalha aquilo que na sociedade de tradição religiosa ocidental constitui o impulso secularizante. Para Berger a secularização ocorre quando algum setor da sociedade perdem a influência, e quando a religião perde a sua autoridade tanto em nível das instituições como em nível de consciência humana. Um dos efeitos que Berger indica como sócio-estruturais e socioculturais da secularização são o individualismo e o pluralismo religioso. Quando trabalha o termo “individualização” entende que a religião se privatizou, ou seja, mantém sua expectativa apenas em nível de indivíduos ou das realizações pessoais, familiares e de pequeno grupo. Com o termo “pluralismo religioso”, Berger descreve a situação criada pela secularização objetiva: a ruptura do monopólio religioso. Para Berger a secularização não é o fim do desaparecimento da religião institucional, mas a presença de um pluralismo religioso que se opõe à religião vista como única e verdadeira, que legitimava a ordem social.. 26. Idem, p. 55.

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