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Tese 4 A ação humana tem assim dois modos de existência encaixados: ela é primeiramente o produto das avaliações sociais da atividade de um grupo; ela é

59 BAKHTIN, M Estética da Criação Verbal São Paulo: Martins Fontes,2003.

4.2 Contextos da pesquisa

Inicialmente, meu plano era pesquisar o uso dos livros didáticos de Língua Inglesa do PNLD do Ensino Médio em todas as escolas públicas que ofertam o Ensino Médio, em uma cidade localizada na mesorregião do Triângulo Mineiro e Alto Paranaíba, no Estado de Minas Gerais, Brasil. A cidade possui sete instituições públicas que oferecem o Ensino Médio. Destas instituições, uma pertence à Rede Federal de Educação Profissional e Tecnológica, que é ligada diretamente ao Ministério da Educação. As outras seis instituições fazem parte da Rede Pública Estadual de Ensino. Fui muito bem recebida pelos diretores das instituições, excetuando-se uma única escola em que não consegui falar com a diretora, mesmo após várias tentativas de contato.

Os outros seis diretores se mostraram interessados no tema da pesquisa, autorizando a realização do estudo nas instituições dirigidas por eles e me proporcionando o número do telefone dos docentes ou disponibilizando o horário em que os mesmos se encontrariam nas instituições para que eu pudesse verificar com os próprios docentes se aceitariam participar da pesquisa. Esclareço que a diretoria das instituições era ocupada por mulheres, com exceção da

instituição federal. É pertinente dizer que a diretora da instituição estadual EE2 me informou que o índice de evasão nas turmas do Ensino Médio era alto, principalmente no quarto bimestre. A razão, apontada por ela, era a falta de perspectiva dos alunos em continuar os estudos. Essa informação da diretora confirma os dados do Ministério da Educação (BRASIL, 2011b) e estudos de Amin Aur e Castro (2012) sobre o baixo índice de conclusão do Ensino Médio.

Informo, também, que os docentes convidados a participarem da pesquisa eram professores efetivos que ministravam aulas no segundo ou terceiro ano do Ensino Médio. Esse recorte se fez necessário porque eu esperava que os participantes tivessem tido um tempo maior de conhecimento e uso dos livros didáticos que foram disponibilizados para o triênio 2012-2014 pelo PNLD. Como os participantes da pesquisa foram somente mulheres, refiro-me a elas sempre como as participantes, ou as professoras [participantes].

Após esse levantamento, houve uma previsão de dez participantes da pesquisa. Contactei cada professora que se encaixava no perfil desejado da minha pesquisa, ou seja, professores efetivos do segundo e/ou terceiro ano do Ensino Médio. Expliquei a todas elas sobre o objetivo da pesquisa, os instrumentos de coleta de dados, e a proteção da identidade de cada participante. No entanto, o número foi reduzido para três participantes porque as outras sete não quiseram participar da pesquisa, sendo que três professoras me esclareceram o motivo da não participação. Uma professora alegou que não conseguiria falar porque sua fala seria gravada. Ofereci-lhe, então, o gravador, para que ela narrasse como ela estava utilizando o livro didático, mas ela recusou essa possibilidade. Outra professora alegou que estaria de licença-saúde no período da pesquisa. Outra, ainda, concordou em participar, mas não disponibilizou horário para a entrevista, mesmo após diversos contatos posteriores.

Desse modo, das três participantes que concordaram em participar da pesquisa, uma leciona na Rede Federal de Educação Profissional e Tecnológica, e as outras duas são professoras da Rede Pública Estadual de Ensino nas instituições descritas a seguir.

As instituições, cujas professoras aceitaram participar da pesquisa, estão localizadas em bairros na região oeste da cidade. Uma das instituições estaduais, codificada de EE1, oferta o Ensino Fundamental do 6º ao 9º ano, o Ensino Médio no período da manhã, Ensino Médio EJA à noite. Cede parte de seu espaço físico para uma instituição estadual que oferta Ensino Fundamental I - do 1º ao 5º ano - no período da manhã. Durante o período de observação de aulas, verifiquei que a diferença nos horários de aulas entre o Ensino Fundamental I e o Ensino Médio e as atividades diversas das crianças trazem muito barulho, que perturbou o andamento das aulas nesta instituição. Por isso, foi preciso que a professora Natália interrompesse a aula

em determinado dia, até que ela pudesse se comunicar com os alunos da sua turma em tom de voz adequado para sala de aula.

