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Capítulo 2 – Enquadramento de Aplicação

2.3. Contextualização do Estágio

Há escolas que são gaiolas e há escolas que são asas. Escolas que são gaiolas existem para que os pássaros desaprendam a arte do vôo. Pássaros engaiolados são pássaros sob controle. Engaiolados, o seu dono pode levá-los para onde quiser. Pássaros engaiolados sempre têm um dono. Deixaram de ser pássaros. Porque a essência dos pássaros é o vôo. Escolas que são asas não amam pássaros engaiolados. O que elas amam são pássaros em vôo. Existem para dar aos pássaros coragem para voar. Ensinar o vôo, isso elas não podem fazer, porque o vôo já nasce dentro dos pássaros. O vôo não pode ser ensinado. Só pode ser encorajado. Rubem Alves (2004)

Da mesma forma que escolas, há professores que gostam de ser donos de pássaros engaiolados e há professores que preferem encorajar os pássaros a voar. E quando temos a felicidade de nos cruzarmos com professores que encorajam os pássaros a voar, todo o trabalho que se realiza torna-se natural, na medida em que, como nota Rubem Alves (2004), voar é a essência dos pássaros. E esse é um fator decisivo para o sucesso de qualquer Estágio de Iniciação à Prática Profissional. E foi o fator decisivo para o sucesso do estágio aqui relatado, visto que quando encontramos professores que nos encorajam a voar, podemos, ao voar, fazer com que os alunos voem connosco ou, ainda melhor, voem além de nós.

2.3.1. A escola

O Estágio de Iniciação à Prática Profissional aqui reportado, como referido, teve lugar na Escola Secundária Dr. Joaquim Gomes Ferreira Alves (ESDJGFA). A ESDJGFA localiza-se em Vila Nova de Gaia, um dos concelhos mais populosos do país – é, segundo dados do INE (referidos em Câmara Municipal de Vila Nova de Gaia, 2017), o terceiro com mais habitantes residentes em termos absolutos (302 295 hab.) e o décimo primeiro em termos de densidade populacional (1794 hab./km2).

O município de Vila Nova de Gaia distribui-se por um território de 168,7 Km2, na margem esquerda do rio Douro, rio esse que o separa, a norte e a este, dos concelhos do Porto e de Gondomar. A sul o município é delimitado por Santa Maria Feira e Espinho, e a oeste pelo Oceano Atlântico.

No concelho existem 210 instituições de ensino: e destas, 129 são escolas públicas. Em relação ao nível Secundário de ensino, existem 15 escolas, 9 delas públicas, sendo a ESDJGFA uma destas.

A ESDJGFA está localizada em Valadares, servindo uma vasta área que congrega, ainda, as freguesias de Vilar do

Paraíso, Madalena e Gulpilhares

(ESDJGFA, 2017).

A escola tem, como oferta educativa, o ensino regular no 3.º ciclo do Ensino Básico, com oferta de Espanhol e Francês, e

Oficina das Artes Plásticas, na área artística, bem como o Ensino Secundário, com os Cursos Científico-Humanístico, em todas as áreas, e Cursos Profissionais (Técnico de Análises de Laboratório, Técnico de Turismo e Técnico de Multimédia).

Destaca-se, ainda, o Projeto CLIL, que contempla aulas de disciplinas tradicionais lecionadas em inglês, por ser uma oferta única em todo o concelho.

A escola é, ainda, dinamizada pela interação com várias instituições culturais e desportivas implantadas na zona, nas áreas da música, do teatro, do desporto, das tradições, da saúde e do património cultural.

Deste modo, várias instituições próximas têm vindo a oferecer oportunidades de interação: a Academia de Música de Vilar do Paraíso, a Estação Litoral da Aguda, o Parque das Dunas da Aguda, o Parque Biológico, em Avintes, o Museu da Imprensa, no Porto e o Museu de Arte Contemporânea, em Serralves, são exemplos significativos desse tipo de “instituições-parceiras” (ESDJGFA, 2017).

Figura 1: Escola Secundária Dr. Joaquim Gomes

De referir que a escola possui excelentes condições infraestruturais: moderna, arejada, com um auditório amplo e salas de aula bem equipadas. Neste âmbito, oferece boas condições a alunos e professores.

