• Nenhum resultado encontrado

3. TRÊS TRADUÇÕES DE ALICE PARA O PORTUGUÊS – ASPECTOS

3.4 Três traduções selecionadas – uma visão panorâmica segundo Lambert e Van

3.4.4 Contexto sistêmico

Conforme a L&PM editores, a coleção da qual faz parte o livro “Alice no país das maravilhas” visa um público mais geral, isto é, a popularização da literatura. Para isso, a editora disponibiliza obras clássicas por um preço menor que os outros livros no mercado. Um artigo do Jornal do Comércio, JC online223, “A literatura que cabe no

bolso”, afirma que os livros desse tipo são “bem mais ‘em conta’” e que as editoras responsáveis por essas publicações, como a L&PM, tendem a publicar “grandes clássicos da literatura nacional e internacional”, como é o caso de “Alice no país das maravilhas”.

O site224 do jornal Folha online aponta, também, que o sucesso da L&PM Pocket se deve em grande parte aos preços acessíveis dos livros e aos pontos de vendas alternativos. Vieira Jr. ressalva no artigo “Bom pro bolso, né?”225, que as “estratégias de marketing não se restringem a livrarias” e que a qualidade de impressão é boa – as folhas não são de papel jornal. Por essas razões, os livros de bolso aumentam a probabilidade de certos autores serem lidos. Quanto à L&PM Pocket, Pinheiro Machado afirma que a idéia de publicar livros desse tipo surgiu

em 1996 quando vimos que não tínhamos como superar as enormes dificuldades econômicas que enfrentávamos caso mantivéssemos a mesma política editorial. Foi uma época em que entrou muito dinheiro estrangeiro no mercado, capitalizando os nossos concorrentes que, por sua vez, assediavam nossos autores. Como não tínhamos dinheiro, para sobreviver, fomos obrigados a ter idéias. Foi aí que decidimos criar a primeira coleção de livros de bolso “de verdade” no Brasil. Foi uma decisão radical, pois concentramos toda a nossa energia neste projeto que era sistematicamente desprezado pelos nossos concorrentes (WILLER, 2008).

Nas palavras do próprio editor, “achamos que é importante que haja novas traduções de grandes clássicos, até mesmo porque nossa idéia é vender livros para os jovens. E isto pede sempre uma linguagem contemporânea” (PINHEIRO MACHADO, 2008). Foi esse ponto de vista que impeliu a tradução de “Alice no país das maravilhas”. Pinheiro Machado (2008) aponta que esse foi um dos primeiros livros que a editora incluiu em seu projeto de publicação de obras canonizadas, inicialmente com o intuito de “contemplar um público juvenil e penetrar nas escolas”. O Colégio Marista Assunção226 de Porto Alegre e a Escola da Serra227 de Minas Gerais, por exemplo, incluem o livro na lista de leitura de seus alunos do ensino médio.

224 <http://www1.folha.uol.com.br/folha/ilustrada/ult90u333115.shtml>, artigo “Mercado de livro de

bolso avança no país”.

225 Artigo encontrado no site

<http://www.seculodiario.com.br/arquivo/2006/janeiro/27/cadernoatracoes/colunistas/erly.asp>.

226<www.maristas.org.br/colegios/assuncao/pags/site_colegio/espaco/2008_portugues/listagem_livros/sin

Já a publicação da Jorge Zahar Editor é uma edição anotada com notas escritas por uma das maiores autoridades em Carroll, Martin Gardner, segundo o site228 do Observatório da Imprensa. É uma tradução para uma leitura mais aprofundada da história de Carroll, com explicações sobre personagens e aspectos característicos da época de seu autor, recomendada pela revista Veja on-line229. O artigo “Alice no país das maravilhas” do site Diário do Nordeste230 destaca que inclui informações inéditas sobre a obra de Carroll. São “novidades fascinantes” apresentadas ao leitor em um “texto paralelo” à história, elaborado por Gardner, um dos especialistas em Carroll, conforme caderno “Idéias” do Jornal do Brasil, JB Online231.

