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3. PARA COMPREENDER A OFICINA: CAMINHOS E ESCOLHAS

3.3. Contextualização da E M “Michel Foucault”

Ora, a discussão ensejada até este momento permite considerar que, no âmbito do materialismo histórico-dialético e da abordagem histórico-cultural para a compreensão dos fenômenos educacionais, a busca pela essência que permite compreender uma certa totalidade deve acontecer no cotidiano escolar, local onde se dão as interações que constituem a realidade material e cognitiva. Assim, foi por essa necessidade de estar próximo dos fenômenos que optei por realizar a pesquisa em meu local de trabalho, a E. M. “Michel Foucault”38. A escola é formada por dois prédios distintos, duzentos metros distantes um do outro; em um deles são realizadas as atividades convencionalmente chamadas de “regulares”, e no outro as atividades do Projeto Oficina do Saber (doravante POS); como forma de facilitar a caracterização dessa escola, o primeiro prédio será chamado de “regular”, e o segundo de “oficina”. Ambos os espaços estão localizados em um bairro residencial periférico da cidade de Sorocaba, no estado de São Paulo, às margens de duas grandes avenidas que levam respectivamente ao centro (a pouco mais de nove quilômetros de distância) e à zona industrial da cidade. Trata-se de um bairro relativamente novo, com menos de vinte anos de existência, de acordo com relatos de moradores. Uma caminhada pelas ruas dos entornos da escola revela que a localidade conta com ruas asfaltadas, iluminação pública, coleta de lixo e transporte público, uma rede de pequenos pontos de comércio, uma quadra poliesportiva (em más condições de conservação), uma praça e uma ciclovia que também pode ser

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Nome fictício escolhido em decorrência da alcunha atribuída pela equipe de trabalho da escola ao aparelho que registra, por meio de verificação biométrica, a entrada e saída dos funcionários. A alcunha, por sua vez, é uma referência jocosa ao livro “Vigiar e Punir”.

usada como pista de caminhada. No entanto, não há creches ou centros de educação infantil, tampouco postos de saúde. Há ainda diversos terrenos baldios (um deles, ao lado da escola, com mais de catorze mil metros quadrados), muitos deles cobertos por vegetação agreste, lixo e restos de construção. Há uma grande quantidade de casas que não têm revestimento de alvenaria em suas paredes externas.

Trata-se de uma escola pública pertencente à rede municipal de educação da cidade. De acordo com o projeto político pedagógico da unidade (PPP), atualizado pela última vez em março de 2017, a escola funciona das 7:00 às 17:30, recebendo quatrocentos e sessenta crianças; quanto a elas, suas idades vão desde os cinco até os onze anos, sendo agrupadas em vinte turmas, do 1º ao 5º ano do ensino fundamental. É importante mencionar que dessas quatrocentas e sessenta, somente duzentas e trinta e seis crianças, aquelas dos 3ºs, 4ºs e 5ºs anos, participam do POS, com horários diferenciados de entrada e saída que serão devidamente detalhados no momento da análise dos dados referentes à organização do trabalho pedagógico.

Também fazem parte da escola uma equipe de trabalho de quarenta e cinco pessoas, entre docentes, inspetoras de alunos, equipe gestora e administrativa, funcionárias da limpeza e da cozinha. Em específico, o corpo docente é composto por vinte e sete pessoas; desse total, dezessete atuam no prédio “regular”, e estão na escola há pelo menos um ano e meio (alguns membros, inclusive, atuam na escola desde sua fundação), o que constitui um grupo coeso e já consolidado pelos muitos anos de trabalho em conjunto. Por sua vez, as dez professoras que atuam na Oficina iniciaram suas atividades como efetivas da rede municipal de Sorocaba no ano de 2016, quando a administração passou a empregar docentes estatutários para o trabalho nas Oficinas39; dessas dez, três iniciaram na escola pesquisada em 2017, as outras sete em agosto do no ano anterior. No tocante à formação acadêmica, todos os membros possuem graduação em pedagogia (incluindo o professor de Educação Física); quase todos os membros do

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Antes de 2016, o trabalho pedagógico nas Oficinas era realizado, em parte, por oficineiros contratados junto a empresas licitadas, e em parte, por professores efetivos da rede de Sorocaba contratados em regime de carga suplementar.

corpo docente possuem mais de uma graduação e pelo menos um curso em nível de pós-graduação lato-sensu.

Ainda de acordo com dados disponibilizados pelo PPP, os grupos familiares que se utilizam da escola têm em média entre quatro e cinco pessoas, das quais entre três e quatro estão em idade escolar; a renda média daquelas que estão empregadas é entre um e três salários mínimos. O documento destaca ainda que as principais formas de lazer dos adultos são assistir televisão, visitar familiares, fazer caminhada, passear em parques e ir à igreja; as crianças mostram predileção por andar de bicicleta, jogar futebol, empinar pipas e jogos eletrônicos.

O prédio “regular” tem área total de 2.112,75 metros quadrados, construídos sobre um terreno de 5.200 metros quadrados. Sua capacidade máxima de atendimento é de setecentos e cinquenta crianças. Nele, há um pátio, playground, solário, quadra poliesportiva coberta, doze salas de aula (sendo uma usada como sala de multimeios e jogos), refeitório, cozinha, dois almoxarifados, sala dos professores, sala de orientação pedagógica, sala de inspetoras de alunos, sala de direção, secretaria, sala de leitura, sala de informática, onze banheiros (sendo dois na quadra, cinco exclusivos para crianças no pátio, e os demais para a equipe de trabalho) e horta.

Por sua vez, o prédio da “oficina” possui uma estrutura de mais de 900 metros quadrados40. É um prédio de dois andares, construído em estrutura pré- moldada de concreto, em formato de paralelepípedo, em concordância com outras construções semelhantes feitas em outros pontos da cidade. No andar térreo há um pátio, seis salas de aula de 36 metros quadrados cada (bem menores que as salas do prédio “regular”, que têm sessenta e quatro metros quadrados cada), uma cozinha, um depósito de material de limpeza, dois camarins, e seis banheiros (sendo dois para funcionários, dois para as crianças no pátio e dois para as crianças nos camarins); no andar superior (cujo acesso se dá exclusivamente por meio de uma escada) há uma sala de dança, um auditório com capacidade para 101 pessoas (embora não haja qualquer mobiliário para a acomodação de uma plateia), uma sala

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Visto que o PPP da escola apresenta apenas a área dos espaços internos que constituem o prédio da “oficina” (com exceção da área dos banheiros, que não é disponibilizada), a informação acima consiste em uma estimativa baseada na soma da área desses espaços.

de reunião, um almoxarifado e uma sala de administração (note-se que não há banheiros no andar de cima).

Segundo levantamento realizado pela equipe escolar, o acervo bibliográfico da escola dispõe de 5.785 livros, dos quais 946 ficam na Oficina. A escola reúne também retroprojetores, seis lousas digitais (todas em salas de aula do prédio “regular”, somente uma com acesso efetivo à internet), televisores, uma mesa de som, trinta e sete computadores, distribuídos entre as salas de informática, de leitura, secretaria e gestão (o prédio da Oficina conta com apenas dois deles). Por fim, há no prédio “regular” uma variada gama de recursos pedagógicos, disponibilizados na sala de multimeios ou nas salas de aula; os recursos materiais do prédio da Oficina são escassos, limitando-se a jogos matemáticos e um pouco de papel, de acordo com relatos das professoras entrevistadas.