A outra instituição estadual, cujo código é EE2, oferta o Ensino Fundamental do 6º ao 9º em período integral, e oferta o Ensino Médio no período da manhã. A instituição federal EF3 oferta o Ensino Médio integrado aos cursos técnicos em período integral – manhã e tarde, cursos técnicos à noite, curso de engenharia, período integral – manhã e tarde – e outro curso de engenharia à noite.

Na instituição EE1, o quadro do Índice de Desenvolvimento da Educação Básica, IDEB77, da instituição estava em lugar de destaque e um quadro com cartaz de boas-vindas. Cartazes com trabalhos dos alunos estavam dispostos no amplo corredor, perto do qual era distribuída a merenda.

Na instituição EE2, havia um quadro afixado na parede do corredor de entrada, informando o IDEB da instituição e uma galeria de fotos de ex-diretores e da atual diretora. Nesse mesmo corredor, um outro quadro destacava a participação dos alunos em eventos fora da escola, como o concurso de redação municipal, e havia também, um mural de boas-vindas.

Nessas duas instituições, o acesso ao interior da escola se dá por meio de identificação no interfone.

Na instituição EF3, o acesso era livre, sem portões. Trabalhos dos alunos na disciplina de Artes estavam afixados no mural de entrada da escola. Perto da sala de Língua Inglesa, o mural apresentava um projeto sobre família, desenvolvido com os alunos na disciplina. Comentei com a professora de Língua Inglesa, posteriormente, que eu havia desenvolvido esse projeto com os meus alunos também. Ela me disse que era o único projeto apresentado na coleção de que ela havia gostado de realizar.

No Quadro 10, apresento os Códigos das Instituições e os nomes fictícios, escolhidos por mim, para as professoras participantes, a fim de preservar-lhes o anonimato, nos termos do Código de Ética em Pesquisa com Seres Humanos.

77O Índice de Desenvolvimento da Educação Básica (Ideb) foi criado pelo Inep em 2007 e representa a iniciativa pioneira de reunir em um só indicador dois conceitos igualmente importantes para a qualidade da educação: fluxo escolar e médias de desempenho nas avaliações. Ele agrega ao enfoque pedagógico dos resultados das avaliações em larga escala do Inep a possibilidade de resultados sintéticos, facilmente assimiláveis, e que permitem traçar metas de qualidade educacional para os sistemas. O indicador é calculado a partir dos dados sobre aprovação escolar, obtidos no Censo Escolar, e médias de desempenho nas avaliações do Inep, o Saeb – para as unidades da federação e para o país, e a Prova Brasil – para os municípios. Disponível em http://portal.inep.gov.br/web/portal- ideb/o-que-e-o-ideb. Acesso em em 01 jul 2014.

Quadro 10 - Códigos utilizados para as instituições e nomes para as professoras participantes

Instituição Código da Instituição Nome fictício das

participantes

Escola Estadual 1 EE1 Natália

Escola Estadual 2 EE2 Cristina

Escola Federal 3 EF3 Sílvia

Fonte: a autora

As entrevistas ocorreram antes do período de observação de aulas, de acordo com o horário previamente agendado com as participantes. Na EE1, a entrevista foi realizada em uma sala já reservada pela professora para esse fim. Não houve interferências de barulho externo que dificultasse a gravação. Na EE2, houve várias interrupções devido a barulho de alunos de outras turmas na área externa. Na EF3, a gravação foi interrompida uma vez devido à entrada de uma funcionária, na sala de aula, no decorrer da entrevista.

Sobre a observação de aulas, fiz o planejamento de observar oito aulas em cada instituição, o que corresponderia a, aproximadamente, um mês de aulas. Avaliei que esse período seria adequado para analisar a utilização da coleção do PNLD em sala de aula, considerando a minha experiência no teste-piloto. No entanto, em nenhuma das três instituições pesquisadas esse número foi atingido, devido a eventos nas instituições (EE1 e EE3) e problema de saúde da professora (EE2). Em decorrência desses fatos, observei 6 aulas nas instituições EE1 e EF3 e três aulas na EE2, conforme descrito no quadro 11 abaixo:

QUADRO 11 – Quantidade de aulas observadas nas instituições Participante/ Instituição Série Número de alunos Número de aulas observadas Coleção do PNLD 2012 adotada

Natália – EE1 2ª 27 – 29 6 Upgrade

Cristina- EE2 3ª 15 3 Upgrade

Sílvia – EF3 2ª 10-14 6 Freeway

Fonte: a autora

Na seção seguinte, apresento o perfil das professoras participantes da pesquisa, com tipo de formação inicial, atual e os respectivos regimes de trabalho, que podem influenciar na atividade pedagógica desenvolvida por elas.