• Nenhum resultado encontrado

Contextualização da Dança na escola na área das Atividades Rítmicas e

PARTE I ENQUADRAMENTO TEÓRICO

CAPÍTULO 1 A DANÇA NO CONTEXTOURRICULAR PORTUGUÊS

1.3 Contextualização curricular da Dança na escola

1.3.3 Contextualização da Dança na escola na área das Atividades Rítmicas e

O Programa do Desporto Escolar (DE) é um instrumento do Sistema Educativo que surge associado à LBSE (1986), encontrando-se na dependência da DGIDC, na sequência do Decreto-lei n.º 213/2006, de 27 de Outubro. Conta com um Gabinete do Coordenador do Desporto a quem compete coordenar, acompanhar e formular propostas de orientações, em termos pedagógicos e didáticos para as atividades do Desporto Escolar.

Até há pouco tempo, cabia às Direções Regionais de Educação (DRE) assegurar os recursos humanos, a orientação, a coordenação e o acompanhamento das escolas através da monitorização do desenvolvimento do Programa do DE. Atualmente existe coordenação central com as áreas locais integrando, por sua vez, os profissionais que trabalham com as equipas de apoio às escolas. A essas estruturas cabe promover atividades de dinamização externa (torneios e campeonatos – fase local e regional) através da interação com as escolas do meio envolvente e à DGIDC a promoção dos campeonatos nacionais e internacionais.

Até 2013, o enquadramento estratégico do Programa Nacional do DE direcionou-se no sentido de “contribuir para o combate ao insucesso e abandono escolar, e promover a inclusão, a aquisição de hábitos e de vida saudável e a formação integral dos jovens em idade escolar, através das práticas de atividades físicas e desportivas”.

Os objetivos deste Programa encontram-se sistematizados num quadro estratégico de ação educativa contemplando os seguintes aspetos:

29

(a) Quanto ao valor educativo: melhorar a qualidade da educação e aumentar as oportunidades de prática desportiva;

(b) Quanto ao aluno: aumentar o sucesso escolar, formar mais e melhores praticantes, garantir a igualdade de oportunidades e aumentar a visibilidade das práticas;

(c) Quanto ao processo: melhorar os métodos de ensino e de aprendizagem, adaptar as ofertas às necessidades, criar instrumentos facilitadores da inclusão, melhorar a imagem e a divulgação do Desporto Escolar;

(d) Quanto à inovação: valorizar a formação profissional, potenciar projetos em parcerias, desenvolver tecnologias de apoio e implementar um sistema de informação e de comunicação.

Segundo as orientações gerais do Programa Nacional do DE (2007/2009 e 2009/2013), as Atividades Rítmicas e Expressivas (ARE do DE), em contexto escolar, inserem-se na lógica do modelo de gestão flexível do currículo, supondo-se que o Projeto do DE em cada escola seja transversal, interdisciplinar e operacionalizado em complementaridade com o trabalho efetuado na disciplina curricular de EF. Nessa linha, considera-se:

A atividade interna e externa do Desporto Escolar é de oferta obrigatória em todas as escolas e terá de fazer parte do seu projeto pedagógico. Trata-se de um direito que todos os alunos têm à prática da atividade física e do desporto, como forma de complementar a sua formação integral como cidadãos” (Orientações Gerais do Programa Nacional do DE 2009/2013, p. 9).

É sobre estas orientações gerais que se sedimentam as orientações específicas das ARE do DE nas escolas portuguesas. Atendendo a essa circunstância, considera-se que a articulação curricular das ARE do DE tornou-se num instrumento promotor de dinâmicas escolares integradas. A orgânica escolar permite práticas mais alargadas com projeção na comunidade, pelo que determinados estabelecimentos de ensino poderão constituir-se Escolas de Referência Desportiva, Associações Desportivas Escolares, fruto da cooperação de escolas para a prática e para o desenvolvimento de uma ou de várias modalidades desportivas, ou mesmo Clubes do Desporto Escolar e Clubes Escolares Federados.

