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3. TRÊS TRADUÇÕES DE ALICE PARA O PORTUGUÊS – ASPECTOS

3.2 Editoras e seus princípios norteadores

3.2.2 Jorge Zahar Editor

A história dessa editora teve início com Jorge Zahar, filho de pai libanês e mãe francesa. Nascido no dia 13 de fevereiro de 1920 na cidade de Campos mudou-se, vinte anos mais tarde, para o Rio de Janeiro. Lá começou a trabalhar com a importação e distribuição de livros técnicos. Junto com seus irmãos, Ernesto e Lucient, criou, em 1946, a firma LER – “Livrarias Editoras Reunidas” – uma distribuidora que intermediava entre editores argentinos e ingleses, e livrarias brasileiras. Alguns anos depois, em 1950, os três mudaram o rumo de seus negócios, abrindo a livraria LER, mais conhecida por promover obras no campo das ciências sociais.

Foi em 1956 que Jorge Zahar fundou a Zahar Editores com seus irmãos. Seu objetivo inicial era publicar títulos de não-ficção, mais especificamente de Ciências Sociais, escritos por autores brasileiros. No entanto, esse plano não foi adiante porque os livros que havia encomendado para sua primeira coleção de “Ciências Econômicas” nunca chegaram. Enquanto os esperava, teve a idéia de publicar algumas obras traduzidas sobre assuntos afins. O primeiro livro publicado foi o “Manual de

185 O conteúdo desse tópico baseou-se nas informações apresentadas no site da Jorge Zahar Editor,

Sociologia” de Rumney e Mayer traduzido por Octavio Alves Velho. A editora continuou publicando, no Brasil, inúmeras obras de Ciências Humanas e Sociais que foram adotadas por estudantes universitários como instrumentos de pesquisa. Seu slogan era “‘a cultura a serviço do progresso social’, ecoando os princípios norteadores de sua linha editorial” (ZAHAR, 2004:4).

Cerca de trinta anos mais tarde, de acordo com o site186 da Jorge Zahar Editor, “[…] sua logomarca característica – um grande Z cortado por um livro aberto – havia sido estampada em cerca de 1.200 títulos”. Porém, apesar de tantas publicações, a sociedade com seus irmãos acabou sendo desfeita em 1973. Zahar teve outros sócios nessa empreitada, mas as atividades da Zahar Editores chegaram ao fim em dezembro de 1984, quase 30 anos após seu começo.

Zahar, no entanto, desejava continuar trabalhando nesse ramo. Iniciou uma parceria com Anderson Fernandes Dias, da Editora Ática, mas, infelizmente, antes que a nova casa editorial saísse do papel, Anderson faleceu. Apesar desse choque inicial, decidiu levar o projeto adiante. Junto com seus filhos, Jorge Júnior e Ana Cristina Zahar, iniciou a Jorge Zahar Editor. A meta era publicar livros e ensaios sobre as áreas de filosofia, história da ciência, música e psicanálise, além de investir em obras de referência para alcançar um público ainda mais amplo. Lançou a coleção “Brasil: os anos de autoritarismo” e duas coleções de psicanálise: “Campo freudiano no Brasil” e “Transmissão da psicanálise”. Publicou, também, duas obras de referência na área de música: “Dicionário Grove de música” e “Kobbé: o livro completo da ópera”.

Hoje, a editora abarca uma variedade de temas, como: administração, artes, biografias, cinema, comunicação, economia, educação, gastronomia, geografia, história, história em quadrinhos, política, psicologia, romances policiais, teatro, TV, entre outros. Também inclui dicionários e coleções, dentre as quais se destacam: “América: 500 anos”; “Ciência e Cultura”; “Comédia grega”; e “Clássicos: edições comentadas”, livros que reúnem notas explicativas para leitores interessados em uma análise aprofundada de determinadas obras, da qual faz parte a tradução, “Alice: edição comentada”. Até o ano de 2007, os livros publicados pela Jorge Zahar Editor chegaram a quase 2.000, somando mais títulos às prateleiras brasileiras.

Apesar de ao longo dos anos ter incluído novos gêneros textuais ao seu repertório, a editora continua tendo enfoque especial no público acadêmico, principalmente estudantes universitários e estudiosos de forma geral. Antes de falecer, Jorge Zahar, fundador da editora, apontou que: “minha vocação era, e continua sendo, ser um editor universitário”187 e essa tradição tem sido mantida por sua filha e neta, Ana Cristina e Mariana Zahar, atuais editoras da Jorge Zahar Editor.

3.2.2.1 Jorge Zahar Editor e a tradução de “Alice: edição comentada”

“Alice: edição comentada” foi precursora de uma nova linha editorial da Jorge Zahar Editor. De acordo com Mariana Zahar (2009)188, a editora, até então, não publicava livros de ficção. Foi apenas com a série “Clássicos: edições comentadas”, inaugurada a partir dessa obra, que se começou a publicar narrativas. Depois dessa versão de Alice, a Jorge Zahar Editor publicou edições anotadas de contos de fadas e histórias de Sherlock Holmes. No ano de 2008, lançou o “Conde de Monte Cristo”, com tradução e notas elaboradas no próprio Brasil (ZAHAR, 2009).

A idéia de traduzir essa edição anotada de Alice foi uma iniciativa da própria Mariana Zahar. Ela afirma que “desde criança” foi apaixonada pela história (ZAHAR, 2009). Por isso, quando soube da publicação de Norton com notas de Martin Gardner, um autor que “conhecia muito” bem, acreditou que haveria um bom mercado no país para essa edição (ZAHAR, 2009). Apesar de já existirem outras traduções da história no Brasil, Mariana sabia que “todos os mistérios do livro continuavam não desvendados”, assim, essa edição traria novidades sobre a obra de Carroll (ZAHAR, 2009).

Por causa das notas explicativas à margem do texto, “em termos de lauda, [...] quase a metade do livro” (ZAHAR, 2009), a escolha da tradutora foi bastante cautelosa. Considerando a “importância teórica” das notas e sua necessidade “para a compreensão do texto” (ZAHAR, 2009), a editora optou por uma profissional que pudesse lidar bem com a tradução desse aspecto, não sendo necessariamente experiente em textos literários. Conforme Mariana Zahar, Maria Luiza X. de A. Borges é uma tradutora mais conhecida pela sua atuação na área de Ciências.

187 Citação encontrada no site da Jorge Zahar Editor, sob o tópico “Institucional” a respeito da editora,

<http://www.zahar.com.br/institucional_sobre.asp>.

188 Em entrevista à autora desta dissertação, vide Anexo C. Nessa seção, o primeiro nome da editora

Porém, seu conhecimento técnico seria de grande valia para a tradução das notas no texto de partida. Mariana destaca como Borges precisou lidar com o texto corrido e as explicações encontradas nas notas simultaneamente: teve que “mudar uma opção da tradução para poder fazer sentido a nota” por causa do constante “jogo lógico de palavras” do inglês, o que aumentou ainda mais o grau de dificuldade da tradução (ZAHAR, 2009). Nesse sentido, Borges teve liberdade ao traduzir. No entanto, a Jorge Zahar Editor ainda se manifestou em relação à tradução. Mariana aponta que, às vezes, tiveram que se reunir para discutir como traduzir as informações encontradas nas notas. Contudo, de acordo com ela, “não tinha muito uma direção para esse lado” (ZAHAR, 2009). Mariana aponta, enfim, que sendo uma das “poucas edições anotadas disponíveis no Brasil”, a publicação “Alice: edição comentada” “vende bem” (ZAHAR, 2009).