A escola participa em inúmeros projetos (como o CLIL ou o eTwinning) e promove

várias atividades com participação ativa dos seus alunos, bem espelhadas no dia da escola – o GFA -, no qual a ESDJGFA se promove perante alunos de outras escolas do concelho. Em suma, a Escola Secundária de Valadares oferece boas condições aos seus alunos e ao pessoal docente (e não docente), não revelando problemas significativos em termos disciplinares, e caracterizando-se por promover, em simultâneo, um ambiente de dinamismo e tranquilidade. É uma organização escolar que não corta as asas aos seus estudantes (e professores), antes pelo contrário, apoiando os mais variados projetos.

2.3.2. As turmas

Um colega professor dizia certo dia, num tom “tolstoiano”, que todas as turmas boas são iguais, mas cada turma má é má à sua maneira. Não foi possível comprovar se o que dizia relativamente às turmas más faria sentido, mas demonstrou-se que, em relação às turmas boas, estava errado.

No contexto de Estágio trabalhou-se com quatro turmas, sendo que todas elas eram boas turmas, apesar de serem, no entanto, todas diferentes – uma destacava-se pelo interesse e pelos excelentes resultados da grande maioria dos seus alunos; outra pelo facto dos seus alunos, apesar de não terem resultados ao nível da anteriormente descrita, se transcenderem em certas ocasiões, conseguindo superar-se; outra devido à simpatia e ao ambiente jovial que os estudantes promoviam; e a outra tinha a particularidade dos alunos revelarem um grande companheirismo e cumplicidade entre si. Ou seja, todas boas, mas todas diferentes.

Dessas turmas, duas eram do 9.º ano e outras duas do 11.º ano. Ambas as turmas do 9.º ano eram compostas por 30 alunos, e em nenhuma se verificou qualquer reprovação.

Porém, uma destas destacava-se pelas classificações de excelência, sendo que a média da turma, no 3.º período, acabaria por se situar nos 4,4 valores. A outra turma de 9.º ano era mais heterogénea, mas nenhum aluno revelou problemas de maior na disciplina de História. Nenhuma das turmas tinha alunos repetentes, sendo que as suas idades estavam compreendidas entre os 13 e os 14 anos. Em acréscimo, importa sublinhar que estas eram as turmas do 9.º ano que se integravam no projeto CLIL. Curioso, também, que uma das turmas era composta por 17 rapazes e 13 raparigas, e a outra por 17 raparigas e 13 rapazes. As turmas de 11.º ano, a partir de agora, e no sentido de manter a sua confidencialidade e o seu anonimato, designadas por 11.º X e 11.º Y, eram constituídas por 29 alunos cada – uma delas era composta por 19 raparigas e por 10 rapazes; a outra por 16 rapazes e 13 raparigas. As turmas eram muito diferentes entre si, sendo uma delas mais irrequieta e faladora, mas também mais participativa, e a outra mais sóbria e tendencialmente mais atenta, mas menos participativa. No que respeita aos resultados, apesar de algumas particularidades – uma turma tinha mais alunos de um nível alto ou muito alto, mas também tinha mais alunos com dificuldades -, em termos médios, as discrepâncias não se notavam significativamente. De resto, como estas turmas foram o alvo das intervenções relativas ao Relatório de Estágio, serão abordadas, mais aprofundadamente, em (sub)capítulos sequentes.

2.3.3. O núcleo

Há um provérbio que diz qualquer coisa como “se quiseres ir rápido vai sozinho, se quiseres ir longe vai acompanhado”. E, de facto, sem a companhia, a orientação, a inspiração e a cooperação que sempre foi vivenciada no Núcleo de Estágio, nada do que se concretizou teria sido possível.

O Núcleo de Estágio de Valadares foi composto por três estagiários, que sempre demonstraram grande respeito e afinidade entre si, tendo sido capazes de, em conjunto, fazerem realizações importantes, como, por exemplo, o evento A Grande Guerra: Novas

perspetivas. Tudo isto sob orientação da incansável e inspiradora professora Albertina

No entanto, o facto de haver três estagiários colocou desafios em termos de aplicação e consecução dos projetos de Estágio, na medida em que, com várias aulas a terem que ser distribuídas pelos estagiários tornou-se praticamente impossível efetuar um trabalho mais sistemático. Um pouco para contornar esse aspeto, houve uma certa divisão subliminar das turmas entre os estagiários. Por exemplo, enquanto um estagiário ia desenvolvendo o seu projeto sobretudo com as turmas do 11.º ano, os outros colegas estagiários trabalhavam mais com as turmas do 9.º ano. Não foi nada que tivesse ficado estabelecido, mas sim algo que foi acontecendo e resultando de forma natural.

Tendo-se apresentado todo o contexto de ação, importa agora dar a conhecer a “amostra”/“público-alvo” que sustentou a ação didático-pedagógica implementada.