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Contextualização e Evolução do Conceito

Capítulo 2 A música e os festivais

2.2 Os Festivais de Música e as Diferentes Tipologias

2.2.1 Contextualização e Evolução do Conceito

Os festivais de música podem ser vistos como um fenómeno social (Falassi, 1987 apud Quinn 2013), na medida em que proporcionam experiências únicas de lazer e cultura (Getz, 1997 citado em Derrett 2012); eles ocorrem em momentos esporádicos de descontração, separados da rotina do dia a dia e fazem com que as pessoas se envolvam em experiências culturais, ou seja, vivenciem e aprofundem conhecimentos em arte, música, desporto, gastronomia, história, religião, crenças, valores, etc. A palavra “festival” deriva da palavra “festa” que é associada a um tempo de celebração (Derrett, 2012). Contudo os autores Gilbson e Connell (2012) acrescentam que os festivais de música não são apenas tempo de celebração, mas também espaço, ou seja, contêm tempo e espaço de celebração e podem ser entendidos como o momento de agrupar pessoas para comemorar alguma data especial ou acontecimento, ou até mesmo apenas para manifestar diferentes emoções em um determinado local.

Pode-se considerar que atualmente assumem o papel de reunir pessoas para se divertir e compartilhar senso de camaradagem (Gibson e Connell, 2012), de promover o turismo em uma cidade (Getz, 2007), de celebrar alguma data ou acontecimento importante (Quinn, 2013) ou de promover estrategicamente o envolvimento de alguma organização ou marca com o seu público (Kunsch, 2002). Contudo nem sempre foi assim, os festivais existem há muito tempo, alguns autores destacam que eles começaram na Grécia Antiga com os jogos olímpicos, um festival religioso e atlético que se realizava a cada quatro anos no santuário de Olímpia, em honra ao Deus Grego Zeus. Outros

autores como Gibson e Connell (2012) consideram que a origem dos festivais vem da Idade Média através do surgimento de danças e músicas nos feudos que reuniam a comunidade local para celebrar os ciclos sazonais. Já especificamente os festivais de música só surgiram na Europa e nos Estados Unidos da América após a Segunda Guerra Mundial (Gibson e Connell, 2012) e estavam ligados a protestos contra a opressão social e política, a ascensão de diferentes estilos de vida e movimentos como o ‘hippie’ e etc. Como destacam Gilbson e Connell:

"Os festivais de música foram um espaço alternativo para interação social e sexual, consumo de drogas, expressão musical e relaxamento. Seu começo compreendeu frequentemente a parte das revoluções sociais, motivado por desejos de inverter a ortodoxia e o conservadorismo moral, ao invés de imperativos comerciais." (2012, p.14)

Os festivais, principalmente os de música, são capazes de transmitir uma linguagem alternativa que acaba por influenciar todos os participantes a liberarem e expressarem as suas motivações, crenças e gostos. Os autores Gibson e Connell (2012) destacam alguns exemplos de festivais como Woodstock em 1969 nos Estados Unidos; o festival foi um dos pioneiros e precisamente o mais importante no estilo musical, pois além de estar interligado aos géneros pop e rock, tinha como principal objetivo usar a música como meio de libertação social, cultural e política, ou seja, um protesto social do que estava sendo vivido naquela época.

Para Quinn (2005, apud Queirós, 2014), os festivais de música são considerados um tipo de evento, ou melhor, “um evento especial que reconhece um momento único no tempo, e que possui cerimónia e ritual para satisfazer necessidades específicas” (Goldblatt,1997, Apud, Derrett, 2012, p. 32), pois como já foi apontado neste capítulo, a diferença é que eles se tornam especiais porque acontecem em um tempo específico, têm como objetivo celebrar ou solenizar algo e são planeados antecipadamente.

Para aprofundar o conceito do que é um Festival de Música é necessário primeiramente contextualizar ‘eventos’, que, na linguagem popular, podem ser vistos como casualidades, acontecimentos ou ocorrências; são considerados fenómenos temporais e por definição têm um começo e fim (Getz, 2007), derivam de palavras como festividade, comemorações, festas, cerimónias, espetáculos e principalmente festivais. Alguns autores, como Quinn (2013), apontam que definir a palavra ‘eventos’ é

complicado por conta da enorme variedade de critérios, ou seja, seus propósitos, lógicas, tamanhos, escalas, etc. Em um contexto mais cultural, para os autores Robertson e Ali-Knight (2012), os festivais e eventos estão ligados diretamente às artes, pois são vistos como parte integrante de qualquer celebração histórica e cultural de um país.

Os eventos são classificados como canais de comunicação não pessoais, eles são meios que veiculam mensagens sem contato pessoal e sem feedback, mas são capazes de atingir diretamente o consumidor (Kotler e Armstrong 2003 apud Bruzamarello e Francichett, 2008); podem ser usados como ferramenta de Marketing (Kotler, 2002) pois podem promover, incentivar e impulsionar o sucesso dos produtos ou serviços. São cerimónias que precisam ser planeadas, divulgadas e produzidas (Kunsch 1997).

Em um contexto mais organizacional, os eventos estabelecem uma atividade de grande interesse para as organizações, já que proporcionam o envolvimento direto dos públicos na sua realização (Kunsch, 2002). O principal objetivo dessa ferramenta é a interação que proporciona aos públicos envolvidos, pois os participantes conseguem trocar informações com a organização, assim fortalecem o relacionamento entre ambos. Cada festival ou evento tem características únicas, não existe um modelo padrão de gerenciamento para os dois (Yeomans, 2009; Robertson e Ali-Knight, 2012), ou seja, cada um possui diferentes características e podem ser direcionados para diferentes áreas, como cultura, entretenimento, desporto, educação, religião, etc. É extremamente difícil manter um padrão de produção e gerenciamento para que ele ocorra; as empresas que promovem os festivais e eventos direcionam o planeamento de acordo com as características e necessidades de cada um.

Com o grande aumento da utilização dessa ferramenta de comunicação, surgiu a necessidade de aprofundar a classificação dos festivais e eventos, pois como já vimos, a sua definição é ampla e requer pelo menos uma definição através de tipologias com o objetivo de simplificar essas experiências culturais ou celebrações populares (Getz, 2007).