As ARE do Programa do DE possuem estatuto próprio, de acordo com o Regulamento Geral de Provas, com as Normas para a Organização de Provas Regionais e Nacionais e com as Regras Oficiais, podendo ser complementado pelo Regulamento de Prova da

30

respetiva fase (local, regional e nacional) a elaborar pela entidade organizadora. No Regulamento Específico das ARE traduzem-se as linhas orientadoras sobre a forma de demonstração e sobre a forma de competição em níveis (básico, elementar e avançado), sendo que os critérios de observação são semelhantes em ambos, diferindo quanto à aplicação da pontuação. Esse regulamento é extensível a todas as modalidades das ARE do DE, referidas no Documento da Ação de Formação de Juízes de Atividades Rítmicas e Expressivas (Cardoso, 2010) e divulgado pela DGIDC, tais como:

(a) Danças tradicionais (folclore, medievais);

(b) Danças urbanas (Hip-Hop, Street Dance [Break-dance, Popping, Locking, New Style, New School]);

(c) Danças sociais (danças de salão – “standard”, danças latino-americanas); (d) Danças aeróbicas (aeróbicas – misto dança e exercícios);

(e) Danças modernas (ballet, moderna, jazz, contemporânea).

Um aspeto problematizante na ARE do DE decorre de dois aspetos: a forma como a Dança é dinamizada (interna e externamente), seja como objeto de competição, de exibição e/ou de demonstração e o entendimento da sua essência na reconceptualização do currículo escolar. Houve anos letivos em que a componente externa foi de natureza competitiva e outros em que prevaleceu a vertente não competitiva (exibição e/ou demonstração), isto devido a duas situações:

i) A alteração da Lei Orgânica do Ministério de Educação (Decreto-lei n.º 213/2006) e a reestruturação nuclear da DGIDC (Decreto Regulamentar n.º 29/2007 e Portaria n.º 360/2007) promoveram mudanças organizacionais que determinaram a modificação administrativa do Programa de Desporto Escolar e a rede escolar das diferentes DRE. O impacto implicaria descontinuar as apresentações de caráter competitivo reunidas por especialidades e por géneros de Danças (as danças tradicionais, as danças sociais, as danças urbanas, a dança aeróbica e a dança moderna) para agrupá-las por aproximação geográfica;

ii) A prioridade da ARE inseridas no Projeto de Desporto Escolar da escola se exprimirem como instrumento educativo transversal ao Projeto Educativo de Escola, valorizando-se a dinamização interna por ir ao encontro das suas necessidades e cujo projeto pudesse ser partilhado nas atividades de dinamização externa através de uma vertente participativa ou demonstrativa.

31

Na observação factual que nos assiste, parecem existir professores que se adaptaram a uma determinada prática (competitiva e/ou demonstrativa) ajustada ao contexto, à escola e aos alunos. Aliás, os estudos de Vieira (2007) corroboram que “os professores de Educação Física apresentam perfis de orientação educacional diversificada, expressando leituras e interpretações diferentes no entendimento que fazem dos Programas Nacionais de Educação Física” (p.302). Os professores de ARE são professores de EF e, com certeza, terão uma perceção pessoal sobre a natureza das práticas de Dança nas dinamizações internas e externas das ARE do DE.

Cientes da extensão deste fenómeno, optou-se por uma incursão que possibilitasse compreender o modo como o professor de ARE do DE, na qualidade de profissional reflexivo, pensa e planeia a prática pedagógica, assim como a forma como lida com os interesses, as escolhas e as preferências dos alunos propensos às novas modas e à ação influenciadora da indústria do consumo e dos meios de comunicação massivos (Gaspari, 2005).

De forma a resumir os tópicos abordados, organizamos o Quadro 1, visualizando-se as abordagens da Dança nas áreas curriculares disciplinares de Educação Física e de Educação Artística previstas no CNEB (2001), assim como o seu reflexo na dinamização do instrumento educativo das ARE do DE.

Quadro 1 – Abordagens da Dança consideradas no Currículo Nacional de Ensino Básico (2001) e nas Atividades Rítmico Expressivas do Desporto Escolar

Abordagem EF EA ARE-DE Matéria nuclear Matéria alternativa Dança educativa X X

Danças sociais latino-americanas (merengue, rumba quadrada, chachachá, jive, salsa, rumba

cubana)

X X

Danças sociais modernas progressivas (Foxtrot, Valsa

lenta, tango e quickstep)

X X

Danças tradicionais portuguesas

X X

Danças urbanas (hip-hop, funk,

outras) X

Danças modernas (ballet,

moderna, jazz e contemporânea) X

32

Educação Física e ao corpo teórico da Dança na Educação Artística e que a matéria alternativa interseta-se com as propostas das ARE do DE. Por seu lado, as danças urbanas e a linguagem artística e técnica das danças modernas são contempladas quase exclusivamente nas práticas através das ARE do DE.