Mariana Zahar (2009) assinala que, em relação ao público previsto, “tinha a sensação de que era um público bem amplo” por que “Alice é um símbolo do imaginário de todo mundo”. Ela explica que a reação dos leitores ao livro foi bastante positiva. Várias peças “já pediram autorização para usar o texto”, e estudiosos da área de Ciências também se interessaram pela obra por causa das anotações que “trazem à tona todo o [...] ideal mesmo do Lewis Carroll matemático”. Entretanto, apesar de alcançar inúmeros receptores, Mariana frisa que essa “não é uma edição para criança” (ZAHAR, 2009). As notas explicativas tornam o livro leitura para adultos. Os autores do artigo “Os tradutores de Alice e seus propósitos” enfatizam, portanto, que essa tradução é voltada para receptores

[…] com especial interesse nos desdobramentos e na intertextualidade resultante da recepção erudita e contemporânea das aventuras […] de Alice, trazendo notas extensas que tratam de questões complexas […] que a princípio não interessariam e nem seriam plenamente compreendidas pelas crianças (WESTPHALEN; BOFF; GREGOSKI; GARCEZ, 2001:122-123). 227 <http://escoladaserra.plughosting.com.br/site/comunicados.asp?id=14#>. 228 <http://www.observatoriodaimprensa.com.br/artigos.asp?cod=482ASP012>. 229 <http://veja.abril.com.br/281101/veja_recomenda.html>. 230 <http://diariodonordeste.globo.com/materia.asp?codigo=542271>.

231 Artigo “Alice: edição para adultos rediscute pedofilia” redigido por Cláudia Nina, doutoranda em

Literatura Comparada pela Universidade de Utrecht, no site

Quanto à tradução da Editora Ática, um parecer de Margareth Mattos232 sobre essa edição, disponível no site233 da Fundação Nacional do Livro Infantil e Juvenil, assinala que a tradução de Ana Maria Machado

[…] alcança o público de crianças e jovens sem recorrer a estratégias que levariam à facilitação, redução ou empobrecimento do projeto […] do autor. Seu grande desafio foi o de transpor para a língua portuguesa os variados jogos lingüísticos que compõem a narrativa – jogos de sonoridade com palavras e expressões responsáveis por alterações de sentido, paródias a textos, autorais ou não, de domínio público, brincadeiras com expressões idiomáticas, entre outros – e que constituem o processo de nonsense destacado na obra.

[…]

Quem ganha com isto é o leitor criança e jovem que tem a

oportunidade de fruição e compreensão mais plenas ao ler a história (MATTOS).

Essa edição de Alice é inclusive sugerida como livro infantil por um grupo de 17 especialistas reunidos pela Folhinha do jornal Folha online234. Uma resenha de Fátima Miguez para o MEC, encontrada no site235 pessoal dessa escritora, aponta que a tradução de Machado segue o “caminho de brasilidade” e que essa é a “diferença fundamental dessa obra em relação ‘as várias Alices em português’”. Além disso, Miguez ressalta que, nessa edição da história de Carroll, “o diálogo intertextual que enriquece a narrativa” é “adaptado ao imaginário popular brasileiro”, isto é, Machado acrescenta à história canções e poemas conhecidos pela maioria dos leitores no Brasil. Outro aspecto que abrasileira a tradução da Editora Ática são as ilustrações do pernambucano Jô de Oliveira baseadas no cordel do Nordeste do país. Conforme Miguez, essa tradução seria “uma verdadeira celebração do nacional com o universal” e que, por isso, deveria ser incluída nas bibliotecas escolares.

Cada uma dessas três traduções difere, então, uma da outra em inúmeros aspectos como se pôde observar. Os propósitos de sua produção, os objetivos das editoras, a história de vida e experiência das tradutoras, e o público previsto moldam cada texto traduzido de uma maneira específica. Hjort (1995:32) afirma que “[…] as

232 Da Universidade Federal Fluminense e participante do “Programa de Alfabetização e Leitura”

(PROALE).

233<http://www.fnlij.org.br/principal.asp?texto=PNBE&arquivo=/pnbe/texto/alice_no_pais_das_maravilh

as.htm>.

234 <http://www1.folha.uol.com.br/folha/ilustrada/ult90u70169.shtml>, artigo “Veja lista completa de

livros infantis indicados por especialistas”.

decisões dos tradutores, suas editoras e o público visado interagem em um processo complexo”236. Por isso, as escolhas tradutórias não poderiam ser sempre as mesmas. A tradução das referências intertextuais e culturais da obra de partida alterna-se de um texto traduzido para outro. Isto é, há mais de uma estratégia de tradução que pode ser adotada em cada caso, dependendo das motivações das tradutoras e editoras, como se indicará mais pontualmente no capítulo a seguir.

236 […] decisions made by translators, their editors and readers interact in a complex process (HJORT,

4. ALICE EM TRÊS TRADUÇÕES PARA O PORTUGUÊS –