O estudo aqui apresentado refere-se à caminhabilidade nos passeios públicos mais movimentados das regiões setoriais da cidade de Passo Fundo no estado do Rio Grande do Sul, Brasil. Cabe lembrar que Passo Fundo, segundo Bernardes (2018), é considerada a maior cidade do norte do estado, sendo um polo educacional e de saúde da região. Inúmeras pessoas frequentam a cidade, não somente a população passo-fundense, consequentemente, as calçadas recebem um número maior de pessoas.
O IBGE (2005) aponta uma população de aproximadamente 170.000 pessoas em Passo Fundo. Partindo disso, no ano de 2010 esse número subiu para 184.826 pessoas na cidade. No entanto, houve um crescimento populacional constante, sendo alcançado em 2018 uma estimativa populacional de 201.767 pessoas (IBGE, 2018). Esse número cresce a cada ano, aumentando a densidade demográfica, refletindo numa maior demanda por espaços públicos, inclusive calçadas para deslocamentos e para vivências, e tendo como consequência a necessidade de criação de políticas públicas voltadas a projetos de calçadas, conforme as necessidades da população (PEREIRA et al., 2017).
A cidade de Passo Fundo, apresenta uma densidade demográfica de 235,92 hab/km², possui 71,7% dos domicílios paralelos aos passeios públicos, com arborização, estando na posição 546º de 5570 cidades no País. Os espaços considerados pelo IBGE (2010) com urbanização adequada, ou seja, espaços públicos que contêm bueiro, calçada, pavimentação e meio-fio, caracterizam-se com 46,2%.
Bernardes (2018) aponta que o Estatuto da cidade é consequência da mobilização da sociedade para o desenvolvimento de planos e diretrizes para o bom andamento das questões sociais, políticas e econômicas das cidades, gerando uma organização espacial, referindo-se a questões de agilidade na melhoria do espaço público. Além da divisão da cidade em bairros, é necessária uma divisão macro da cidade, sendo ela dividida em setores. Conforme o Estatuto das Cidades (BRASIL, 2004, p. 20) os instrumentos da “política urbana são estabelecidos para
a elaboração de projetos urbanos”. A Figura 12 apresenta a divisão setorial do município de Passo Fundo/RS.
Figura 11: Divisão da cidade de Passo Fundo/RS em setores municipais.
Fonte: Adaptado de Prefeitura Municipal de PDDI (2006).
A cidade é dividida atualmente em 95 bairros, sendo eles agrupados em 22 setores municipais (PASSO FUNDO, 2018), para que se obtenha agilidade na manutenção de infraestrutura urbana, varrição e fiscalização de todo o município (Figura 12).
Esta dissertação contém a estrutura metodológica dividida em 5 etapas, ligadas entre si para uma posterior construção dos resultados. Marconi e Lakatos (2010, p. 139) conceituam a pesquisa como um “procedimento formal, com métodos de pensamento reflexivo, que requer um tratamento científico e se constitui no caminho para conhecer a realidade ou para descobrir verdades parciais”. Sendo assim, foi necesária a construção da estrutura metodológica, criando uma organização do processo de pesquisa, dando continuidade à esse procedimento formal.
A etapa I constitui-se na identificação dos trajetos com maior circulação de pedestres em cada um dos 22 setores amostrados na cidade de Passo Fundo/RS. Isso foi realizado através
do mapeamento setorial, em que se utiliza da compreensão e definição das vias e dos passeios públicos existentes no município de Passo Fundo.
Bugs e Reis (2016) apontam que os Sistemas de Informações Geográficas (SIG) são ferramentas importantes, sendo elas hardwares e softwares que permite coleta, tratamento e disseminação de dados espaciais importantes. Os passeios públicos foram georreferenciados, utilizando-se dessa ferramenta para a definição dos passeios com maior fluxo de pedestres (definidos a partir das opiniões dos usuários) para a aplicação da metodologia e a aplicação dos cálculos do índice de caminhabilidade.
A partir da identificação da divisão setorial da cidade de Passo Fundo, a definição dos bairros existentes dentro de cada setor foi de fundamental importância para o processo de definição do trajeto mais utilizado. Brasil (2005) aponta a necessidade da identificação de tipologias viárias que compõem as cidades, frente a isso, Mascaró (2003), indaga que a via principal pode ser identificada a partir da quantidade de veículos que trafegam no espaço, dos fluxos uni ou bidirecionais e dos elementos que compõem as vias.
O método utilizado para definição do percurso é o Método de Demanda Declarada, definido por Dutra, Nogueira e Gonçalves (2002), para analisar a compreensão e levantamento de dados com relação a determinadas situações de Preferência Revelada. São aplicadas questões para entender as respostas individuais de cada sujeito. Marconi e Lakatos (2010) apontam esse meio de levantamento de dados como medidas de opiniões e de atitudes dos usuários pedonais. Nesse aspecto, foram elaborados 22 modelos de questionários (Apêndice 1) para aplicação aleatória aos usuários dos passeios públicos das regiões setoriais de Passo Fundo, entre 16h e 17h da tarde entre segunda-feira e sexta-feira. Cada modelo de questionários representou o mapa do setor de análise, posteriormente, os usuários definiram qual o trajeto pedonal que considerou mais movimentado. A necessidade de aplicação surgiu para o mapeamento setorial e definição do trajeto mais apontado pelos usuários, sendo que foi necessária a aplicação de 10 questionários por setor, totalizando 220 questionários na cidade.
Foi compreendida a frequência de utilização do setor pelos respondentes, a nota que atribuíram ao trajeto pedonal escolhido e se o local (trajeto apontado) em pauta possui fácil acesso pedonal. Esses questionamentos contribuíram para a construção do trajeto mais utilizado do setor e desenvolvimento do mapeamento do setor.
O Método de Preferência declarada é definido por três tipologias para aplicação. A “Escolha Discreta” se refere à alternativas preestabelecidas para o respondente definir qual está de acordo com a sua escolha. A tipologia “Ordenação”, solicita que o respondente ordene as alternativas estabelecidas em ordem de preferência. Contudo, há uma terceira tipologia, a
“Avaliação”, onde o respondente classifica as alternativas disponíveis em respostas numéricas, sendo estabelecido um número mínimo e um número máximo para qualificar um objeto ou uma situação (DUTRA; NOGUEIRA; GONÇALVES, 2002). A “Escolha Direta” foi a tipologia do questionário de Preferência Declarada, aplicado aos usuários dos passeios públicos dos setores da cidade de Passo Fundo, pois os respondentes tiveram liberdade de escolha das alternativas (trajetos) oferecidos no questionário, sendo marcado no mapa o trajeto que o usuário considera mais importante no Setor.
Após as aplicações dos questionários, foi desenvolvido o levantamento das opiniões dos usuários sobre a facilidade de acesso, a nota dada ao passeio e a utilização por parte do usuário. Os mapas grifados foram sobrepostos em um programa SIG para a análise e verificação do trajeto do setor mais marcado pelos respondentes, a partir dos 22 setores que foram analisados. Para representar cada um dos trajetos, desenvolveu-se mapas georreferenciados, de cada setor com a delimitação dos mesmos, as quadras que o completam e a marcação do trajeto definido pelos entrevistados, junto a ele, a distância do mesmo.